Era uma vez uma aldeia ribeirinha, à beira mar.
Hoje ela não existe mais, mas houve um tempo em que ela ficava ali, com poucas casas e o mesmo tanto de gente.
Hoje ela não é mais nada, mas um dia foi.
O que nela tinha era o básico para a vida ser tocada: um Padeiro para alimentar a carne, uma Benzedeira para alimentar o espírito, e uma Mulher para alimentar o que faltasse.
E esta Mulher um dia tinha conheceu o filho do dono das terras. E por ele ficou a esperar, deixando o resto dos homens apenas com o alívio das mais velhas.
Voltar, ele não voltou.
E o resto foi mais ou menos assim:
No dia que a espera Dela amanheceu, não foi o filho do dono das terras que apareceu, mas a notícia do casamento dele com outra.
Apenas um convite foi enviado para os habitantes da aldeia, e entre eles isso teria que ser decidido.
Por conveniência o mais Velho da aldeia foi o escolhido, e isso facilitaria a diversão da sua Esposa, que desde há muito o traía com o Padeiro.
Mas conhecer assim de perto os nobres era o grande sonho do Padeiro, que até adulterou o pão do Velho, provocando-lhe uma doença, deixando o convite a disposição de outro.
E assim foi com toda a aldeia, um ‘querendo’ ou ‘precisando’ mais do que o outro ir ao casamento.
Com todo mundo, menos com ela: a Mulher, que naquela manhã só quis saber de chorar até a morte na beira do rio. Mas ao invés da água lhe trazer a morte, trouxe-lhe um náufrago, e coisa boa, nunca tinha lhes chegado pelo mar.
Gente de fora é gente estranha, e gente estranha muda um pouco as coisas.
Está estabelecida a desordem.
(Texto provocado pelos "Provérbios Flamengos" do pintor Brueghel.)