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23/04/2003Érico Borgo
Piratas do Tietê - o filme, já começa criativo no nome. É que não se trata de um longa-metragem baseado nas tiras do quadrinhista Laerte, mas sim, uma peça que transporta as histórias em quadrinhos para o teatro.
O motivo do subtítulo o filme no nome do espetáculo vem do roteiro da peça, que mostra os terríveis piratas paulistanos tentando produzir um longa, a fim de ganhar o cobiçado Minhocão de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cinema dos dois minutos.
Depois de escaparem da prisão momentos antes de sua execução, o Capitão (Domingos Montagner) e seu imediato Jack (Fernando Sampaio), retornam ao galeão ancorado no Rio Tietê, dentro da cidade de São Paulo. Lá, juntam-se a Tobruk (Gustavo Carvalho) e ao resto do bando para darem início a uma onda de saques pela maior cidade brasileira. Desesperada com a violência, a Deputada (Fernanda Umbra) convoca o único homem capaz de levar os Piratas do Tietê à justiça... o aventureiro Silver Joe (Alexandre Roit), atualmente camelô vendendo CDs piratas pelas ruas da capital. Começa aí uma hilária aventura, que envolve lutas, complôs, romance, investigações de paternidade e (pasme!) mudanças de sexo, tudo regado com o ágil humor de Laerte, co-escritor da peça, ao lado de Paulo Rogério Lopes.
O espetáculo, dirigido por Beth Lopes, está extremamente bem montado, com coreografias caprichadas e elenco ótimo, que se utiliza de técnicas circenses a todo instante para garantir o ritmo da ação. Trata-se do grupo La Mínima, que já se apresentou em festivais nacionais e internacionais de circo e teatro. Vale destacar também as seqüências em vídeo, projetadas no próprio palco, que mostram os curtas-metragem criados pelos Piratas com sua moderníssima câmera, vinda direto da Rua Santa Ifigênia (tradicional local de compra de eletrônicos em São Paulo). Intitulado Guerra nas estrelas - o Capitão garante que o tal George Lucas será processado por usar sua idéia -, o curta traz quatro cenas hilárias inspiradas no universo de Star wars, incluindo a inesquecível frase Yoda, você é foda. :-)
Piratas do Tietê - o filme faz parte do projeto Teatro Popular do Sesi, que apresenta espetáculos teatrais de qualidade de graça, visando formar novas audiências. A peça segue até o dia 17 de agosto e é apresentada aos sábados e domingos às 15h00. Basta chegar com pelo menos uma hora de antecedência e retirar seu ingresso na bilheteria.
Serviço:
Teatro Popular do Sesi
Piratas do Tietê - O filme - De 16 de abril a 17 de agosto
Apresentações: Quartas, às 20h - quintas e sextas, às 11h (exclusivo para agendamento escolar) - Sábados e domingos às 15h (para o público em geral).
Av. Paulista, 1313 - Estação Trianon do Metrô - São Paulo - SP
Informações pelo telefone 3146-7406
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:: "Piratas do Tietê" - no teatro ::
- Aos sábados e domingos - as 15 horas
- até dia 17 de agosto
- No Teatro Popular do Sesi, Av.Paulista,1.313, São Paulo - SP
- telefone: (11) 3146-7406
- Entrada franca.
PIRATAS DO TIETÊ - O FILME
É a primeira produção do teatro Popular do Sesi baseada no universo das histórias em quadrinhos. Tornar real o desafio de transformar a linguagem dos quadrinhos em uma montagem teatral faz parte da nossa busca pela inovação e pela experimentação. Ao permitir que o público tenha livre acesso e desfrute do resultado desse projeto, o Sesi oferece uma das mais importantes etapas desse trabalho, que é a de oferecer novas linguagens, estilos e estéticas, contribuindo para ampliar o repertório cultural da população.
