Dia a dia da pandemia

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É interesse perceber como o passado é analisado pelas pessoas. Quando se faz uma pergunta que, ao primeiro momento, pode-se parecer simples, ‘você tem saudade do que?’, existe nela diferentes interpretações. Essa foi a de Mirella Bucci:


Bom dia Fred, eu topo, mas seu avô ele tá com a cabeça meio ruim.

Eu sinceramente sinto muita saudade de jogar meu vôlei, de encontrar com as minhas amigas na obra, que eu trabalhava, duas obras que eu trabalhava, foram suspensas. Fazer o Pilates, que eu não tenho feito.

Então, eu estou em quarentena desde março, não é fácil pra mim. Eu faço o trabalho de casa e é muito chato, a minha casa é muito grande e eu tenho que trabalhar, fazer o serviço de casa.

Agora com essa quarentena acho que eu peguei um vício de cultivar muitas plantas. Eu to com muitas plantas, não sei como que eu vou dar conta quando essa quarentena passar.

O seu avô, ele não vai falar diretamente, porque ele vive falando do passado. Então ele deve tá com saudade de caminhar na rua, entendeu? Como ele caminhava de manhã, caminhava de tarde. Ele não gosta muito de sair de carro porque ele acha uma bobagem. O negócio dele é caminhar na rua. Eu faço caminhadas com ele. Hoje eu não fui, mas eu faço caminhadas aqui em volta do quarteirão dou oito voltas, às vezes vou mais longe, vou lá na ( ) faço a caminhada toda e voltamos para casa.

Agora, ele tá relembrando muitas coisas do passado da mãe dele que veio da roça. Como que ela pode sustentar oito filhos, veio lá de Lima Duarte para aqui, então é isso que ele fala direto: coitada da minha mãe a vida dela foi só trabalhar, trabalhar, trabalhar.

Mas é a vida que a gente tá levando né? Estamos todos bem, graças a deus. Eu estou bem, seu avô está mais ou menos, por causa do problema que ele já tem, né? De Alzheimer tudo, mas tá controlada. Ele esquece um pouco das coisas atuais, lembra muito das coisas antigas, mas ele faz palavras cruzadas o dia inteirinho. Eu falo com ele: vai caminhar aqui em cima da garagem, que tem muito espaço. Ele não aceita, ele falou que o caminhar é na rua, entendeu?

Então é isso aí Fred. A gente vai levando né? O que a gente pode fazer? Temos muita saudade disso tudo que eu te falei. E dos meus filhos também, daquelas reuniões. O meu aniversário passei em casa, o aniversário do seu avô passamos em casa. Há pouco tempo o Marco Aurélio esteve aqui com o pessoal, nós fizemos uma reunião aqui foi maravilhoso, eu trabalhei muito, mas foi muito satisfatório, então é isso aí a gente vai levando como pode, falou.

Um beijo para você que seja útil pro seu estudo que você tá fazendo. Falou. E tudo de bom para você, Ana Elisa, sua mãe todo mundo, falou. Um beijão de coração que deus proteja vocês todos aí. Falou. Tchau, meu filho.