Olhar o presente através do futuro
Da sociedade à política, passando pela tecnologia e pela economia, parece não haver domínio da atividade humana que não seja atualmente objeto de profundas e estruturais mudanças, marcadas por um ritmo que compromete muitas vezes esforços de planificação e de definição de estratégias de médio e longo prazo.
É neste contexto que as abordagens de tipo prospetivo tenham vindo a ganhar terreno e a conquistar adeptos e defensores.
Em que consiste, afinal, a Prospetiva? Verdadeira indisciplina científica, como lhe chama Michel Godet, a Prospetiva procura olhar o presente através do futuro.
Não sendo uma profecia, nem previsão, a abordagem prospetiva não tem por objetivo predizer o futuro, mas antes ajudar a construí-lo. Trata-se de um tipo de abordagem assente no pressuposto de que o futuro não está pré-determinado, mas que, pelo contrário, está aberto a várias possibilidades. Implica, por isso, uma análise e avaliação permanentes das tendências pesadas e das ideias e factos portadores de futuro, pressupõe uma abertura à aprendizagem do incerto e recusa o fatalismo e a ausência de opções, concedendo, por isso, à atuação humana os necessários espaços de liberdade e margens de autodeterminação.
Novas infraestruturas, novas políticas sociais, mudanças de mentalidades e comportamentos, novas competências e qualificações profissionais constituem alguns dos exemplos que ilustram a necessidade de abandonar a atitude do bombeiro, que espera os acontecimentos para reagir, e adotar a postura do conspirador (como o designa Godet), que entende por bem provocá-los.
Doutro modo, ficaremos confinados a não dispor de futuro, perdendo, por completo, a capacidade de desejar, de nos deslocarmos a momentos diferentes do atual, de contar histórias em que nos imaginemos noutro sítio ou de outro modo, de nos projetarmos virtualmente, em suma, de fazer projetos.
Haverá situação pior do que a de negarmo-nos o futuro, qualquer que ele seja, e em função do qual atribuamos sentido e teleologia ao que fazemos e ao que somos?
Restar-nos-á, como única alternativa, conduzir com os olhos postos no retrovisor ou, na melhor das hipóteses, dispor somente daquele palmo de visão que a vertigem alucinante das mudanças nos concede?
Se assim for, é a própria liberdade que resulta posta em causa. Sem a possibilidade de nos projetarmos no futuro, a liberdade de que, alegadamente, dispomos reduz-se a uma palavra sem correspondência real e, como tal, a figura de vazio.
Afirmar que o futuro é domínio de poder, não significa, porém, que sobre ele se detenha um poder absoluto. A coexistência de movimentos e tendências profundas, cuja inflexão está para além do nosso alcance, bem como de diferentes atores, com diferentes poderes, justifica e implica que toda a reflexão prospetiva integre, na construção dos futuros possíveis, os elementos da realidade sem os quais poderá cair na mera expressão, mais ou menos poética, de desejos e/ou receios. Baseando-se a prospetiva em pontos de partida como a criatividade e a imaginação, não exclui, por isso, a necessidade de integrar os constrangimentos da realidade, pois só desse modo se ultrapassa o domínio das ideias vagas e se constroem propostas realistas, realizáveis e coerentes.
Não obstante o realismo, a coerência e a exequibilidade das propostas, o que permanece como facto é a ideia de que as sociedades, como as organizações e os indivíduos, dispõem, afinal, de alguma margem de manobra. Precisamente aquela que reside na antecipação da dinâmica do sistema e dos jogos de atores, por forma a aí poderem inscrever os seus exercícios de vontade e de desejo. Não se trata de procurar uma solução mágica que caia do céu, mas antes de olhar de uma outra forma para o conjunto já constituído de utensílios, materiais e meios de que se dispõe, de refazer o seu inventário e de o transformar num novo conjunto que difere do ponto de partida pela sua nova configuração.
Para isso, insista-se, é necessário partir dos objetivos e não exclusivamente dos meios. Como dizia Gaston Berger, o futuro é a razão de ser do presente.
ANÁLISE PROSPETIVA DA EDUCAÇÃO
Guimarães - Capital Europeia da Cultura
COMUNICAÇÃO SONAE
Fundação Byssaia Barreto (Coimbra)