Pergunta 1º: bom dia - no geral andamos bem satisfeitos com o conteúdo das nossas aulas e estamos progredindo bem nas tarefas que foram dadas até agora. Nossa vida em Israel em geral e de casal em particular também está evoluindo de maneira satisfatória. Seguimos em contato no entanto com nossas respectivas kehilot no Brasil e os professores com quem estudávamos e seguimos estudando com eles também à distância, no geral a maior parte das ideias se complementam, mas têm algumas coisas que aprendemos aqui no curso radicalmente diferentes que as contradizem. Isto causa alguma frustração e desconforto.
Resposta 1: Olá, fico feliz em ouvir os progressos. Isto por si só é o melhor termômetro de que estamos indo pelo melhor caminho - a prática é o que conta, e de acordo com os resultados práticos medimos o valor do processo. Convém ressaltar alguns pontos ainda com respeito ao comentado. Como vocês bem sabem, o certo e o errado muitas vezes é circunstancial, inclusive a aplicabilidade de determinadas ideias. Ou seja: cada ideia do judaísmo ou ensinada por algum professor ou Rabino cabe dentro de um contexto e toma diferentes proporções de acordo com o lugar onde são postas em prática - tirada de seu contexto a ideia torna-se apenas informativa. Em determinados casos, tirado o seu contexto, uma ideia se torna simplesmente falsa.
Estudar Torá pela internet lamentavelmente (partindo do princípio que se tratem de aulas de um rabino de verdade) é como receber flashes informativos sem nexo um com o outro, "notícias de Torá". Não se sabe se este conhecimento se aplica ou não à você, a seu contexto de vida nem se você tem os instrumentos para materializar estas ideias da maneira correta, ou mesmo se você poderá realmente entendê-las.
Estudar Torá pela internet só tem sentido se estiver incluído como parte de um sistema organizado de estudos e condições de vida que compõe um pano de fundo onde cada uma destas ideias se enquadra e será posta imediatamente em prática. Uma halachá, o conceito filosófico que se esconde por trás da halachá, como enquadrar este novo conceito em seu modus viventis ou seja a maneira com que sua vida poderá absorver esta nova ação positiva, que repetida suficientes vezes formará finalmente parte de sua identidade. Este pano de fundo poderá ser uma kehilá com vida judaica genuína e aulas de Torá com um Rabino de carne e osso, uma Yeshivá ou qualquer outro contexto como estes.
Não existe "mestrado em judaísmo" onde se estuda um número de horas com prova e exame final. O Judaísmo é a identidade e o modo de vida de um judeu. A Torá é a árvore da vida ("עץ חיים היא למחזקים בה ותומכה מאושר") ou seja, é uma maneira de se viver, fonte de "conselho" ("עץ") que guia todas as decisões e ações de uma pessoa.
Uma Torá estudada como flashes de informação isolada sem um contexto, sem aplicação na vida, é apenas conhecimento sem contexto, uma árvore do conhecimento ("עץ הדעת טוב ורע") cujo conhecimento é estéril não se materializa em ações nem toma lugar algum em seu contexto existencial. Pior, pode inclusive causar danos, "מִי זֶה מַחְשִׁיךְ עֵצָה בְמִלִּין בְּלִי דָעַת", Quem é aquele que escurece o conselho com palavras desprovidas de conhecimento? um conselho de palavras sem conhecimento do contexto vital daquele que será o recipiente daquele conhecimento.
O conhecimento deve ser fruto de uma interação em um contexto onde ambos, quem ensina e quem estuda interajam, com uma direção precisa e um objetivo no final do dia. O conhecimento não se ensina pelo prazer do conhecimento (isto no Talmud é chamado de Epicurismo) mas se dirige de uma pessoa específica para outra pessoa específica como em um diálogo. Por isto a Torá também é chamada de ensinamento "oraá", pois o ensinamento subentende Aquele que ensina e aquele que estuda. ("צוֹר תְּעוּדָה חֲתוֹם תּוֹרָה בְּלִמֻּדָי.") "Sele a Torá entre aqueles que a estudam". O conhecimento deve vir de alguém ("melamed") que se enquadre ou compreenda completamente o contexto vital daquele que estuda com ele ("קַח נָא מִפִּיו תּוֹרָה וְשִׂים אֲמָרָיו בִּלְבָבֶךָ") "Tome a torá de sua boca e coloque o que diz em seu coração".
