A informalidade urbana na cidade de Brasília está associada a particularidades que remontam ao período de sua construção, relacionadas aos modelos de planejamento e gestão governamentais adotados e às posturas de diferentes agentes ao longo do tempo, como os setores imobiliário e da construção civil. Entretanto, o controle do Estado sobre a propriedade da terra não impediu que o processo de produção do território reproduzisse conflitos e contradições semelhantes à realidade urbana brasileira, como a segregação socioespacial, os desequilíbrios entre centro e demais áreas, a precariedade e a informalidade da moradia, entre outros.
Figura 01 - Localização dos núcleos isolados e o zoneamento do PDOT - 2021
Em Brasília se observam núcleos informais que reproduzem algumas características físicas do seu entorno regular. No geral, predominam as ocupações informais na forma de loteamentos irregulares (94,12%), com larga vantagem sobre as demais tipologias (conjuntos habitacionais ou distritos), onde o estabelecimento da maioria (65,36%) se deu há dez anos ou mais. O traçado urbano, em maior parte, revela condições favoráveis de acessibilidade: mais de 35% possuem padrão semelhante ao da cidade regular e mais de 51% contam com um traçado estruturador do espaço.
De forma análoga, mais de 80% dos lotes se encontram com definições claras de seus limites e existe distanciamento entre as construções. Mais de 80% das construções seguem um padrão popular, em contraponto a um percentual bem menor de edificações precárias, 3,27%.
No que se refere à infraestrutura, 83% dos NUIs, aproximadamente, contam com infraestrutura parcial e menos de 1% foi identificado como área precária em atendimento de redes.
As habitações informais em Sobradinho 1 e Planaltina, no Distrito Federal, refletem esse fenômeno comum em muitas áreas urbanas do Brasil, onde o crescimento populacional e a demanda por moradia superam a oferta de habitações formais e acessíveis.
Esses assentamentos informais surgem, em grande parte, devido à isso: A falta de acesso a habitação acessível e ao planejamento urbano ineficaz.
PLANALTINA
Planaltina, uma das regiões mais antigas do Distrito Federal, enfrenta problemas significativos relacionados às habitações informais. A ocupação irregular do solo é uma realidade persistente, agravada pela falta de políticas públicas eficazes para lidar com o crescimento desordenado. As áreas informais em Planaltina frequentemente sofrem com a ausência de serviços públicos essenciais, como transporte, saúde e educação, o que limita as oportunidades de desenvolvimento para seus habitantes.
A negligência histórica em relação ao planejamento urbano e à implementação de infraestrutura adequada em Planaltina resulta em um ambiente onde a informalidade se torna a única opção viável para muitas famílias. Apesar de existirem esforços para a regularização e melhoria das condições de vida, eles são frequentemente insuficientes e mal executados.
Figura 02 - NUIs Planaltina DF. Fonte - IPEA 2023- Elaboração - Jonathan Pereira
01 - ARIS Mestre D`Armas I
02 - ARIS Mestre D`Armas III / Zilda Xavier
03- Arrozal
04- VI-29-M1
05- VI-35-M1
06- VI-13-M1
07- VI-11-M1
08- VI-34-M1
09- Rancho Zé ferreira Marra
10- Condomínio Bica do DER
11- ARIS Mestre D`Armas II
12- Expansão da ARIS Mestre DArmas II
13- Setor de Chácaras e Mansões Morro da Capelinha
14- Quadra 2
15- Setor Tradicional Planaltina
16- Setor Residencial Oeste
17- ARIS Aprodarmas I
18- ARIS Aprodarmas III
19- ARIS Vale do Amanhecer
20- ARIS Aprodarmas II
21- VI-07-M1
22- VI-06-M1
23- ARIS Arapoanga I
24- Vila Buritis
25- Horta Comunitária Favelinha
26- Córrego do Atoleiro II
27- Horta Comunitária II
SOBRADINHO 1
Sobradinho 1, uma das regiões administrativas do Distrito Federal, tem visto um crescimento populacional acelerado, muitas vezes não acompanhado por um planejamento urbano adequado. Isso resulta em um aumento das habitações informais, que são construções erguidas sem a devida autorização ou planejamento, geralmente em terrenos ocupados irregularmente. Estas habitações frequentemente carecem de infraestrutura básica, como saneamento, eletricidade e água potável, o que compromete a saúde e o bem-estar dos residentes.
