A História do Incrível Peixe-Orelha
Publicada em : 08/10/2012
Adaptação do livro de Edson Natale, que recebeu selo da ONU como uma publicação que integrou oficialmente o Ano Internacional da Água Potável
O raríssimo peixe milenar da espécie “orelha” já viveu muitos perigos nas águas brasileiras: bebeu do óleo de navios, foi atropelado por sofás jogados nos rios e vivenciou o desvio de bacias hidrográficas importantes de nosso ecossistema. Com essa experiência e sua sabedoria, o Peixe-Orelha quer conscientizar todos os seres aquáticos (e os humanos) sobre os perigos do consumo desenfreado e da poluição aquática.
Este é o mote do espetáculo infantil A História do Incrível Peixe-Orelha. A montagem é uma adaptação feita pelo dramaturgo Paulo Rogério Lopes do conto homônimo de Edson Natale, escrito em 2003 – que recebeu o selo da Organização das Nações Unidas (ONU) como uma publicação que integrou oficialmente o Ano Internacional da Água Potável. Com isso, a obra recebeu o apoio institucional da ONU, que a declarou “uma grande contribuição para a divulgação dos objetivos do Ano Internacional da Água Potável, criado pelas Nações Unidas para conscientizar a população mundial, e em especial os mais jovens, sobre o problema da água em nosso planeta”.
Protegido pelo conselho dos sábios e corajosos anciãos das águas, mares e rios, o lendário Peixe-Orelha é tido como o último de sua espécie e o único capaz de salvar a água do planeta. Isso se faz por meio dos ensinamentos transmitidos pelo peixe que vão desde estatísticas sobre a bacia hidrográfica brasileira – que concentra 8% de toda a água doce existente no mundo –, até informações sobre a quantidade de água gasta em um banho de quinze minutos, para escovar os dentes, lavar a louça ou limpar carros e calçadas.
“O teatro tem a função de educar e expandir o conhecimento com um viés artístico. Algo que pode auxiliar na formação da criança. O teatro de variedades foi uma inspiração para esta montagem, pois o espetáculo exibe uma série de números envolvendo música, mágica, recursos que estão em volta e trabalham com o mesmo tema”, diz Kleber Montanheiro.
A encenação é recomendada ao público a partir de 3 anos de idade e priorizou a criação de uma linguagem leve e lúdica que possibilitasse a discussão de um assunto de grande urgência e seriedade de forma divertida, por meio da arte. Cria-se um jogo de troca e identificação entre palco e público, convidando este a participar do espetáculo como um espectador ativo, por meio da fala, da ação e das técnicas de farsa desenvolvidas pela direção.
Os atores inserem as exaltações e participação do público no jogo teatral, conectando-as à história de modo eficiente, por meio do rompimento da chamada “quarta parede” – elemento característico do teatro realista. Prioriza-se, então, a dinâmica do enredo por meio da triangulação da comédia, do ritmo ágil e a música envolvente na forma de gags, que conduzem a seriedade do assunto com muita diversão.
“A concepção procurou trazer um ambiente fantástico para os palcos com os seres marinhos, os espelhos que se movimentam criam o reflexo do mar. Objetos do cotidiano como tampas de garrafa, esponja, panelas estão colados nos personagens. Uma iniciativa que traz uma identificação para a plateia e exprime a ideia de que esses adereços não fazem parte do mundo marinho, a questão da preservação é o mote principal da peça”, fala o diretor.
FICHA TÉCNICA:
Espetáculo: A História do Incrível Peixe-Orelha – Direção, cenário e figurinos: Kleber Montanheiro. Autor do livro: Edson Natale. Autor da peça: Paulo Rogério Lopes. Roteiro e adaptação teatral: Paulo Rogério Lopes. Música Original: Adilson Rodrigues. Iluminação: Guilherme Bonfanti. Elenco: Alessandra Vertamatti, Luciana Ramanzini, Mariana Elisabetsky, Demian Pinto, Edgar Bustamante, Fabiano Augusto. Realização: Fernanda Signorini. Classificação: 2 anos.
SERVIÇO:
Estreia dia 13 de outubro de 2012. Temporada até 16 de dezembro de 2012. Teatro Aliança Francesa. Rua General Jardim, 182 - Vila Buarque – próximo ao Metrô República. Tel.: 3017-5699 ramais 5602 / 5618 / 5617 Preços e Horários: Sábados e domingos, às 16 hora – R$30 inteira, R$ 15 meia entrada. Duração: 60 minutos. Comédia infantil. Recomendação: 2 anos. Vendas: Ingresso Rápido -http://www.ingressorapido.com.br/. Tel. 4003-1212. CC: AE, D, M e V. Informações:
http://www.aliancafrancesa.com.br/ Capacidade - 214 lugares (04 lugares para portadores de necessidades especiais).
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Por Dib Carneiro Neto - atualizada em 16/04/2013 19h05
O barquinho vai, a tardinha cai. Teatro infantil dentro do mar? Sim. Três espetáculos para crianças, em cartaz simultaneamente em São Paulo, se passam no mar ou suas histórias se referem aos mitos do fundo do mar. Os três são ótimos. Programe-se, pois muitas crianças já estão em férias escolares e merecem se divertir e se emocionar com boas peças de teatro. As três temporadas terminam antes do Natal, no dia 16.