Laerte criou os "Piratas do Tietê" para a revista Chiclete com Banana, na década de 80. Depois de algumas aventuras, eles ganharam revista própria (Editora Circo), que foi publicada até 1992. Atualmente aparecem em tiras no jornal Folha de São Paulo, em vários outros jornais brasileiros e no Diário de Notícias de Portugal.
Neste bizarro coletivo, se distinguem apenas o Capitão e um imediato (Jack). Seu quartel-general é um típico do século XVIII, que navega insolitamente pelo rio Tietê, dentro da cidade de São Paulo. Sua vida é a de todo pirata; saquear, juntar e enterrar tesouros, viver aventuras românticas etc.
Ainda que pertencendo ao modo de criação favorito de Laerte, que é o de colocar seres (ou esterótipos) de fantasia em situações e cenários realistas, "PIRATAS DO TIETÊ - O FILME" representa também um modo pessoal de reflexão sobre problemas socias, sobre a miséria e a exclusão, ainda que não numa ótica muito politicamente correta...
UM TEATRO EM QUADRINHOS
"PIRATAS DO TIETÊ - O FILME" é um espetáculo com texto original do próprio Laerte e de Paulo Rogério Lopes, que adaptam para o teatro os conhecidos personagens das tiras de humor, com concepção do grupo LA MÍNIMA e direção de Beth Lopes.
O grupo LA MÍNIMA, que tem seu trabalho reconhecido pela comicidade fundamentada no palhaço e no circo, encontrou na estética de Laerte, com sua temática urbana e narrativa, concisa e direta, e na experiência de Paulo Rogério Lopes, a parceria ideal para este espetáculo. Navios, piratas e marinheiros são origens de muitas das atuais técnicas circenses e concerteza oferecem um riquíssimo vocabulário para a criação de inusitadas situações cênicas.
Para levar à frente sua quadrinização cênica", Beth Lopes (que dirigiu "O Cobrador", em 90) emprega uma linguagem que transpõe para o palco os principais recursos dos quadrinhos: diálogos curtos, precisos e desenhos de cena que contenham ação, ritmo, meios, suas experiências no teatro físico e na bufanaria.
Trazer a HQ para o teatro, encenar seus efeitos fantásticos, recriar a imagem dos personagens polêmicos, bizarros e anti-super-heróis de Laerte, é no mínimo um grande desafio, mas, acima de tudo, "PIRATAS DO TIETÊ -O FILME" tem um grande objetivo: fazer teatro contundente e subversivo, ousado e criativo, criando assim um elo de comunicação com seu público-alvo, os jovens, nessa alegoria dos excluídos das grandes metrópoles.
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Segunda-feira, 11/8/2003
Piratas do Tietê no teatro
O Teatro Popular do Sesi tem proporcionado montagens que buscam levar ao espectador paulistano produções de qualidade, como Romeu e Julieta, Hamlet, O Mambembe, O Pequeno Mago, Péricles, entre outras.
As peças teatrais que já estiveram em cartaz no teatro foram sucesso de público e crítica e, como os ingressos são gratuitos, elas conseguem atingir um público variado, sobretudo quem geralmente não freqüenta o teatro em virtude do valor dos ingressos. A montagem é, em geral, infanto-juvenil, mas tem atraído pessoas de todas as idades.
Para quem gosta de histórias em quadrinhos, uma boa pedida é assistir ao espetáculo Piratas do Tietê - o filme. Em cartaz desde abril, a montagem é baseada nas histórias criadas pelo cartunista Laerte, nos anos 80, para a revista Chiclete com Banana. Posteriormente, a obra ganhou revista própria que foi editada até 1992.
A adaptação para o teatro é assinada pelo próprio Laerte e por Paulo Rogério Lopes, com concepção do Grupo La Mínima e direção de Beth Lopes.
Quem não conhece o assunto do espetáculo pode achar estranho o título. Por que "o filme"? É que na história piratas são impulsionados a realizar um filme para concorrer ao Minhocão de Ouro.
