CORREIO DA MANHÃ, um exclusivo
BE adianta solução para o embróglio do Conselho de Administração da CGD
No âmbito da aliança estabelecida entre o BE e o Correio da Manhã, resultante da afinidade encontrada em termos de missão, cultura e valores, designadamente no combate sem tréguas que se propõem travar contra a demagogia e o populismo, o CM teve acesso privilegiado às deliberações da última reunião de dirigentes do BE, onde se discutiu a incómoda situação criada pela nomeação, para a CGD, de António Domingues e sua equipa e pelos ordenados que auferirão.
O desagrado resultante da decisão de Centeno e do Governo quanto ao banco do Estado e à sua nova administração terá mesmo justificado, como alguns analistas mais atentos têm vindo a referir, uma alteração na argumentação utilizada dos representantes do BE. Tendo-nos habituado a um discurso factual, objetivo e nada subjetivado, terá sido a primeira vez que Catarina Martins se socorreu da sua formação de teatro para radicalizar a mensagem e recheá-la de adjetivos e qualificações. "Inadmissíveis", "intoleráveis", "escandalosos", "inaceitáveis", "obscenos", "pornográficos" e "indecentes" foram algumas das expressões com que o BE adjetivou os vencimentos dos administradores da CGD, contrariando toda a sintaxe de objetividade, contenção e crítica construtiva que sempre utilizou na sua comunicação com o público e que, de resto, gerou a aliança com o CM.
E, de forma a contrariar críticas de alguns quadrantes políticos mais reacionários, segundo as quais o BE é pródigo a denunciar situações mas parco em soluções e propostas, Catarina Martins e seus sequazes (perdão, correlegionários ...... perdão de novo, colegas de partido) apresentam como solução para a CGD uma proposta de Conselho de Administração bem mais económica para os cofres públicos.
A CEO será Mariana Mortágua, a personalidade mais consensual entre os bloquistas (e mesmo alguns socialistas, como João Galamba). Para além de, como as declarações mais recentes e mediáticas o comprovaram, ser uma economista de elevado coturno (sabendo somar, multiplicar, subtrair e dividir, com especial enfoque para as duas últimas operações), apresenta no seu currículo uma vantagem que a posiciona acima de qualquer concorrente: colocou questões incómodas a Ricardo Salgado, um banqueiro acossado, experiência de enorme mérito, que teve a vantagem adicional de ter sido registada pelas câmaras de televisão de diversos canais (entre os quais a CM TV). Este é, indiscutivelmente, o seu principal ativo, de importância fulcral para a gestão de uma organização como a CGD, com mais de 16.000 funcionários, um volume de negócios superior a 4.000 milhões de euros, uma recapitalização de 5.000 milhões de euros e que é impactante no funcionamento do sistema financeiro português.
Catarina Martins reconhece, com a honestidade que sempre a caracterizou frente aos microfones, que a CGD ganhará uma CEO ímpar e inigualável, mas que Lisboa perde a possibilidade de vir a ter uma excelente Presidente. De facto, a sua experiência como mulher que sabe, como ninguém, colocar perguntas irreverentes a banqueiros no ocaso coloca-a entre os candidatos mais credíveis para Lisboa, organização com mais de 7.000 funcionários, um orçamento de 724 milhões de euros e a responsabilidade de gerir a vida e o destino de quase dois milhões de pessoas. Mas, enfim, atalha Catarina Martins, "não se pode ter todas as vantagens sem alguns dos inconvenientes".
Acresce, ainda, o facto de Mariana Mortágua dispor já de um projeto para a Caixa. Fiel aos seus princípios, não terá vergonha em ir buscar dinheiro a quem o acumula e propõe-se inverter a atual lógica de financiamento, inaceitável e selvagem, que caracteriza a banca. Com a equipa de Mariana Mortágua a pastorear o banco público, as taxas de juro dos empréstimos serão inversamente proporcionais aos rendimentos e à riqueza dos clientes. Refugiados, minorias étnicas, sem abrigo, desempregados e outros excluídos da sorte passarão a beneficiar de empréstimos com taxas de juro negativas, enquanto os empresários, investidores, empreendedores e demais capitalistas passarão a sentir na pele os efeitos de uma banca socialmente justa e justiceira - apenas terão acesso a financiamento com taxas de juro diretamente proporcionais ao dano económico que causam ao país por terem a desfaçatez de acumular riqueza. Uma questão de justiça social, recorda o Bloco.
