Fernando Pessoa ajudou certamente a consolidar a ideia de que a força de vontade mantém acesa a esperança da concretização, com a intemporal expressão "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce".
Parece-me evidente que qualquer alteração a esta máxima, torna mais difícil a obtenção de tal resultado. Talvez por isso, seja mais difícil a obra nascer, se for o homem a querer e a sonhar.
E porquê?
Sem querer entrar em polémicas, que pertencem mais a um qualquer Zé tolo do que a mim, acredito que independentemente do que lhe queiram chamar, Deus há só um… e por isso também fica facilitada a sua vontade.
Já quando falamos do homem, aí tudo muda…há muitos e é muito mais difícil conjugar as vontades, dar asas aos sonhos e fazer a obra nascer.
Continua a ser possível, desejável, mas nem sempre é imediatamente exequível.
Que fazer quando assim acontece?
Na vida nunca existe um só caminho, e aqui encontro pelo menos três…
O primeiro deles, o do recuo, atirando a toalha ao chão, assumindo as dificuldades como inultrapassáveis e desistindo.
O segundo, o do precipício, avançando sem olhar a meios, a obstáculos, afastando tudo e todos, até os que pretendem fazer a mesma caminhada, numa atitude prepotente, que quase sempre leva a um beco sem saída, porque afinal orgulhosamente sós, não somos capazes de encontrar o rumo.
Finalmente o terceiro, o da paciência, onde por detrás de cada inclinação que nos faz abrandar, está uma recta que nos permite retemperar forças, avançar e preparar a próxima inclinação.
Sou mais seguidor deste último, até porque como dizia Fonsegrive, "A dificuldade na vida, não é fazer esforço, mas fazê-lo constantemente".
Esse esforço implica então dificuldade, paciência, mas por outro lado persistência, na certeza de que mais gente faz esse caminho e ainda que não ao destino final, sempre poderemos apanhar uma boleia que nos deixe mais perto. Recusa-la? Nem pensar!
Devemos aproveita-la e fazer desse ponto de chegada, um novo ponto de partida, onde as forças estão retemperadas e a viagem vai ser certamente mais fácil.
Analogias à parte, encontro até actualmente em Nespereira, um bom exemplo de toda esta questão – a Escola.
É certamente uma luta de todos os Nespereirenses, a implantação na freguesia, de uma escola E.B. 1,2 ou superior até...
Será que alguém de boa fé, duvida que seja essa a vontade unânime?
Obviamente que não.
Muitas mulheres e homens têm lutado por isso, uns infelizmente já partiram sem ver concretizado o anseio, outros desviaram-se da luta por razões várias, outros ainda continuam a lutar.
Deixo aliás aqui um link ( http://www.cm-cinfaes.pt/documentos/assembleia/actas/2006/am0306.pdf ) que retrata uma acta da Assembleia Municipal de Cinfães, em 2006, e onde se pode ler a posição de todos os intervenientes sobre a questão.
No entanto, essas vontades e esses quereres, não chegaram ainda para que a obra nascesse, nem sequer o facilitismo de um governo que irresponsavelmente e por razões eleitoralistas, pôs em Pidac uma obra que sabia não ser possível então.
Será que por causa disso nos deveríamos pôr em bicos de pés, numa afronta de tudo ou nada, que já vimos por diversas vezes não resultou?
Pela minha parte fui dos que optou pelo inverso, aceitar que o que vem também é bom, mas que no entanto não chega.
Será um começo, apesar de muitos tentarem passar a ideia de que é um fim.
A acta dá precisamente conta dessa posição, que certamente explicada aos manifestantes de então, os faria ver a questão de uma forma não política, como lhes quiseram passar.
E para que não restem dúvidas e na tentativa de que todos adoptem o mesmo caminho, para que com entreajuda possamos chegar ao destino pretendido, e porque também vejo afirmações só possíveis por desconhecimento, deixo o link ( http://www.cm-cinfaes.pt/documentos/educacao/ConselhoMunicipal/CartaEducativa/Carta%20educativa%202006.pdf ) da própria carta educativa, onde a folha 162 não deixa dúvida alguma, da intenção de evoluir para outros níveis de ensino, desde que legal e estatisticamente se torne possível.
Mais do que as palavras ficam os factos e relatos escritos.
Não somos Deus, e por isso não basta querer e depois sonhar, é preciso trabalhar, lutar, com rigor e verdade...não desperdiçando o que de positivo nos vai sendo permitido pelo caminho!