Fantasias de "Nosso Lar"

A questão 1017 de O Livro dos Espíritos contém todo o ensinamento que necessitamos para entendermos o assunto aqui tratado. Vejamos:

1017 Alguns Espíritos disseram estar habitando o quarto, o quinto céu, etc.; o que quiseram dizer com isso?

– Se lhes perguntais qual céu habitam é porque tendes uma idéia de muitos céus sobrepostos, como os andares de uma casa. Então, eles respondem conforme vossa linguagem. Mas, para eles, essas palavras, quarto e quinto céu, exprimem diferentes graus de depuração e, conseqüentemente, de felicidade. É exatamente como quando se pergunta a um Espírito se ele está no inferno; se é infeliz, dirá que sim, porque para ele inferno é sinônimo de sofrimento; porém, ele sabe muito bem que não é uma fornalha. Se fosse um pagão diria que estava no Tártaro.

O mesmo acontece com muitas outras expressões semelhantes, como: cidade das flores, cidade dos eleitos, primeira, segunda ou terceira esfera, etc., que não passam de expressões usadas por certos Espíritos, quer como figuras, quer algumas vezes por ignorância da realidade das coisas e até mesmo das mais simples noções científicas. (Poderíamos encaixar logo depois da expressão "cidade das flores" a expressão"colônia Nosso Lar" e atualizaríamos a brilhante explicação de Allan Kardec para essa questão)

Para quem entender que esta questão estaria incorreta ou mau interpretada por Kardec, diremos que reflitam sobre o que está escrito na introdução de O Livro dos Espíritos, Prolegômenos, 6º parágrafo: ..."Este livro contém os seus ensinamentos, foi escrito por ordem e sob o ditado dos Espíritos Superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, isenta dos preconceitos sistemáticos; não contém nada que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido submetido ao seu controle. Somente a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação, são obra daquele que recebeu a missão de publicá-lo.".

Os textos abaixo são de autoria do Sr. Iso Jorge Teixeira, cuja interpretação e entendimento da Doutrina Espírita é bastante concordante com a nossa, por isso nos utilizamos de seus textos para auxílio de nossas reflexões.

"Nosso" Lar e a Jerusalém Messiânica do Apocalipse"

Animismo e misticismo

(Dois comentários significativos sobre “Erraticidade e Fantasias Espirituais”)

Iso Jorge Teixeira

isojorge@globo.com

NOSSO LAR

Edifício da Governadoria, “encabeçado de torres soberanas que se perdem no céu”. No alto, o “aeróbus”

Desenho concluído em

11-10-1881.

(Do livro CIDADE NO ALÉM. Francisco Cândido Xavier – Heigorina Cunha – Espíritos ANDRÉ LUIZ e LUCIUS – Instituto de Difusão Espírita, Araras, 6a. ed., 1985,

p. 73).

JERUSALÉM MESSIÂNICA

Apocalipse 21, 10-14 – “Ele então me arrebatou em espírito sobre um grande e alto monte, e mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, junto de Deus, com a glória de Deus. Seu esplendor é como o de uma pedra preciosíssima, uma pedra de jaspe cristalino. Ela está cercada de muralha grossa e alta, com doze portas. Sobre as portas há doze Anjos e nomes inscritos, os nomes das doze tribos de Israel: três portas para o lado do oriente; três portas para o norte;três portas para o sul e tr~es portas para o ocidente. A muralha da cidade tem doze alicerces, sobre os quais estão os nomes dos

doze Apóstolos do Cordeiro.”

Recebemos dois comentários, realmente significativos, de confrades muito estudiosos e que honram o aspecto RACIONAL que deve sempre guiar-nos para o entendimento profundo dos conceitos exarados na Codificação Espírita. Eles comentam o nosso artigo publicado no PORTAL DO ESPÍRITO e neste Portal, PANORAMA ESPÍRITA, intitulado “ERRATICIDADE E FANTASIAS ESPIRITUAIS”... Disse a inteligente, estudiosa, caridosa e fiel Sra. leitora, em mail de 28 de fevereiro deste ano:

“Dr. Iso. Muito elucidativo seu artigo sobre o caso da jovem com tumores cerebrais, agradeço mais uma vez a sua fundamental colaboração nesse caso.

