Pergunta: Bom dia rav, espero que esteja melhor. Com respeito à reza da chuva, esta reza só começa agora, ou seja 2 semanas depois de Sukot é por causa do início efetivo das chuvas ou tem mais algum motivo?
Resposta: Obrigado por perguntar!
Nossos Khahamim no tratado de brakhot 5 e taanit 1 estipularam fazem mais ou menos 2000 anos, desde a destruição do templo e com a universalização do livro de rezas que começaríamos a rezar pelas chuvas, todos os anos:
--> a partir do Mussaf de shemini atseret (Simhat Torá) depois de cantado em público o "tikun hagheshem" (literalmente, instauração das chuvas)
--> e recitando para os seis próximos meses "משיב הרוח ומוריד הגשם" (Deus faz os ventos e faz cair a chuva, ou na leitura do midrash "Deus devolve a espiritualidade e em virtude disto, proporciona materialidade)
--> assim como formulado no shulhan arukh, orakh haim 104, מתחילין לומר בברכה שניה משיב הרוח ומוריד הגשם בתפלת מוסף של יום טוב האחרון של חג ואין פוסקין עד תפלת מוסף של יום טוב הראשון של פסח. A partir de musaf de pesah, retornaremos a dizer "מוריד הטל"
--> na benção de "mevarekh hashanim" se reza para que Deus envie orvalho e chuvas nos dias da semana.
No passado, os judeus da Babilônia costumavam vir à pé para as festas de Tishré e a seu término retornavam a suas respectivas cidades. Esta viagem de volta poderia estender-se por duas semanas. Por esta razão, de acordo com Raban Gamliel no tratado de Taanit explica que deve-se esperar até que chegassem antes de solicitar as chuvas de Deus. Ele confiava que Deus mandaria chuvas no momento em que se rezasse. Logo desde o shmini atseret até o dia 7 de Heshván, não se recita o pedido de chuvas no "mevarekh hashanim", mas apenas em Arvit da véspera do dia seguinte.
--> Houveram várias opiniões divergentes no Talmud e no talmud de Jerusalém, tanto com respeito à razão da espera de duas semanas, quanto com respeito à necessidade de se esperar 2 semanas.
--> Os judeus da Babilônia começavam a rezar pelas chuvas unicamente a partir de 60 dias depois de tishrei, de acordo com as condições climáticas específicas da Babilônia
--> Hoje todas as kehilot fazem como o shulkhan arukh.
Houveram portanto simultaneamente dois costumes: o de Israel e o da Babilônia.
Logo, os judeus que não moram na terra de Israel nem na Babilônia passam por um dilema, ou seja, determinar se devem rezar pelas chuvas em Israel ou se devem rezar pelas chuvas de acordo com o costume na Babilônia, ou ainda, de acordo com seus lugares de residência. Mais ainda, pelo visto a chuva que é uma bênção na terra de Israel era perniciosa em outros lugares... sobretudo na Babilônia, lar de mais da metade dos judeus da época... e vice-versa, colocando os interesses dos judeus em contradição uns com os outros.
Existem inclusive como bem se sabe, dois talmudes, um escrito em Israel, o talmud Yerushalmi, e um escrito na Babilônia, o talmud Bavli, e aparentemente cada um deles traduz e dá expressão ao estado de espírito dos sábios de E''I ou dos sábios do exílio Babilônico.
No Talmud da Babilônia estipularam que os judeus da Babilônia deveriam rezar pelas chuvas a partir do 60ésimo dia depois de Tishré pois é a época do ano em que são necessárias as chuvas nestas regiões (atual iraque, partes da jordãnia, curdistão e síria), e antes disto são perniciosas pois afetam diversas colheitas e estradas, vias comerciais essenciais à vida econômica.
Posteriormente, alguns sábios assumiram de que a visão halákhica babilônica seria apropriada para todos os judeus da diáspora, pois o talmud Bavil é o Talmud da diáspora. (Veja Haim Simons)
O Rambam (Maimônides) diferencia no exílio (mishné Torá) os lugares vizinhos a E''I e os cita nominalmente, indicando que todo judeu que ali se encontre reze de acordo com a terra de Israel e não de acordo com o exílio babilônico - é sabido que o Rambam tem grande apreço pela halakhá de Jerusalém e o Talmud yerushalmi.
