Sentir saudade é doído

Me foi pedido que narrasse sobre a saudade. Não sou uma pessoa saudosista por natureza, minhas saudades são poucas...Uma das grandes saudades que eu tenho, em alguns momentos, é a dos meus pais. Me lembro de suas lutas, da sinceridade e integridade que possuíam.

Um outro aspecto que me traz saudade é o início da minha alfabetização. Era o terceiro ou quarto ano do primário ... os livros didáticos me traziam o lúdico, o imaginário.... Eu tinha a necessidade de ler aquelas histórias e imaginar-me dentro delas. Tenho saudade da criatividade que eu adquiria nesses momentos. Mas, saudade é algo que eu procuro não sentir, porque ela dói.

Nasci no final da década de 50, e quando adolescente era mais saudosista.Meu sonho era ter vivido na década de 20 ou 30. Me chamava atenção todo o romantismo que abarcava aquela época, a moda, a literatura, a música, o avanço tecnológico, tudo aquilo me atraía, me fazia querer ser parte daquilo que essas duas décadas, para mim, representavam.

Mas, como já disse anteriormente, hoje a maior saudade é a dos meus pais. Por que a dos meus pais? Porque vejo que neles estão muitas das nossas marcas e histórias. Os pais são aqueles que nos dizem sobre a nossa vivência, sobre quem nós éramos, o que fizemos e o que estamos fazendo hoje... e comparam com tudo o que foi projetado por eles. Seria interessante ter os nossos pais nos acompanhando ao longo de toda nossa vida, nosso crescimento, desenvolvimento e que eles pudessem nos dizer sobre suas expectativas, se elas foram alcançadas ou não.Então, hoje me pergunto: será que meus pais queriam isso de mim? era isso que eles projetaram para minha vida? todo o sonho e empenho que tiveram valeram a pena?

Enfim...sou um ser humano que deu certo do ponto de vista deles?A saudade é de poder ter essas respostas.... Sentir saudade é doído, por isso eu gosto de não sentir!



Convidado - Ariovaldo Silva tem 62 anos, é nascido em Jundiaí-SP, local onde passou sua infância e adolescência, casado, tem dois filhos, é professor, graduado em Filosofia e doutor em Educação, mora há 16 anos em Varginha-MG.Para manter a mente e corpo são, faz atividades físicas como caminhada e pilates e procura realizar os passatempos que lhe dão prazer.. cozinhar, participar de um coro cênico, declamar e gravar poesias são alguns deles.O que ele busca sempre.. Olhar a vida pelo olhar da paz!