1996/97

Competição: 1ª Divisão Distrital

Classificação: 8º lugar (30 jogos, 12 vitórias, 3 empates, 15 derrotas)

Pontos: 45 pontos;

Média Pontos: 1,30 pontos/jogo

Golos marcados: 36 (1,20 p/jogo)

Golos sofridos: 44 (1,47 p/jogo)

Equipas da competição: Cinfães, Nelas, Souselo, Sampedrense, Mortágua, O.Frades, Cambres, Lobanense, Santacombadense, C.Senhorim, Lusitano, Tabuaço, M.Beira, Sul, Silgueiros

Subiu: Cinfães

Desceu: Moimenta da Beira, Sul, Silgueiros

Campeão Distrital: Cinfães

Presidente: Hernâni Andrade

Antes de começar a época 1996/97, Hernâni e a Direção, deram conta de que havia aspectos do clube, que necessitavam de mudar, e então, ele decidiu aumentar o terreno de jogo, e construiu a bancada que existe atualmente, junto com o salão de bailes. Hernâni Andrade foi talvez o presidente mais preocupado não só em gerir aquilo que tinha em mãos, mas também em melhorar as coisas que já existiam. Por isso, nesse ano, ele melhorou o aspecto do bar, pondo umas mesas de ping-pong no salão de baile, que durante a época de Verão eram geridas por duas simpáticas raparigas que tomavam conta do bar, de maneira muito competente: Ana Sofia Teles e Cristina “Vilarinho” Pereira. Aí, Hernâni Andrade, que foi eleito novamente, foi buscar um antigo símbolo do clube, para colmatar a saída do treinador Mário João: Magalhães! Magalhães foi treinador do Alvarenga, onde travou conhecimento com Hernâni Andrade, e seu irmão também foi guarda-redes do Nespereira, na década de 80, Magalhães era uma pessoa extremamente calma, inteligente e muito metódico. Dava muita importância aos lances de bola parada, que nessa época tornouse no forte do clube.

Nessa época (1996/97), o jogo de apresentação do Nespereira, era contra uma equipa que estava na 1ª Divisão Nacional, que tinha subido recentemente, chamada Felgueiras FC . O Felgueiras era orientado então, por um treinador na altura desconhecido, chamado Jorge Jesus, e trouxe ao Olival jogadores famosos da altura, como Avelino, Bozinovsky,Acácio (que é natural de Alvarenga- Arouca, freguesia vizinha) Lopes, Baroni, Rosário, Kristic,Lopes da Silva, Clint, entre outros. Não posso precisar quanto acabou, o jogo, mas lembro-me que o Felgueiras ganhou-o, mas não com grande margem. No final do jogo, foi aquela corrida para os balneários, para pedirem autógrafos aos jogadores do Felgueiras. O Nespereira apresentou, na minha opinião, a equipa mais forte de sempre, com a continuidade de João, Canário, Marcos, Zé João, Hernâni, Skif, Teles, e a “cimentação” de alguns ex-juniores como é o caso de Luís Semblano, Ruizito, Nicho e Pedro Semblano, como elementos essenciais para a equipa.