חלק דרומי של סוריה כולל העיר דמשק. אולם הערים חלב, אנטיוכיה וסואץ שואלים כגולה.
דרום - עד ים סוף עציון גבר )עקבה(, וסואץ )אולם לא כולל העיר סואץ(, והר סיני; גם נכלל
טורקיה; לצד מזרח - עד גבול תדמור במדבר פלמירה, אשר מיקומו היום הוא בסוריה; בצד
בחבל ארץ אנטיוכיה )אולם לא כולל העיר אנטיוכיה(, אשר מיקומו היום הוא בדרום
הגדול וסמוך לו, מנחל מצרים ואדי אל-עריש עד דרום לאיסכנדרון )אלכסנדרטה(, אשר נמצא
שנאמר לאברהם אבינו(, שמתחילים את השאלה כמו בא"י: כל המקומות שהם על שפת ים
הוא גם נותן רשימה של מקומות הסמוכים לא"י )באמת בתוך הגבולות העתידים של א"י כמו
סמוך לגבול א"י וטבעו כאקלי' א"י ודאי סברתו ששואלין בז' מרחשון אף שהוא סוריא".
הרמב"ם רק המקומות בסוריא הרחוקים מא"י מתחילים כמו בבל, "אכן בחלק סוריא שהוא
הגשמים ביום ששים אחר תקופת תשרי". ה"דברי יוסף" מסביר את הסתירה וטוען שלפי
ישראל אלא בשנער ובסוריא ובמצרים ובמקומות הסמוכות לאלו והדומין להן שואלין את
במרחשון שואלין את הגשמים בברכת שנים כל זמן שמזכיר הגשם. במה דברים אמורים בארץ
אולם נראה שיש סתירה בין הנ"ל למשנה תורה של הרמב"ם בהלכות תפילה: "משבעה ימים
O Rosh (Rabenu Asher ben Ychiel, de Colonia e toledo) por outro lado (arbá Turim orakh haim 117) especifica que os que moram no exílio da Babilônia rezem pela chuva antes do 60èsimo dia depois de tishré como estipulado no talmud babli: ובגולה - פירוש בבבל - אין שואלין עד ס' יום אחר התקופה. ואנן בתר בני בבל גרירינן.
E cita seu pai que explica porque eles (na Europa) seguiam o exemplo dos judeus babilônios, ainda que já não morassem mais na Babilônia e que o centro da vida espiritual fosse a terra de Israel - pergunta ele ainda assim: não precisam todos os países de chuva? por que então esperar 60 dias como na babilônia?
וכתב עוד: תמהני למה אנו נוהגין כבני גולה, נהי שהתלמוד שלנו הוא בבלי, מ"מ דבר שתלוי בארץ למה ננהוג כמותם, אם בבל היתה מצולה ולא היתה צריכה למים, כל הארצות הם צריכות למים במרחשון ולמה נאחר אותו עד ס' יום בתקופה, ולמה לא נעשה כמשנתינו, ובפרובינציא שמעתי שהיו שואלין הגשמים ז' ימים במרחשון וישר מאד בעיני ע"כ.
E conclui dizendo que na região da Provença (sul da atual França) costumavam rezar como os judeus de E''I.
Logo de acordo com o Rosh, não existe um consenso de que nas outras diásporas que não sejam da Babilônia deva-se dizer a brakhá de acordo com a babilônia e o prova acima, de acordo com os judeus da Provença, que parecem alinhar-se com o Rambam e o Yerushalmi neste ponto.
Mas a idéia que consiste em dizer que prevalece a halakhá de acordo com o Talmud Bavli e não o Yerushalmi provém do fato de ele é mais compatível com a vida na diáspora e por ter sido escrito e composto na diáspora. E por esta razão assim ditamina o Shulhan arukh, o grande livro de Halachá que reúne a todos os judeus, de todos os lugares, e determina se a halakhá deveria ser como o Rambam ou o Rosh.
