“A doença que tira o sorriso de viver: O cancro da mama.” (3)
“Senti a dificuldade que a médica teve em nos dar a noticia. A minha mulher ficou quase paralisada, não contava, começou a tremer e teve muita dificuldade em assinar o documento de autorização, mas foi dada, em Outubro/2007. Nada havia a fazer. Voltamos de novo ao ponto zero e a um desespero angustiante. Saímos do Hospital do IPO, calados. Percorremos a marginal, junto ao mar, de Matosinhos ao Porto, a olharmos para o mar como se o mar nos pudesse salvar. Continuamos pela Foz do Rio Douro, junto à margem, até regressarmos a casa. Não dirigimos palavra, um ao outro. O mar foi por momentos o nosso apoio. Já não haviam lágrimas. Senti a estrada a deslizar debaixo do carro.
Não me lembro como chegamos a casa. O meu pensamento durante esta viagem foi: porquê meu Deus? O que me queres? Mas no silêncio tive, na minha cabeça, como já antes aqui disse, as palavras do padre Martinho, da freguesia de Salamonde. Acalmei… Mas tudo começava de novo. Após esta segunda cirurgia, novos tratamentos e mais uma esperança renovada. Mas depressa foram interrompidos, novamente, pela equipa médica.
De novo chamados à reunião de grupo e desta vez não fomos a contar com boas notícias. Foi uma reunião rápida. Tem que ser operada outra vez, agora, marcada para o dia 16 de Dezembro de 2007. Três cirurgias no mesmo ano. Doença traiçoeira que não avisa, que não dói, que poucos sinais dá, que percorre o corpo de lés a lés, que destrói por dentro e mostra uma beleza, enganadora, por fora. O cancro da mama tira o sorriso de viver a qualquer mulher. Atrevo-me a dizer a todos os leitores: o cancro da mama tem cura. O rastreio deve ser feito. O diagnóstico tardio impede a cura. Esta doença quando surpreende, ás vezes, pode ser tarde demais. A medicina já tem meios para travar esta doença “assassina” mas precisa da ajuda de todos nós. Mulheres façam o rastreio! Homens convençam e ajudem as mulheres a fazerem o rastreio médico.
A recuperação da minha mulher continua com tratamento de quimioterapia.
No Santuário de Fátima, no dia 13 de Maio de 2008, fiz uma promessa perante Deus. Expor-me publicamente, escrevendo sobre o cancro da mama, que afectou a minha mulher e a minha zanga com Ele. Escrever sobre os meus erros e a minha pouca fé. Não foi nada fácil escrever este testemunho pessoal. Mas as promessas são para cumprir. Uma palavra de agradecimento ao JV porque me permitiu cumprir esta promessa. Agora, todos os dias, alimento a esperança que Deus me ilumine o caminho.
Travei uma batalha, quase sem esperança, mas mantive a cabeça sempre fora de água. A esperança é sempre a ultima coisa a morrer mas a Fé perdura para além da morte. Eu continuo com fé. Assim Deus me ajude.