Um exemplo bobo mas pertinente, à pergunta se usar terno e gravata é obrigatório... A resposta óbvia como vocês sabem melhor do que todos é "depende" - se for em um passeio na beira do mar ou em um dia de trabalho no centro da cidade? Se isto é verdade para coisas pequenas, quanto mais para coisas importantes, como para a vida de casal e o desenvolvimento material e espiritual de uma pessoa em um país novo... ou no quadro de uma conversão.
Os Rabinos no Brasil cuidam de seu público e de suas sinagogas. Eles poderão tomar decisões que a nossos olhos serão distantes de nossa realidade. Eles têm total liberdade de decidirem de acordo com suas necessidades e os objetivos que traçaram para suas kehilot. Nós não interferimos em nenhuma circonstância, a não ser se consultarem-se conosco, o que muitos fazem regularmente, ou se suas decisões tivessem um impacto direto sobre nós - neste caso, se isto viesse a ocorrer, nenhum membro das kehilot ficaria sabendo. Este conceito chama-se no judaísmo "Mará deAtrá", aquele que é o responsável do lugar onde vive e atua. Para entender o quão longe isso vai, nenhum de nós aqui em Israel poderia acordar um dia e decidir começar a decretar princípios de halachá ou dar aulas de judaísmo no Brasil sem primeiramente receber convite ou mesmo permissão para começar.
O mesmo ocorre na situação inversa. os ditames e decisões dos Rabinos no Brasil envolvem eles somente. Israel é outro país e nossas problemáticas aqui não têm qualquer relação com a questão dos judeus brasileiros. Um exemplo disto: nos EUA foi desenvolvido um interruptor casher... um mecanismo "smart" que permite ao judeu acender ou apagar luz em shabat sem quebrar nenhuma lei da Torá. Como os níveis de assimilação nos EUA (e em toda a diáspora) são alarmantes, este tipo de artifício eletrônico permite contornar regras da Torá e facilita a vida (ou torna mais suaves as mudanças de estilo de vida) de um judeu quando se aproxima da Torá. Aqui em Israel, nunca ouvimos falar de tal interruptor dito casher, e só seu nome já nos espanta. Esta invenção aqui não tem nenhuma pertinência, afinal, na vida do dia a dia, não necessitamos, nossos Shabatot são organizados, e em casos de emergência a proibição não cabe de qualquer forma. Houve grande quantidade de Rabinos de lá que prezaram esta invenção, inclusive de Rabinos israelenses que vivem lá, como o Rav Yossef Mizrahi.
Só de ouvir o nome "interruptor casher" um Rabino israelense já ficaria com os cabelos em pé.
Quem tem razão? Como dito acima: cada kehilá tem seu Rav, e se o Rav for importante/talmid 'ha'ham (aluno de um 'ha'ham ele é o "Mará de Atrá". Em seu contexto eles têm provavelmente razão. Em nosso contexto nós temos razão. Exemplos como estes existem por centenas, alguns deles tão propagados que os chamamos de "costumes" (minhaguim), como o de não comer arroz em Pessa'h, rezar determinadas rezas adicionais, fazer almoços em determinadas ocasiões. Cada kehilá, suas origens, seus costumes.
Existem inclusive regras para se mudar de país, de kehilá ou para integrar-se a novas kehilot. Estudaremos quando tivermos oportunidade.
No caso da América Latina ou do Brasil em particular o exemplo mais emblemático foi quando o Rabinato de Israel escolheu não mais reconhecer nenhuma conversão feita no Brasil. Isto foi feito com o acordo e cooperação dos rabinos no Brasil, com a exceção notável dos reformistas e conservadores que não têm nenhum envolvimento ou compromisso com a instituição do rabinato, de Israel ou sequer o rabinato local (de fato existem até hoje rabinatos no Brasil - o grão rabino do RJ é o Rav Blumenfeld, ao lado do Bar-Ilan - mesmo que ninguém o conheça, o que diz muito sobre o Judaísmo no RJ) e ainda menos compromisso com Israel quiçá tampouco com a Torá. A razão para isto foi a grande falta de organização local, e o Rabinato de Israel ficou sem instrumentos para reconhecer as verdadeiras conversões das bagunçadas. Hoje em dia a situação é ainda mais problemática: igrejas evangélicas vêm emitindo ketubot de casamento, estimulando seus fiéis a usar kipá e talit.... em resumo: não queremos amanhã em Israel uma enxurrada de cristãos, conversões mal feitas e o caos brasileiro nas ruas de Israel, 'has veshalom.
