Decidi neste início de Novembro continuar a ser “enjoativo” utilizando a palavra mais falada nos últimos dias.
Para quem já não suporta ouvir mais esta palavra será melhor parar de imediato a leitura desta crónica, pois se insistir no final poderá ficar ainda mais enjoado.
Pensei ainda em terminar este artigo com aquela frase do então Presidente da República Dr. Jorge Sampaio dizendo “Há mais vida para lá do Orçamento”, mas acho que afinal é um bom ponto de partida para o que aqui quero exprimir.
Quero também deixar claro que na minha opinião a maior parte dos Políticos são maus Políticos e, para ser mais directo, acho que os Políticos que representam os maiores partidos são piores que os outros, pois já demonstraram durante décadas aquilo que sabem fazer.
Tenho que também aqui referir, para quem não me conhece, que sou militante do maior partido de direita.
Quem foi acompanhando como eu a evolução das negociações para a inevitável necessidade de viabilização do Orçamento para 2011, esteve sempre convicto de que o “mau” orçamento teria que passar, caso contrário como se diz na gíria “cairia o Carmo e a Trindade” sobre a População Portuguesa.
O Estado Português comporta-se pior do que o fulano que tendo um rendimento assegurado de cerca de 900 euros mensais (salário médio trabalhador Português! SIM, parece que é cá em Portugal. Quem diria!) não fica satisfeito com a vida que tem, pois o seu vizinho (Jogador de futebol da 1ª Liga que ganha 14.500 euros mensais – valor médio de ordenados na Liga) acabou de comprar um descapotável e ele vê-se na obrigação de fazer mais um crédito (além dos 500 euros que já paga) para comprar uma moto quatro e ir de férias para fora.
Lá vai ao banco pedir o empréstimo. Mas como a coisa já está apertada (maldita taxa de esforço) vem para trás, triste e desapontado. Mas azar, passa o vizinho a “assapar” no seu bólide e ele decide fazer mais uma tentativa e em vez de ir a banco vai aos financiadores de crédito fácil, onde tudo é… fácil. Basta ligar, basta mandar um sms e aprovamos o seu crédito, etc, etc.
Realmente até não foi difícil, só se fica a pagar mais 150 euros (em cima dos 500) e a moto quatro já faz um barulhinho ao passar junto à casa do vizinho.
O nosso amigo conseguiu o crédito, mas quando o banco lhe negou o crédito estaria a fazer provavelmente uma simulação de taxa de juro de 12% ao ano e não aprovou. No crédito fácil obteve o empréstimo, mas se calhar a taxa de juro foi de 25% ao ano. Mas insisto, aquele “bruuuum” que a mota faz dá cá um arrepio.
O Estado Português mais coisa menos coisa faz igual.
Os nossos vizinhos Europeus são todos mais ricos do que nós. Têm melhores infra-estruturas, têm melhor poder de compra, são mais organizados e mais qualificados que nós. E também têm um TGV, aquele comboio que anda que se farta.
Ora, o nosso Estado, ao ver aquela maravilha da tecnologia, também o quer cá em Portugal. Eu quando era miúdo também tive um comboio que vinha com “pista/linha” e tudo e adorei, aquilo era o máximo, até apitava. Mas adiante, voltando ao Estado, como os encargos que têm parecem não ser preocupação, lá vai ao Banco pedir mais um empréstimosito para comprar aquela maravilha que nos vai levar à Capital dos nossos vizinhos (Madrid) em 2:45 horas pela módica quantia de 100 euros (100 euros, mas se for num avião low-cost não custa só 30 euros e no mesmo tempo?).
Tal como para o cidadão, o banco disse que seria difícil, pois os juros já estão caros (6,72% - record de juros pagos pelo Estado Português). Mas a vontade de ter aquele comboio é grande e além do mais ficamos mais modernos. Pronto está decidido, vamos comprar o comboio.
Onde estão os maus Políticos? Será que ninguém põe um fim a este Estado gastador?
Disse no debate do Orçamento na Assembleia de República o Deputado Honório Novo do PCP qualquer coisa como isto: ‘Como é possível que o BCE (Banco Central Europeu) empreste dinheiro aos Bancos Nacionais a 2% de taxa de juro ao ano e que os mesmos Bancos nacionais emprestem aos Portugueses a mais de 10%?’
Reconheceu recentemente o Dr. Ricardo Salgado, Presidente do BES, que o aumento de lucros do Banco estes 9 meses se deveram em parte à diminuição de impostos pagos pelo banco.
A propósito de tudo isto a Drª Manuela Ferreira Leite, pessoa que muito admiro pela sua frontalidade e objectividade de análise, disse também no debate do Orçamento aludindo à impossibilidade de Portugal se financiar directamente no BCE a uma taxa de 2%, em vez dos tais 6%, que que mesmo querendo as “regras não são assim”.
Não, Drª Manuel Ferreira Leite, se as regras não são assim, tenha a frontalidade também de exigir que se mudem as regras. Mudem a “porra” dessas regras, porque estamos em crise e em crise tomam-se decisões difíceis.
Essa será uma delas. Se o BCE empresta a 2%, nós queremos que o Estado Português e as Empresas Portuguesas tenham acesso a esse juro.
Maus Políticos?
Sem dúvida!!
P.S.
Orçamento da CMC 2010 – Associações!
(já lá vão 3 páginas, … chega. Esperemos que o bom senso prevaleça)
Rui Semblano (Novembro de 2010)