Quanto às obras psicografadas por Chico Xavier, pelo espírito de André Luiz, penso que experimentações científicas da doutrina, em grupos organizados e sérios, com pessoas de várias formações acadêmicas, poderiam tornar mais transparente as questões relativas ao que ali encontramos e que não vemos na codificação da doutrina.

Creio que Allan Kardec, através do seu "laboratório" - a Revista Espírita - demonstra como podem ser feitas essas experiências, alicerçadas naturalmente por uma concordância universal dos Espíritos.

Na Revista Espírita de Janeiro de 1862, existe um artigo CONTROLE DO ENSINO ESPÍRITA, e em várias situações da codificação Allan Kardec, sugere que devemos estudar, observar e comparar, as comunicações que recebemos.

Creio que não devemos aceitar como "prontas todas as verdades", e sim usarmos toda a razão e toda a lógica, para concluirmos sobre essas comunicações.

Acredito que todo e qualquer Espírito Superior deseja e aceita que suas comunicações sejam devidamente estudadas e analisadas com bom senso , para que as divergências possam ser transformadas em realidades concretas e verdadeiras, por isso a Concordância Universal dos Espíritos é uma das formas de diminuirmos a quantidade de mensagens que não encontram base doutrinária nos livros da Codificação.

Dr. Iso, por favor me corrija se eu estiver equivocada, como sempre falei ao Sr. sou ainda muito ignorante perante a grandeza das leis Universais.”

Abraços fraternais. Rose”.

No mesmo dia ela nos escreveu novamente:

“Na Revista Espírita - Agosto de 1859 - Mobiliário do Além-Túmulo, e no O Livro dos Médiuns, cap.VIII - Laboratório do mundo invisível, será que poderíamos ter aí subsídios p/ compreendermos "aparição de mãos", colônias espirituais"e tantas outras coisas relatadas?

Estou estudando com duas amigas o livro A Gênese, e particularmente a Revista Espírita (já fiz um estudo há muito tempo atrás e certamente desta vez levarei alguns anos...rsrs) e, certamente encontrarei uma série de questionamentos, e que espero contar com a sua ajuda para compreender.

Quando o Sr. julgar inoportunas as minhas perguntas, por favor, sinta-se à vontade para ignorar.

Grata por sua atenção, desejo muita saúde e paz. Obrigada, Rose”

ROSE RIBAS - Ponta Porã – MT e São Paulo – SP

Respondemos, preliminarmente a ambos os mails da Sra. Leitora. Sem dúvida, a Sra. ROSE RIBAS tem razão, parcial, quando expõe que as obras psicografadas por CHICO XAVIER, pelo Espírito ANDRÉ LUIZ, precisariam de estudo aprofundado, no entanto, tal estudo não deve partir de um “a priori” para “que ali encontremos e que não vemos na codificação da Doutrina”. Vemos muitas situações INGÊNUAS CIENTIFICAMENTE em alguns livros do CHICO. Seria, a meu ver, o ANIMISMO dele atuando, pois por melhor que seja o médium, este não está isento de animismo, também.

CIÊNCIA ESPÍRITA – CUEE E RAZÃO

Todo ESTUDO realmente CIENTÍFICO não deve partir para uma busca daquilo que “queremos” encontrar, senão, encontraremos exatamente aquilo que “desejamos”; ora, os nossos DESEJOS, os nossos AFETOS não devem contaminar um estudo científico. Todo estudo deve partir com AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS, como recomendava o grande filósofo alemão KARL JASPERS, baseado no também filósofo EDMUND HUSSERL.

Quanto à CONCORDÂNCIA UNIVERSAL DOS ENSINOS DOS ESPÍRITOS (CUEE), parece-me que ela tenha de ocorrer quase SIMULTANEAMENTE em vários Centros diferentes e sem que haja a mesma linha de pensamento entre eles, isto é, o ideal seria que o mesmo teor de uma mensagem ocorresse em vários países quase simultaneamente, a meu ver, isso é que seria CUEE.

