Para quem acha que a qualidade das escolas se mede pelos resultados dos exames, vale a pena recordar a lei de Campbell. Donald Campbell foi um psicólogo social que, na década de 70, concluiu o seguinte: "Quanto mais um indicador quantitativo for utilizado para decisões sociais mais ele será objeto de pressões que o enviesam e mais distorcerá e corromperá os processos sociais que pretende monitorizar".
De forma a transformar isto em linguagem acessível às massas (em particular, aos que valorizam as escolas pelos resultados dos exames), vale a pena dar exemplos.
Não havia menos crises familiares na altura do Estado Novo. Elas não eram relatadas e registadas.
A pressão sobre a redução no número de crimes não gera necessariamente menos crimes. Origina, isso sim, menos registos.
As taxas de sobrevivência de doentes submetidos a cirurgia não refletem, necessariamente, melhores práticas. Originam, em alguns médicos, recusa de doentes difíceis.
As fábricas soviéticas, submetidas a métricas para a produção, não aumentavam a eficácia e a eficiência. Pelo contrário, se a métrica incidisse sobre o peso de material produzido, evitavam materiais leves e privilegiavam os mais pesados. Se, em contrapartida, o indicador fosse o número de peças, optavam pelas mais pequenas.
Ora, se os resultados dos exames forem a métrica para a qualidade das escolas, não haverá probabilidade de as melhores escolas serem as que mais transformam os alunos em macacos amestrados para responder às perguntas dos exames?
Sugiro a alguns dos encarregados de educação e aos especialistas de pacotilha em educação que pensem nisto. Afinal, não querem que as crianças sejam submetidas a pressupostos estalinistas, pois não?
Deus nos livre!
Vila do Conde
13 de maio de 2016