Quem prejudicou-se com isto foram os Rabinos sérios, como o Talmid 'ha'ham, o Gaon Rav Meir Matslia'h Melamed, O Rav Ben-zaken, entre outros... e os conversos verdadeiros - ou candidatos a uma conversão verdadeira.
Portanto aqui em Israel, é necessário integrar a sociedade mediante o Judaísmo Israelí e sua idiossincrasia. É o que estamos estudando, e é aquilo que fará sentido em nosso contexto, que nos dará os instrumentos para por um lado compreendermos o que estamos fazendo e o impacto que isto tem no conjunto da sociedade na qual vocês vão viver e interagir. A longo prazo esta é a fórmula correta a nossos olhos. Daí nossa recomendação de integrar-se em uma comunidade, aquela mais próxima a vocês ou aquela que vocês escolheram por afinidade com as pessoas que a integram, seja ela Ashkenazi, Sefaradi, 'Habad, Breslau, Síria, Yemenita.... não nos importa desde que haja aí um Rabino com quem vocês possam se identificar e seguir os costumes da kehilá. Se você está acostumado à algo, recomendamos uma kehilá compatível com os aquilo ao qual você está acostumado. Se você veio de uma kehilá conservadora no entanto, deverá integrar uma kehilá ortodoxa.
Lembre-se no entanto, o Judaísmo é como um casamento, não como um restaurante "à la carte". Você não poderá "pegar o lado bom de cada um", como ser sefaradi em Pessa'h e Ashkenazi durante as seli'hot. Você não se casou/ará com o lado bom unicamente de seu marido/esposa. Ao escolher um caminho, uma kehilá deverá seguir o destino desta kehilá e colaborar com seus ensejos.
Pergunta dois: ok, entendido, mas veja bem, tem rabinos que conhecemos pessoalmente lá e que gostamos de ouvir de maneira regular. Devemos deixar de ouvi-los?
Resposta 2: Depende. Se forem Rabinos com quem vocês tinham contato regular e pessoal (em carne e osso, não na telinha) e se vocês frequentavam suas kehilot, então não existe nenhum problema em manter-se contato - muito pelo contrário, é parte do mínimo da boa educação informá-los do que andam fazendo, inclusive contar-lhes com quem andam estudando hoje em dia e quais são nossos objetivos. Eles certamente nos apoiarão em todos os sentidos, de longe e de perto quando estiverem aqui de visita.
Se vocês estiverem falando de rabinos virtuais ("talking heads"), mesmo se eles costumavam responder com educação e boa vontade sempre que vocês lhe escreviam, é muito mais problemático, pelas razões acima citadas.
Geralmente as grandes contradições começam com as aulas virtuais. Você deve saber que o fato de publicar as aulas pelo youtube e deixá-las a disposição de todos é uma grande controvérsia no mundo rabínico. Os grandes Rabinos quase nunca se fazem ouvir pela internet (não em circuito aberto pelo menos), e quando o fazem é em um contexto específico, com temáticas específicas. Tome o exemplo de dois Rabinos emblemáticos que poderiam ter subido para grão-rabinos de Israel, ambos alunos do Rav Léon Ashkenazi entre outros: o Rav Zini, que nunca permite que suas aulas sejam ouvidas por alguém que não seja seu aluno - e o Rav Cherki, que tem milhares de horas de aula gravadas a disposição de todos.
O primeiro é um tsadik nistar (age sem que se saiba). influencia na política e vários deputados consultam-se com ele regularmente. Mesmo o primeiro Ministro o escutou em mais de uma ocasião. O segundo ao contrário, todos conhecem a amplitude de seu trabalho, sendo ele o principal líder do movimento dos Bnei-Noa'h, não-judeus que se interessam em apoiar ao povo judeu e destacar-se de outras religiões sem converter-se.