A explicação, por exemplo, que o Sr. DIVALDO FRANCO deu num programa de TV, quando suspeito de plagiato do CHICO, apelando para a CUEE, a meu ver, foi frágil; pois se alguém ler uma mensagem de uma pessoa hoje e DEPOIS de algum tempo disser que recebeu mediunicamente o mesmo tipo de mensagem, não se configura a CUEE. Mas neste aspecto desenvolveremos nossa opinião, mais adiante...

Concordo plenamente com o restante do texto da nossa fiel leitora e o aplaudo e ressaltamos aqui o seu pensamento: “não devemos aceitar como prontas, todas as verdades” nas comunicações mediúnicas e, diríamos nós: e as verdades devem ser apreendidas com o critério da RAZÃO nas comunicações mediúnicas. Cremos em que isto precisa ser sempre ressaltado pelos confrades e confreiras, especialmente aqueles que são Dirigentes Espíritas e Doutrinadores em reuniões mediúnicas. Os próprios Espíritos Superiores desejam que suas comunicações sempre passem pelo critério da RAZÃO; em contrapartida, os inferiores, principalmente os mistificadores, é que não desejam tal controle racional...

COLÔNIAS ESPIRITUAIS REALMENTE?

Em relação ao 2.º mail, a estudiosa leitora busca subsídios para a compreensão da “aparição de mãos”, “colônias espirituais”, etc. na REVUE SPIRITE de KARDEC - Agosto de 1859 - Mobiliário do Além-Túmulo, e n’ O Livro dos Médiuns, cap.VIII - Laboratório do mundo invisível , muito bem lembrado!... Lendo, atentamente, o conteúdo de tais citações vamos observar como devemos ser conscienciosos em relação ao ENTENDIMENTO DO QUE NOS DIZEM OS ESPÍRITOS.

Assim, numa comunicação do Espírito SÃO LUÍS, um Espírito de Superioridade incontestável, respondendo quanto à realidade, ou não, de objetos na erraticidade (ainda no plano terráqueo) a propósito da aparição de uma tabaqueira, KARDEC fez a seguinte observação:

"A tabaqueira REAL [os grifos são nossos] LÁ NÃO ESTAVA; a que o Espírito tinha era apenas uma reprodução; comparada à original, era apenas uma “aparência”, conquanto formada por um “princípio material" (pág. 223 da REVISTA ESPÍRITA DE KARDEC – agosto/1859, pág. 223 da trad. de JÚLIO ABREU FILHO, citado pela leitora):

Enfim, seria uma tabaqueira "fictícia"? Perguntamos aos Srs. e Sras. leitores e leitoras, pois não o sabemos com o conhecimento do PERISPÍRITO que temos HOJE. A Espiritualidade Superior não a revelou até hoje, como então ANDRÉ LUIZ/CHICO XAVIER chegariam a conclusões tão apressadas?! Leiam, por favor, a continuação da OBSERVAÇÃO de KARDEC na obra referida, e reparem a prudência e o conselho, que ele nos fornece, pois os Espíritos Superiores também vinham aconselhando isso...

Assim, o Espírito não se mantém em determinados lugares “circunscritos” da erraticidade (cf. resp. à questão 87 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS), eles estão ao redor de nós. Mas estariam alguns Espíritos vivendo em comunidade, em “Mundos Transitórios” também? A nosso ver, não! Os “mundos transitórios”, como o próprio nome diz, são “estações de repouso” e “não possuem belezas naturais”, como temos repetido... E acrescentamos que a MATERIALIDADE dos Espíritos NÃO É REAL, segundo afirmou KARDEC na obra referida acima, seriam artifícios que os Espíritos se utilizam ao “manipularem” o Fluido Cósmico Universal (FCU), OU “CAMPOS DE ENERGIA”, como diria o Físico CARLOS DE BRITO IMBASSAHY...

NOVA JERUSALÉM E “NOSSO LAR”

Não temos condições científicas de afirmar, hoje, que NOSSO LAR seria fictício, fantasioso? Pois bem, o outro mail, de um confrade com quem participamos de uma lista na Internet há algum tempo, um amigo virtual, é bem ELUCIDATIVO em quase todos os pontos sobre o assunto, leiamos o que disse o confrade MABBO:

“Oi Iso. Li seu artigo `Erraticidade e fantasias espirituais', onde você coloca duvidas sobre a existência das tais colônias que existiriam na erraticidade, pois que não se ajustam ao conceito de erraticidade descrito na DE.

