Tempos de seminário

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Jarbas Lúcio Pires


Tenho muitas saudades de quando era jovem e estava no seminário, na cidade de Campanha, porque lá eu saía muito com os padres, íamos para aquelas missas que eram celebradas nas roças e nas fazendas, lá tinha o Seu Joaquim, ele era um coletor e tinha um daqueles carrinhos, que era chamado de ‘baratinha’, então, ele abria uma ‘tampazinha’ atrás e eu ia ali, sentado, e o padre ia com ele lá na frente. Depois que celebrava a missa, que sempre tinha muita gente, serviam as comidas, ah! que comida gostosa o pessoal da roça faz, ainda mas para tratar de um padre, comida de padre é muito boa. Eu gostava e tenho muitas saudades daquilo, não me tornei padre por que não era a minha vocação, mas sei rezar uma missa, sei fazer um batizado, sei fazer um casamento, tudo o que o padre sabe fazer eu sei também e acho isso muito importante.

No seminário, tinha muitos alunos e nós jogávamos muito futebol e esse momento me traz boas recordações, porque naquela época eu era bom em jogar bola, então era muito disputado, todos me queriam no time e isso é uma coisa muito boa, tenho muitas saudades.

Lembranças do tempo de jovem nós nunca esquecemos, com o meu pai, eu sempre acordei muito cedo, às quatro e meia da manhã, tínhamos que ir no pasto e juntar as vacas, porque o caminhão buscava o nosso leite primeiro, então tirávamos o leite e íamos para a escola, e assim é até hoje, acordo bem cedo.

Eu morei em Monsenhor Paulo, na casa paroquial, e quando voltávamos do estudo era enxada nas costas e roça, mesmo assim, estudei muito. Estudo nunca é demais, está sempre faltando alguma coisa. Eu queria voltar aos meus vinte anos, para aproveitar esse mundão bonito e gostoso de hoje, se eu voltasse lá atrás com essa experiência de vida, sei lá o que eu iria ser. A vida passa muito rápido, devemos aproveitar tudo o que puder e tem muitas formas de aproveitar sem prejudicar ninguém. Aproveita, porque a passagem é muito rápida, nós nos preocupamos tanto com o trabalho que acabamos perdendo coisas realmente importantes, como o crescimentos dos filhos e netos.

Hoje eu tenho uma filha, dois netos e um bisneto, todos maravilhosos, tenho uma fazenda e gados, gosto muito de trabalhar, alguns amigos me questionam por que não paro e eu sempre respondo que a corda do meu relógio está muito nova e não pode parar. Sei que quando morrer não vou levar nada, nós somos todos mortais e tudo o que nasce de baixo dessa abóbada celeste, nasce para morrer, e sei que um dia vou morrer, mas não penso na morte, eu penso no amanhã, pois meu pai que faleceu aos 104 anos sempre me disse que o homem tem que ter um objetivo, pois quem tem objetivos não morre.