O que fez um ilustre Cinfanense, para que com os seus actos ou ordens, “atirasse” mais uma acha para a fogueira na decadente monarquia Portuguesa?
Foi há 100 anos que foi proclamada a República Portuguesa. Estou certo que a esmagadora maioria dos Portugueses (hoje) apoiam o sistema Republicano e a Democracia.
Um vulgar cidadão como eu, pouco conhece dos motivos que levaram à mudança do sistema político Português no início do Século XX. A azáfama diária com que vivemos, não nos permite reflectir sobre os motivos que levam a determinados actos. Sabemos sim que a vida está má, que cada vez temos menos dinheiro no bolso, que o sistema de justiça não funciona, que temos que ir ao médico e não conseguimos consulta, que os impostos estão sempre a aumentar e que os ricos estão cada vez mais ricos e que os pobres cada vez mais pobres e que o Sócrates aos pouquinhos lá nos vai *******, bla, bla, bla…
O que nos vai “valendo” é que no final do dia, lá vamos para casa e temos à nossa espera uma família, um jantar, um joguito de futebol que passa na tv ou a novelita dos vampiros que tanto está na moda.
Todos nós apontamos o dedo aos políticos, que são os responsáveis por estas políticas erradas que desde há décadas vêm delapidando o património nacional, cultural e pessoal de toda classe trabalhadora (onde é que eu já ouvi isto).
Todos nós estamos prontos para “atirar aquela pedra” aos políticos, pela situação em que nos colocam no dia-a-dia. Nós achamos que a responsabilidade de tudo o que corre mal é deles. Nós achamos que o nosso papel é na altura das eleições ir lá colocar a cruzinha (que a República nos permite) e a partir desse acto, sacudimos “a água do capote”, retirando de nós próprios a responsabilidade colectiva de contribuir para uma sociedade melhor.
Os tempos que vivemos são fruto dos nossos actos. Em primeiro lugar são fruto dos nossos valores e das nossas atitudes. Se estamos mal, temos que reflectir os motivos, temos que saber qual a nossa responsabilidade individual.
Voltando ao início do século XX, sobejamente descrito por Miguel Sousa Tavares num dos melhores romances Portugueses – Equador –, deveu-se aos interesses instalados dos produtores de cacau, que com a sua visão do lucro fácil e de mão de obra “gratuita”, colocaram a perder o enorme potencial que o nosso País tinha sobre a produção de cacau que era a nossa “Auto-Europa” desses tempos. Os produtores (empresários) não perceberam que a globalização tinha começado. Não sabiam, ainda, o que isso era. Mas saiu-lhes caro (saiu-nos caro). Os Ingleses não perdoaram… A Monarquia estava a cair.
Agora, com esta crise que não foi causada por nós (pensamos nós), 100 anos depois, preparamo-nos para medidas de austeridade. Não gostamos nada. Protestamos no café, em casa, no emprego. Mas não fazemos nada. Amanhã vamos alegremente inaugurar 100 escolas.
Se calhar (digo eu, pois nada sei) também em Nespereira se vai lançar a primeira pedra do centro escolar. Se calhar lá vão estar os Nespereirenses a bater palmas por essa obra e a agradecer à Câmara de Cinfães e a alguns Nespereirenses por se ter conseguido vontades e verbas para construir essa escola.
Para mim esse dia será de tristeza. Digo-o do fundo do coração. Os Nespereirenses devem perceber que não nos podemos contentar com migalhas, que essa não é a escola que precisamos. Uma Vila com uma escola só até ao 4º ano…
Vou fazer uma travessia. Não uma travessia no deserto, pois vou andando por aí. Vou acompanhar o nosso ilustre Cinfanense na sua viagem, para tentar compreender as dificuldades sentidas em “Como eu atravessei África”
Viva a República.