Pessoalmente tenho duvidas sobre as tais colônias. O interessante é que elas surgem no meio mediúnico brasileiro depois de já existir trabalhos semelhantes como o livro "A Vida Além do Véu" do médium Vale Owen, `Summerland' de Andrew Jackson Davis; sem falar em Swedenborg (que o Waldo Vieira diz ter sido uma antiga reencarnação sua) e o `Plano Astral' de Leadbeater. Assim, quando lemos o `Nosso Lar' de André Luiz, observamos a mesma linha dos autores citados que são anteriores a ele. (parece-me que Nosso Lar se ajusta mais a um arquétipo da Nova Jerusalém dos cristãos). Os budistas japoneses, por exemplo, nos falam da Terra Pura; outras religiões também defendem a idéia de cidades sagradas.”

Parece-me também isso, confrade MABBO, a JERUSALÉM MESSIÂNICA judaico-cristã do Apocalipse, Livro bíblico extremamente MÍSTICO e repleto de idéias fantasiosas, do ÊXTASE de JOÃO EVANGELISTA, possui semelhanças simbólicas espantosas com “Nosso Lar”...

“NOSSO LAR” E A FLOR DE PLÁSTICO – Os “costumes” do médium

Mas, prossegue o belíssimo raciocínio do nosso leitor:

“Se existem as tais colônias, não se explica como constroem tais cidades; se por processos iguais aos nossos (haverá desmatamento na erraticidade?) ou por mentalização, o que soa muito artificial; pois seria como admirar uma flor de plástico. O estranho é que não há explicações nestas obras mediúnicas. Percebemos apenas que tais descrições estão em afinidade com os costumes do próprio médium.”

FLOR DE PLÁSTICO

Para o nosso leitor, se NOSSO LAR foi construído por mentalização seria como admirássemos “uma flor de plástico”, mas o pior é que existem pessoas que diante de uma flor de plástico afirmam que esta seja uma flor natural real...

Esta é a grande questão: COMO “Nosso Lar” teria sido construída? No meu modo de entender, com o ANIMISMO e a mediunidade do CHICO XAVIER e com seu religiosismo católico, CRISTÃO. Não consigo conceber o livro NOSSO LAR como REVELAÇÃO, porque faltam nesta obra os “CARACTERES DA REVELAÇÃO ESPÍRITA”, muito bem explicados por KARDEC no Cap. I do livro A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEG. O ESPIRITISMO. Além dele não preencher o CUEE, não preenche o critério da RAZÃO.

UM CASO DE EMANCIPAÇÃO DA ALMA - Análise

E finaliza o companheiro propondo uma análise nossa de uma situação prática, diz ele:

“Porém, te escrevo porque gostaria de te enviar uma mensagem que um amigo me enviou e me autorizou a comentá-la com quem eu confiasse. São sobre algumas de suas experiências fora do corpo e ele levanta essa mesma questão do seu texto:

"...Minhas experiências fora do corpo ocorrem involuntariamente, mas não são constantes. Eu simplesmente me deito e, sem dormir, começo a sair do corpo. O que percebo é a tal erraticidade comentada nos livros da DE. Flutuo em diferentes regiões deste planeta. Me locomovo segundo minha vontade. Se penso em estar no outro lado da rua, já estou lá. Não há tampouco a noção de tempo. O que mais me agrada são as cores vibrantes e luminosas da vegetação, que me causam profundo relaxamento e um estado de contemplação. Percebo quando estou fora de meu corpo o quanto há vida em tudo. Interessante é como vejo tudo com uma nitidez como se fosse um filme digital, e eu sou míope; embora sou incapaz de ler qualquer coisa, é como se tivesse uma `dislexia astral'. Mas já descobri que isso ocorre com outros que se projetam também. Outra coisa que me chama a atenção é a forte percepção das emoções nas pessoas e lugares. Na erraticidade não há como mentir; tudo é transparente.