No início do espetáculo, alguns piratas (interpretados pelos atores Domingos Montagner, Fernando Sampaio, Fábio Espósito e Gustavo Carvalho), fogem da prisào e navegam pelo Rio Tietê. Começam a realizar saques na cidade de São Paulo e uma deputada (Fernanda D'Umbra), preocupada com a violência, contrata o camelô Silver Joe (Alexandre Roit) para agir contra os piratas. Este usa a sua filha Rosy (também interpretada pela atriz Fernanda D'Umbra) para conseguir atingir o objetivo, a qual finge estar ajudando os piratas na produção do filme. A montagem oferece ao espectador aventura, romance e revela até mudança de sexo de um dos personagens!
Num primeiro momento, a trama pode parecer confusa para quem está acostumado com produções teatrais mais tradicionais, mas aos poucos o público vai entrando no ritmo do espetáculo e se envolvendo, pois histórias de piratas certamente fazem parte do nosso imaginário.
Um navio numa metrópole como São Paulo e personagens como o camelô Silver Joe, dão ao espetáculo um clima surrealista. Fantasia e aspectos da vida real se juntam numa história que prende a atenção.
Assim como nas histórias em quadrinhos, as cenas são rápidas (com muita ação e aventura) e os diálogos são curtos.
A direção de Beth Lopes é muito interessante. Para prender a atenção do público há no espetáculo sequência de vídeos que mostram a cena da fuga dos piratas e, posteriormente, o filme elaborado pelos mesmos.
O cenário assinado por Luciana Bueno,evidencia o clima urbano e ao mesmo tempo heróico/lendário do espetáculo. Em cena vemos um navio, onde se desenrolam parte das cenas. A iluminação de Wagner Freire, os figurinos de Inês Sakai, a maquiagem de Leopoldo Pacheco e a trilha sonora composta por Marcelo Pellegrini valorizam a transposição da linguagem dos quadrinhos para o palco.
O trabalho dos atores merece atenção especial. O elenco, formado pelos atores do Grupo La Mínima (Domingos Montagner, Fernando Sampaio) e convidados, é certamente um dos grandes méritos da montagem. Através de várias técnicas circenses, eles garantem o ritmo do espetáculo e encantam pela habilidade técnica.
A crítica social está presente neste espetáculo. Personagens que vivem à margem da sociedade são protagonistas e a crítica ao poder público está presente na figura da deputada, que além de estar envolvida num projeto duvidoso de despoluição do Rio Tietê, não consegue conter os piratas.
A idéia de colocar os piratas navegando pelo Rio Tietê (um importante símbolo do descaso de muitos seres humanos pela preservação do nosso meio ambiente) me fez pensar o quanto seria maravilhoso se pudéssemos usufruir das suas águas para lazer e transporte! Quando vejo em fotos antigas da cidade de São Paulo, pessoas se divertindo no Tietê, me pergunto se algum dia ele voltará a viver!
Piratas do Tietê estará em cartaz até o dia 17 de agosto. O Sesi sempre estica a temporada dos seus espetáculos, mas é aconselhável não deixar para conferir na última hora. Muitas pessoas deixam de conferir a programação teatral e musical do Sesi, em virtude das longas filas que costumam se formar.
Eu estava passando pela Av. Paulista no sábado retrasado (cerca de uma hora e meia antes do espetáculo) e resolvi tentar conseguir um ingresso. Naquele dia a fila não estava muito grande e consegui com facilidade. Aconselho quem tiver interesse em prestigiar essa produção teatral a chegar com duas horas de antecedência para garantir o seu lugar, pois conheço pessoas que voltaram para casa sem assisti-la.
Para ir além
Piratas do Tietê - o filme. Até 17 de agosto. Apresentações: quartas, às 20hrs. - quintas e sextas, às 11hrs. (exclusivo para agendamento escolar) - sábados e domingos às 15hrs. (para o público em geral). Av. Paulista, 1313 - Estação Trianon do Metrô - São Paulo - SP.