Na verdade já no tempo da guemará se falava dos lugares cujas características climáticas são diversas das da terra de Israel, e cita a cidade de Ninvé (atual mossul, no Iraque) quando chovia e precisavam de chuvas também no verão. Ali ditaminaram que se rezasse pela chuva, mas não em nome de todo o povo judeu (as rezas públicas/coletivas) mas que se solicitasse as chuvas nas rezas individuais (no shomea tefilá).
De fato não está claro se no tempo do Talmud o termo golá (diáspora) se referia a todas as diásporas (Rashi) ou unicamente à Babilônia (haEshkol). O Rav Haim Simons se estende sobre o assunto, (editora Sinai). E o Ritbá (Rabbi yom tov Ashevili de Sevilha e Zaragoza) explica que só há duas possibilidades de rezas públicas, ou como na Babilônia ou como na terra de Israel, logo proscreve a possibilidade de se adotar outro costume que não seja um dos dois:
ומורי נרו היה אומר
שדעת הגאונים ז"ל לפי סוגיות התלמוד לא קבעו חז"ל לשאלה אלא שני זמנים א' לבבל וא
לארץ ישראל ושאר כל הארצות עושין כבבל או כארץ ישראל.
Parece então que o Rosh (grande entre os decisionários Ashkenazim) e o Ritbá (Espanha) não chegaram às mesmas conclusões, que o primeiro admite que cada um reze de acordo com o clima de seu país, e o segundo parece atribuir duas alternativas apenas, como babilônio ou como E''I.
Ademais se a principal razão de que os judeus de E''I esperassem a chuva era o fato de preferirem evitar que chovesse sobre os peregrinos, não haveria qualquer razão hoje em dia, em que o templo não está em seu lugar para que nos demorássemos, sobretudo sabendo o quanto água é um recurso de mais em mais escasso e precioso. Além do mais, esvaziou-se praticamente de todos seus judeus esta região do Líbano à Índia, com a notável exceção da Pérsia orgulhosa de seus 20.000 judeus em grande parte assimilados... (e mesmo é verdade respeito aos povos que ali habitavam na época do talmud, antes que os árabes e turcos conquistassem toda a região e os eliminassem) ... por que seria ainda de atualidade considerar peregrinos que, se não por milagre ou ressurreição dos mortos provavelmente já não farão mais este trajeto?
O RIF (rav Itshak Alfací), emblemático Rabino entre os Rishonim, um dos alunos de Rabenu Nissim e Rav hananel, Rabino de Yehuda halevi (o kusari) e Rabi yossef ibn migas (ele próprio, rabino de Maimon, pai do Rambam), parece trazer a noção de que de fato, é a defasagem entre o ano lunar e o ano solar que justifica a espera entre os últimos dias de Tishré e o início do mês de Heshvan para começarmos a rezar pela chuva - no caso, portanto poderíamos concluir que a questão dos peregrinos é sobressalente e o que contaria para a halakhá é o costume da terra de Israel unicamente e o costume da babilônia, Oraat shaá. irrelevante para nossos dias
עיקר השאלה היא בכ"מ אחר תקופת תשרי. ולכך שפיר מאחרין השאלה עד זיין במרחשון כדי שתהיה לעולם אחר' התקופה תקופת תשרי דאם תקופת ניסן תחול
בסוף חודש ניסן יהיה תקופת תשרי בד' או בה' במרחשון". לפי סברה זוˎ אם תקופת תשרי
Mas tudo isto sendo evidentemente correto, não significa que o RIF esteja afirmando que esta será a únicarazão pela qual esperamos estes dias, já que de acordo com a tradição, quando a halakhá foi estipulada e aceita já não muda mais, logo retroativamente poderemos ver o quanto ela se aplica naturalmente a outros fatores que não sejam inerentes ao assunto estudado - é o que diz o Rav Orenstein, implicando que não se remova o que determina o RIF de seu contexto:
משום דכיון דבזמן שבהמ"ק היה
קיים היו שואלין בז' בו אין לקבוע זמן חדש בזמן הזה כיון שא"א לשאול משעה שמזכיר
נראה שאפשר להשתמש באותה סברה לתרץ מדוע התחילו לשאול דוקא בז' מרחשון
במקומות מסוימים בחו"ל.
