Baseado na noção de que toda ideia tem seu seu lugar de acordo com sua contextualização, e que quando tirada de seu contexto ela perde o sentido inclusive sabendo que a leitura filosófica pode ser puxada para quase todos os sentidos de acordo com as diretrizes de quem as lê.
Com respeito a Nieztche e seus escritos, não temos a intenção de discordar ou concordar com ou as leituras que recebe por professores das universidades - cada um deles poderá ter mais razão que o outro dentro do contexto de suas atividades ou linhas de pensamento, sua opinião para nós é pouco relevante em nosso contexto.
-Hoje existem duas grandes tendências, a primeira de apontar um dedo acusador e ver em Nietzsche como o porta palavras, quiçá um dos precursores de Hitler e mesmo pai do nazismo. outra de vê-lo como filósofo ateu e crítico da fé - ambos extremos contradizem a relação que Nietzsche manteve com os judeus, e esta última é a única que nos interessa em nosso contexto.
-Note-se que nietzsche foi precedido por seu professor Schopenhauer (com o qual não hesitou em discordar), e Kant, ambos com visões muito duvidosas da ideia religiosa. Muitos parecem ignorar que nasceu logo após o falecimento Fichte e a sua filosofia política, mas sobretudo de Hegel - e conhecia suas ideias e o raciocínio hegeliano, e, sobretudo o judaísmo do ponto de vista de Hegel. Os que vieram posteriormente à Nietzche, como Heidegger se distanciaram de seu pensamento assim como Aristóteles se distanciou de platão, e este último de Sócrates. Contrariamente à tradição rabínica, onde seguramente um discípulo reflete integralmente o pensamento de seu mestre, os filósofos constroem cada um seu pensamento, distanciam-se livremente de seus mestres quando julgam apropriado, mas seguem reinvidicando-se como seus discípulos. Esta diferença é fundamental para compreender-se o ciclo histórico das ideias no Judaísmo e em Israel (a identidade coletiva). Hitler por outro lado não é um produto acidental da filosofia alemã a nossos olhos, ele é um alemão, talvez sua quintessência. Os "cadernos negros" de Heidegger não são a exceção mas a regra e têm centenas de antecedentes históricos, a começar pelos protocolos e pelas Alliance antijuive universelle, toda composta por alemães e húngaros. Voltaremos a este assunto.
-Notavelmente em nosso contexto, citaremos que Flavius Josefos em sua emblemática obra "a guerra dos judeus" em que descreve o cerco romano a Jerusalem, explica que as tropas que se volutariaram para arrasar o templo eram todas "germânicas" pois eram "incapazes de qualquer sentimento de misericórdia"
-Note que o Rav kook aponta com simpatia a filosofia hegeliana em alguns pontos, e comenta partes dos questionamentos teológicos trazidos por Nietzsche, cada vez que considera tais questionamentos relevantes para o judeu - afinal, o filósofo critica e questiona as ideias de sua sociedade e dentro da idiossincrasia da identidade e sua crítica se volta a conceitos cristãos. A grande maioria de suas questões não nos envolve nem direta nem indiretamente.
- A frase mais conhecida de Nietzsche foi "Deus morreu", mas está longe de ser a última e foi talvez a mais manipulada por todas as correntes do pensamento que fizeram dela seu lema, quase sempre manipulando seu contexto, ou simplesmente ignorando totalmente o contexto no qual é pronunciada
-Nietzsche emprega termos que vão mudando de sentido de acordo com a obra ou momento no qual se encontra, o que implica em redefinir estes mesmos termos dentro de cada uma delas. Note-se que os aforismos extraídos de sua obra (não isenta de paradoxos) se prestam a todas as interpretações imagináveis.
- Não obstante, ao vestirmos as lentes do histórico judeu e nos dermos a uma releitura dos comentários de Nietzsche à luz de seu contexto histórico conturbado, ressairá uma imagem insólita dos escritos deste filósofo e suas ideias
-Além do mais Nietzsche viveu em uma época conturbada e de conflitos
-Podemos citar fatos que testemunhou e viveu tão traumatizantes que provocaram grandes reviravoltas na história que transformarão definitivamente a Europa e culminarão na primeira guerra mundial, e na dissolução de todos os impérios colonialistas europeus.
-As ideologias predominantes na época pregam a reestruturação social, étnica e política do mundo, ao redor da visão Darwinista e da revolução industrial. Grandes ideologias do passado recebem seu golpe fatal, o langor romântico e hedonista se substitui aos valores cavalhereiscos e aristocráticos, a arte erótica, melancólica e libertina regada a hashiche e absynthe dará nascimento à literatura espiritualista de Hoffman, Gogel e poética e social de Voltaire e Balzac e social com a emblemática obra "les misérables" de Hugo. O pensamento scientífico Darwinista dá nascimento à ideia da necessidade de apagar-se totalmente o passado para dar lugar ao novo.
