Tempos que não voltam mais

Dona Tereza, do que a senhora tem saudade?

_Eu tenho saudade de quando era criança e juntávamos lá em casa, meu pai e minha mãe. Sentávamos no banco da cozinha, a mãe sempre tinha uma criança no braço, o pai com uma criança deitada numa perna e outra na outra, nós fingíamos

que estávamos dormindo, depois o pai nos levava para dormir, pegava um a um e fazia a mesma coisa, colocava para dormir, quando ele pensava que nós estávamos dormindo, todos nós alertávamos. Dormíamos em três na cama grande e começávamos a fazer folia, jogávamos travesseiro pra lá, jogávamos travesseiro pra cá, o pai falava: Fica quieto! Vocês não estão dormindo! Nós não ficávamos quietos de jeito nenhum, ele ia com a correia e nós esticávamos a coberta numa ponta e outra na outra ponta e ele dava correadas mas não pegava em ninguém, risos, a hora que ele saía, nós falávamos: Pegou em você? Não, em mim não, risadas, era divertido demais. Eu apanhei só uma vez, fiquei com tanta raiva que eu queria dormir na casinha dos cabritos, risadas, embaixo do mamoneiro e estava um sol quente igual agora, ficou eu e a Dora lá, deitadas, encolhidas e foi escurecendo, escurecendo e nós ficamos com muito medo e saímos correndo, estava eu e a Dora, passamos perto deles e fingimos que não vimos, deitamos embaixo da cama, risadas... Eu tenho saudades dessas aventuras, da família morávamos na roça e cada um tinha muitas laranjeiras e goiabeiras e tudo que nós pegávamos para comermos, cada um tinha seu galho igual macaco, íamos correndo e cada um sentava no seu galho para comer, risadas... Ah mas eu tenho uma saudade dessas coisas... Tempos que não voltam mais...