Pelo que entendo do que para aí tenho ouvido e lido, o Estado deveria financiar hospitais privados junto aos públicos, mesmo que estes tenham capacidade instalada para dar resposta aos utentes que se lhes dirigem. Deveria fazer o mesmo com tribunais privados, mesmo ao lado de tribunais públicos. Deveria financiar empresas de recursos humanos como complemento ao IEFP. Deveria financiar empresas para gestão autárquica, paralelamente ao poder municipal público. Deveria financiar a SIC, a TVI e a CMTV, para além da RTP.
TUDO EM NOME DA LIBERDADE DE ESCOLHA!
A educação é uma obrigação do Estado e só deverá ser financiada por todos os contribuintes quando e se o Estado não o conseguir assegurar.
Quanto ao argumento da qualidade ("as privadas é que são"), receio bem que não seja tão linear quanto isso. Resultados nos exames não são, por si só, sinónimo de qualidade. Ponto final, parágrafo. E quem insistir em contrariar esta ideia está a falar do que manifestamente desconhece. A avaliação nas escolas é uma coisa que se estuda, sabiam? Não basta ter tido exames para se perceber do assunto. Assim como viver numa casa não me habilita a ser engenheiro civil, ou o facto de comer não me permitir obter certificado como cozinheiro.
METAM DE UMA VEZ POR TODAS NA CABEÇA QUE EXAMES NÃO SÃO SINÓNIMO DE EXIGÊNCIA. E receio bem que quanto a isto não seja suficiente oferecer-me para fazer um desenho.
Por fim, e para os tais pais que se furtam a escolas públicas porque valorizam a qualidade, alegadamente circunscrita ao privado, talvez valha a pena estudarem o fenómeno antes de falar. Sugiro-lhes uma consulta rápida ao Infoescolas e uma análise comparativa a várias escolas da região onde vivem (aposto que a esmagadora maioria não saberá sequer do que estou a falar) no que ao valor acrescentado trazem (também sei que uma data de bitaiteiros não faz a mais pequena ideia do que estou a falar). E se conseguirem entender o que lá está descobrirão que as escolas públicas estão longe de constituir a tragédia que para aí se anuncia.
A ignorância enerva-me, pois claro que enerva! E os que defendem os contratos de associação que repetem esforços públicos e que não são ignorantes do que afirmo enervam-me na mesma. São intelectualmente desonestos. E isso chateia-me, pá! Pois claro que chateia!
João Gouveia
Vila do Conde, 2016