Período Especial em Cuba: Desafios e Transformações de uma Nação

Autora: Rafaella O. Barros

15 jun.2023.

foto :  presidente russo, Boris Yeltsin, de pé em cima de um veículo militar diante do edifício da Federação Russa, em uma imagem de 19 de agosto de 1991. Atrás dele, várias pessoas seguram uma bandeira da Federação Russa. Yeltsin se dirige à multidão para convocar uma greve geral após o golpe de Estado contra o líder soviético Mikhail Gorbachev 

Durante a Guerra Fria, Fidel Castro alinhou Cuba (socialista) ao bloco econômico soviético, consolidando uma relação político-econômica bem vantajosa para o país. Porém, em 1991, a  União Soviética (URSS) entra em colapso, deixando Cuba numa situação de grande vulnerabilidade.


O termo "Período Especial em tempos de Paz”, foi usado para representar uma das piores épocas de Cuba: a queda da URSS. Para sobreviver, o país passou a necessitar da ajuda financeira, militar e técnica, já que dependia das compras caras e das vendas baratas dos soviéticos. Os impactos sobre Cuba foram brutais. Entre 1990 e 1994, o PIB cubano caiu 36%; as exportações, 80%; e as importações, 73%. Sem a URSS, o governo lançou uma série de reformas econômicas para lidar com a crise. As medidas foram centradas na abertura à iniciativa privada, a impulsão de um bloqueio econômico que impedia que os países aliados dos Estados Unidos de estabelecer comércio com Cuba, isolando a ilha, e a reforma mais expressiva, a permissão para que empresas estrangeiras se instalassem em Cuba. A estratégia cubana é gradualista, com forte condução por parte do Estado. As políticas implementadas em Cuba foram associadas às da China e Vietnã, como por exemplo nos investimentos externos que precisam ser feitos por meio de joint-ventures, na qual o Estado assume 50% do controle de cada negócio.


Importante ressaltar que o setor de turismo acabou se tornando a principal atividade econômica de Cuba, superando a produção de açúcar. As grandes cadeias hoteleiras européias, em particular as espanholas, usufruíram da ilha. Com a expansão do turismo, o mercado de trabalho foi ampliado em tempo integral ou parcial para muitos cubanos, em atividades informais como guias, motoristas e garçons. Isso fez com que, do ponto de vista social, o acesso a moedas fortes, dólares ou euros tornou os prestadores de serviços aos estrangeiros um grupo privilegiado na sociedade cubana. Infelizmente, a prostituição e o turismo sexual voltaram a tona, aspecto esse mais problemático desse período, cujo a erradicação desses aspectos haviam sido um dos orgulhos do regime estabelecido em 1959.


Em meados de 1989, nota-se que as reformas foram bem-sucedidas nos campos do petróleo e da mineração, da qual a produção se multiplicou por seis e três vezes, respectivamente, destacando os investimentos das empresas chinesas e as interações com as firmas canadenses. As autoridades cubanas também autorizaram a criação de empresas familiares, fazendo com que ao longo da década de 1990, a porcentagem da população economicamente ativa empregada no setor privado alcançasse 25%.


Dentro das reformas econômicas, a agricultura foi deixada de lado, o governo fechou cerca de metade das usinas elétricas, resultando na perda de 100 mil empregos e na redução da produção para 1,2 milhões de toneladas em 2006, contra mais de 8 milhões na década de 1980. As reformas econômicas tornaram o país menos dependente do açúcar e do tabaco, com a prosperidade do setor de mineração e do turismo, ainda que este traga diversas consequências sociais adversas. A agenda externa se diversificou, com o estabelecimento de parcerias importantes com Venezuela, China, União Européia e Canadá. 


Portanto, mesmo após a queda da União Soviética e com os bloqueios que permanecem até hoje, Cuba sobreviveu e se sustenta devido ao socialismo estabelecido no país e, claro, as conquistas sociais da revolução. Graças a persistência da busca do desenvolvimento política social, Cuba tem índices sociais comparáveis aos dos países mais ricos do mundo, mesmo sendo um país subdesenvolvido. Em suma, com sua 'morte e ressurreição', a nação é uma sobrevivente de tudo que passou e passa até hoje.



Mikhail Gorbachev (ex-presidente da União Soviética) e Fidel Castro (ex-presidente de Cuba) em Havana, 2 de abril de 1989 (meses antes da queda do muro de Berlim)