A regularização fundiária é um dos principais desafios enfrentados por Sobradinho 1. Muitas famílias vivem em constante insegurança jurídica, sem acesso a títulos de propriedade que lhes garantam direitos sobre suas moradias. Essa situação dificulta investimentos em melhorias habitacionais e perpetua um ciclo de vulnerabilidade social.
Figura 03 - NUIs Sobradinho 1 DF. Fonte - IPEA 2023 - Elaboração - Jonathan Pereira
01- Perto da Funai de Sobradinho
02 - Expansão Vila DNOCS
03- ARIS DNOCS
04- Dorothy Stang
05- Expansão Nova Colina - DF/440
ANALISE DAS NUIs - Planaltina
Tabela 01 - NUIs Planaltina DF. Fonte - IPEA - Elaboração - Jonathan Pereira
Figura 04 - NUIs Planaltina DF. Fonte - IPEA 2023 - Elaboração - Jonathan Pereira
Condomínio Estância I - Google Earth - imagens
Condomínio Estância I - Google Earth - imagens
Condomínio Estância I Mod O/Q - Google Earth - imagens
Condomínio Estância III Mod 19 - Google Earth - imagens
ANALISE DAS NUIs - Planaltina
Tabela 02 - NUIs Planaltina DF. Fonte - IPEA - Elaboração - Jonathan Pereira
Figura 05 - NUIs Planaltina DF. Fonte - IPEA 2023- Elaboração - Jonathan Pereira
Condomínio Vale do Sol - Google Earth - imagens
10 SH Condomínio Vale do Sol - Google Earth - imagens
22 SH Condomínio Vale do Sol - Google Earth - imagens
80 SH Cond. Quintas do Amanhecer II - Google Earth - imagens
ANALISE DAS NUIs - Planaltina
Tabela 03 - NUIs Planaltina DF. Fonte - IPEA - Elaboração - Jonathan Pereira
Figura 06 - NUIs Planaltina DF. Fonte - IPEA 2023 - Elaboração - Jonathan Pereira
25 SH Condomínio Vale do Amanhecer CR 35 - Google Earth - imagens
46 SH Condomínio Vale do Amanhecer CR 23 - Google Earth - imagens
19 SH Condomínio Vale do Amanhecer CR 55 - Google Earth - imagens
6536 SH Condomínio Vale do Amanhecer CR 85 - Google Earth - imagens
Figura 06.1 - ACAMPAMENTO 08 DE MARÇO DF. Fonte - IPEA 2023 - Elaboração - Jonathan Pereira
ACAMPAMENTO 08 DE MARÇO.
Vista aerea da área do acamapamento - Google Earth
O Acampamento 8 de março existe desde 2012 em Planaltina, na região metropolitana de Brasília. Imagem: Coletivo Retratação
Em 8 de março de 2012, às margens da BR 020, em Planaltina, cerca de 600 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) montaram acampamento em uma área de terras griladas em parte da Fazenda Toca de Raposa, em uma área de 17 hectáres de terra.
De um lado, a organização define a terra como improdutiva, ou seja, que não estava sendo utilizada. De outro, o proprietário da Fazenda reafirma o direito e o uso daquele espaço.
Existe um processo judicial para regularização da terra e transformação da área em um assentamento, proporcionando mais segurança jurídica às famílias. O imbróglio jurídico se arrasta de forma lenta, mesmo após se verificar que a área foi destinada à reforma agrária após a união indentificar que se tratava de terra publica.
A área ocupada pelas famílias do MST é dividida em duas. Uma parte, de três hectares, é exclusiva para moradia, enquanto a outra, dos 14 hectares restantes, é destinada para atividades de fins de produção sem o uso de agrotóxicos.
Hoje, o Acampamento 8 de Março, intitulado em nome da data da conquista, abriga 80 famílias, responsáveis pelo plantio de diversos alimentos.
A variedade envolve batata, mandioca, cheiro verde, melancia, morango e rabanetes, por exemplo.
Há ainda uma casa de farinha, onde é produzido o produto feito de mandioca, um posto médico e até um mercadinho. Tudo o que é arrecadado é direcionado para infraestrutura do acampamento.
Todas as casas são construídos de madeirite, das casas das 80 familias, aos estabelecimentos de uso comunitário.
Crescimento Desordenado: O crescimento populacional em Sobradinho 1 tem sido desordenado, com pouca ou nenhuma intervenção eficaz por parte das autoridades para controlar ou planejar o desenvolvimento urbano.
Deficiência de Infraestrutura: Muitas áreas de habitação informal carecem de infraestrutura básica, como saneamento e eletricidade, refletindo a negligência governamental em prover condições mínimas de vida digna.
