Amor, muito muito amor

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Maria Aparecida Vilela da Silva, mãe, avó, enfermeira aposentada, mineira, nascida em Minduri, oitava filha dentre 16 irmãos, 76 anos de saudades dos tempos em que a simplicidade reinava e os laços eram fortemente ligados pelo verdadeiro sentido da vida.

Naquela época, e falo de um tempo antigo, onde os carros eram cavalos, as aves eram bailes e os banheiros eram casinhas, vivíamos em fazendas, cercados de muitos irmãos e irmãs, tios e primos; sempre havia algum parente hospedado em nossa casa, contando histórias, jogando buraco na mesa gigante de madeira que comportava mais de 20 pessoas.

As reuniões se davam muitas vezes na cozinha, horas de conversa na beira do fogão de lenha, onde as moças depenavam galinhas, refogavam o feijão, cozinhavam a canjiquinha e assavam um belo porco que acabara de ser trazido pelos homens da casa.

Os meninos corriam pelos campos atrás da boiada, faziam a cura, tiravam o leite, brincavam na piscina cimentada que deixavam marcas de ralado por todo o corpo.

Naquela época, tudo era muito simples, bastava a saudade para uma visita, os bailes duravam a noite inteira, todos dançavam, riam conversavam e voltavam exaustos à cavalo para casa depois de uma noite inteira de puro deleite e diversão.

Os namoros de outrora eram comportados, sentados na namoradeira sob o olhar atento do pai, beijos roubados eram raríssimos. Predominava as trocas de olhares nas voltas na pracinha quando íamos à cidade, moças de um lado, rapazes de outro e no cruzar das voltas intermináveis surgiam sorrisos, olhares discretos, interesses futuros, amores eternos.

Assim foi com Coronel Chichico e Vovó Donana, primogênitos, prometidos um ao outro, situação muito comum entre as famílias daquela época, ela com 15 ele com 17, nunca tiveram filhos, mas o amor durou até a morte, ela antes, ele logo depois.

Nunca passaram uma noite longe um do outro, fosse qual fosse a distância a ser percorrida ele sempre voltava para os braços de sua amada.

Minha avó sempre dizia, “quando um burro fala, o outro enche a boca dágua”. Assim os casamentos duravam, bodas de prata, ouro e diamante.

Sinto falta da simplicidade daquela vida, da união, das conversas, da interação, da família reunida, do contato. Não havia tecnologia, não havia luxo, mas havia união , companheirismo e amor, muito muito amor.