Na equipa, pontificam ainda destacados deputados do BE, partido que, como é amplamente reconhecido, pauta a seleção dos seus representantes na assembleia pela espessura da sua experiência política e pela solidez do percurso profissional prévio à sua chegada à política.
Assim, o novo conselho de administração da CGD deverá vir a contar com os seguintes administradores executivos:
- Pedro Filipe Soares, tendo em conta o facto de ser matemático e a gestão da banca exigir muitas contas;
- Jorge Costa, jornalista, para as relações institucionais e para redigir as atas de reunião do Conselho de Administração. Ficará também, decorrente das suas habilitações, com o pelouro do marketing e da gestão comercial;
- Isabel Pires, operadora de call center, (e mulher) que juntará às funções de administradora as de secretária do Conselho de Administração (assim poupando mais um vencimento);
- Jorge Falcato Simões, que, na qualidade de arquiteto, poderá ajudar à expansão da rede de balcões. Um dos slogans que animará o projeto deste conselho de administração é "Um balcão CGD por freguesia", para aproximar o banco público do povo, o que significará aumentar a atual rede de 686 agências para, aproximadamente, 3100. A política de contratação de novos funcionários, que contribuirá decisivamente para a diminuição do desemprego no país, será concebida e executada em conformidade com as novas exigências da rede de balcões. Catarina Martins defendeu esta política de expansão física da CGD argumentando que a digitalização da economia e as suas consequências para a racionalização de agências é uma mistificação capitalista que o BE se impõe desmontar.
- Luís Monteiro, estudante, conhecedor como ninguém dos problemas da juventude e futuro porta-voz desta nas decisões estratégicas e na concessão de crédito. Presidirá mesmo à gestão de crédito e apoiará a nova política de gestão de pessoas (cujo slogan é "every day is casual day"), com um novo dress code (a t-shirt e os jeans passarão a ser obrigatórios e apenas se permitirá cortes de cabelo anuais);
- Domicília Costa, doméstica, (é mulher), pois a gestão de uma casa é uma experiência única que a qualifica para o cargo. Catarina Martins explicou mesmo a razão da escolha: "Confrontando-se, em casa, com muito mês no final do ordenado, esta mulher operou verdadeiros milagres de gestão orçamental, pelo que estamos expectantes quanto ao que conseguirá obter com um esforço de recapitalização de 5.000 milhões de euros". O CM está igualmente expectante.
- Joana Mortágua, (é mulher, também) para a Gestão de Recursos Humanos. Se o facto de ter sido aluna a tornou rapidamente porta-voz do BE para as questões da educação, perceberá, por inerência, de formação profissional e, como uma coisa leva a outra, à gestão de recursos humanos. Além disso, é inflexível quanto a qualquer ideia de reestruturação nos recursos humanos que implique despedimentos, o que a qualifica, naturalmente, para o cargo. Em particular, quando se propõe um processo de recrutamento como o atrás referido, na ordem das 5.000 novas contratações.
De referir, por último, que todos estes administradores têm conta bancária há já alguns anos (pelo menos, desde que se tornaram deputados), circunstância decisiva para quem vai gerir uma instituição bancária.
O BE adianta que esta administração será bem mais económica para os cofres do Estado, uma vez que cada administrador auferirá 10.000 euros mensais. Os deputados do BE aceitam este desafio pelo amor incondicional que têm ao país e à causa pública e consideram que o vencimento proposto é de um enorme equilíbrio. Três vezes superior ao de deputado e três vezes inferior ao do António Domingues. Não haverá lugar a prémios de produtividade, excepto para a CEO Mariana Mortágua que, na sua habitual frugalidade, apenas exige ser compensada com sapatilhas All-Star.
Catarina Martins, quando confrontada com algumas dúvidas relativamente às competências da equipa de administradores proposta pelo BE para as exigências da função, recordou que a CGD, tendo vindo a ser gerida por personalidades de direita, de enorme incompetência, conseguiu, ainda e sempre, resistir à falência. Um fenómeno de resiliência, portanto. Ora, o Bloco prefere que a CGD seja gerida por administradores menos experientes, mas voluntariosos, com espírito de missão e disciplina partidária, do que por uma equipa profissional e tecnicamente preparada que exige ser remunerada com ordenados pornográficos. É uma questão de exemplo a dar ao país, afirma, e recorda Armando Vara como exemplo.
