Parque da Água Branca e Praça Buenos Aires recebem espetáculo de rua
Cena da Montagem
Neste sábado (dia 28), às 15h e 20h, o Parque da Água Branca recebe o espetáculo O Tribunal de Salomão e o Julgamento das Meias-Verdades Inteiras, e no domingo (dia 29), às 15h, a trupe arma o cenário na Praça Buenos Aires, no bairro de Higienópolis, em São Paulo.
A peça é feita ao ar livre, e tem em seu casting artistas como a atriz e produtora Eloisa Elena, da Barracão Cultural (do espetáculo A Mulher que Ri, sucesso de crítica e público), a diretora Cuca Bolaffi, co-diretora em A Linha, de Fernando Bonassi, e Paulo Rogério Lopes, que tem em seu currículo importantes trabalhos com as companhias La Minima, do Latão e Ivaldo Bertazzo. Na trilha sonora, o compositor e violonista Dr. Morris criou todas as canções e fez a direção musical, com arranjos e percussão assinadas por Dani Zulu, ex-Comadre Fulozinha e atuante no grupo percussivo Barbatuques.
O espetáculo é resultado do projeto Do Barracão Pra Rua, que comemora os 10 anos da Barracão Cultural. Responsável pela realização de espetáculos aclamados como A Mulher que Ri, Cacoete e Caixa Mágica, estreados no Teatro Alfa, em São Paulo, com diversas temporadas na Capital e interior, a Barracão Cultural escolheu, para esta comemoração, o caminho oposto de sua trajetória: ir às ruas e chegar bem perto daquele público que tem pouco ou até nenhum acesso ao teatro.
Nesta primeira etapa, serão 48 apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além de se apresentar em parques de bairros da periferia de São Paulo. Mais informações: (11) 5539-1275.
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Tribunal de Salomão comemora em grande estilo os dez anos de atividades do grupo Barracão Cultural
Dib Carneiro Neto
Um ótimo espetáculo, O Tribunal de Salomão, comemora em grande estilo os dez anos de atividades do grupo Barracão Cultural (Caixa Mágica, Cacoete, A Mulher Que Ri). “Em grande estilo” não significa uma superprodução luxuosa e cara. Neste caso, a comemoração se dá com a difícil e rara modalidade do teatro de rua. Poucos grupos se arriscam nessa aventura de apresentar-se ao ar livre, porque é complicado dominar a contento esse tipo de apresentação. Os atores têm de estar muito bem preparados para enfrentar a plateia, que fica mais predisposta a intervir e a participar do que quando o espetáculo se dá em sala fechada. O (des)controle do público exige um talento tão grande que muitos atores que são maravilhosos no palco de um teatro fracassam a céu aberto.
O espetáculo, com dramaturgia de Paulo Rogério Lopes, um autor já experiente com o público infantojuvenil, tem um importante subtítulo: O Julgamento das Meias Verdades Inteiras. Apesar do tom de farsa popular, de commedia dell’arte, de circo-teatro, o tema é bem sisudo – mas inteligentemente tratado de forma divertida e leve. Quais os limites de uma verdade? Quantas versões admitem-se para um mesmo fato? Como não ultrapassar a linha da realidade e cair no reino da fantasia? Por que os valores ficaram tão elásticos no mundo de hoje?
São questões relacionadas à conduta ética do ser humano – e por isso é louvável que o espetáculo mergulhe assim de cabeça nessa temática, ainda mais por ser voltado para um público mais popular, que freqüenta praças e outros espaços públicos de lazer.
É claro que, porque não se trata de uma aula solene, mas de uma peça de teatro de rua, esses temas e preocupações aparecem embrulhados numa embalagem hilariante, com muito humor, e sobretudo com muita música (a cargo de Dr. Morris, de reconhecido talento em nossos palcos). Teatro de rua sem música pode ter sua receita desandada.
Assim, com graça e beirando o estilo nervoso de um vaudeville, a peça conta a história de um grupo de atores que, prestes a apresentar a peça O Tribunal de Salomão num parque (olha a metalinguagem – aproveite para iniciar seus filhos nesse importante recurso de estilo), é surpreendido por três pessoas (um pai metido a rigoroso, uma filha safadinha e um padreco de araque) que acreditam que ali há um tribunal verdadeiro e pedem ajuda para que suas causas sejam julgadas. Cada um apresenta sua versão a respeito do tesouro encontrado e quem seria o verdadeiro dono. O tesouro? É uma caixa, onde algum deles prendeu o diabo, em noite de lua cheia.
Com agilidade de marcações e ênfase na representação não realista, a diretora Cuca Bollafi tira proveito esperto dessa linha de dramaturgia que repete o mesmo caso três vezes. Isso é muito rico e instigante para a formação intelectual e artística das crianças. Em determinada fase da infância, pede-se muito aos adultos que repitam infinitas vezes a mesma história. Ou que a mãe volte a exibir o DVD pela milésima vez, com o mesmo desenho animado. “De novo, de novo”, pedem as crianças, o que já foi até bordão do bebê da Família Dinossauro, na TV, quem não se lembra? Aqui, em O Tribunal de Salomão, as crianças têm a chance de se fascinar com a rica possibilidade de ouvir a mesma história de três formas diferentes.
