Por Dib Carneiro Neto - atualizada em 04/04/2014 12h45
Cena do espetáculo ‘Classificados’ (Foto: Divulgação)
Seu filho sabe que existe uma lei no Brasil proibindo os animais de trabalharem no circo? E que, desde muito antigamente, os bichos costumavam ser maltratados pelos donos dos picadeiros, até aprenderem a fazer direitinho as brincadeiras na frente do público? E que eles até apanhavam? Então, os donos das leis determinaram que nunca mais nenhuma espécie de gente (nem se fosse homem-bala, mulher barbada ou domador de feras) poderia voltar a montar um circo com a participação de elefantes, ursos, cavalos, macacos, leões, tigres, girafas, nem mesmo borboletas! Nunca mais – por causa da lei de proteção aos animais. Isso quer dizer que, felizmente, a sociedade dos homens resolveu proteger os bichos maltratados. Isso quer dizer, também, que agora os circos multiplicaram por dez a sua criatividade, para substituir a presença dos seus antigos astros principais do reino animal.
Partindo desse mote é que tem início o delicioso espetáculo ‘Classificados’, em cartaz no Sesc Pompeia, com a cia. La Mínima. A segura direção de Domingos Montagner presta uma linda homenagem à bufonaria de circo, com números clássicos de palhaço, as trapalhadas, os erros, os exageros, as farsas e as graças. Os dois atores protagonistas estão muito bem como os bichos desempregados que têm de se disfarçar de humanos para conseguirem novos empregos. Fernando Sampaio é um urso medroso e Marcelo Castro é um leão mandão. Mas quem se destaca mais no elenco, em minha opinião, é o coadjuvante Fernando Paz, desdobrando-se com muito talento em inúmeros papeis, como a portuguesa, o rato, o macaco, a dona da mercearia, o praticante de jogging, o narrador da história e tantos mais.
Assinando a dramaturgia, temos o premiado Paulo Rogério Lopes, que, desta vez, optou por uma estrutura bem tradicional de texto para crianças, ou seja, aquele tipo de peça infantil em que não faltam o número de plateia (o leão sonâmbulo vai em direção ao público), o número de interatividade (“Onde ele foi? Pra lá ou pra cá?) e os números musicais (com ótima canção adaptada de Luiz Gonzaga: “Que diferença do animal o homem tem?”). Dessa forma, tudo transcorre de um jeito seguro e eficiente, sem grandes invencionices dramatúrgicas.
Outro premiado da ficha técnica é Kleber Montanheiro, que mais uma vez fica responsável por cenário e figurino. O destaque maior, aqui, é do figurino, acertadíssimo, com homogeneidade de cores e criativo uso de acessórios para marcar a caracterização de tantos personagens. A melhor roupa é a do leão, de uma elegância impecável.
SERVIÇO
Sesc Pompeia. Rua Clelia, 93, tel. 11 3871-770011 3871-7700. Sábados e domingos, ao meio-dia. Ingressos a R$ 8 (inteira). Até 1.º de maio.
Dib Carneiro Neto é jornalista, dramaturgo (Prêmio Shell 2008 por Salmo 91), crítico de teatro infantil e autor do livro Pecinha É a Vovozinha (DBA), entre outros.
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A vida do leão e do urso virou de ponta cabeça quando eles saem do circo / Foto Asa Campos
“Classificados” fala da procura deles por uma nova profissão depois que a lei proibiu animais no circo
Bell Bacampos
“Essa é a história de um tempo em que os homens e os animais brincavam juntos no picadeiro. Eles eram grandes artistas, amavam o que faziam e eram amados pelo público. De uma hora para outra, tudo muda, minha senhora do trapézio!, e fica proibida a apresentação de bichos nos circos”, relata o artista circense Fernando Paz, no espetáculo “Classificados”.
Com o fim do picadeiro e dos aplausos, uma dupla de bichos, formada por um urso (interpretado por Fernando Sampaio) e um leão (papel de Marcelo Castro) está inconformada com a situação – o circo foi embora sem eles.
E agora, o que fazer?
Leão e urso conversam sobre a sua situação / Foto Asa Campos
O urso vira-se para o leão e comenta: “A nossa jaula era linda, era demais, tinha até TV a cabo e telefone celular. A gente deveria ir buscar um zoológico”. O leão fica bravo e questiona: “Eu lá tenho cara de fera aposentada?”.
O urso não está lá preocupado com a cara de fera ou de aposentado do leão, ele quer mesmo é comida.
À procura de casa e alimento, eles passam a ler os classificados a fim de ver se encontram alguma coisa de que gostariam de fazer, um trabalho parecido com o do circo. Durante a aventura, enfrentam situações do mundo do bicho-homem e cruzam com um rato de laboratório, uma portuguesa com certeza, um manda-chuva de ONG,um macaco, uma mulher do Abrigo de Cães e Gatos (interpretados por Fernando Paz).
Fernando Paz como macaco / Foto Asa Campos
Fernando Paz como a portuguesa do armazém / Foto Asa Campos
Em conversa com o rato, a dupla descobre que vai conseguir comida grátis e teto lá no laboratório. E, segundo o rato, cientistas vão ficar de olho neles. É tudo que queriam: público, plateia, aplauso e … barriga cheia.
A dupla de animais examina o laboratório / Foto Asa Campos
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Enquanto examinam o laboratório, surge uma organização que promete salvar os animais. E o chefe da turma avisa ao leão que ele vai ser o astro da próxima campanha. O leão ruge vaidoso. O chefe anuncia, empolgado que, em nome da organização, vai acabar com o tal laboratório cruel. “Abaixo a crueldade animal, abaixo a crueldade animal”, grita!
A ironia permeia o texto escrito por Paulo Rogério Lopes. E competência é a marca da atuação do trio de atores no palco/picadeiro.
De cambalhota em cambalhota, pendurados na arte de fazer graça, eles conquistam até mesmo um público exigente e irrequieto: os pequenos na faixa de até 4 anos prestam muita atenção na história dos bichos falantes.
Fernando Sampaio (Urso), Fernando Paz (mulher do Abrigo) e Marcelo Castro (Leão) / Foto Asa Campos
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Local e horário de “Classificados”
Sábados e Domingos, às 12 horas, no Sesc Pompeia – rua Clélia, 93 – Pompeia, fone: 11 3871-7700 – R$ 8,00.
Quem faz o que
Texto: Paulo Rogério Lopes
Direção: Domingos Montagner
Elenco: Fernando Paz, Fernando Sampaio e Marcelo Castro
Stand in: Filipe Bregantim
Produção: La Mínima