Não há animais errantes

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

600 A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, estará, depois da morte, na erraticidade, como a do homem?

– É uma espécie de erraticidade, uma vez que não está mais unida ao corpo, mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age de acordo com sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. A consciência de si mesmo é o que constitui o atributo principal do Espírito. O espírito do animal é classificado após sua morte pelos Espíritos a quem compete essa tarefa e quase imediatamente utilizado; não há tempo de se colocar em relação com outras criaturas.

O LIVRO DOS MÉDIUNS 283. Evocação dos animais

36ª Pode evocar-se o Espírito de um animal?

"Depois da morte do animal, o princípio inteligente que nele havia se acha em estado latente e é logo utilizado, por certos Espíritos incumbidos disso, para animar novos seres, em os quais continua ele a obra de sua elaboração. Assim, no mundo dos Espíritos, não há, errantes, Espíritos de animais, porém unicamente Espíritos humanos."

a) Como é então que, tendo evocado animais, algumas pessoas hão obtido resposta?

"Evoca um rochedo e ele te responderá. Há sempre uma multidão de Espíritos prontos a tomar a palavra, sob qualquer pretexto."

NOTA. Pela mesma razão, se se evocar um mito, ou uma personagem alegórica, ela responderá, isto é, responderão por ela, e o Espírito que, como sendo ela, se apresentar, lhe tomará o caráter e as maneiras. Alguém teve um dia a idéia de evocar Tartufo e Tartufo veio logo. Mais ainda: falou de Orgon, de Elmira, de Dâmide e de Valéria, de quem deu notícias. Quanto a si próprio, imitou o hipócrita com tanta arte, que se diria o próprio Tartufo, se este houvera existido. Disse mais tarde ser o Espírito de um ator que desempenhara esse papel. Os Espíritos levianos se aproveitam sempre da inexperiência dos interrogantes; guardam-se, porém, de dirigir-se aos que eles sabem bastante esclarecidos para lhes descobrir as imposturas e que não lhes dariam crédito aos contos. O mesmo sucede entre os homens.

Um senhor tinha em seu jardim um ninho de pintassilgos, pelos quais se interessava muito. Certo dia, desapareceu o ninho. Tendo-se certificado de que ninguém da sua casa era culpado do delito, como fosse ele médium, teve a idéia de evocar a mãe das avezinhas. Ela veio e lhe disse em muito bom francês: "A ninguém acuses e tranqüiliza-te quanto à sorte de meus filhinhos; foi o gato que, saltando, derribou o ninho; encontrá-lo-ás debaixo dos arbustos, assim como os passarinhos, que não foram comidos." Feita a verificação, reconheceu ele exato o que lhe fora dito. Dever-se-á concluir ter sido o pássaro quem respondeu? Certamente que não; mas, apenas, um Espírito que conhecia a história. Isso prova quanto se deve desconfiar das aparências e quanto é preciosa a resposta acima: evoca um rochedo e ele te responderá (Veja-se atrás o capítulo Da Mediunidade nos animais, n. 234.)

Fiz uma consulta para uma Revista na Internet, O Jovem Espírita, sobre a questão acima no que obtive a seguinte resposta:

Prezado Aires! Se a explicação que demos não o satisfez, nos desculpe pela nossa ignorância. Estamos aqui para aprendermos uns com os outros. Visto que não conseguimos vos satisfazer é porque certamente o senhor já dispõe de uma opinião formada sobre o assunto e gostaríamos de contar com a sua prestimosa colaboração para não deixarmos essa questão dos animais na erraticidade sem um entendimento mais claro. Analisando ao pé da letra o que diz as duas citações que o senhor fez, Livro dos Médiuns e Livro dos Espíritos, evidencia-se que não existem animais no plano espiritual. Mas a Doutrina Espírita não é somente estes dois livros, encontramos em muitas outras obras, mas principalmente nas obras de André Luiz, muitas citações sobre animais no plano espiritual. Na sua opinião, como entender esse conflito? Abaixo segue algumas citações sobre a existência de animais e vegetais nos planos espirituais. Nosso Lar "Aves de plumagens policromas cruzavam os ares e, de quando em quando, pousavam agrupadas nas torres muito alvas, a se erguerem retilíneas, lembrando lírios gigantescos, rumo ao céu. " (Nosso Lar Cap.7 - FEB 1943) "(...) De repente, ouvi o ladrar de cães, a grande distância. - Que é isso? - interroguei, assombrado. - Os cães - disse Narcisa - são auxiliares preciosos nas regiões obscuras do Umbral, onde não estacionam somente os homens desencarnados, mas também verdadeiros monstros, que não cabe agora descrever. (...) Seis grandes carros, formato diligência, precedidos de matilhas de cães alegres e bulhentos, eram tirados por animais que, mesmo de longe, me pareceram iguais aos muares terrestres. Mas a nota mais interessante era os grandes bandos de aves, de corpo volumoso, que voavam a curta distância, acima dos carros, produzindo ruídos singulares. (...) - Os cães facilitam o trabalho, os muares suportam cargas pacientemente e fornecem calor nas zonas onde se faça necessário; e aquelas aves - acrescentou, indicando-as no espaço -, que denominamos íbis viajores, são excelentes auxiliares dos Samaritanos, por devorarem as formas mentais odiosas e perversas, entrando em luta franca com as trevas umbralinas." (Nosso Lar Cap.33 - FEB 1943) " Libertação "Aves agoureiras, de grande tamanho, de uma espécie que poderá ser situada entre os corvídeos, crocitavam em surdina, semelhando-se a pequenos monstros alados espiando presas ocultas." (Libertação Cap.III - FEB 1949) "Alguns minutos se desdobraram apressados e Gregório, com algumas dezenas de assalariados, surgiu em campo, investindo-nos com palavrões que se caracterizavam pela dureza e violência. Os recém-chegados apareceram acompanhados de grande cópia de animais, em maioria monstruosos." (Libertação Cap.XX - FEB 1949) Ação e Reação " ... Notificou, ainda, que a caravana se constituía de trabalhadores especializados, sob a chefia de um Atendente, e que viajavam com simplicidade, sem carros de estilo, apenas conduzindo o material indispensável à locomoção no pesado ambiente das sombras, auxiliados por alguns cães inteligentes e prestimosos."(Ação e Reação Cap.4 - FEB 1957) " Cães enormes que podíamos divisar cá fora, na faixa de claridade bruxuleante, ganiam de estranho modo, sentindo-nos a presença.... Ao ralho do guardião, dois dos seis grandes cães acomodaram-se junto de nós, deitando-se-nos aos pés.(...) (...) Afastou-se Orzil para sossegar os grandes animais menos domesticados..." (Ação e Reação Cap.5 - FEB 1957) Auxiliando nos meios de transporte "... acompanhei os donos da casa, verificando, com indizível surpresa, que tínhamos sob os olhos um belo carro tirado por dois soberbos cavalos brancos. " (Os Mensageiros Cap.28 - FEB 1944) Flores " ... A pequena distância, alteavam-se graciosos edifícios. Alinhavam-se a espaços regulares, exibindo formas diversas. Nenhum sem flores à entrada, destacando-se algumas casinhas encantadoras, cercadas por muros de hera, onde rosas diferentes desabrochavam, aqui e ali, adornando o verde de cambiantes variados." (Nosso Lar Cap.7 - FEB 1943) "Decorridas algumas semanas de tratamento ativo, saí, pela primeira vez, em companhia de Lísias. Impressionou-me o espetáculo das ruas. Vastas avenidas, enfeitadas de árvores frondosas. Passados alguns minutos, eis-nos à porta de graciosa construção, cercada de colorido jardim." (Nosso Lar, 8) Em Nosso Lar " Deslumbrou-me o panorama de belezas sublimes. O bosque, em floração maravilhosa, embalsamava o vento fresco de inebriante perfume. tudo em prodígio de cores e luzes cariciosas. Entre margens bordadas de grama viçosa, toda esmaltada de azulíneas flores, deslizava um rio de grandes proporções. A corrente rolava tranquila, mas tão cristalina que parecia tonalizada em matiz celestial, em vista dos reflexos do firmamento. Estradas largas cortavam a verdura da paisagem. Plantadas a espaços regulares, árvores frondosas ofereciam sombra amiga, à maneira de pousos deliciosas, na claridade do Sol confortador. Bancos de caprichosos formatos convidavam ao descanso." (Nosso Lar Cap.10 - FEB 1943) "Fui conduzido então por ela, a prodigioso bosque, onde as flores eram dotadas de singular propriedade - a de reter a luz, revelando a festa permanente do perfume e da cor. Tapetes dourados e luminosos stendiam-se dessa maneira, sob as grandes árvores sussurrantes ao vento." (Nosso Lar, 36)

Analisando as três partes grifadas acima em cores diferentes observamos que:

1- É impossível não concordar com as respostas dos Livros de Kardec diante de tal clareza e objetividade;

2- Ele não sabe que a Doutrina Espírita na verdade encontra-se completa no Livro dos Espíritos, sendo os demais livros, desmembramentos dele (O Livro dos Médiuns, Cap. III, 35 - 2º. "O Livro dos Espíritos. Contém a doutrina completa, como a ditaram os próprios Espíritos, com toda a sua filosofia e todas as suas conseqüências morais..." / Revista Espírita 1865 pág. 41: "...O Espiritismo está longe de haver dito sua última palavra, quanto às suas conseqüências, mas está inabalável nesta base, porque esta base se assenta sobre os fatos.");

3-Ele diz que encontramos em muitas obras... mas cita somente as de André Luiz (será por que?)

A ele respondemos com os mesmos argumentos utilizados para outro companheiro do movimento espírita de minha cidade, Leopoldina-MG, como segue abaixo:

Bom dia, Fulano.

Depois da reunião mediúnica de ontem no Centro Espírita X, sobre a vidência da Ciclana, de cavaleiros auxiliando os trabalhos e até de uma pomba branca, você comentou sobre os livros do André Luiz. Certa vez você me disse que Kardec não havia se aprofundado no assunto.