Uma vez estava deslizando por uma ruína que parecia ser em algum lugar no oriente médio. Prestava atenção em um grupo de turistas japoneses quando me chamou a atenção uma entrada aberta no prédio; ao tentar entrar me senti tão mal com a energia que lá estava que tive que me projetar rapidamente para fora. Parece que tais `energias' têm sobre nosso perispírito o mesmo efeito que um objeto em nosso corpo físico.

Encontro grupos de pessoas vivendo na erraticidade, é fácil perceber quando são reencarnados ou não, vivem como se estivessem acostumados a estarem naqueles lugares e parecem não se importarem com os reencarnados, talvez nem os percebam. Também já peguei no pulo espíritos querendo fazer-me crer que eram espíritos superiores, mas pude sentir pela frieza que emanava deles que não era o caso.

Geralmente quando encontro desencarnados, apenas nos cumprimentamos respeitosamente, mas cada um fica na sua. É por isso que na minha experiência fora do corpo me sinto mais como um fantasma. Desloco-me na erraticidade como se sempre estivesse estado por lá, não há o sentimento de estranheza. As questões surgem mais quando estou aqui; é como se houvesse duas consciências. É provável que, ao retornar ao meu corpo, não tenha consciência de outros acontecimentos quando estou por lá.

Porém, houve uma vez que eu fiquei confuso se eu não estaria em algum lugar de existência própria na erraticidade. Foi um dia que eu estava muito estressado; deitei-me para relaxar e, como de costume nestas experiências, comecei a sentir a vibração forte em meu corpo seguida de uma paralisia e a flutuação para cima; deslizei pelo quarto em direção da janela (sempre me atiro pela janela para flutuar acima do meu condomínio), ao atravessá-la já estava num lugar de grande beleza onde eu sentia grande bem-estar.

Simplesmente não parecia ser neste mundo. Deslizei por bosques de grandes arvores. Encontro uma mulher que contemplava o mar e me perguntou se eu sabia que não estava dormindo. Ela me diz para eu mesmo me perguntar se estava dormindo ou acordado como forma de manter a lucidez. Num dado momento me transportei para o alto de uma colina onde podia ver pessoas numa praia, onde o mar batia nos rochedos e se projetava a grandes alturas, mas que não assustava ninguém. Fiquei admirando a cor azul brilhante daquele mar, quando apareceu um homem, de aparência de uns 70 anos, mas irradiando vitalidade. Ele me diz, mentalmente (as idéias chegam como em blocos) que eu tinha que voltar. Tentei ficar, mas a bondade que irradiava daquele homem me calava e aceitei sem discutir sua ordem superior.

Minha dúvida é se aquele lugar existe na erraticidade, neste mundo mesmo ou em outro planeta...”

“Então Dr. Iso, o que lhe parece?

Um abraço.”

MARCOS MABBO - São Paulo - SP

ANIMISMO E ÊXTASE – Tentativa de explicação

Caríssimo MABBO, creio que essa experiência fora do corpo muito se assemelha àquelas EQM (Experiência de Quase Morte) tão bem descritas pelos psiquiatras RAYMOND MOODY e ELISABETH KLÜBBER-ROSS, ou seja, nos fenômenos de EMANCIPAÇÃO DA ALMA, tais vivências descritas pelo seu amigo são TÍPICAS. Mas, de que natureza elas seriam? Sonhos? Não, o seu amigo disse em duas oportunidades:

"...Minhas experiências fora do corpo ocorrem involuntariamente, mas não são constantes. Eu simplesmente me deito e, SEM DORMIR [ o destaque é nosso], começo a sair do corpo” e, mais adiante: “(...) DEITEI-ME PARA RELAXAR[ o destaque é nosso] e, como de costume nestas experiências, comecei a sentir a vibração forte em meu corpo seguida de uma paralisia e a flutuação para cima”.

Seria um sonambulismo natural? Parece-me que também não, pois as vivências que ele apresentou são de muita LUCIDEZ e a EMANCIPAÇÃO DA ALMA era quase completa, além disso houve aquela situação em que um Espírito recomendou-o que voltasse ao corpo, provavelmente o seu Guia-Espiritual. Logo, na minha OPINIÃO, parece-me que o amigo do confrade MABBO tem fenômenos de emancipação da alma denominados ÊXTASE.