-Nieztche não vê com bons olhos o apagar sistemático de todos os valores e o caos político e social que segue, pois para ele o passado e futuro estão interligados. O abandono e apagamento sistemático de toda fonte de valores emanando do passado não assegura que o futuro será capaz de constituir para si, ex-nihilo, um sistema de valores que funcionará necessariamente, a história prova o contrário, já que a revolução francesa terminou gerando o advento de Napoleão.
- Aos olhos de nietzsche o apagamento sistemático de valores históricos e sua substituição por novos valores é uma constante na cultura cristã que por vocação pretende apagar o judaísmo que a precedeu e do qual ela emana, mesmo que de maneira distorcionada, chamando-o de "antigo testamento", um livro "morto" cujas leis são obsoletas. O século 19 reflete a idiossincrasia das culturas cristãs das quais provêm seus principais pensadores. Um cristianismo secularizado. Este é o mesmo processo que se repete, portanto não há novidade, e assim como o cristianismo acusou o judaísmo de matar deus, eis que o cristianismo por sua vez também matou deus, entre as mãos de sociedades laicas que se esforçam em enterrar o passado que as gerou em vã tentativa de desprender-se dele. Parece a seus olhos que desta vez ele conseguiu.
-Portanto diz Nietzsche "Deus morreu". Neste sentido poderíamos quiçá afirmar que o pseudo-ateísmo de Nietzsche supõe que "Deus" são os valores constituintes da sociedade e que sua morte (no passado como hoje) prevê os desastres que ocorrerão irreversivelmente, vide a 1º guerra mundial?
-A 1a guerra mundial virá arrasar todos os sonhos e ideologias românticas e sobretudo a ideia de que a civilização humana estava chegando a seu ápice, que os progressos trazidos com os progressos científicos, os quais tomam escala continental no momento de seu nascimento, nos anos 1840
-Veja bem: esta foi a época da revolução industrial, testemunhar o surgimento da máquina à vapor e primeiras indústrias fordistas,
- Nietzsche nasce na era da "primavera das nações" e das revoluções que assolaram todo o território europeu, assiste à formação do império austro-húngaro em 1867 e tem quase 30 anos quando estoura a guerra franco-prussiana de 1871 a qual culmina com a formação da união Alemã, "um estado para uma nação", logo seguida pela Itália de Garibaldi e as insurreições na Polônia - pela primeira vez na história territórios passam a ser associados e vinculadas à etnias que existem naturalmente. Se até então um território pertencia a quem o conquistasse, ignorando amiúde quem o habitasse, surge na Europa e em consequência na Alemanha a ideia de que cada grupo étnico ou nacional tem o direito a ter seu próprio estado. Surge o Estado nação, e a Alemanha é um deles.
-Os judeus nesta época estão em fase de emancipação em virtude dos decretos de Napoleão, ou seja, em vias de deixar os guetos e serem absorvidos pelas sociedades nas periferias das quais viviam.
-Neste momento e em estado de vulnerabilidade começa a complicação e a questão de como os estados formados ou em formação deveriam definir quem são os judeus a seus olhos e determinar a estratégia política em relação a eles, que relação deveriam manter com estes judeus e com seus vizinhos.
-Os judeus constituíam portanto, uma nação sem estado, em um continente onde todos os estados lutavam guerras intestinas em busca de definir-se e redefinir-se, e guerras de uns contra os outros. Os judeus europeus também se dividiram naquele momento, em particular os Alemães. Alguns Nietzsche admiraria, outros rechaçaria. Esta ficou conhecida como "a questão judaica" e esta foi a época em que tomou a forma tal como a conhecemos.
- Um exemplo entre centenas: a guerra franco-prussa que orbitou ao redor da Alsacia e Lorena, região situada hoje na França na zona fronteiriça com a Alemanha, rica em carvão, cujo dialeto regional é.... um dialeto Alemão! Sua capital chama-se Strassbourg. Esta região fora então confiscada pela Alemanha, tendo voltado à França na primeira guerra mundial. Curiosamente esta zona de transição abriga o então gueto, hoje a segunda maior comunidade de judeus da França, a comunidade Ashkenazita de Strassbourg.
-O pensamento de Nietzche analisa, critica, joga luz e prevê as consequências dos processos políticos e sociais em andamento naquela época. Ele não pode impedir-se de desviar seus olhos e sua atenção em direção aos judeus, inclusive porque seus problemas interferem diretamente no andar de sua obra.
