METER O BEDELHO:BENTO DE NURSIA – PADROEIRO DA EUROPA

A paz aos cristãos proclamada por Constantino trouxe a liberdade de culto e de evangelização mas também permitiu a entrada na Igreja de gente que foi perdendo o fervor, a convicção e ardor apostólico dos primeiros séculos. Com o tempo, começaram a entrar na Igreja gente mal preparada, sobretudo, jovens irresponsáveis com vida luxuriosa e materialista, sem grandes convicções, sem as virtudes humanas que são o alicerce das virtudes cristãs. Em seguida vieram as invasões bárbaras que matando, destruindo e vandalizando, desmoronaram o Império Romano deixando-o sem rumo e sem líderes capazes.

Foi neste ambiente morno que nasceu, de família nobre, Bento de Núrsia. Feitos os estudos superiores, em Roma, deixa a cidade e vai viver uma vida ermita e contemplativa para o Subíaco onde, mais tarde, se vão juntar dezenas de jovens desejosos da perfeição e de paz. Passado algum tempo, mudam para o Monte Cassino onde constrói um Mosteiro.

O Mosteiro funciona como uma colmeia. Cada monge cumpre o seu trabalho, a sua missão. O Abade é uma espécie de abelha-mestra a quem todos obedecem e é o construtor da de unidade.

S. Bento estabelece uma regra simples: - “ORA ET LABORA, reza e trabalha com alegria”.

O monge é um homem que reza mas que reza bem, isto é, com humildade, com confiança e perseverança.

Para S. Bento a grande força disciplinadora da natureza humana é o trabalho. O ócio, a preguiça é a sua ruína. O monge faz do trabalho, uma oração, por isso tem de “fazê-lo bem feito.”

Os monges beneditinos sempre procuraram “fazer bem”, promoveram a “cultura do fazer bem feito”. Ao contrário de hoje que se faz como calha, atabalhoadamente, sem a preocupação do “fazer bem feito”.

Os monges beneditinos tinham e têm, hoje, como lema o que os romanos apregoavam: “Age quod agis, isto é, faz bem feito aquilo que estás a fazer”.

Esta “cultura do fazer bem feito” implica muita paciência - a chamada “paciência beneditina” – e “disciplina interior” que dá uma capacidade de resistir à tentação de fazer por fazer, de fazer de qualquer maneira, é contra a falta de brio profissional.

A “cultura do fazer bem feito” tem as suas exigências:

- Exigência comigo mesmo. Sem esta exigência pessoal não posso ajudar a construir uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais cristã.

- Se sou exigente comigo, serei exigente com os outros. Só quem faz bem é que pode exigir que façam bem.

Esta “cultura do fazer bem feito” não se cria por decreto mas adquire-se com a educação dos pais, dos educadores e dos autarcas.

Um Mosteiro, numa Terra, era uma Escola.

Se era masculino, ensinavam: - A agricultura, amanhar as terras, explorar e aproveitar as águas, a construir muros e casas. Artes e Ofícios como pedreiros, carpinteiros, pintores etc., farmácia à base de ervas. Ler, escrever, Ensino Superior e Eclesiástico.

Se era feminino, ensinavam as regras da higiene, a cozinhar, costura, bordar, a serem boas donas de casa. E também a ler, a rezar e a catequese.

Não é isso o que fazem nas missões os nossos missionários e religiosas?

Depois das invasões bárbaras e do vandalismo que tudo destruiu, veio a “Paciência Beneditina” levantar mosteiros para fixar o Povo à terra e ensiná-los a cultura da convivência e da paz, do trabalho e das letras e assim foram surgindo as Pátrias. “Na verdade através dos Mosteiros Beneditinos na Europa – cidadelas do espírito e da cultura – e pela acção dos seus monges, armados com o tríplice arnês da Cruz, do Livro e do Arado, Bento tornou-se o construtor da nova Europa dos valores e do progresso da humanidade cristã: fé em Deus, serviço fraterno, ajuda aos mais fracos, desenvolvimento das terras, estudo e cultura.

Os monges beneditinos foram os pais da Europa. Razão porque Paulo VI declarou S. Bento Padroeiro da Europa, da Comunidade Europeia.

O cardeal Ratzinger, na véspera da morte do Papa João Paulo II, esteve no mosteiro beneditino a proferir uma palestra sobre “A Europa na crise das Culturas” e, passados dias, é eleito Papa e escolheu o nome de Bento. Disse: “Temos necessidade de homens como Bento de Núrsia que, numa época de dissipação e decadência (…) juntou as forças das quais surgiu um mundo novo. Bento como Abraão, tornou-se, assim, pai de muitos povos”.

Nesta hora de crise, bem precisamos da protecção e bênçãos de S. Bento. Que ele nos oiça, neste 11 de Julho, dia da sua festa.

P. Justino Lopes