Período Especial em Cuba: Desafios e Transformações de uma Nação
Autora: Rafaella O. Barros
15 jun.2023.
Durante a Guerra Fria, Fidel Castro alinhou Cuba (socialista) ao bloco econômico soviético, consolidando uma relação político-econômica bem vantajosa para o país. Porém, em 1991, a União Soviética (URSS) entra em colapso, deixando Cuba numa situação de grande vulnerabilidade.
O termo "Período Especial em tempos de Paz”, foi usado para representar uma das piores épocas de Cuba: a queda da URSS. Para sobreviver, o país passou a necessitar da ajuda financeira, militar e técnica, já que dependia das compras caras e das vendas baratas dos soviéticos. Os impactos sobre Cuba foram brutais. Entre 1990 e 1994, o PIB cubano caiu 36%; as exportações, 80%; e as importações, 73%. Sem a URSS, o governo lançou uma série de reformas econômicas para lidar com a crise. As medidas foram centradas na abertura à iniciativa privada, a impulsão de um bloqueio econômico que impedia que os países aliados dos Estados Unidos de estabelecer comércio com Cuba, isolando a ilha, e a reforma mais expressiva, a permissão para que empresas estrangeiras se instalassem em Cuba. A estratégia cubana é gradualista, com forte condução por parte do Estado. As políticas implementadas em Cuba foram associadas às da China e Vietnã, como por exemplo nos investimentos externos que precisam ser feitos por meio de joint-ventures, na qual o Estado assume 50% do controle de cada negócio.
Importante ressaltar que o setor de turismo acabou se tornando a principal atividade econômica de Cuba, superando a produção de açúcar. As grandes cadeias hoteleiras européias, em particular as espanholas, usufruíram da ilha. Com a expansão do turismo, o mercado de trabalho foi ampliado em tempo integral ou parcial para muitos cubanos, em atividades informais como guias, motoristas e garçons. Isso fez com que, do ponto de vista social, o acesso a moedas fortes, dólares ou euros tornou os prestadores de serviços aos estrangeiros um grupo privilegiado na sociedade cubana. Infelizmente, a prostituição e o turismo sexual voltaram a tona, aspecto esse mais problemático desse período, cujo a erradicação desses aspectos haviam sido um dos orgulhos do regime estabelecido em 1959.
Em meados de 1989, nota-se que as reformas foram bem-sucedidas nos campos do petróleo e da mineração, da qual a produção se multiplicou por seis e três vezes, respectivamente, destacando os investimentos das empresas chinesas e as interações com as firmas canadenses. As autoridades cubanas também autorizaram a criação de empresas familiares, fazendo com que ao longo da década de 1990, a porcentagem da população economicamente ativa empregada no setor privado alcançasse 25%.
Dentro das reformas econômicas, a agricultura foi deixada de lado, o governo fechou cerca de metade das usinas elétricas, resultando na perda de 100 mil empregos e na redução da produção para 1,2 milhões de toneladas em 2006, contra mais de 8 milhões na década de 1980. As reformas econômicas tornaram o país menos dependente do açúcar e do tabaco, com a prosperidade do setor de mineração e do turismo, ainda que este traga diversas consequências sociais adversas. A agenda externa se diversificou, com o estabelecimento de parcerias importantes com Venezuela, China, União Européia e Canadá.
Portanto, mesmo após a queda da União Soviética e com os bloqueios que permanecem até hoje, Cuba sobreviveu e se sustenta devido ao socialismo estabelecido no país e, claro, as conquistas sociais da revolução. Graças a persistência da busca do desenvolvimento política social, Cuba tem índices sociais comparáveis aos dos países mais ricos do mundo, mesmo sendo um país subdesenvolvido. Em suma, com sua 'morte e ressurreição', a nação é uma sobrevivente de tudo que passou e passa até hoje.