Jorge Lourenço Gonçalves, Jorge Martins Bettencourt, Luís Costa Correia
Outubro 2023
Os Heróis do 25 de Novembro
Ficaram conhecidos pelo “Grupo dos 80”, todos oficiais, mas hoje dão a entender que seriam mais. Para os membros era a “Organização” [1], com uma estrutura celular e piramidal, dirigida pelo “Grupo Central”. Actuava na clandestinidade e com secretismo e, a ela, só pertenciam os escolhidos e convidados pessoalmente pelo “Grupo Central”.
Os membros do “Grupo Central” reuniam-se, em casa de um e de outro, por convocatórias verbais, transmitidas de boca em boca ou telefónicas, sem convites formais escritos e sem agendas, registos ou relatórios, muito menos actas, datadas e assinadas pelos participantes.
Colocaram elementos da “Organização”, incluindo do “Grupo Central”, nos lugares cimeiros da estrutura do Estado e da Marinha e, em particular, nos órgãos responsáveis pela gestão do pessoal. Influenciaram a nomeação de dois CEMA e, durante alguns anos, veicularam informações de “aconselhamento” sobre a promoção e a carreira de camaradas.
Hoje apresentam-se como protagonistas da “resistência na Armada ao desvio totalitário pós 25 de Abril”, com participação no planeamento e desenvolvimento da acção do 25 de Novembro de 1975 mas poucos - ou nenhuns - deles terão tido coragem para anunciarem, publicamente, terem subscrito o “Documento dos Nove .
Para quem no período que antecedeu o 25 de Novembro não estava em Portugal ou não acompanhava de perto as movimentações nos corredores do poder em Lisboa, é natural que não tenha notado a existência e a acção do autodenominada “Organização”. Mas para quem participou nas reuniões de resistência às políticas de quem então dominava a Marinha e de preparação do 25 de Novembro, é surpreendente que não se tenha apercebido de qualquer acção relevante de algum dos membros, só agora identificados, da “Organização” e do seu “Grupo Central”, tanto no planeamento como no desenvolvimento da acção do 25 de Novembro de 1975.
Somente depois do 25 de Novembro tivemos notícia da actuação de alguns dos membros da “Organização” a qual, entretanto, passou a ser conhecida por “Grupo dos 80”. E notámos, também, que, depois do 25 de Novembro, estes e outros, cavalgaram oportunisticamente o poder e, a partir daí, tomando a “rédea nos dentes”, prejudicaram a carreira de muitos dos camaradas, ligados ao 25 de Abril e, até, ao 25 de Novembro. O exemplo mais flagrante é o do Almirante Vítor Crespo, cuja carreira naval terminou na chefia da Repartição de Justiça, uma “prateleira” muito conveniente para quem tanto tinha arriscado, antes e depois do 25 de Abril!
Temos notícia que, logo após o 25 de Novembro, um grupo destes oficiais pediu, ao Conselho da Revolução, “a cabeça” do Almirante Crespo, porque era um comunista. Queriam o seu lugar no Conselho da Revolução!
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[1] - Memórias e Vida - O "Grupo dos 80", Anais do Clube Militar Naval, Vol. CLII, julho-dezembro 2022, p. 483-500