Outra pergunta é quando nos referimos à metade sul do globo, quando as estações estão invertidas e as rezas literalmente contradizem seus equivalentes na terra de Israel, ou seja, que quando estivermos rezando por chuva rezarão por orvalho (e seca) e vice-versa - e será possível que o povo judeu não reze coordenadamente pelos mesmos objetivos, mas que metade reze por algo, e a outra metade pelo estrito oposto?
O Brasil parece ter sido um dos primeiros países onde a pergunta tornou-se relevante e a pergunta foi endereçada ao Rav Haim Shabtai (autor do Torat Haim) citando as chuvas de verão arrasadoras (chuvas convectivas torrenciais dos meses de Tishré a nissan, mais ou menos de novembro a abril) e assim descreve as chuvas tropicais de verão: "o ar úmido fonte e foco de doenças ruins" e por razões de salubridade, pedir que se determine "rezar pela chuva unicamente a partir de Nissan a tishré":
דהיינו הקיץ שלהםˎ "הוא רע להם הרבה" והגשמים "ירטיב האויר ונהפך לחולאים רעים".
לכן הם רצו "לשנות סדר תפילה בענין שאלה והזכרה" ולשאול ולהזכיר רק מניסן עד תשרי.
Logo a problemática dos judeus brasileiros era por SALUBRIDADE e não por necessidade de brachá ou abundância e eles eram visivelmente apegados à halakhá e a cumpri-la escrupulosamente, já que se deram ao trabalho de solicitar um khakham possek (decisionário apto a julgar o caso)
O Torat Haim cita o Rambam em sua responsa explicando os danos que a chuva pode causar em alguns lugares e que rezar pela chuva nestes casos seria uma mentira, já que o desejo do fiel é de que cessem as chuvas e não o contrário:
ויש ארצות שבמרחשון יהיה בהם קיץˎ ואין
הגשמים בו לברכה אלא מאבד ומשמידˎ ואיך ישאלו אנשי אותו המקום גשמים במרחשוןˎ
האם אין זה שקר
Logo o Rav Shabtai implica que não será necessário aos judeus brasileiros rezar pela chuva nas épocas de propagação de doenças. Hoje é bem sabido e notório que águas paradas são foco de malária, dengue, zika e todo tipo de doenças que flagelam desde sempre a população brasileira.
E a guemará apoia e corrobora este princípio, já como explica o Rav Shabtai, de que as chuvas logo depois de sucot afetavam as frutas da babilônia e provocavam danos aos viageiros e pela mesma razão, ou pelo mesmo princípio, ligado à salubridade, postergava-se a reza das chuvas. Logo o fato de esperarmos umas duas semanas até o mês de Heshván para começar a rezar pela chuva é sobretudo educacional, e a halakhá tem como função materializar a cada ano alguns ensinamentos:
--> de que a reza deve ser compatível com o estado de alma e os anelos do fiel
--> de que quando algo é pernicioso devemos tomá-lo em conta e não agir cegamente, mas encontrar soluções
--> de que temos que levar em consideração o estado existencial de nossos irmãos na diáspora quando estamos em Israel (sobretudo aqueles que peregrinam para cá, ou seja que conectam-se conosco e que vinculam seu destino ao nosso) mas também aos demais, e que os judeus da diáspora devem rezar pelo bem-estar dos judeus na Terra de Israel
--> de que no decorrer da história os interesses dos judeus podem confrontar-se e ir de encontro com os interesses dos judeus de Israel, e a falta encontrar o justo termo entre estes conflitos de interesses pode ser trágica. (Vide por exemplo na guerra dos macabeus, quando os judeus da diáspora não se moveram e lutaram apenas os judeus de Israel, e nas guerras que atravessaram a miúde os judeus da diáspora, como na Pérsia contra o rei Izeguerd, mas sem o apoio dos judeus de Israel - ou ainda quando os judeus americanos votam majoritariamente democratas, mas um presidente americano republicano pode ser mais valioso para os judeus de Israel)
E outros mais...
Logo devemos manter este hábito e acostumar-nos com a idéia de que cada halakhá, mesmo quando relacionada com paradeiros que não são mais de pertinência ou mesmo problemas que não são mais relevantes, e observá-las com rigor, pois elas são a materialização de filosofias, princípios educacionais importantes e da identidade judaica em sua complexidade. Se não conseguimos encontrar o que aprender com uma halakhá que nos parece fora de lugar, é porque não a compreendemos.
