LEGALIZAÇÃO DE SNUFF MOVIES
Nova proposta fraturante do Bloco de Esquerda
Os setores mais ativos do BE, cansados de iniciativas moderadas e prudentes como a de referendar a permanência de Portugal na UE, conceberam a proposta de lei apresentada ontem, no parlamento, que visa legalizar os filmes snuff (filmes que mostram mortes ou assassinatos reais de uma ou mais pessoas, sem a ajuda de efeitos especiais).
Em conferência de imprensa na sede do BE, a destacada dirigente Catarina Martins explicava assim a razão da iniciativa: "É absolutamente inaceitável que continuemos condicionados pelos opressores cânones estéticos da indústria cinematográfica norte-americana. Já é altura de dizermos "basta" à manipulação de gosto a que a população portuguesa se encontra submetida, com restrições à liberdade criativa como as que impedem a legalização e livre distribuição e acesso a filmes snuff."
A deputada Mariana Mortágua aplaude mais esta iniciativa do Bloco, recordando as importantes externalidades positivas que traz à economia portuguesa: "A proposta do BE de legalização dos filmes snuff proporcionará, só com os desperdícios dos filmes, um importante impulso inovador na gastronomia portuguesa, designadamente em iguarias tão nacionais como rojões, tripas, arroz de cabidela, arroz de sarrabulho, morcela, para não mencionar senão estes. Para além disso, criará emprego, sobretudo nas camadas mais jovens, que deixarão de ter de emigrar e, se atingir as dimensões que prevemos, aliviará as pressões sobre o SNS e as reformas". Mais adiantou: "Não recuaremos nesta iniciativa e da sua aprovação faremos condicionar o apoio ao próximo orçamento de Estado. Esperamos uma enorme resistência por parte da poderosa indústria cinematográfica capitalista, através da habitual manipulação dos media. Não deixamos de registar, contudo, a situação irónica de sermos ferozmente atacados por um conjunto de privilegiados de um negócio que gera lucros pornográficos e criminosos, exatamente as duas principais componentes dos filmes snuff."
Também a destacada especialista em Educação, Joana Mortágua, adiantou as enormes vantagens que daqui podem decorrer em termos de inovação educacional a partir da disponibilização de material didático gratuito às escolas com base em alguns dos filmes snuff, criteriosamente selecionados, como complemento aos manuais do 1º ciclo também oferecidos pelo Estado. Avisou também que o BE tudo faria para que os filmes snuff apenas fossem oferecidos às escolas públicas, ficando as privadas, mesmo as que se encontram em regime de associação, obrigadas a pagar pela sua utilização. "Se as escolas dos ricos pretenderem material pedagógico de qualidade, que o obtenham sem o dinheiro dos contribuintes".
Luis Fazenda, no seu proverbial estilo cavalheiresco e ponderado, declarou que se trata de mais uma iniciativa do BE que visa pôr fim a tabus e moralismos bacocos ainda existentes no país. Na sua opinião, a legalização dos filmes snuff constitui um bom exemplo da defesa intransigente do BE da morte assistida.
Também André Silva, porta-voz do PAN, manifestou apoio à iniciativa, tendo afirmado que irá apresentar uma proposta à assembleia no sentido de garantir que o elenco dos filmes snuff inclua 30% de animais, como forma de sensibilizar para a indispensabilidade dos seres não humanos em todas as manifestações civilizacionais. No entanto, e na esteira das boas práticas de sociedades mais avançadas, o PAN exige que os animais sejam anestesiados ou submetidos a choques elétricos antes de serem chacinados. Disso não abdicaria, reforçou.
A iniciativa, denominada SNIFF SNUFF (a designação em inglês decorre da ideia de internacionalizar o projeto, beneficiando já do apoio do PODEMOS e do SYRISA), conta, para além do Bloco, com o apoio do Correio da Manhã TV, tendo mesmo sido assinado um acordo de parceria entre as duas organizações.
Catarina Martins explicou a parceria: "Os mais normal é que organizações com visão, cultura e valores próximos se juntem e unam esforços. A CMTV está para a televisão portuguesa como o BE para a política nacional. Ambos constituem uma pedrada no charco, não tendo pruridos nem receios de dizer a verdade ao povo português. Identificamo-nos com os critérios editoriais da CMTV e a assinatura do protocolo de cooperação foi disso uma consequência natural".
O Diretor da CMTV, que também se disponibilizou para conversar connosco, aproveitou a oportunidade para endereçar algumas críticas: "Esta parceria totalmente inovadora entre um canal de televisão e um partido político tem gerado muita polémica, sobretudo junto das classes mais conservadoras e, atrevo-me a dizê-lo, pseudomoralistas. O BE e a CMTV sempre pautaram as suas atuações por rigor na análise dos factos e por um combate sem tréguas à demagogia e ao populismo. A aliança surge, pois, como consequência natural de uma afinidade de perspetivas."
As afirmações do Diretor da CMTV deverão ser entendidas como uma reação às declarações do Presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Carlos Magno, que terá alertado para eventuais violações deontológicas decorrentes de uma parceria com estes contornos, não obstante ter havido, desde tempos imemoriais, uma aliança entre a RTP e os partidos no poder.
Carlos Magno terá, ainda, afirmado que a parceria BE/CMTV, para além das questões deontológicas que traz à tona, dificilmente acarretará perturbações de monta ao panorama informativo e político do país e que o rigor e isenção jornalísticos não estariam em causa, pois são dois valores que nunca fizeram parte da cultura da CMTV. No que diz respeito a potenciais atropelos à verdade dos factos, contudo, manifestou alguma preocupação face a declarações de Catarina Martins: "Verdade dos factos??? Quais factos? Ao BE apenas interessa a verdade!"
O Presidente da República, por seu turno, terá afirmado que concordava com a iniciativa, mas que não concordava com a iniciativa.
João Gouveia
Vila do Conde, 2016
O que aqui se relata é mera ficção e qualquer semelhança com personagens reais é mera coincidência.