Deve-se, a uma médica suíça, Elisabeth Ross, a partir de uma investigação realizada junto de doentes terminais hospitalizados, a categorização das fases pelas quais passam os que vão morrer.
Segundo esta investigadora, estes pacientes passam por momentos de:
NEGAÇÃO (Não é possível! Não acredito! Não pode ser!)
REJEIÇÃO e REVOLTA (Não aceito! Isto é uma enorme injustiça!)
NEGOCIAÇÃO (Ao menos, gostaria de viver até o FCP voltar a ser campeão europeu. Permitam-me andar por cá até as juventudes partidárias serem extintas. Posso esperar até haver algum sinal de boas intenções nos políticos portugueses?). Perdoem os exemplos, mas é compreensível que doentes terminais tenham, frequentemente, desejos irrealizáveis;
DEPRESSÃO/ACEITAÇÃO (Chegou a hora!).
Pois ocorreu-me utilizar esta classificação para um exercício de analogia, ainda que me arrisque a que o nosso mais alto representante da nação, com a ímpar lucidez que o berço em Boliqueime lhe proporcionou, possa rotular tudo isto de puro masoquismo.
Assumindo esse risco, e mal comparando (repito, Snr. Presidente: mal comparando), imaginemos o Portugal em que vivemos como um doente terminal e ensaiemos a distribuição dos vários agentes políticos e sociais pelas diferentes fases.
Neste exercício meio mórbido e completamente masoquista (vê como sou conciliatório, snr. Professor Aníbal?) arriscaria a colocar, na fase de negação, partidos que se colocam bem à esquerda do espectro político. Afinal, alguns deles são dados a iniciativas "fraturantes", certo? Outros, por seu turno, dispõem de paredes de vidro tão transparente que lhes impede o reflexo da própria imagem.
Na fase de rejeição, colocaria um promissor jovem, que vai formoso mas não seguro na condução do protagonismo mediático de um dos partidos fundadores da democracia portuguesa. Sabendo que a morte está à porta e tendo plena consciência de que as fases da negociação e da aceitação são inevitáveis, louve-se a segurança (estou a ficar farto destes trocadilhos, confesso) com que rejeita as evidências e se esforça por ser califa no lugar do califa. De forma abnegada e com elevado Sentido de Estado, refira-se, uma vez que o relevante currículo como gestor e académico de que dispõe proporcionar-lhe-ia, caso o pretendesse, inúmeras oportunidades fora da política. A não se sentir mobilizado pelo superior interesse da nação, Portugal poderia ver engrossada a lista de jovens a emigrar. O tal drain de que tanto se fala (sim, deixei deliberadamente o brain de fora, claro!)
Para a fase da negociação confesso ter alguma dificuldade. Sendo generoso, colocaria alguns dos analistas económicos e, porventura, alguns (poucos, e os mais avisados) conselheiros dos partidos do arco do poder. Não que sejam eficazes nesses comentários ou conselhos, mas porque vão introduzindo, aqui e além, alguma racionalidade na histeria coletiva.
Na fase da aceitação, corremos o risco de ter, a muito curto prazo, os pensionistas, os professores, os médicos, as famílias, os jovens, ........
A não haver receio dos avisados alertas do nosso Presidente e a considerarem esta analogia promissora, muito agradeceria que alguém me apoiasse nesta solitária tarefa de categorização.
E, já agora, aproveito para perguntar: a eutanásia, em Portugal, é permitida? E o suicídio assistido?
Outubro de 2013