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A gripe é uma doença extraordinária, trata-se sozinha ao fim de alguns dias. Sim, é verdade que todos os anos morrem pessoas, sobretudo as que já estão debilitadas, vítimas desta doença. Mas, se não surgirem outras complicações, basta tomar um antipirético, um anti-histamínico para aliviar os sintomas e esperar.
Não existem medicamentos capazes de combater a causa desta maleita porém, como é uma doença que passa sozinha, é a ideal para vender a chamada “banha da cobra”.
Um “medicamento” que, nesta época de gripe, tem sido publicitado na rádio é o OSCILLOCOCCINUM.
Se está com gripe ou com receio de a apanhar e resolver comprar este tratamento (gasta cerca de 12 euros) poderá ler, no folheto, que a sua composição é “Anas barbariae, hepatis et cordis extractum 200K .... 0,01 ml. Os outros componentes são: sacarose, lactose.”
Se pesquisar, fica a saber que, para além dos açúcares (sacarose e lactose), o “Anas barbariae, hepatis et cordis extractum” é nada mais do que extrato de fígado e coração de pato selvagem. Será que comer fígado e coração de pato afugenta a gripe? Se é vegan e se recusa ingerir qualquer produto de origem animal, não se preocupe muito. Na realidade o mais provável é que este medicamento homeopático nem sequer contenha uma molécula do sacrificado pato! O “200 K” que surge na composição, significa que o extrato de pato é submetido a 200 diluições de 1:100. Na prática, tira-se 1 ml de extrato, dissolve-se em 100 ml de água, obtendo-se uma solução da qual se volta a retirar 1 ml que se dissolve novamente em 100 ml de água. Este processo é repetido duzentas vezes! Boa sorte a encontrar algum vestígio de pato! O mais certo é estar a tomar comprimidos de açúcar.
Em 2012, o bioquímico David Marçal e o físico Carlos Fiolhais, na apresentação do livro “PIPOCAS com Telemóvel e outras histórias de falsa ciência”, ingeriram, à frente de uma plateia, uma caixa inteira deste medicamento “milagroso”. Não, não ficaram doentes. O que eles fizeram é tão perigoso quanto tomar um copo de água com açúcar. Escusado será dizer que nunca o fariam com uma caixa de aspirina.
P.S.:Recentemente, o Presidente da República vetou um diploma que reconhecia o interesse público da Escola Superior de Terapêuticas Não Convencionais, invocando falta de validade científica comprovada. Haja esperança!
https://www.youtube.com/watch?v=Oz-TI3t0X3I
https://www.publico.pt/2014/11/05/ciencia/opiniao/ciencia-diluida-1675128
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