Notem que o Rav Cherki publica seus estudos em contextos muito claros:
1- para alunos da Yeshivá na qual ensina (seminário rabínico), o Machon Meir,
2- para aproximar Israelenses da Torá (suas aulas são em hebraico, logo apenas quem conhece bem Hebraico pode segui-las, ou seja, unicamente judeus e israelenses)
3- ensina também em francês, e seu público em francês são o quase meio milhão de judeus francófonos (minoria significativa, a mesma ou maior quantidade de judeus de toda a américa latina reunida) em processo de Aliá massiva muito mais avançado do que de todas as outras Aliot com exceção da antiga URSS. É de notar que os Goyim franceses têm pouco interesse no judaísmo e aqueles que sim têm enquadram-se no contexto dos bnei-noa'h.
4- líder e criador do movimento dos Bnei-noa'h de acordo com os ensinamentos do Rav eliahu Benhamozeg, como citado acima, ele fala desde Israel e não estimula nem a vinda de não judeus para Israel nem sua conversão.
Suas aulas são de um nível tão excepcional que ninguém é capaz de discuti-las, nem no próprio universo rabínico. Note que os grande rabinos franceses todos estão em Israel, ou passam grande parte do tempo em Israel. Notem ainda que na França o movimento evangelista é mínimo e os religiosos franceses nos odeiam mais do que possam se interessar pelo que temos para dizer - este não é o caso do Brasil.
O Rav Zini é igualmente genial, mas recusa terminantemente participar dos movimentos dos Bnei-noa'h. Ele considera que enquanto o judaísmo e os judeus estiverem em situação de vulnerabilidade o Noa'hismo trará mais danos que benefícios. Ele tolera um mínimo de aulas em francês para manter algum vínculo com os judeus da França. Suas aulas têm menos de 300 visualizações no Youtube. Todos seus ensinamentos gravados estão estocados em uma fonoteca de sua Yeshivá.
A principal razão de acordo com suas palavras é a seguinte: se um talmid 'ha'ham publica suas aulas, qualquer doente ou desequilibrado pode ouvi-las e achar depois que pode discuti-las. Imagine um cirurgião, engenheiro, economista que tivesse sua especialidade sendo discutida por qualquer curioso, sua autoridade sendo questionada por todo jovem de dezessete anos... As consequências são imprevisíveis, os danos incalculáveis. Mesmo a um motorista de ônibus não convém perturbar no exercício de sua função. Por que com a Torá, que é a história, identidade e destino do povo judeu seria diferente?
Ademais esta popularização da Torá também tem efeito nefasto entre os judeus de nascimento que não cresceram dentro de um ambiente tradicional e que se aproximam da Torá. Sem conhecer sequer a base do judaísmo, compram livros de rezas (sidurim) escritos para 'Hassidim (aqueles que fazem mais que o necessário) e começam a adotar posturas estritas onde não há lugar para o comum das pessoas, rezar e estudar textos que não lhe foram destinados - antes mesmo de adquirir os conhecimentos mais básicos.
Como já vimos, existem as rezas e as mitsvot obrigatórias para qualquer um que queira viver uma vida judaica - existem as 'humrot, aquelas ações ou restrições suplementares que alguns fazem em casos especiais, ou rezas que se adicionam em casos específicos. Os 'Hassidim por exemplo são algumas exceções no povo judeu que tomam sobre si responsabilidades individuais para influenciar o povo ou cumprir com maior zelo determinadas mitzvot que por circunstâncias estejam sendo menosprezadas por todos os demais. Isto é excelente, mas é a tarefas destinada a eles unicamente. O comum da gente em todo caso não deve de nenhuma maneira adotar estas posturas mais estritas, sobretudo antes de compreendê-las. Um exemplo são os jejuns que todos devem praticar e aqueles que um indivíduo toma sobre si. O mesmo se aplica a partes das rezas adicionais, etc.
Outro exemplo claro é o estudo dos Pirké Avot ou do Talmud, cujas regras são destinadas a Juízes e Talmidé 'ha'hamim (como diz o Rambam, mas basta ler o pshat do texto para dar-se conta de a quem ele se destina). Hoje qualquer não judeu tem acesso a sua leitura (traduzida por exemplo) e acha que entende algo de judaísmo - ou pior, depois escreve talk-backs e diz que o Rabino não sabe o que está dizendo, ou desafia o Rabino usando palavras de outro rabino quase sempre tiradas de seu contexto.