Primeira vez, que o Nespereira iria encontrar dois adversários concelhios de grande peso: o Cinfães, que tinha descido da 3ª Nacional, e vivia sempre nessa oscilação, num verdadeiro “sobe e desce”, e, o Souselo que era uma equipa muito forte, sempre candidata a subida. Nessa época, Magalhães iniciou a época meio trémula, não conseguindo encaixar um esquema tático que agradasse aos adeptos e à própria diretoria, e foi exatamente num dos “derbys”, contra o Cinfães, no Estádio Cerveira Pinto, ainda pelado, que o destino de Magalhães iria ser decidido. O Nespereira enfrentou o Cinfães de forma corajosa, mas não teve pernas para o talento, nem de Marcelo, nem de Tártaro, que desfizeram a equipa nespereirense, e, assim fizeram o Cinfães vencer por 3-0. Nessa mesma semana, Magalhães seria demitido do cargo de treinador, apesar das “más-línguas” contarem que a sua demissão foi fruto do fato do mesmo remeter Hernâni para o banco de suplentes! A escolha seguinte para treinar foi a de António Salazar Galhardo, que voltou ao cargo de treinador após 10 anos de interregno de ligação com o Nespereira, visto que ele treinava as camadas jovens do CD Cinfães. António Salazar era um treinador muito próximo dos jogadores, mas muito exigente, e com alguma rigidez, embora não fosse considerado simpático! A sua vinda veio equilibrar um pouco mais as contas, e veio perrmitir ao clube, mais alguma confiança, e esperança nas táticas utilizadas. O rigor de António Salazar veio trazer um novo fôlego à equipa! Jogo inesquecível, foi o da segunda volta, em que, o Cinfães visitou o Olival. A última vez que o Nespereira tinha se cruzado com o Cinfães, em jogos oficiais pelo campeonato, foi em 1979/80, quando o Cinfães subiu à 2ª Divisão Distrital, retornando a este “derby” 17 anos depois. O campo estava lotado de público, que cercava o terreno do jogo, com uma moldura humana fenomenal, divididos entre o lado da bancada sendo ocupado pelos adeptos do Nespereira FC, e o lado dos “bancos” de suplentes, era ocupado pelos adeptos do Cinfães. Recordo-me de chegar ao Campo, e o jogo tinha acabado de iniciar, e o Nespereira apresentava este “onze”: João; Rui Bateira, Marcos, Hernâni, Canário; Quim, Paulo Moura, Vítor Andrade, António João, Teles e Nuno Pinto. O Nespereira iniciou bem o jogo, marcando o primeiro golo de livre cedo, por Paulo Moura,um verdadeiro nº 10, primo do nespereirense Carlos “Pinheiro”, que foi “descoberto” num torneio juntamente com o seu irmão, Marco, um central muito eficaz, e o seu primo António João, que era de uma velocidade tremenda. A velocidade de António João era tanta, que um dia, num dos treinos, ele começou a correr em direção à linha lateral para tentar pegar a bola ainda dentro do campo, mas a sua alta velocidade o fez ir contra o muro de blocos de cimento, baixinho, que ele virou completamente, caindo do outro lado. Voltando ao Paulo Moura, este era um médio muito preciso e inteligente, e um dos melhores especialistas em bolas paradas que passou por Nespereira. O Nespereira marcou cedo o primeiro golo, mas logo de seguida, num novo livre, Nuno Carlos marcou o 2-0, levando o público ao êxtase. Ao intervalo, o Nespereira ganhava por 2-0. Mas, após o intervalo, o Cinfães voltou mais decidido, e cedo marcou o 1-2, num pontapé de canto, em que João não conseguiu defender o cabeceamento do atacante cinfanense. A maneira de jogar do Nespereira começou a fraquejar, mas nunca desistiram, embora a pressão do Cinfães fosse imensa. O público cinfanense fazia pressão sobre o “bandeirinha”, tendo na altura que, o diretor Cláudio Oliveira, apelar ao sistema interno de som, para pedir aos adeptos, alguma contenção na maneira de se expressarem. O jogo estava quase chegando ao fim, quando o Cinfães, de livre, através de Tartáro, conseguiu evitar que o Cinfães saísse dali derrotado, empatando assim o jogo, que ficou marcado por ser a melhor receita da bilheteira de sempre do Nespereira. Durante um período, o treinador António Salazar não pôde dar os treinos, com Hernâni Andrade a orientar várias vezes o treino, e de repente, um dia, este aparece no treino para informar que, não poderia mais continuar a assumir o cargo de treinador, porque foi convidado pela Federação de Bombeiros, para assumir o cargo de Coordenador- Geral dos Bombeiros do distrito de Aveiro, tendo sido muito acarinhado pelos jogadores. Então, para substituir o “Professor”, veio o Cabral. Cabral foi indicado pelo ex-treinador do Nespereira, Mário João, e era um funcionário da Petrogal. Era um senhor meio mulato, com um ar meio cínico, e na terça-feira de treino, e ele já levava referenciado por Mário João, o Varito, que ele disse logo de caras: - Tu és o Varito? O Mário João falou muito de você! Mas avisou-me para ter cuidado contigo, porque às vezes gostas de te portar mal.