Entrelinhas e a Clareza no ensino dos Espíritos

Segundo definição dos principais dicionários “Entrelinha” classifica-se como substantivo feminino que significa, no sentido comum: o espaço entre duas linhas ou o que nele se escreve; e no sentido figurado, estando no singular significa: comentário; no plural significa: sentido implícito; ilação (dedução, conclusão) mental.

Portanto, se alguém diz, sobre O Livro dos Espíritos, que Ele é um Livro interessante que se pode ler tanto nas linhas como nas entrelinhas, esta pessoa, usando a expressão no plural, pretende dizer que Este Livro traz, na sua essência, textos escritos com sentido implícito (Subentendido, o que não está expresso claramente, oculto, etc.), requerendo grande esforço dos leitores para se deduzir o que o autor pretendeu transmitir. É como se fosse uma “indireta”.

Não podemos aceitar de forma alguma tal maneira de pensar, pois como está bem claro em diversos pontos da Codificação o ensino dos Espíritos Superiores tem como característica básica ser direta, clara, simples e objetiva, como nos trechos abaixo:

“Clareza no ensino dos Espíritos”

O Livro dos Espíritos. Q. 627. Uma vez que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual a utilidade do ensino que os Espíritos dão? Terão que nos ensinar mais alguma coisa?

“Jesus empregava amiúde, na sua linguagem, alegorias e parábolas, porque falava de conformidade com os tempos e os lugares. Faz-se mister agora que a verdade se torne inteligível para todo mundo. Muito necessário é que aquelas leis sejam explicadas e desenvolvidas, tão poucos são os que as compreendem e ainda menos os que as praticam. A nossa missão consiste em abrir os olhos e os ouvidos a todos, confundindo os orgulhosos e desmascarando os hipócritas: os que vestem a capa da virtude e da religião, a fim de ocultarem suas torpezas. O ensino dos Espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão. Estamos incumbidos de preparar o reino do bem que Jesus anunciou. Daí a necessidade de que a ninguém seja possível interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei toda de amor e de caridade.”

O LIVRO DOS MÉDIUNS (Cap. XXIV – pág. 325 – Item 267 – 9°)

Os Espíritos superiores se exprimem com simplicidade, sem prolixidade. Têm o estilo conciso, sem exclusão da poesia das idéias e das expressões, claro, inteligível a todos, sem demandar esforço para ser compreendido. Têm a arte de dizer muitas coisas em poucas palavras, porque cada palavra é empregada com exatidão. Os Espíritos inferiores, ou falsos sábios, ocultam sob o empolamento, ou a ênfase, o vazio de suas idéias. Usam de uma linguagem pretensiosa, ridícula, ou obscura, à força de quererem pareça profunda.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Cap. XVII – 4. Os Bons Espíritas

...Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos. A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a sua força, porque a faz ir direto à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo.

Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhes apreendem, com admirável precisão, os mais delicados matizes...

Cap. XVIII – 12 – Muito se pedirá ao que muito recebeu

...O ensino dos Espíritos, reproduzindo essas máximas sob diferentes formas, desenvolvendoas e comentando-as, para pô-las ao alcance de todos, tem isto de particular: não é circunscrito; todos letrados ou iletrados, crentes ou incrédulos, cristãos ou não, o podem receber, pois que os Espíritos se comunicam por toda parte. Nenhum dos que o recebam, diretamente ou por intermédio de outrem, pode pretextar ignorância; não se pode desculpar nem com falta de instrução, nem com a obscuridade do sentido alegórico.

Obras Póstumas. Segunda Parte – Projeto – 1868

...Somente o Espiritismo, bem entendido e bem compreendido, pode remediar esse estado de coisas e tornar-se, conforme disserem os Espíritos, a grande alavanca da transformação da Humanidade. A experiência deve esclarecer-nos sobre o caminho a seguir. Mostrando-nos os inconvenientes do passado, ela nos diz claramente que o único meio de serem evitados no futuro consiste em assentar o Espiritismo sobre as bases sólidas de uma doutrina positiva, que nada deixe ao arbítrio das interpretações. As dissidências que possam surgir se fundirão por si mesmas na unidade principal que se estabeleceria sobre as bases mais racionais, desde que essas bases sejam clara e não vagamente difundidas.

"O pior cego é aquele que não quer enxergar."

Aires Santos da Costa