1) POR UMA ESTRELA. A premiada Cia. Truks de Animação, dirigida por Henrique Sitchin, que este ano já nos brindou com o sensacional ‘Sonhatório’, nos conta a história de um casal de garotos que nasce no mesmo dia. Os dois crescem juntos, numa aldeia de pescadores, até que a menina tem de ir embora com o pai... A peça é baseada em uma ideia original de Luciana Semensatto. Se seu filho ou filha estão agitados demais neste fim de ano, ligados na tomada, esta é uma indicação perfeita. É uma peça calminha, com ritmo lento, temática delicada, enfim, um verdadeiro oásis no mundo atual, por demais agitado e tecnológico. A história é bem romântica, com uma bela trilha sonora melancólica. Sitchin mais uma vez demonstra uma incrível coragem, pois não abre mão de sua linguagem sensível e de sua louvável meta como encenador: atingir o coração da plateia, menos do que a razão. Os manipuladores dos bonecos são tecnicamente muito bem preparados, mas nota-se que vão além da pura técnica e realmente sentem cada gesto que imprimem nos personagens. Quando os bonecos vão nadar no fundo do mar (panos transparentes), é perfeita a movimentação de braços e pernas, como se os bonecos estivessem mesmo mergulhando em águas profundas. Também é muito linda a solução para a passagem do tempo, utilizando o balanço do mar.
Serviço: Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93, Pompeia, tel. (11) 3871-7700. Sábados e domingos ao meio-dia. Ingressos a R$ 8,00. Até 16/12.
2) A HISTÓRIA DO INCRÍVEL PEIXE-ORELHA. O craque na dramaturgia para crianças, Paulo Rogério Lopes, adaptou o livro homônimo de Edson Natale e o resultado é esta divertida peça dirigida por outro nome de destaque no cenário do teatro infanto-juvenil, Kleber Montanheiro. Aqui, ele assina também cenários (painéis espelhados) e figurinos. Pode-se dizer que é uma peça sem muita ação, mas com muita movimentação. É quase um desfile de personagens paródicos do fundo do mar, como uma dupla hilária de peixes-palhaços, um menino Baleia, as trutas descoladas, uma tartaruga marinha formada por sombrinhas e assim por diante. O enredo é um mero fiapo: o peixe-orelha (Fabiano Augusto, sempre ótimo) finalmente acorda de seu longo sono e surge para fazer um pronunciamento ecológico. É só. Adilson Rodrigues assina as excelentes canções e elas são, a meu ver, a chave do espetáculo, pois as lições ecológicas que se quer transmitir estão contidas apenas nas letras das músicas, e não em falatórios e pregações dos personagens. Isso é sensacional. No elenco, quem melhor defende as canções é Mariana Elizabetsky. Não deixe de reparar também na criatividade dos figurinos, com roupas amplas e coloridas, repletas de objetos acoplados, como colheres de pau, peneiras, coadores, bichos de pelúcia. A melhor coadjuvante, entre um elenco de bons nomes, me parece ser Luciana Ramanzini, esbanjando alegria e empatia como Noé, Piririca e o Peixe-Espada. Faço apenas a ressalva de que os microfones são desnecessários. Vira uma gritaria inútil, que desmerece um grupo excelente de atores de vozes naturalmente potentes. Ah, e o programa da peça não traz os nomes completos dos atores, só seus primeiros nomes, o que se configura em um deslize desrespeitoso com todos eles.
Serviço: Teatro Aliança Francesa. Rua General Jardim, 182 - Vila Buarque. Tel.: (11) 3017-5699. Sábados e domingos, às 16 horas. Ingressos a R$ 30 inteira e R$ 15 meia. Até 16/12.
3) MARESIAS. A competente Cia. Fios de Sombra, de Campinas, teve a ótima ideia de realizar uma animação que se passa na areia da praia, sendo que o boneco é um boneco de areia. O resultado é muito bonito, não só plasticamente, mas poeticamente. E também, como o da Truks, esse é um espetáculo singelo, romântico e com ponto alto na manipulação do boneco no fundo do mar, em busca de sua sereia. Em cena, um único ator-manipulador, Lucas Rodrigues, que compõe a cia. ao lado de Rafael Curci e Paloma Barreto. Lucas emociona por sua interação divertida e emotiva com o personagem. A trilha sonora, criada pelo compositor argentino Gustavo “Popi” Spatocco, serve de base e de roteiro condutor dos movimentos da animação, bem à moda dos desenhos animados e do cinema mudo. O espetáculo, de quebra, também faz bom uso da técnica de teatro de sombras, culminando com a linda cena final, em que o manipulador também vira sombra. Grande e encantadora sacada do dramaturgo uruguaio e diretor da peça, Rafael Curci.
Serviço: Sesc Santana. Rua Avenida Luiz Dumont Villares, 579, Santana, tel. (11) 2971-8700. Domingos às 14 horas. Ingressos a R$ 8,00. Até 16/12
*Este texto foi publicado em 07/12/2012
Dib Carneiro Neto, 50, é jornalista, dramaturgo (Prêmio Shell 2008 por Salmo 91), crítico de teatro infantil e autor do livro Pecinha É a Vovozinha(DBA), entre outros.