Texto e direção se apóiam também em nomes competentes na ficha técnica, para garantir a qualidade de um espetáculo que, afinal, “invade”, sem pedir licença, os espaços de lazer da população. Marco Lima, nos cenários e figurinos, prova que é hoje um dos nomes de grande destaque do teatro paulistano. Seu trabalho atingiu um nível de detalhamento e informação que não é exagero dizer que já se iguala aos maiores cenógrafos e figurinistas do País. A iluminação de Marisa Bentivegna, outro nome bastante disputado pelas produções de teatro infantil, brinca harmoniosamente com o cenário e a ideia de uma carroça mambembe (mas, claro, a luz fica mais evidente quando o grupo marca suas apresentações para o horário noturno, o que nem sempre se dá).
O elenco está afinadíssimo e tem jogo de cintura, o que é fundamental, pois, como já se observou anteriormente, público de teatro de rua não se acanha em interromper o espetáculo para comentar, conversar, interferir. São eles: Eloisa Elena (fundadora do Barracão Cultural, no papel da filha), Claudio Queiroz (o pai), Thiago Andreuccetti (homem que se faz passar por padre), Maurício Mateus (ator 1, que faz Salomão) e Alexandre Maldonado (ator 2, que faz a Justiça).
Desde maio e até o final de agosto, serão 48 apresentações do espetáculo. Em São Paulo, já passaram até agora por locais como Parque Chico Mendes, Parque Raposo Tavares, Parque Nabuco, Parque do Carmo, Parque da Água Branca, Parque da Aclimação, Praça Buenos Aires, Praça Victor Civita, Parque do Ibirapuera e Parque da Luz. No Interior, passaram por Monteiro Lobato (Praça do Bairro do Souza), São Francisco Xavier (Praça Cônego Manzi) e São Luiz do Paraitinga (Catuçaba e Praça da Matriz). Pedi à atriz Eloísa Elena que nos contasse episódios, relacionados com o público, nessas passagens realizadas até agora. Vejam que divertida sua resposta:
“Bom, aí vão algumas coisas que aconteceram no nosso Tribunal. Neste tipo de trabalho a cada dia acontece algo:
1. Em uma apresentação uma bebê de no máximo 2 anos, entrou na área de cena e ficou assistindo ao espetáculo bem quietinha, se apoiando no baú. Quando precisávamos fazer a cena neste espaço (que na cena seria o dote da princesa), eu disse ao príncipe que fugiríamos com tudo, nós, meu dote e nossos filhos, pegando a menininha. Ao que o príncipe respondeu: ‘- Filhos? Já? Apressada!!’ E a plateia rolou de rir.
2. Na estreia, uma amiga minha levou o filho, de 3 anos. Quando a Ana (minha filha, que faz a justicinha), entrou em cena, ele correu para o lado dela, durante o resto da cena. No dia seguinte ele quis voltar, assistiu de novo e fez a mesma coisa.
3. A nossa estreia foi bem diferente. Montamos o cenário e o público ficou no sol. Aos poucos foi se formando uma sombra na lateral e o público foi aos poucos indo para ela e nós fomos girando junto. O espetáculo foi “girando”. Terminamos com o público completamente instalado na lateral e nós fazendo o espetáculo totalmente de lado. Brincamos que foi um “espetáculo girassol”.
4. Outra vez começou a chover forte durante o espetáculo. Estávamos debaixo de uma tenda, no parque da Água Branca, mas a chuva foi invadindo. O produtor e o técnico entraram em cena com rodo para puxar a água. Seguimos “normalmente” até o fim, com eles ao nosso lado passando o rodo no chão.
5. Outra vez uma mulher (meio maluca) interferia na cena do príncipe e princesa e falava para a princesa: “ – Desiste minha filha, isto é gay. Você não tá vendo? Daí não sai nada.” Ela ficou em pé, atrás da cena, falando, até o produtor ir lá e tirá-la da cena.
Bem, o resto é cachorro que entra em cena, pessoa GRITANDO ao celular: “- Não posso falar, estou assistindo teatro. É muito legal. É....” e daí fica 5 minutos gritando. Helicóptero, ambulância.... Bom, é isto.”
Um especialista
Para não ficar falando sozinho sobre o quanto é corajoso e difícil realizar um espetáculo de rua, fui ouvir um especialista nessa modalidade, um diretor que já realizou pelo menos dois grandes espetáculos bem populares, o mineiro Gabriel Villela. Seu Romeu de Julieta, com oGrupo Galpão, que viajava numa perua veraneio que virava palco, literalmente ganhou o mundo, indo se apresentar até na terra do próprio Shakespeare. No ano que vem, para comemorar os 30 anos do Galpão, o espetáculo tão premiado estará de volta, no Brasil e na Inglaterra. E, mais recentemente, Gabriel repetiu o feito do teatro de rua com o grupoClowns de Shakespeare, de Natal, em Sua Incelença, Ricardo III, que atualmente viaja pelo País e já tem convites para Rússia, Chile e Inglaterra.