Já na Argentina, a maior e melhor organizada comunidade da América do sul, começou a povoar-se verdadeiramente de judeus a partir dos séculos 19-20. Em sua época gloriosa chegou a contar com 300.000 judeus, 35.000 dos quais hoje vivem em Israel, outros tantos na Espanha e EUA. Os Sírios de Damasco que ali imigraram preocuparam-se logo da problemática da benção da chuva e endereçaram sua pergunta ao Rav Yehudá hacohen Tarab, Grão rabino de Damasco, explicando que eles mantiveram intacto o hábito de rezar pelas chuvas, assim como faziam na Síria, pedindo chuva no verão argentino e sol no inverno, de acordo com o clima do hemisfério norte e não de seu lugar de residência.
O rav Tarab consultou-se com o Rav Iluz de Tivéria, e ambos parecem concordar com a posição do Torat Haim, o Rav Shabtai, e assim também considerou a questão o Rav Sithon, o gaon, grão-Rabino de Buenos Aires "והנהגתי כך זה כעשר שנים."
Desde o Uruguay, escreveram na mesma época ao Grão rabino Sefaradi de Israel (rav Ben-Zion Uziel) e este decretou que recitassem de acordo com o clima de Israel, com o hemisfério norte e não como o Rav Iluz ou o Rab Sithon. Mas sua decisão não foi posta em prática por muito tempo pois em resposta diferente o Rav Eizner especificou que estando no hemisfério sul não estão envolvidos pelas rezas do hemisfério norte.
Mas logo veremos que a decisão do grão Rabino Uziel é talvez uma das mais pertinentes e na verdade se alinha com o pensamento de todos citados até aqui. Veja o exemplo dos judeus australianos que não escaparam a este dilema - tendo chegado inicialmente da Inglaterra no século 19, solicitaram o Grão rabino Shlomo Hirshel - que se alinhou com o Torat Haim, que foi a mesma que a do rav Schwartz da Inglaterra aos judeus da Tasmania, e do Rav Adler aos judeus de Melbourne. Todas as respostas se alinhavam em concordar que a insalubridade das chuvas de verão no hemisfério sul é perniciosa e que rezar pela chuva em tais condições constitui mentira. A novidade é que após a chegada de um Av beit-din, o Rav Avraham Hershowitz, tendo notado que com a virada do século e o desenvolvimento rápido e urbanização de Melbourne e Sydney (paralelamente ao Rio de Janeiro e São Paulo, nos anos 30-40) anulou a insalubridade causada pelas chuvas de verão e as tornou inclusive desejáveis para as colheitas de novos gêneros agrícolas que foram importados e cresceram na austrália e não sem antes consultar-se com khakhamim de Israel e da Europa, e chegou à conclusão que seria o mais digno e desejável alinhar as rezas dos judeus da austrália com as dos judeus de E''I já que a única razão contrária era a de saúde e não outra:
שגשמים מסוכות עד פסח הם טובים לבריאות ולאדמהˎ הוא אמר ש"בודאי בלי ספק ראוי
שגם שמה ישאלו גשמים גם בברכת השנים".
Esta resposta incluía a do Rav Zeev kalonimos, rav Shmuel Salant, Rav Itshak Elhanan, e Rav London, o rav Tsvi Frank (grande filósofo) todos os poskim principais da época. Logo uma conclusão principal se impõe como dito acima: nenhum dos decisionários discute verdadeiramente a halachá, mas todos consideram a questão da salubridade das chuvas nesta épocas - e esta é a conclusão do Grão Rabino Uziel, e o que faz sua opinião prevalecer.
E explica-se: como as chuvas são por definição sinal de bênção, não de klalá, de maldição, adotou-se o hábito de lembrar a chuva (morid hagueshem) mas de rezar por ela apenas mais tarde. A conclusão lógica à qual podemos chegar portanto é a seguinte:
--> o ideal é rezarmos pela chuva em seu momento adequado e esta ser uma chuva de bênçãos,
--> nosso exílio infernal nos levou a paradeiros onde a benção em Israel, é uma maldição para estes lougradouros, assim como há trevas no resto do mundo quando o sol brilha em Israel - e nos vemos constrangidos de ter de condenar a reza pela benção em Israel, para não sermos amaldiçoados pela pestilência durante nosso amargo exílio.