Aproveitando a oportunidade, gostaria, mais uma vez, dizer-lhe que continuo não concordando com a opinião de que existam animais na erraticidade, baseado na Questão 600 de O Livro dos Espíritos, cujo assunto voltou a ser tratado por Kardec no Livro dos Médiuns no Cap. XXV / Evocação dos animais.

Portanto, se contestarmos, ou pior, desprezarmos tais respostas, claras e objetivas, estaremos pondo em risco toda a credibilidade das Bases Doutrinárias.

Para explicarmos a vidência da Ciclana e tantas outras bem como os livros de André Luiz, Kardec nos dá a explicação de que os espíritos podem criar com o pensamento objetos e até animais (A Gênese Cap. XIV – I – 14), o que é perfeitamente aceitável em algumas condições. No entanto a questão fica confusa porque os instrutores do André Luiz dizem para ele da necessidade da utilização de animais na execução de algumas tarefas. Mas que para mim são bastante questionáveis (mesmo tendo sido recebidas pelo Chico, o que muitos julgam ser um sinal de verdade, abandonando os conselhos de analisarmos todas as mensagens)

Enquanto André Luiz relata sobre os Ibis Viajores que vão na frente das caravanas se alimentando das formas fluídicas do pensamento de espíritos inferiores, Kardec nos esclarece que tamém eles possam ser formas fluídicas do pensamento de outros espéritos. Enquando André Luiz fala de cães para proteger as caravanas, Kardec fala que os espíritos superiores não temem os inferiores pela superioridade moral irresistível (O Livro dos Espíritos, Q. 274), não necessitando de "animaizinhos" para se protegerem e que se esses quiserem podem se fazer invisíveis aos inferiores. Enquanto André Luiz, ou seus "instrutores" nos fala da necessidade de animais para tarefas de transporte para auxiliar os desencarnados, Kardec nos fala que os espíritos transportam objetos e a si próprios pelo pensamento, até mesmo os inferiores que, nesse caso, não se dão conta de como o fazem.

Existe ainda outra explicação para a vidência de animais executando tarefas. Sabemos que nos mundos físicos superiores a Terra existem animais encarnados (e não errantes) que auxiliam nas tarefas. Em alguns casos podemos admitir que algumas vidências cheguem até esses planetas (no plano físico e não no plano espiritual) para nos auxiliar e incentivar o ser humano encarnado na Terra a progredir desejando encarnar em tais mundos mais felizes.

Sei que a sua opnião se funda principalmente na credibilidade do Chico e de André Luiz. Mas a questão é: no caso de assuntos que estejam tratados na Codificação e na Revista Espírita com clareza e objetividade, havendo mensagens contrárias de apenas um espírito bastaria para desprezarmos a Codificação dessa forma perigosa?

Lembramos, finalmente, que o próprio Emmanuel teria dito ao Chico que se em algum momento suas instruções contrariassem a codificação que ele deveria ficar com Kardec. O que nos faz concluir que seria possível de que tal fato pudesse acontecer (Como aconteceu na sua opinião sobre Almas Gemeas e sobre a evocação) caso contrário seria desnecessário tal conselho. E se poderia acontecer com Emmanuel, porque não com outros como o caso de André Luiz? Até porque, é uma das maiores dificuldades na área mediúnica a comprovação da identidade dos espíritos. Sabemos que o Chico já rasgou, como todos os outros médiuns, diversas mensagens que considerou inúteis ou duvidosas, o que também nos faz relembrar a mensagem importantíssima do Livro dos Médiuns de que não há médium perfeito e isento de testes, caso contrário não recomendaria constante rigor na análise das mensagens (Crivo da razão). Kardec nos lembra que o médium não deve ter nenhum destaque nas comunicações recebidas, como esclarece na Introdução do Livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo", item I:

"Quanto aos médiuns, abstivemo-nos de nomeá-los. Na maioria dos casos, não os designamos a pedido deles próprios e, assim sendo, não convinha fazer exceções. Ao demais, os nomes dos médiuns nenhum valor teriam acrescentado à obra dos Espíritos. Mencioná-los mais não fora, então, do que satisfazer ao amor próprio, coisa a que os médiuns verdadeiramente sérios nenhuma importância ligam. Compreendem eles, que, por ser meramente passivo o papel que lhes toca, o valor das comunicações em nada lhes exalça o mérito pessoal; e que seria pueril envaidecerem-se de um trabalho de inteligência ao qual é apenas mecânico o concurso que prestam.. "

Não poderíamos terminar sem lembrar o perigo que traz, para o futuro do Espiritismo, a abertura de "espaços" na Codificação para temas inicialmente sem importância mas que ao longo do tempo possibilitam a vinda de outras interpretações absurdas como por exemplo o Livro de Carlos A. Baccelli, "Na Próxima Dimensão", que relata não só a existência de animais no mundo espiritual como o nascimento deles (Reprodução no mundo espiritual. A que ponto a "desatenção" com as bases da Doutrina Espírita podem nos levar.), entre outras informações exaustivamente questionadas por diversos estudiosos sérios da Doutrina Espírita.

Aires Santos da Costa