Quando em causa está a “obrigatoriedade” de se escrever para determinado órgão informativo, vem ao de cima a tentação de ficarmos por um cómodo blá-blá-blá ou então “escarrapachar” o que se passa na actualidade, ficando desde logo sujeito a determinadas e certas interpretações. Assim, optei por fazer reviver vivências de outrora, dando a conhecer à grande maioria de quantos acedem a esta voz colectiva de Nespereira, passagens de vida que ilustram às mil maravilhas quanto é diferente o dia a dia de agora. Em jeito de exemplo, hoje em dia a popular sardinha ou os ricos “chicharrinhos” chegam de “pó-pó” à porta de cada um, sendo que tal visita é anunciada pela música que uma cassete arranhada repete até que as caixas fiquem prontas para a jornada seguinte. Nos anos 50 e 60 bem diferente era o anunciar de tal chegada à nossa terra: enquanto o Almeida, o Xico, o “Benfiquem” e outros que a partir do Couto carregavam nas “burras” (bicicletas) quatro ou cinco caixas com sardinhas e berravam quanto os pulmões permitiam, jurando que as ditas eram frescas e vivinhas, o Ti Américo Susana (assim era conhecido como por Susanas eram conhecidas as demais revendedoras), fazia subir nos céus da Vista Alegre um foguete de três estalos que anunciava ás gentes de metade da freguesia a chegada ao alto das Urchas do “Vieira de Alvarenga”. Daí a pouco, era certo, junto às escadas do “Ti Zé do Elias”, na Feira, sempre tinha lugar o fervilhar de quantas viam em tal petisqueira a solução para afugentar a larica de grandes e pequenos. A tristeza era daquele tamanho quando não aparecia o peixe e ficavam a ver navios.
Hoje em dia vive-se bem melhor. “Sardinha não, obrigado”, é o que a juventude de agora diz quando é questionada se quer ou não comer tal petisco. De repente, tive a sensação que voltava a falar na D. Tosta Mista…mas não! Hoje na “ementa” reina o peixe e só ele. Mais nada!
Alves Pinto