Isto denigre e deteriora a Torá e rebaixa seus ensinamentos ao nível do leitor, do ouvinte. Neste caso de um clube de elite com ensinamentos excepcionais capazes de transformar o mundo, seremos no máximo um clube como todos os outros, talvez pior, divido entre aqueles que fazem mais do que prescreve a halachá sem nem dar-se conta ou entender por quê, dando à Torá um ar de atos estéreis e sem conteúdo com vestimentas cerimoniais fora de época, quiçá de ignorância ou imbecilidade - e um exército de não judeus e reformistas com todo tipo de armas para atacar o o conhecimento rabínico genuíno e o resultado final é assimilação final dos judeus já suficientemente distanciados de sua identidade. Os evangélicos estão surfando nesta onda, sobretudo aqueles que conhecem bem a bíblia.
Pior de tudo. Pessoas que não serão capazes sequer de ler a primeira frase de livros da cabalá nem de pronunciar corretamente o nome dos mesmos livros ou de identificar quando, onde e por quem foram escritos, os usarão para questionar Rabinos que passaram sua vida estudando-os - usarão palavras de aulas questionáveis e tiradas de seu contexto para tentar provocar a cizânia entre rabinos e comprazer-se em ser o estopim de discussões das quais estarão, no final das contas, definitivamente excluídas. O dano que poderão estas mesmas pessoas causar é irreversível.
Considere que muitos curiosos ou pessoas bem intencionadas recém aprendem algo no golpe da curiosidade e querem imediatamente ensinar aos outros. "נָחֲלוּ פְתָאיִם אִוֶּלֶת וַעֲרוּמִים יַכְתִּרוּ דָעַת." Estas pessoas as vezes recebem centenas de visualizações e não tem idéia do que estão dizendo.
Considerem além do mais que nos ensinamentos do judaísmo, cada palavra conta. A mínima interpretação for do alvo gera ideias problemáticas. A longo prazo, gera cristianismo, que não é outra coisa que Torá lida em latim com seus segredos distorcionados. Cada conceito cristão é uma distorção trágica de algum segredo da Cabalá. Ao estudarmos em outra língua que não seja hebraico estaremos sempre em risco de deixar mal-entendidos no ar. A ouvidos despreparados, estas aulas online arriscam reforçar o Cristianismo.
Pergunta 3- Pode dar exemplos?
Resposta 3: O conceito de "Pai, filho e espírito santo" por exemplo é um deles, "Av" "ben" (juntos, "Even", transmissão de pai para filho da Tradição) e Rua'h ha kodesh, o hidush, a possibilidade de renovar algo a cada geração. Não por acaso "Pedro" escolheu este nome para si.
A busca do 'hamets em pessa'h também, quando de acordo com o sod (segredo), o 'hamets representa a perda de oportunidade (ha'hmatsá), e o yetser hará (o mal pendente). O cristianismo eliminou o ato e tentou manter a ideia. No final o ato e a ideia se perderam entre eles.
Veja também a noção de sacrifício, onde justificam sua ideia messiânica do sacrifício humano com o sacrifício de Its'hak, que emana de uma ideia totalmente diferente...
Em outra oportunidade estudaremos isto com mais detalhes.
Pergunta 4: sim, mas neste caso como faço para reconhecer aqueles rabinos que deveria escutar na internet neste período em que nem eu nem minha esposa dominamos suficientemente bem o hebraico, e que temos o hábito desde antes da aliá de ouvi-los?
Resposta 3: De fato nem todos os que se apresentam como são Rabinos, nem todos os mais ouvidos são os grandes, nem todos os que falam de Torá são judeus. A internet tem esta característica: coloca todos ao mesmo nível.
1- Grandes Rabinos têm grande conhecimento em todas as áreas da Torá, Halachá, Pshat e Sod. Um Rav que não tenha grande conhecimento de Halachá, por mais inteligentes que sejam suas palavras, não é um grande Rav.
2- Grandes Rabinos em geral renovaram alguma halachá, mudaram o curso da história na prática. Se não o fizeram, é porque foram apenas pessoas inteligentes e perspicazes.