Regularização Fundiária: A regularização é lenta e burocrática, deixando muitos moradores em uma situação de insegurança jurídica e social que perpetua ciclos de pobreza e exclusão.
ANALISE DAS NUIs - Sobradinho 1
Tabela 04 - NUIs Sobradinho 1 DF. Fonte - IPEA - Elaboração - Jonathan Pereira
Figura 07 - NUIs Sobradinho 1 DF. Fonte - IPEA 2023 - Elaboração - Jonathan Pereira
Expansão Vila DNOCS - figura 01 - Google Maps
Expansão Vila DNOCS - figura 02 - Google Maps
Expansão Vila DNOCS - figura 03 - Google Maps
Expansão Vila DNOCS - figura 04 - Google Maps
ANALISE DAS NUIs - Sobradinho 1
Tabela 05 - NUIs Sobradinho 1 DF. Fonte - IPEA - Elaboração - Jonathan Pereira
Figura 08 - NUIs Sobradinho 1 DF. Fonte - IPEA 2023 - Elaboração - Jonathan Pereira
ARIS DNOCS - figura 01 - Google Maps
ARIS DNOCS - figura 02 - Google Maps
ARIS DNOCS - figura 03 - Google Maps
ARIS DNOCS - figura 04 - Google Maps
ANALISE DAS NUIs - Sobradinho 1
Tabela 06 - NUIs Sobradinho 1 DF. Fonte - IPEA - Elaboração - Jonathan Pereira
Figura 09 - NUIs Sobradinho 1 DF. Fonte - IPEA 2023 - Elaboração - Jonathan Pereira
Dorothy Stang - figura 01 - Google Maps
Dorothy Stang - figura 02 - Google Maps
Dorothy Stang - figura 03 - Google Maps
Dorothy Stang - figura 04 - Google Maps
Grau de Precaridade das Edificações
São consideradas situações precárias todos os domicílios considerados improvisados, ou rústicos, que são aqueles que não possuem alvenaria ou madeira aparelhada como material predominante nas paredes do domicílio.
Tabela 07 - http://www.observatorioterritorial.seduh.df.gov.br/deficit-habitacional-urbano/
Planaltina lidera o ranking de domicílios em situação de precariedade, somando 5062 de domicílios improvisados (9,77% do totalda RA) e 54 domicílios rústicos (0,10% do total da RA).
Já a Região Administrativa de Sobradinho, é a 8º (oitava) em situação de precaridade, somando 1144 domicílios improvisados (5,39% do total da RA), e 116 domicílios rústicos (0,55% do total da RA).
COABITAÇÃO
Situação que ocorre quando duas ou mais famílias convivem juntas em um mesmo ambiente no qual não dispõem de liberdade e privacidade – fazendo-se necessário, consequentemente, a construção de novas moradias.
Tabela 08 - http://www.observatorioterritorial.seduh.df.gov.br/deficit-habitacional-urbano/
Em números de Coabitação, a Região Administrativa de Planaltina é a 16º em situação de precaridade, somando 192 domicílios sendo 131 com coabitação por cômodo (0,25% do total da RA) e 61 com familias conviventes (0,12% do total da RA).
Já a Região Administrativa de Sobradinho 1, é a 22º em situação de precaridade, somando 90 domicílios sendo 0 com coabitação por cômodo (0,00% do total da RA) e 90 com familias conviventes (0,42% do total da RA).
A análise da relação dos núcleos informais com a malha urbana nos permite compreender o comportamento da expansão de Sobraidnho 1 e Planaltina, se predomina a ampliação do tecido sobre seu território ou se prevalece a consolidação ou a estagnação. No caso especifico de Planaltina, seu território extenso e que possui muitos vazios comportaria ainda um intenso e contínuo processo de crescimento. Propício, portanto, ao surgimento crescente de novos núcleos isolados informais, o que agravaria cada vez Identificação e Tratamento dos Núcleos Urbanos Informais Isolados.
As demandas por moradia de baixo custo e um mercado formal de difícil acesso alimentam a reprodução dessa dinâmica. A regularização fundiária, ou os encaminhamentos devidos, se faz necessária e urgente para os núcleos urbanos isolados já existentes, no entanto, é necessário que o planejamento urbano e a definição de políticas de acesso à habitação sejam mais eficientes em reduzir esse ciclo vicioso.
Referências;
http://www.observatorioterritorial.seduh.df.gov.br/defici t-habitacional-urbano
https://pnui.ipea.gov.br/dados.html
https://www.codeplan.df.gov.br/pdad-2021-3/