Há algum tempo escrevemos um artigo no jornal O SEMEADOR (Órgão da FEESP) intitulado ÊXTASE – O MAIOR GRAU DE LIBERDADE DA ALMA E A MEDIUNIDADE MAIS SUJEITA A ENGANOS (também encaminhado para reedição neste Portal – PANORAMA ESPÍRITA), e ali dissemos que é muito freqüente a mistura de FANTASIA da pessoa emancipada com a REALIDADE, pois é através da VISÃO que geralmente fantasiamos e as pessoas em êxtase possuem CLARIVIDÊNCIA. A Espiritualidade Superior nos alerta em resposta à questão 443 e, especialmente, na 444 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS sobre o “grau de confiança que se pode depositar nas revelações dos extáticos”, respondendo:

“O EXTÁTICO PODE ENGANAR-SE MUITO FREQÜENTEMENTE, sobretudo quando quer penetrar aquilo que deve permanecer um mistério pata o homem, porque então se abandona às SUAS PRÓPRIAS IDÉIAS ou se torna joguete de espíritos enganadores que se aproveitam do seu entusiasmo para o fascinar” (destaques nossos).

Estaríamos afirmando que seu amigo ou CHICO XAVIER seriam “fascinados”? Não, não! Absolutamente, não! A minha argumentação é que nos casos de EMANCIPAÇÃO DA ALMA há certamente o contato com Espíritos afins, mas há, também, o psiquismo DA PRÓPRIA PESSOA, há o ANIMISMO, que contamina o fenômeno. Tais “experiências” são úteis para estudo científico, mas perigosas pela sua própria natureza, que poderiam dar acesso a possíveis obsessores, embora a maioria das pessoas com ÊXTASE apresentem, um certo grau de elevação espiritual e, a meu ver, deve ser o caso do seu amigo, como foi , certamente, o caso de CHICO XAVIER.

Infelizmente, a antiga FEB não teve o devido controle na avaliação dos livros do CHICO e aproveitou-se da ingenuidade do povo, tão afeita ao “maravilhoso” e ao ‘sobrenatural”.

FALTA DE CUEE DO LIVRO “NOSSO LAR” – A MÍSTICA DO NÚMERO 12

Enfim, concordo com o confrade no aspecto da FALTA DE CONCORDÂNCIA UNIVERSAL do livro NOSSO LAR e, provavelmente, o misticismo católico de CHICO XAVIER muito influiu na realização de NOSSO LAR, assim como no Reverendo OWEN e a mística oriental e discordei da confreira ROSE RIBAS, justamente por isso: deve haver SIMULTANEIDADE entre uma “REVELAÇÃO” a um médium e outro, além disso, a Espiritualidade não iria se CONTRADIZER, pois uma das características dos Espíritos Superiores é NÃO RESPONDER aquilo que não sabe e aquilo que ainda é prematuro e houve resposta, clara, de que nos “Mundos Transitórios” inexistem “belezas naturais”, exceto as da “imensidade” (cf. resp. à questão 236-C de OLE).

A JERUSALÉM MESSIÂNICA E “NOSSO LAR” – O NÚMERO 12

A sua colocação, confrade MABBO, ao fazer analogia arquetípica entre NOSSO LAR e a “NOVA JERUSALÉM dos cristãos”, eu diria, “judaico-cristã”, é muito boa; inclusive NOSSO LAR teria uma forma geral de uma estrela de SEIS PONTAS (referência longínqua à ESTRELA DE DAVI), e subdividida cada ponta em dois, isto é, um total de 12 – número cabalístico e simbólico...

Tais analogias, se examinadas do ponto de vista do OCULTISMO, que diga-se de passagem, NÃO TEM NENHUMA RELAÇÃO DOM O ESPIRITISMO, levam-nos a muitas reflexões, por exemplo:

A descrição no Apocalipse diz que a JERUSALÉM MESSIÂNICA “está cercada de muralha grossa e alta, com DOZE portas. Sobre as portas há DOZE Anjos e nomes inscritos, os nomes das DOZE tribos de Israel: três portas para o lado do oriente; três portas para o norte;três portas para o sul e três portas para o ocidente. A muralha da cidade tem DOZE alicerces, sobre os quais estão os nomes dos DOZE Apóstolos do Cordeiro.”