- Nietzsche, que viveu de 1844 a 1900 adota ou herda à priori as ideias antissemitas como todos os demais na Alemanha da época (na Alemanha de hoje difícil não dizer o mesmo) mas logo percebe a diferença na idiossincrasia dos judeus em relação ao resto de sua experiência com outras minorias e maiorias, inclusive porque os antissemitas lhe fazem problemas.
-Tendo sido contemporâneo do princípio da emancipação dos judeus na Alemanha (tardiamente em relação à França de Napoleão) e das grandes controvérsias subsequentes em seu país, ele vivenciou de perto as discussões que orbitavam ao redor da "questão judaica" e os partidos antijudeus (alliance antijuive, Desden e Chemnitz 1882-1883) que tentaram impedir a publicação de "Zaratrusta", logo depois das tentativas de obstrução da publicação por Cristãos. (Brief an Peter Gast 1883) .
-A questão judaica foi tão presente no quotidiano Alemão que justamente dali nasceria uma resposta à questão a "solução final" 100 anos após o nascimento de Nietzsche.
- Os partidos e correntes de pensamento antissemitas tentam colocar "palos nas rodas" de Nietzsche" e sua irmã Elisabeth envolve-se com um deles.
-O único pensador que parece escapar à "questão judaica" deixando a entender que ela não começa é Tolstoi, o que lhe valeu determinada estima da parte do Rav Kook.
-A vida do coletivo judeu da Alemanha e Europa do leste se encontrava frente a uma bifurcação dramática, para trás a sombra que não se dissipa do pesadelo da vida no gueto, atrelado aos pogroms, como o de Kishiniev, Moldávia que ocorre logo depois da morte de Nietzsche em 1907 - por outro lado, a perspectiva da assimilação e o abandono definitivo de sua identidade para cristianizar-se tornando-se novos ateus odiadores de sua própria origem - cuja consequência imediata se traduziria no envolvimento inexorável com os conflitos que assolaram a Europa de então (vide que nas guerras, militares Judeus servindo a exércitos nacionais seriam obrigados malgrado seu a lutar contra outros judeus, servindo a exércitos de outras nações). Além do mais o sionismo é agora realidade palpável apesar deparar-se com suas variantes Russas, Americanas e Sudamericanas - Na Rússia, surgiria o comunismo como dilúvio que borraria qualquer identidade religiosa, a judaica em particular, e a posteriori Birobidjan, o projeto da jerusalem da sibéria antes da segunda guerra mundial para os sionistas alternativos. A américa atraiu rios de judeus alemães (e do leste ) que não confiavam para nada nos andamentos da idéias na Alemanha, o mesmo com Israel (é o que explica que poucos judeus Alemães relativamente foram assassinados no Holocausto) em busca de emancipação completa, e Moisesville e Erichim os pseudo-moshavim da argentina e Brasil. Em meio à eles os Reformistas seguidores de Mendhelson, que, extrapolando de longe as modestas intenções de seu precursor, terminaram transformando judaismo em cristianismo sem alterar sua denominação, rezando voltados para Berlin como em qualquer igreja da época.
- Neste conceito e nas palavras de Sarah Kofman (falecida professora de universidade em Paris), ele admirou os Judeus por perseverar, e menoscabava destes que tinham ódio a si próprio. Isto não significa que Nietzsche tinha assimilado a essência da malha social do universo Judeu, mas que compreendia o impacto que tinham no mundo a seu redor e sobretudo: que mantinham vivos os elementos que já faltavam à malha da sociedade cristã em vias aceleradas de secularização.
-Neste processo o mundo cristão secularizado tende a apagar totalmente o passado para reconstruir o mundo do zero, invocando descobertas científicas e a capacidade do homem de desvendar os segredos do funcionamento da existência material. O mundo europeu neste momento, como o explica o Rav Eliahu BenHamozegh em 1895 (que conheceu todos as vertentes do conhecimento filosófico de sua época), no afã de construir-se, deixou para trás todos os conceitos morais conhecidos para formar novos blocos constituintes. Sem estes blocos de identidade que são o fundamento da existência, a base moral sobre que se justifica toda a existência nacional das nações, a identidade coletiva não teria mais nenhum elemento concreto em seu tecido social e político que pudesse servir de depositário sobre o qual repousar, todas suas bases conceituais sendo minadas.
-Neste sentido a revolução francesa e posteriormente a expansão de Napoleão são os precursores da união Européia. O inesperado é que ao invés de ser liderada pela França, a união européia terminará sendo liderada pela Alemanha.
