Não é "Culto" do Evangelho no Lar

Neste item vamos analisar o que o movimento espírita brasileiro chama de "CULTO DO EVANGELHO NO LAR".

Primeiramente vamos ver a definição no dicionário para a palavra "culto":

Mini dicionário Aurélio (2ª edição): 1.Adoração ou homenagem à divindade em qualquer de suas formas e em qualquer religião. 2. Modo de exteriorizar o culto; ritual. 3. Veneração, preito.

As recomendações a respeito de como fazer o "Culto do Evangelho no Lar" são:

1. Escolha pelo menos um dia da semana e adote a hora adequada;

2. Reúna, se possível, todos os familiares (Se estiver sozinho, leia em voz alta para os espíritos ouvirem) ;

3. Faça uma prece para abrir e encerrar;

4. coloque água para que seja fluidificada;

5. Duração aproximada de 30 minutos;

6. Leia uma mensagem edificante ao final;

7. Tome muito cuidado para não se tornar uma reunião mediúnica, pois essa só pode ser feita num Centro Espírita;

8. Se chegar alguma visita não podemos parar o "culto", no máximo os convidaremos para participar.

Vejamos agora os possíveis erros que analisaremos juntos:

1. Allan Kardec, deixa bem claro que no Espiritismo não existe "CULTO", nem nas Casas Espíritas nem nas casas dos espíritas, nem em nenhum outro lugar. Allan Kardec no livro O QUE É O ESPIRITISMO assim responde a uma das perguntas do Padre sobre esse assunto:

Padre. — As evocações, entretanto, não são feitas segundo uma fórmula religiosa?

A. K. — Realmente, o sentimento religioso domina nas evocações e em nossas reuniões, mas não temos fórmula sacramental: para os Espíritos o pensamento é tudo e a forma é nada. Nós os chamamos em nome

de Deus, porque cremos em Deus e sabemos que nada se faz neste mundo sem sua permissão, e, portanto, que eles não virão sem que Deus o permita; procedemos em nossos trabalhos com calma e recolhimento, porque essa é uma condição necessária para as observações, e, em segundo lugar, porque sabemos o respeito que se deve àqueles que não vivem mais sobre a Terra, qualquer que seja sua condição, feliz ou infeliz, no mundo espiritual; fazemos um apelo aos bons Espíritos, porque, conhecendo que há bons e maus, desejamos que estes últimos não venham tomar parte fraudulentamente nas comunicações que recebemos. Que prova tudo isto? Que não somos ateus, o que não quer dizer que sejamos professos de religião reformada.;

No Livro "OBRAS PÓSTUMAS" (Curta resposta aos detratores do Espiritismo), novamente Kardec afirma:

O Espiritismo é uma doutrina filosófica que tem conseqüências religiosas, como toda doutrina espiritualista (A Doutrina de Sócrates e Platão, etc.); por isso mesmo toca forçosamente às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura; mas não é uma religião constituída, tendo em vista que não tem nem CULTO, nem rito, nem templo, e que, entre os seus adeptos, nenhum tomou ou recebeu o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote. Essas qualificações são pura invenção da crítica.

2. Se no Espiritismo não há cultos, até porque, como acabamos de ver, Kardec afirma não se tratar de uma nova religião, devemos, por respeito a kardec e para evitarmos confusões, abolir o uso de tal expressão. O estudo do Evangelho Segundo o Espiritismo, bem como dos demais livros de Allan kardec, são sempre importantes, em casa ou em qualquer lugar. A prece sempre será recomendável para tais momentos como para qualquer momento. A água para ser "magnetizada", porque não podemos fluidificar algo que já é fluídico, quando utilizada de modo permanente e irrefletido pode confundir-se com uma espécie de ritual, o que não é correto, portanto entendemos que sua utilização seja consciente e dentro dos limites da necessidade. A leitura de mensagens edificantes, também julgamos desnecessárias e que levam à mesma questão de ritual, até porque a leitura das obras de Kardec já são edificantes.

3. A observação: "Se estiver sozinho, leia em voz alta para os espíritos ouvirem" é um absurdo tendo em vista que a Doutrina esclarece que os espíritos (Superiores e inferiores) não necessitam de escutar a nossa fala, basta o pensamento para que nos entendam e escutem. No livro "O que é o Espiritismo" capítulo II, 17, encontramos a seguinte explicação de Kardec: "Os Espíritos possuem todas as percepções que tinham na Terra, porém em grau mais alto, porque as suas faculdades não estão amortecidas pela matéria; eles têm sensações desconhecidas por nós, vêem e ouvem coisas que os nossos sentidos limitados nos não permitem ver nem ouvir. Para eles não há obscuridade, excetuando-se aqueles que, por punição, se acham temporariamente nas trevas. Todos os nossos pensamentos neles se repercutem, e eles os lêem como em um livro aberto; de modo que o que podíamos esconder a alguém, durante a vida terrena, não mais o podemos depois da sua desencarnação";