Vejamos o que nos diz LÍSIAS em NOSSO LAR:

“¾ Não tem visto, nos atos da prece, nosso Governador Espiritual cercado de setenta e dois colaboradores [lembrar que 72 corresponde a seis vezes DOZE]? Pois são os Ministros de “Nosso Lar”. A colônia, que é essencialmente de trabalho e realização, divide-se em SEIS Ministérios, orientados, cada qual, por DOZE Ministros”.

Aí está, o número 12 aparecendo profusamente em NOSSO LAR... Vejamos o que diz o estudo da CABALA sobre o número 12:

“A tradição chinesa fala dos dez troncos, (Shikan), e dos DOZE galhos que vêm a ser os dez sefirotes e as DOZE faculdades do ser humano. Os sete chacras e os cinco sentidos são as DOZE faculdades.”

Prossigamos na explicação de um iniciado:

“A GRANDE OBRA - A Grande Obra está representada pelo Arcano XII do Tarot. Nesta carta vemos um homem dependurado por um pé. As mãos dele estão atadas nas costas, de modo que seu corpo forma um triângulo com a ponta para baixo e suas pernas, uma cruz por cima do triângulo.

Todo o trabalho tem por objetivo adquirir alma, quer dizer, alcançar o ligamento da Cruz com o Triângulo: esta é a Grande Obra. A décima segunda carta do Tarot é alquimia sexual. A Cruz-homem deve se ligar com o Triângulo-Espírito mediante o fogo sexual.

Segundo os chineses, o Deus Fu-Hi (o Adão Cristo) nasce à meia-noite, no dia 4 da décima lua e aos 12 anos precisos. A Virgem Hoa-Se, passeando pela margem do rio (o licor seminal), concebe em seu ventre ao Cristo, quando põe seu pé sobre a pegada do Grande Homem. As quantidades 4, 10 e 12 devem ser estudadas à luz dos capítulos 4, 10 e 12 do presente livro. Samael Aun Weor”. Fonte: Internet - http://www.gnosis.org.br/; e há ali um pensamento do mesmo autor, em Espanhol, que, traduzido, diz:

"HÁ DUAS CLASSES DE SABEDORIA: A DOUTRINA DO OLHO E A DOUTRINA DO CORAÇÃO. A DOUTRINA DO OLHO É PARA OS QUE SE CONTENTAM COM TEORIAS ESPIRITUALISTAS, E A DOUTRINA DO CORAÇÃO É PARA OS INICIADOS AUTÊNTICOS."

Como se pode depreender, a influência ESOTÉRICA é claríssima no pensamento que norteou a construção de NOSSO LAR e o Espiritismo foi um salto qualitativo, que combate o MISTICISMO, embora respeitando todas as crenças. Mas, é concebível que um livro espírita utilize tais figuras cabalísticas? Em CHICO, provavelmente, atuaram os ARQUÉTIPOS, isto é, aquelas imagens extraconscientes antigas do nosso psiquismo que, à nossa revelia, atuam sobre nossa obra.

EPÍLOGO

Concordo, plenamente com o confrade MABBO. Enfim, quero parabenizar o nosso arguto leitor MABBO pela profundidade das suas considerações e à nossa fiel leitora pela busca do aprofundamento dos seus estudos e o estudo da obra A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEG. O ESPIRITISMO é dos mais difíceis, porque além de apresentar traduções incompletas, com OMISSÕES, implica em grandes questões de Física, e na época em que foi publicado (janeiro de 1868), obviamente, não se possuía os conhecimentos avançados atuais, de Física quântica, por exemplo. Por isso, sugeri à nossa fiel leitora que buscasse subsídios com o companheiro, prof. CARLOS DE BRITO IMBASSAHY, que é FÍSICO e espírita, e também colunista do Portal PANORAMA ESPÍRITA.