Cronologia do neoliberalismo no Chile: é uma questão de tempo para uma reação


Autora: Elza de Paula

15 jul. 2021

Ilustração por Elza de Paula, inspirada no vídeo da estátua de Pinerã caindo

 


4 de julho de 2021: Elisa Loncón com a maioria absoluta de votos, recebendo 96 dos 155 possíveis, é eleita como presidenta da Convenção Constituinte do Chile, órgão responsável pela elaboração de uma nova constituição ao país, visando substituir a carta magna concretizada em meio a ditadura de Pinochet. 


É inegável que a eleição da parlamentar significa muito mais do que uma vitória pessoal, é o reflexo da luta dos chilenos, que vem se firmando há décadas, na tentativa de se libertar das amarras do neoliberalismo implementado sob a ditadura de Pinochet. Mas, para termos um entendimento completo dessa luta, temos que voltar anos atrás.


11 de setembro de 1973: o golpe de Estado é cravado na história do Chile. O até então presidente socialista Salvador Allende é assassinado para dar lugar ao cartel da Junta Militar, comandado por ele, Augusto Pinochet. O processo de mudança que o governo ditatorial clamava era inegável, perseguindo todos que quisessem ir contra as atrocidades praticadas pelo poder militar. Pinochet tinha em sua corja o apoio dos apelidados “Chicago Boys” (economistas norte-americanos), que articulavam o neoliberalismo a se implantar no mundo posteriormente, mas usando o Chile, como seus ratos de laboratório de terceiro mundo, que "enjaulados" sob um regime autoritário, funcionaram como um meio de estudo.


11 de março de 1990: fim da ditadura de Pinochet, que foi retirado por voto popular, dando início ao governo de Patricio Aylwin. Ainda sob o governo Aylwin, deu-se inicio a Comissão Nacional da Verdade e Reconciliação para apurar os crimes da ditadura. Desde que deixou o governo, Pinochet foi acusado e condenado por inúmeros crimes, tendo sido preso na Inglaterra em 1998, a pedido da justiça espanhola, por atentado aos direitos humanos. Apesar da abertura política, o fim da ditadura de Pinochet não encerrou sua política econômica, vigente até os dias atuais.


18 de outubro de 2019: início dos protestos civis no Chile, o que começou com estudantes do ensino médio revoltados com o aumento de 30 pesos (equivalente a 20 centavos em real) na passagem de metrô, rapidamente ampliou de escala ao ter o apoio massivo da população, berrando seu descontentamento com o neoliberalismo, transformando o país num grande palco para manifestações politicas. Um dos eventos mais simbólicos foi quando a população ateou fogo nos edifícios da Enel, empresa privada de energia elétrica, mostrando o ódio popular às privatizações implementadas pela ditadura de Pinochet. Para acalmar a população, foi definido que uma assembleia seria eleita para modificar a constituição. 


16 de maio de 2021:  Realização das eleições dos deputados e deputadas constituintes. Sua composição requeria igualdade quantitativa de homens e mulheres. As eleições apontaram para uma derrota da direita e uma vitória dos candidatos independentes, ou seja, que não pertecem a nenhum partido, mas que se apresentam contra o regime econômico neoliberal. 


04 de julho de 2021, e Elisa Lóncon foi eleita a líder da Constituinte Chilena, a professora, ativista mapuche e linguista, agora é a responsável para assegurar que leis que irão formar a nova carta magna do país. Sua vitória aponta para o fortalecimento das questões indígenas na constituição, com a busca pela organização do Chile como um Estado Plurinacional, como Bolivia e Equador. Contudo, cabe destacar que Loncon é do setor independente da constituinte, sem pertencer a nenhum partido, o que deixa sua atuação futura em aberto. 


A eleição não significa democracia garantida, devido à pressão aplicada pela elite do país para que as novas normas obedeçam não a necessidade do povo, mas a sua. O Chile deve permanecer em luta “Que o la tumba serás de los libres, o el asilo contra la opresión.”, como ecoa o hino nacional do país andino. 


Para saber mais:

 

BBC NEWS - Quién es Elisa Loncón, la profesora mapuche elegida presidenta de la Convención Constituyente de Chile:  https://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-57716044

 

El país Brasil - Dictadura Pinochet: https://brasil.elpais.com/noticias/dictadura-pinochet/

 

Brasil de fato - Por que o local da foto símbolo dos protestos de 2029 é disputada até hoje no Chile: https://www.brasildefato.com.br/2021/04/16/por-que-o-local-da-foto-simbolo-dos-protestos-de-2019-e-disputado-ate-hoje-no-chile


Causa Operária - Um panorama da constituinte chilena: https://www.causaoperaria.org.br/um-panorama-da-constituinte-chilena/