- Os dois riram-se, com o Varito dando aquelas gargalhadas interrompidas, típica dele. Varito, é o filho do Sr. Joaquim do Leopoldo, que também chegou a jogar futebol no Nespereira, em tempos mais idos. Jogou no Cinfães, e depois optou pelo Nespereira, sendo sempre um jogador muito rápido e explosivo, mas às vezes muito indisciplinado. Cabral com o seu sotaque tipicamente africano, começou a treinar de maneira dura, e um pormenor dele que me recordo, era ele para chamar o Carlos Bateira, que era mais conhecido por Bateira, ele demonstrou alguma dificuldade, trocando sempre o nome dele por “Bandeira”. O primeiro jogo de Cabral foi uma deslocação à Cambres (Lamego), para defrontar a equipa local. Mas as coisas não correram muito bem para ele, e uma das modificações que ele fez que mais me ficaram marcadas, foi a inserção de Luís Semblano, que jogava a médio ofensivo, como lateral direito, e a inserção de Nuno Cardoso, que jogou a médio centro. O Nespereira perdeu por 4-1. No treino seguinte de terça-feira, que geralmente era de recuperação física, Cabral fechou o plantel durante 30 minutos, no balneário, e deu um sermão tremendo nos jogadores, pelo resultado em Cambres. Apesar de não fazer parte da equipa, lembro-me que estava lá para treinar, e então, calçamos todos as sapatilhas, e subimos as escadas de acesso ao campo. Depois lá, ele explicou que queria que nós corrêssemos encostado pela parte da bancada, na direção da Feira Franca, e depois quando chegássemos ao final da linha, cruzaríamos na diagonal, atravessando o campo todo, até ao canto oposto do lado do caminho do Borralhal, seguindo depois pela linha de fundo, do lado do caminho do Borralhal, em direção à entrada, chegando ao canto, e fazendo a diagonal, atravessando o campo novamente. Este trajeto foi repetido durante 60 minutos aproximadamente, e me lembro que foi talvez um dos treinos mais cansativos que já vivenciei e não fui apenas eu, que me cansei, pois vi muitos dos jogadores demonstrando cansaço extremo. Para finalizar, o treinador, ainda pôs todo o mundo a subir as escadas da bancada, tendo alguns que aí, já nem conseguiram subir, pela dor nas pernas. Fazendo um pequeno interregno aqui, para recordar um jogo importante, que os juniores do Nespereira, fizeram pelo campeonato, em que ia disputar contra o Sp. Lamego, no Olival. A freguesia de Nespereira passou na altura, por uma situação extremamente dolorosa, que foi a morte do Rui Soares, num acidente. Rui Soares era conhecido por Rui “Badejo”, e era filho do dono do Café Clube, Ricardo Soares e da D. Anunciada. Nessa altura, a freguesia ficou extremamente consternada com a perda de Rui, enchendo o seu funeral, como nunca tinha se visto. No dia do seu funeral, até o tempo fechou, demonstrando a tristeza dessa sua perda. Uma semana depois do funeral, com o jogo contra o Sp. Lamego à porta, o “capitão” dos juniores, Nuno Cardoso veio ter comigo e perguntou-me se eu o ajudava, fazendo uma camisola para ele utilizar durante o jogo, com os dizeres “Rui...Não te esqueceremos!”. Obviamente não recusei, e fiz a camisola. No dia do jogo contra o Sp. Lamego, lembro-me perfeitamente, de ter ido assistir, e ver o candidato de sempre, Sp. Lamego que vinha confiante para vencer mais uma vez no Olival, contra nós. A estatística era contra nós! Nunca conseguimos ganhar o Sp. Lamego! Ainda por cima, perdendo jogadores importantes para os seniores, como o Nicho, Renato, Nandito, Ruizito, Pedro, Luís Semblano e Bateira, sobrando apenas o Nuno Carlos, Filipe Fonseca e o Nuno Cardoso. Mas, o Nespereira iniciou bem o jogo, e, começou a sobressair a genialidade de um “baixinho” sempre sorridente, da Feira Franca, chamado Pepe. Pepe marcou um belo golo contra o Sp. Lamego, que levou o Nespereira a vencer para o intervalo. Na 2ª parte, o Sp. Lamego apertou com o Nespereira, mas lá atrás estava uma dupla de “centrais” que conseguiam resolver qualquer situação mais complicada- Nuno Cardoso e David! O Lamego começou a não achar recursos para virar o placard do jogo, e recorreu imensamente às faltas, sobretudo em cima do Pepe e do Nuno Carlos. E, já perto do final, numa falta sobre