4. Quanto a duração, não vemos problema em que estudemos dez minutos ou duas horas ou mais. A questão fica a critério daqueles que se reúnem, lembrando que os espíritos sempre nos acompanham quando estamos imbuídos de sentimentos superiores, como neste caso, mas que eles, tendo outras atividades, podem nos deixar caso o tempo seja muito longo, o que nada impediria que continuássemos sem eles;

5. Quanto ao conselho de evitarmos que as reuniões de ESTUDO se tornem reunião mediúnica, tendo como base a afirmação de que só podemos nos comunicar com os desencarnados nas "Casas Espíritas" pelo entendimento de que nesses locais existem "aparelhagens" ou a proteção dos Espíritos Superiores para essa atividade, nós discordamos baseados nos ensinamentos do próprio Kardec, embora lembramos que para tais atividades seja necessário recolhimento, seriedade, conhecimento, fé e interesses superiores. Vejamos o que nos aconselha a Doutrina:

O Livro dos Médiuns, Cap. VI. 11ª

Poderá aquele a quem um Espírito apareça travar com ele conversação?

“Perfeitamente e é mesmo o que se deve fazer em tal caso, perguntando ao Espírito quem ele é, o que deseja e em que se lhe pode ser útil. Se se tratar de um Espírito infeliz e sofredor, a comiseração que se lhe testemunhar o aliviará. Se for um Espírito bondoso, pode acontecer que traga a intenção de dar bons conselhos.”

O Livro dos Médiuns, Cap. XXI - Da Influência do Meio

Em todo este capítulo não encontramos conselhos de Kardec para só fazermos reuniões nos Centros Espíritas, mas, ao contrário, tudo nos leva a crer que o que realmente importa não é o lugar mas a intenção dos participantes, como no trecho abaixo:

"...Em resumo: as condições do meio serão tanto melhores, quanto mais homogeneidade houver para o bem, mais sentimentos puros e elevados, mais desejo sincero de instrução, sem idéias preconcebidas."

O Livro dos Médiuns, Cap. XXIII - Da Influência do Meio

254.5ª Não se pode também combater a influência dos maus Espíritos, moralizando-os?

“Sim, mas é o que não se faz e é o que não se deve descurar de fazer, porquanto, muitas vezes, isso constitui uma tarefa que vos é dada e que deveis desempenhar

caridosa e religiosamente. Por meio de sábios conselhos, é possível induzi-los ao arrependimento e apressar-lhes o progresso.”

7ª Que se deve pensar dos que, vendo um perigo qualquer no Espiritismo, julgam que o meio de preveni-lo seria proibir as comunicações espíritas?

“Se podem proibir a certas pessoas que se comuniquem com os Espíritos, não podem impedir que manifestações espontâneas sejam feitas a essas mesmas pessoas, porquanto não podem suprimir os Espíritos, nem lhes impedir que exerçam sua influência oculta. Esses tais se assemelham às crianças que tapam os olhos e ficam crentes de que ninguém as vê. Fora loucura querer suprimir uma coisa que oferece grandes vantagens, só porque imprudentes podem abusar dela. O meio de se lhe prevenirem os inconvenientes consiste, ao contrário, em torná-la conhecida a fundo.”

O Livro dos Médiuns, Cap. XXV - Da Influência do Meio

16ª São preferíveis as evocações em dias e horas determinados?

“Sim e, se for possível, no mesmo lugar: os Espíritos aí acorrem com mais satisfação. O desejo constante que tendes é que auxilia os Espíritos a se porem em comunicação convosco. Eles têm ocupações, que não podem deixar de improviso, para satisfação vossa pessoal. Digo no mesmo lugar, mas não julgueis que isso deva constituir uma obrigação absoluta, porquanto os Espíritos vão a toda parte. Quero dizer que um lugar consagrado às reuniões é preferível, porque o recolhimento se faz mais perfeito.”

6- Quanto ao fato de não podermos interromper o "culto" se chegar uma visita devemos pensar da seguinte forma. Estivesse, eu, chegando para visitar alguém, e fosse recebido da seguinte forma; espere até acabarmos de fazer um "culto" que iniciamos agora e não podemos interromper em hipótese nenhuma, ou ainda, volte depois que estamos no meio de um culto que você pode participar se desejar.

Perguntamos, será que alguém, muitas vezes de outra crença, aceitaria participar de um "culto", um ritual que ele não tem a menor ideia de como é? Parece bastante com a parábola do Samaritano, onde os sacerdotes disseram à vítima: não posso ajudá-lo porque estou a trabalho do Senhor e não devo me atrasar.

Se ao invés de "culto" estivermos realizando um ESTUDO, mesmo sabendo da presença e assistência de bons Espíritos, não haveria problema algum, numa situação semelhante, interrompermos para atendermos aqueles que nos visitam. Caso seja frequente recebermos visitas no horário que realizamos os estudos, que mudemos para outro mais propício.

Aires Santos da Costa