3- Grandes Rabinos têm conhecimentos em todas as especialidades, como dayanim, mohalim, shochatim, casherut Nidá, e.... halachá de todos elas. Conhecem todas as fontes de memória Tana'h , Talmud Babli e de Jerusalém, Midrash, e todas as obras rabínicas relevantes. (Não com menos de 25 anos de estudos para pessoas normais, menos nos casos dos grandes gênios reconhecidos)
4-Grandes Rabino sempre citam o nome de seus mestres e jamais falam em seu próprio nome, nem se apresentam como rabinos. Os demais os chamam de Rabinos. Eles sempre citarão as fontes de seu conhecimento e a história de seus conceitos.
Hoje em dia não ficaram praticamente grandes rabinos fora de Israel com algumas exceções notáveis. Até meados dos anos 1990 por exemplo, o rabinato de Israel sempre ouvia a opinião de Rabinos do EUA sobre assuntos de Israel, por entender que haviam ali grandes autoridades como as descritas acima. O Admor de Lubavitch, Rav Moshé Feinstein e Rav Soloveitchik por exemplo. Depois do falecimento destes grandes Rabinos, o Rabinato não se consulta com Rabinos de fora de Israel a não ser no que diz respeito a assuntos locais, como explicado na questão anterior.
Pelo contrário, todos os Rabinos fora de Israel consultam-se com rabinos de aqui.
Os grande hoje em dia são o Rav Kanievsky, o Rav Yossef, Rav Shmuel Eliahu, Rav Mazuz, Rav Zini e Rav Cherki, Rav Lau, Rav Shechter, Rav Abu'hatsera entre outros menos conhecidos do público. Os rabanim que falam pela internet estão todos sem exceção baixo a autoridade dos rabinos acima citados.
Note ainda que a maioria dos que falam pela internet o fazem sem permissão explícita de um Rav que o guie e adoram publicar seu nome, e esquecem de publicar sua fonte.
Faça-se no entanto aqui a diferença aqui entre aqueles que falam em hebraico - estes serão ouvidos apenas por israelenses e judeus tradicionais que conhecem o hebraico. Eles não arriscam trazer praticamente nenhum dano a longo prazo e são facilmente contactáveis, bastando um telefonema. Neste contexto é aceitável que gravem suas aulas indiscriminadamente.
O mesmo não é verdade para estes que falam de judaísmo em português ou espanhol, que serão ouvidos essencialmente por evangélicos, pessoas em busca de uma chance para sair de seus países em crise e uns poucos judeus. Se conseguirem aproximar algum judeu, talvez terá valido a pena.... mas fica a dúvida na nossa equação.
Lembre-se: está terminantemente proibido o proselitismo no judaísmo.
Pergunta 4- ficamos com a impressão de que sua resposta no grupo para quem perguntou algo sobre as rezas foi meio dura, falando de Avodá Zará.
Resposta: Não foi minha intenção nem magoá-los nem feri-los, e muito menos menosprezar a quem fez a pergunta. Todos temos dúvidas e perguntas, e é normal termos de esclarecer coisas. É preciso ser direto e pragmático nas respostas se quisermos avançar e não deixar nossos sentimentos nos dominar, como em um contexto profissional. Tenham em mente que Avodá Zará não é apenas macumba. De fato se trata na prática de trabalho de D.eus, feito de maneira alheia. Temos um sidur para segui-lo e termos a certeza de que não estaremos fora de contexto. Rezamos com o sidur à mão. Não podemos considerar D.eus quando rezamos, chamá-lo de paizinho, de querido ou imaginá-lo de qualquer forma que seja, ainda menos imaginar outras coisas no meio da Reza. Quem sentir necessidade de conversar com D.eus poderá fazê-lo fora do contexto das tefilot em hitbodedut, ou seja meditando e conversando consigo próprio em suas palavras à maneira dos 'Hassidim. As rezas coletivas devem ser as mesmas para todos e não sair de seu âmbito. Grandes 'ha'hamim no decorrer da história adicionaram "kavanot" às rezas de maneira a expandir um pouco os corações de seus alunos, como o 'hidá, o ben ish'hai entre outros. Estas kavanot podem acrescentar-se às rezas uma vez entendidas.
E possível também na parte de "shomea tefilá" antes de fechar a bra'há, acrescentar seus pedidos pessoais, e suas palavras. Quem já compreenda bem o sentido de cada bra'há poderá acrescentar suas palavras a cada bra'há dentro de seu contexto, como citar nomes de enfermos em "rofé 'holim" ou de pessoas para fazer teshuvá em "rotsé bitshuvá".
Estudaremos isto com maiores detalhes