Perguntei, então, a Gabriel Villela o que os atores precisam dominar para estarem prontos para um elenco de espetáculo de rua. A resposta de um especialista:
“Quando o espetáculo de rua possui uma narrativa/texto, a voz do ator precisa ser bem trabalhada, para que as ideias contidas no texto sejam passadas de forma direta, sem artifícios nem efeitos empolados. Uma parte importante é contar a história sem afetações e com objetividade . Também acredito que o olhar dos atores deve se manter direcionado para a audiência, promovendo sempre a aproximação dos olhares observadores.
Nos trabalhos que fiz com o Grupo Galpão e com o Clowns de Shakespeare, descobri que a cantoria é um instrumento muito importante para criar um vínculo com o espectador.”
Canção da Lua
Se quiser ver uma cena curta do espetáculo, com Eloísa Elena cantando para a Lua, acesse no You Tube o seguinte endereço:
Serviço
O Tribunal de Salomão - Próximas apresentações:
Domingo, dia 10, às 15 horas: Parque da Luz (Rua Ribeiro de Lima, 99), em São Paulo.
Sábado, dia 6 de agosto, às 11 e às 15 horas: Parque Lydia (Rua João Pedro Lecor, s/n,,Vila Prudente), em São Paulo.
Domingo, dia 7 de agosto, às 11 e às 15 horas: Rua São Quirino, 905, Vila Maria, em São Paulo.
Quarta, dia 10 de agosto, às 10h30 e 14h30: Parque Lina e Paulo Raia (Rua Volkswagen, s/n, Jabaquara), em São Paulo.
Sábado, dia 27 de agosto, às 11 e 15 horas: de novo no Parque da Luz, em São Paulo.
Domingo, 28 de agosto, às 11 e 15 horas: Parque da Aclimação (Rua Muniz de Sousa, 1.119), em São Paulo.
SEXTA, 20 DE MAIO DE 2011, 19H04
João Caldas/Divulgação
"Tribunal de Salomão" comemora os dez anos do grupo Barracão Cultural
Claudio Leal
Apresentada em parques de São Paulo, a peça "O Tribunal de Salomão e o julgamento das meias-verdades inteiras" cumpre a dupla missão de levar o teatro a plateias populares e comemorar os dez anos do grupo Barracão Cultural. Com o projeto "Do Barracão Pra Rua", a trupe já encenou nos parques paulistanos do Nabuco e do Carmo. Neste sábado (21), às 18h, será a vez do Parque da Aclimação; no domingo, no mesmo horário, o da Água Branca, em Perdizes.
Dirigido por Cuca Bolaffi, e Paulo Rogério Lopes na dramaturgia, a peça discute a justiça e a verdade, além de recriar questões do folclore. O grupo, que conta com o patrocínio dos Correios e da Racional Engenharia, através da Lei Rouanet, agrega os atores Eloisa Elena, Claudio Queiroz, Thiago Andreuccetti, Maurício Mateus e Alexandre Maldonado.
"Esse projeto comemora os dez anos do Barracão Cultural. Integro o grupo há dois anos, mas ele já tem uma trajetória maior em arte, educação e música. No ano passado, o elenco da peça infantil que a gente faz, Cacoete, quis levar o trabalho para as pessoas que não vão ao teatro. E pensou em ir para os parques", conta o ator Claudio Queiroz. "Foi aí que começamos a pesquisar as questões de mito e de folclore, mas sem ser folclorizante."
Depois de quatro meses de ensaio, "O Tribunal de Salomão" estreou na periferia de São Paulo. "Pra gente foi uma delícia, uma surpresa, tanto nos parques da periferia quanto no da Água Branca", acrescenta Queiroz.
Na peça, três personagens chegam a um tribunal para reivindicar a propriedade de um objeto com poderes mágicos. Inspirada na estrutura narrativa de "Rashomon", o filme do diretor japonês Akira Kurosawa, ela questiona, nas suas múltiplas versões, a possibilidade de existir uma verdade.
Programação:
Dia 21 de maio de 2011, às 18h
Parque da Aclimação - Rua Muniz de Souza 1119 - Aclimação - São Paulo/SP
Dia 22 de maio de 2011, às 18h
Parque da Água Branca - Rua Ministro de Godoy, 310, Perdizes - São Paulo/SP *No Parque da Água Branca haverá espetáculo mesmo em dias de chuva.
Dia 28 de maio, às 15h e 20h
Parque da Água Branca - Rua Ministro de Godoy, 310, Perdizes - São Paulo/SP *No Parque da Água Branca haverá espetáculo mesmo em dias de chuva.
Dia 29 de maio de 2011, às 15h
Praça Buenos Aires, Avenida Angélica 1.500 - Higienópolis - São Paulo/SP
Dib Carneiro Neto, 50, é jornalista, dramaturgo (Prêmio Shell 2008 por Salmo 91), crítico de teatro infantil e autor do livro Pecinha É a Vovozinha(DBA), entre outros. Fale com o colunista