- A ideia dos direitos humanos da revolução Francesa e seria de alguma forma uniformizar o ser humano e remover diferenças sociais para a longo prazo gerar o homem que não guerreia - criar novo calendário, semanas de 10 dias, como uma nova criação do homem, para um novo homem - esta é a ideia precursora do bolchevismo anos depois. A universalidade do homem e respeito a sua individualidade que perpassaria com o tempo a identidade nacional. No entanto se estas identidades nacionais estavam na origem e eram a principal razão das guerras, seu desvanecimento deveria apontar para o fim das guerra- No entanto mas inexoravelmente também para o fim da identidade nacional - e esta justificava sua própria existência. Este paradoxo teria sido a solução de transição do estado socialista para o comunista, a revolução social bastando-se e substituindo-se a revolução nacional, ou usando a plataforma e infraestrutura nacional para chegar ao supra-nacional e igualdade social. No entanto a supressão das identidades nacionais conduziria inevitavelmente a algum tipo de niilismo, fase histórica que seguiu fatalmente toda esta época, logo após os anos 60 - esta era efetivamente terminou sendo conhecida como pós-modernismo.
-Ora, notando pertinentemente que a antiga Alemanha, ou melhor dizendo, a Germânia, habitada por vários povos ou tribos germânicas e que tinha sido do ano 100 até o início do século XIX conhecida como o sacro-império Romano-germânico, aparece que as identidades nacionais emergentes tanto revolucionárias como conservadoras estavam intimamente vinculados à religião cristão que as impregnava e a qual transpiravam - ou seja - não havia outra laicidade que não fosse a laicidade Cristã - e os ideais cristãos estão na matriz destas ideias, mesmo se estas últimas os distorcionam. E é este precisamente o pano de fundo da constituição da Europa da época: mas eis que a Europa laica que aspirava à paz terminará engendrando o monstro disforme que tomará sua forma definitiva na primeira guerra mundial... e recairá com todo seu peso, como um bumerangue ultimativo sobre os judeus na segunda guerra mundial.
-Como estas tendências se ancoravam indefectivelmente em algum aspecto da idiossincrasia cristã fosse ela praticante ou secular, Nietzsche entendeu que caso se deixassem para trás todos os valores apagando o passado, estariam deixando para trás os blocos constituintes da civilização, mesmo quando ele pudesse não concordar com a natureza dos mesmos blocos e a civilização já não teria receptáculo onde repousasse a identidade e entraria em decadência até desaparecer, como todas as demais civilizações. Portanto "Deus", o bloco constituinte da existência da europa cristã em vias de secularização acelerada, "está morto" e a sociedade é como um homem cuja data de óbito lhe foi marcada.
Os Judeus ao contrário, conheceram a perenidade apesar das dificuldades. O cristianismo que era como um enxerto no judaismo estava perdendo seus pontos de contato com o mundo, enquanto os judeus se demarcavam por seguir sendo fieis a si próprios.
Por isto na carta que envia à sua irmã Elisabeth (a quem chamava de Llama com ironia) para expressar seu desgosto por ela aceitar casar-se com Dr föster, chefe do partido antissemita da Alemanha em 1887 ele expressa sua desvinculação definitiva com o antissemitismo.
Curiosamente, esta é a data apontada pela cabalá indicando que "os portais do conhecimento se abrirão". Esta data está sugerida no Zohar, e foi confirmada pelo Gaón de Vilna na lituania em Kol hator e pelo Jajam, Rav Elkalay, aluno de Rabi Vivas em Sarajevo precursores do sionismo moderno mesmo antes de Herzl
Nietzche considerava Schopenhauer seu mestre, mas não reproduz de forma dogmática suas ideias se volta com o tempo contra suas ideias e vem criticá-lo.
-O Mesmo ocorreu com Aristóteles, que se desvia dos ensinamentos de Platão, ele próprio desviando-se de seu mestre Sócrates. Se Sócrates supostamente tinha uma séria tendência a lidar com o metafísico e o espiritual, Platão menos, e Aristóteles beira ideias ateístas.
-Os anticristãos ateus encontraram em seus escritos material para suas críticas contra a religião
De um lado se supõe como nação deveriam ter um estado a exemplo de todas as demais nações - esta é a opinião de todos os grandes Rabinos - Rav Elkalay, Rav Kook, Gaon MeVilna, Rab Vivas de Sarayevo entre outros, e entre todas as nações que evoluem a estado-nação.
Uma citação de Nieztche: «as to Zarathustra, I have just heard that it is still "awaiting dispatch" in Leipzig; even the complimentary copies. This is owing to the "very important conferences" and constant journeyings of the chief of the Alliance Antijuive, Heir Schmeitzner. On that account "the publishing business must for once mark time for a bit," he writes. It really is too ludicrous; first the Christian obstruction, the 500,000 hymn books, and now the anti-Semitic obstruction these are truly experiences for the founder of a religion.»