Quem como eu lê o jornal diário, certamente que num destes dias recebeu um desdobrável que vinha no interior do jornal, com o título “2010 - Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social”.
Ao abrir o folheto e depois de uma leitura rápida fiquei com a impressão que a mensagem não iria passar. Não que o conteúdo não tivesse significado, pois estava cheio dele, mas pelo alheamento generalizado da população no que toca à situação daqueles que são “considerados” pobres.
Não vou aqui dizer se os métodos ou as fórmulas que o Estado/Governo encontrou para dizer quem são os pobres são justos ou injustos, pois tratar-se-ia apenas da minha opinião, que vale o que vale no meio de quase 11 milhões de Portugueses, vou antes deixar a minha reflexão pessoal esperando que, como eu, muitos desses 11 milhões possam ter visto, possam reflectir e possam agir.
Como disse o panfleto distribuído estava cheio de significado. Mas também, como disse, acho que a mensagem não vai passar. E não vai passar porque a nossa sociedade apesar de solidária, como se vê em campanhas nacionais, por exemplo do “Banco Alimentar”, ou em campanhas locais nos peditórios das colectividades, por exemplo, em que a população adere, já não estará tão receptiva, penso eu, quando se trata de um pedido “da parte do Estado/Governo”.
Na foto em cima apenas um exemplo, entre tantos outros, da pobreza que se vê nas nossas cidades. O estado tem que estar presente. O estado tem obrigação de estar presente e apoiar da melhor forma possível quem de ajuda precisa para sair da degradação a que os passos da vida levaram. Penso que estamos de acordo.
Nespereira. Poderia ter sido em Nespereira que esta foto foi tirada, mas não foi. Isso também não é relevante para a situação. O que quero dizer é que na ruralidade deste nosso país, e por esse mundo desenvolvido, esta foto espelha aquilo que a sociedade é. O isolamento, a solidão, o esperar por melhores dias, o esperar que os filhos da terra regressem no final da semana para uns, uma vez por mês para outros e se calhar para muitos uma vez por ano.
Reparem naquele olhar. Será felicidade? Para quem espera, como muitos dos nossos idosos esperam, que chegue aquele dia em que os ente queridos entram pela porta, é um momento de muita felicidade, que valeu os dias e dias de solidão e tristeza.
No nosso caso, nosso dos Nespereirenses, felizmente que temos uma instituição que apesar de estar no terreno há poucos anos, já faz parte do dia-a-dia dos nossos idosos. Aquele sorriso da foto poderia bem ser o sorriso de um utente do “nosso Lar”. O Estado/Governo tem estado presente e contamos que continue a estar presente. Para este tipo de solidariedade, penso que também estamos todos de acordo.
Pobreza.
"Entre nós é vergonhoso reconhecer a própria pobreza; mas pior do que isso é não esforçar-se para escapar dela." (Tucídedes)
Como esta frase é actual.
Vou dizer aqui aquilo que disse quando o Governo do Eng. António Guterres decidiu estipular no nosso país o “RMG” Rendimento Mínimo Garantido.
Vai resolver o problema de muita gente, mas vai criar na nossa sociedade uma contínua subsídio-dependência.
O Governo da altura resolveu (para uns bem, para outros mal) atribuir um subsídio a quem não tivesse um mínimo de rendimentos. Passados todos estes anos o subsídio foi-se mantendo, mudando de nome agora para “RSI” Rendimento Social de Inserção. Pessoalmente em termos de nome, concordo mais com o primeiro, pois como e bem diz, é um rendimento que no mínimo é garantido pelo Estado. Quanto ao nome actual, já não concordo tanto, uma vez que, na minha opinião, a ultima palavra é pura demagogia.
Sobre a justiça da atribuição ou não aos subsídio-dependentes, não me quero pronunciar, pois poderia estar a cometer injustiças naquelas situações que realmente precisam do tal subsídio, sim, porque acho que existem casos em que tal subsídio se justifica. Não teria que ser todo em Euros, mas também em vales alimentares, energia, telefone, renda de casa, outros mais.
Como já perceberam, não sou um apoiante inequívoco de tais subsídios. Não porque não existam pessoas que dele precisam, porque todos reconhecemos que existem, mas sim pela facilidade com que se recebe o subsídio e na facilidade em viciar o sistema para dele usufruir.
O Estado/Governo ao atribuir esse apoio, deveria salvaguardar os valores que entrega às pessoas. Existiriam com certeza muitas soluções, vou apenas deixar aqui algumas possíveis. Quem recebe, deveria prestar serviço comunitário em proporção ao que recebe. Ou seja, um Adulto recebe 190 euros, cerca de 40% do salário mínimo nacional. Como todos sabem por essas cidades, vilas e aldeias quem não conhece aquela mãe de família, que tem um ou dois filhos na escola, que trabalha na fábrica e que tem todos os dias que “fazer omoletes sem ovos”, para que os filhos cheguem a tempo à escola e que no final do dia tenham uma refeição decente. Sei que muitos não as conhecem, mas Elas e Eles existem, e chegam ao fim do mês e trazem um cheque de 450 euros. Pois é, trabalham, trabalham, não têm tempo para nada e trazem para casa o fruto do seu trabalho. Tem que dar!
O que proponho é que quem recebe, de alguma forma retribua por aquilo que recebe. Por que não, quem recebe os tais 190 euros, prestar serviço durante uma semana por mês? Sim uma semana, mais dia, menos dia. Onde? Onde fosse preciso. Na província por exemplo, a tratar das margens dos rios, a limpar as florestas, a ajudar nas Associações, onde fosse preciso. Na Cidade. Na cidade não faltariam instituições que prestam apoio à comunidade e que precisam de “braços” para melhor desempenhar as suas tarefas.
Outra forma de o Estado se salvaguardar das verbas dispendidas. Seria o de após a tal “Inserção” da pessoa na Comunidade e no trabalho, essa mesma pessoa retribuir aquilo que recebeu quando estava a precisar. Nem que fosse 20 euros por mês. Se a pessoa realmente melhorar a sua vida e deixar de precisar do apoio, porque não devolver, ainda que aos poucos, aquilo que recebeu, para que outros continuem a beneficiar de tal medida?
Enfim, são apenas algumas ideias, certamente existem muitas mais. Por tudo isto é que eu penso que a ideia do “panfleto” não vai pegar. Não vai porque as pessoas já se aperceberam que muito daquilo que se gasta é mal gasto ou deveria ser corrigido de uma forma mais célere, coisa que o Estado/Governo não é capaz ou não tem vontade para fazer.
PS. Ah!! Ainda bem que perguntaram pelo significado da última foto. Já me esquecia. Não, não é para os pais de família que eu vos falei há pouco, esses não têm tempo, estão a trabalhar e o dinheiro não chega. Mas chega para os outros…