--> logo, deveríamos ansiar pelo momento em que superaremos os inconvenientes das chuvas tropicais e extemporâneas tanto do ponto de vista da medicina, quanto de nossa brakhá, em que rezaremos não de acordo com a babilônia, o exílio, mas de acordo com nossa terra unicamente - e que poderemos rezar pelas chuvas em seu momento propício sem peso de consciência por nós nem pelos demais: pois mesmo as populações locais não sofrerão mais de insalubridade no momento da gueulá, e sacar os pântanos de Israel e erradicar deles a malária, teve como efeito em paralelo, secar os pântanos das grandes capitais do mundo.
--> esta é a profecia de Zekhariá 14, quando Deus dará a chuva abençoada às nações que se envolverem positivamente com o povo de Israel, enviando uma delegação que trará sua oferenda na festa de sucot, e aqueles que não vierem serão condenados a não ver chuva.
וְהָיָה, כָּל-הַנּוֹתָר מִכָּל-הַגּוֹיִם, הַבָּאִים, עַל-יְרוּשָׁלִָם; וְעָלוּ מִדֵּי שָׁנָה בְשָׁנָה, לְהִשְׁתַּחֲוֹת לְמֶלֶךְ יְהוָה צְבָאוֹת, וְלָחֹג, אֶת-חַג הַסֻּכּוֹת. יז וְהָיָה אֲשֶׁר לֹא-יַעֲלֶה מֵאֵת מִשְׁפְּחוֹת הָאָרֶץ, אֶל-יְרוּשָׁלִַם, לְהִשְׁתַּחֲוֹת, לְמֶלֶךְ יְהוָה צְבָאוֹת--וְלֹא עֲלֵיהֶם, יִהְיֶה הַגָּשֶׁם. יח וְאִם-מִשְׁפַּחַת מִצְרַיִם לֹא-תַעֲלֶה וְלֹא בָאָה, וְלֹא עֲלֵיהֶם; תִּהְיֶה הַמַּגֵּפָה, אֲשֶׁר יִגֹּף יְהוָה אֶת-הַגּוֹיִם, אֲשֶׁר לֹא יַעֲלוּ, לָחֹג אֶת-חַג הַסֻּכּוֹת Zekhariá 14, 17
--> Enquanto estivermos no exílio, tal profecia não poderá realizar-se pois estaremos rezando pelas chuvas das nações, e seríamos vítimas como elas da falta ou excesso de chuvas.
--> Pelo visto Deus teve piedade dos judeus e trouxe salubridade aos locais de residência da maioria das kehilot, sobretudo no Brasil, quando é indiferente ao judeu rezar pela chuva em São Paulo ou no Rio de Janeiro e poderá sempre alegrar-se com ela, mesmo quando tiver que surfar em março para chegar do centro ao bairro da tijuca. Melhor entretempos mudar-se para o morro de Santa Tereza ou para as alturas da avenida Paulista enquanto espera o momento da Aliá.
Esta é a visão provável que levou o gigante, o Rav Shmuel Mohliver a afirmar que mesmo quando as chuvas de verão são perniciosas, deve-se rezar de acordo com a terra de Israel:
שאפילו אם הגשמים קללה
צריכים לכתחילה לשאול טל ומטר. דאם שכח מלשאול טל ומטרˎ במקומינו
שהמטר אינו אלא סימן קללה בחורףˎ כידועˎ א"צ לחזור ולהתפלל"ˎ דהיינו רק בדיעבד לא
חוזרים.
Entenda-se: esta reza não é uma mentira, pois toda a consciência de um judeu saudável, mesmo quando sofrendo no exílio deve estar voltada ao bem de Israel, e ele provavelmente estará pensando em quando terá a oportunidade de vir para cá. "אבקשה טוב לך".
Hoje o costume generalizado deixa entrever a simpatia natural do judeu latino por sua pátria distante e todos rezam de acordo com o que se passa em Israel, e se alegram quando as terras estrangeiras que lhe deram vida e lhes serviram de berço se desenvolvem e superam a pobreza e a dor.