Há 5 anos, Dilma Rousseff era destituída da presidência do Brasil devido a um processo de impeachment que exemplifica, muito bem, o uso do “Lawfare”, a participação do sistema de justiça e o emprego de leis e normas, em tese, democráticas para legitimar perseguições políticas, inclusive com o apoio da mídia hegemônica. 

Romero Jucá, senador da república entre 1995 e 2019,  ministro do planejamento entre 12 de maio e 23 de maio de 2016 (durante o governo interino de Michel Temer), disse, a respeito do impeachment, em uma conversa com Sérgio Machado (ex-senador e ex-presidente da Transpetro), divulgada pela folha São Paulo em 2016, que:  

"Enquanto ela (Dilma) estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela [...] Estou conversando com os                     generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. "

Em outro trecho do áudio, que se tornou emblemático, Sérgio Machado afirma: 

“Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]... É um acordo, botar o Michel, num grande 

 acordo nacional.” 

E o ex-ministro, se referindo ao “grande acordo nacional”, acrescenta: 

“Com o Supremo, com tudo". 

O processo de impeachment que resultou na saída da governante demonstra como funciona o novo modus operandi do golpismo na América Latina. 

Dilma havia sido reeleita para o cargo de presidente em 2014, com 51,6% dos votos válidos, mais de 54 milhões de votos, entretanto, sua vitória foi contestada pelo candidato opositor, Aécio Neves. A acusação, sem fundamentos, do adversário foi um dos primeiros obstáculos que a governante teve que enfrentar. 

O governo petista não tinha apoio da câmara, que já articulava sua derrubada com Eduardo Cunha, o então presidente da mesma, posteriormente condenado por corrupção, fato que prejudicou as metas do executivo e impulsionou o processo de impeachment, que detinha apoio da direita, do empresariado e de grupos religiosos fundamentalistas 

As investigações de membros da base do governo que ocorreram devido à operação lava-jato foram essenciais para legitimar a destituição. O sociólogo brasileiro Jessé Souza expôs em “A radiografia do golpe: entenda como e por que você foi enganado”, livro de sua autoria publicado em 2016 pela editora Leya, como as prisões espetaculares, os vazamentos seletivos e a tendenciosa cobertura midiática, foram responsáveis por alimentar uma espécie de linchamento político. A Crise econômica que assolava o país também prejudicou muito a imagem do governo, o que resultou em uma série de manifestações, organizadas por opositores, que pediam o impeachment de Dilma Rousseff. 

Apesar dos diversos protestos que ocorreram contra o processo e críticas pelo motivo da condenação, a presidente foi denunciada por irregularidade contábil e afastada devido ao uso de “pedaladas fiscais” para cobrir déficits nas contas públicas, o Supremo Tribunal Federal (STF) não reconheceu inconstitucionalidade no processo e a chefe de estado foi desempossada. Michel Temer, assumiu o cargo de presidente da república em 31 de agosto de 2016. 

Desde então, os governos sucessores estabeleceram no país agendas políticas marcadas pelo neoliberalismo e pelo conservadorismo, representando uma onda de retrocesso em relação às conquistas, principalmente no que tange a esfera social, obtidas anteriormente. 

Para saber mais:

A Radiografia do Golpe: Entenda como e porque você foi enganado - Jessé Souza (editora Leya): https://br1lib.org/s/A%20radiografia%20do%20golpe.

ARAUJO, M. A.; PEREIRA, V. S. Rupturas, neogolpismo e América Latina: uma análise sobre Honduras, Paraguai e Brasil. Rev. katálysis, Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 125-136, jan. 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rk/a/8CXYzdgrbvBfHhKvc5Z588s/abstract/?lang=pt.

Ato de lançamento do livro "Brasil: cinco anos de golpe e destruição" - Fundação Perseu Abramo:  https://www.youtube.com/watch?v=TrT-Fu6ePBk&ab_channel=Funda%C3%A7%C3%A3oPerseuAbramo.

DILMA ROUSSEFF: POR QUE O GOLPE DE 2016 FOI VITORIOSO? - Canal Opera Mundi: https://www.youtube.com/watch?v=KJcSyYLshvQ&t=10s&ab_channel=OperaMundi.

Gravação derruba Romero Jucá e Dilma diz que escancara “consórcio golpista” - El País: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/23/politica/1464033744_760409.html.

Ouça a conversa entre Romero Jucá e Sérgio Machado - Diário de Pernambuco: https://www.youtube.com/watch?v=vHnVQYDol6c.