Nuno Carlos, o árbitro assinala a devida falta. O Sp. Lamego fez a barreira, aí Nuno Cardoso corre para a bola decidido, e num pontapé fenomenal, amplia o resultado para 2-0, festejando sobre lágrimas, exibindo a camisola que foi feita em homenagem a Rui, que era o seu primo direito. Nuno correu em direção ao banco de suplentes, em lágrimas,vendo-se ali uma das primeiras certezas da determinação, e da vontade de vencer de quem é, atualmente, o “capitão” do Nespereira FC. Voltando novamente aos séniores...Inesquecivel, também nessa época eram os lançamentos longos feitos pelo Celso, que eram quase meio-golo. Celso é filho do Sr. Fonseca de Vila Viçosa, e fez o seu trajeto de formação futebolística no Boavista FC. Era avançado, bem preparado fisicamente, e com um excelente pontapé. O treinador Cabral era um “tipo porreiro”, mas muito genioso. E demonstrou a sua geniosidade, quando numa terça-feira, Marco, irmão de Paulo Moura faltou ao treino, e depois reapareceu na quinta-feira. O plantel estava todo equipado, preparado para mais um treino, quando Cabral entrou no balneário seriamente, preparava-se para dar as indicações de treino, olhou para o Marco e lhe perguntou: - Foi você que faltou ao último treino? Marco, que era uma pessoa de poucas falas, demonstrando sempre alguma timidez, olhou surpreso para o “mister”, e respondeu: - Sim. Fui eu! Então, mudando completamente o semblante, levantou o tom de voz, e sem ouvir a justificação de Marco, virou-se para o mesmo, esticou o braço em direção a porta, e disse: - Então, podes desiquipar-te, porque jogador que falta ao treino não é opção para mim! O Marco não respondeu, apenas baixou a cabeça, num primeiro momento, e depois abanou –a negativamente, mas sem sequer discutir a decisão do treinador. A reação do plantel inteiro foi de surpresa total, e de espanto! Cabral continuou na orientação do clube até ao final da época, mas, apenas deu para a manutenção, aproveitando bem o fator casa, e dos outros clubes estarem habituados a jogarem em terrenos bem maiores, não perdendo nenhum jogo em casa, até o final da época. Nessa época, o Nespereira terminou em 8º lugar, perdendo apenas em casa contra o Nelas, ainda sob a orientação de António Salazar, e empatando 3 jogos em casa. O Nespereira apenas venceu fora contra o Silgueiros. A equipa do Nespereira FC, ainda foi nessa época deslocar-se a Suiça, para participar de um torneio de futebol, que acabou ganhando. Mas, a Direção do Nespereira FC, demonstrou que não era apenas o futebol que existia, iniciando assim uma época de bailes, durante aqueles invernos frios e chuvosos. Aproveitando o excelente salão do clube, a Direção gerida por Hernâni Andrade, começou a fazer todos os sábados de noite- e nos domingos de tarde, quando o Nespereira jogava fora!- bailes, onde tocavam dois excelentes grupos: o “Sons do Ardena”, que era constituído por elementos nespereirenses, Lino de Paradela (vocalista), Quim do Aleixo (guitarrista), Daniel Botelho (baixo), Hermínio Tavares (teclados) e Quim Botelho (bateria); e também pelo grupo de Vilar de Arca , “Gerasom”. Os dois grupos alternavam as suas atuações entre si. Geralmente, o povo nespereirense saia dos cafés, e quando viam os holofotes acesos, se dirigiam para o Campo do Olival, para ir ao baile. Chegando pela porta lateral, as pessoas encontravam geralmente muitas mulheres dentro do salão, sentadas naqueles bancos compridos, e os homens tendenciosamente, ficavam na porta, esperando ver atentamente quem eram as “miúdas” que estavam presentes, para avaliar se podiam pagar a entrada para o baile. Os bailes, geralmente, estavam cheios e em alturas festivas, como Natal e Carnaval, o salão não tinha espaço para tantos pares de dança. Víamos as pessoas suarem em bica, dançando entusiasticamente, principalmente músicas populares, num ambiente que apresentava um calor intenso, e olhávamos para as janelas, e víamos as próprias embaciadas, escorrendo, assim como as paredes brancas do salão. O baile no seu auge, geralmente chegava à meia noite e meia, às vezes uma hora. A partir daí, podíamos ver os mais entusiastas, amigos da noite, e os mais resistentes, que apenas se agüentavam graças aos copinhos de bagaço, ou às tigelinhas de vinho tinto, servidos na parte de baixo, na tasquinha rudemente construída, onde o Sr. Armando Duarte, e a Dª Adelaide Lira tomavam conta pacientemente, agüentando os discursos, as confissões e as lamúrias dos clientes “animados” que por lá passavam.