Aa reações não se fizeram esperar. Do lado do CDS, Diogo Feyo manifestou a sua total discordância com esta iniciativa do BE, alegando que se estava a governamentalizar a CGD e que não havia memória de que tal tivesse acontecido no passado. Disponibilizou-se de imediato para integrar uma nova equipa de administradores, assumindo o pelouro dos RH. Afinal, afirmou, "percebo tanto de educação como Joana Mortágua, sendo que cheguei a exercer as funções de Secretário de Estado desta exigente área, o que, seguramente, me coloca em vantagem". Fontes próximas de Assunção Cristas adiantaram, ainda, que as gravatas de nó duplo de Diogo Feyo davam um ar mais digno e edificante às reuniões de administração, em particular quando complementadas com a pronúncia afetada que o destacado dirigente exibe. Uma outra fonte, que não se quis expor, sugeriu mesmo que importa que a CGD tenha, na sua administração, um beto, convencido que é menino bem, a acompanhar um grupo de queques armados em intelectuais.
Do lado do PSD, um outro notável veio a terreiro para criticar a proposta do BE. O facto de Vitor Gaspar, quando era ministro das finanças, ter defendido uma solução remuneratória para a administração da CGD em tudo idêntica à atual não desanima o Vice-Presidente do PSD, até e desde logo pelo facto de, então, ter defendido Gaspar incondicionalmente. Marco António considera que a nomeação de tal equipa é um mau exemplo a dar ao país, pois torna claro que se pode chegar a lugares de destaque apenas com base em carreirismo partidário. Teresa Leal Coelho, em completa sintonia com Marco António, adianta mesmo o nome deste para CEO da CGD. Tendo em conta que se aprende com o erro, e que Marco António é responsável por uma gestão danosa da Câmara de Gaia, Teresa Leal Coelho, essa destacada e reconhecida dirigente do PSD, considera que ninguém como Marco António disporá um percurso de aprendizagem tão credível.
O PCP ainda não se pronunciou. Sabemos de fonte segura que estão a tentar encontrar uma metáfora tão feliz como a da galinha que amealha com o bico e a outra que espalha com as patas.
Aguarda-se uma resposta mais detalhada da parte do PAN, mas arriscamo-nos a adiantar que o seu principal dirigente argumentará que, a julgar pelas amibas que nos têm vindo a representar politicamente (e aproveitando o exemplo de Armando Vara), ninguém poderá recusar um animal na lista de selecionáveis. Em todo o caso, André Silva, porta-voz do PAN, já afirmou que não tolerará mais analogias como as do PCP que envolvam animais.
João Galamba, nos entrementes dos gritos proferidos a insultar a direita pela desfaçatez das suas críticas à proposta do BE, adiantou que o PS, beneficiando das proverbiais capacidades conciliatórias de António Costa, estava a negociar a inclusão de Mariana Mortágua na equipa de administradores, desde que houvesse a garantia, por parte do BE, que a deputada não aparecia nas reuniões e era impedida de tomar qualquer decisão. Caso acatasse estas regras, ser-lhe-iam atribuídos prémios anuais - para além das tais All-Star, uma conta aberta na Zara.
Galamba destacou, ainda, os méritos do atual Primeiro Ministro, ao recordar que, caso consiga os seus propósitos, António Costa superará qualquer prestigitador em passes de mágica, pois conseguirá transformar a Mariana Mortágua numa jarra. Luís de Matos reagiu a estas afirmações, afirmando que considera essa ideia genial e que nunca lhe tinha ocorrido. Amante incondicional do seu país, já tinha pensado em fazê-la desaparecer, contudo.
Vasco Pulido Valente, na sua crónica, voltou a recordar a ideia para que já nos tinha alertado: " Os românticos não se preocupam com os meios, pois bastam-lhes os sentimentos".
Marcelo Rebelo de Sousa veio explicar que, embora concorde com uma administração mais económica, recorda a necessidade de profissionalismo e isso, habitualmente, paga-se. Mas concorda com a necessidade de economizar. No entanto, também valoriza a solidez da experiência técnica. Por isso, em princípio concorda, mas estará atento caso não venha a concordar. Não restam dúvidas quanto à razão de ser da sua enorme popularidade.
João Gouveia
Vila do Conde, 2016