Tradição Mistérica do Egipto Antigo

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TRADIÇÃO MISTÉRICA DO EGIPTO ANTIGO

Prólogo

A Grande Pirâmide de Gizé é, actualmente, o monumento legado pela Antiguidade que mais causa admiração e assombro. De facto, essa construção maciça desafia a actual civilização humana, orgulhosa do seu enorme tecnicismo, gerando um indisfarçável mal-estar, pois a engenharia de construção civil sabe que não é capaz, pelo menos, de fazer uma réplica. Isto é subentender a confissão de que o Antigo Construtor, desconhecido, possuía uma tecnologia tal que ainda não foi ultrapassada. Só a História Oficial ainda teima em assumir afirmações que tocam a infantilidade. Para este ramo da Ciência, o complexo de Gizé foi construído pela humanidadeneolítica porque não havia outra. Contudo, o mistério permanece pelo que a resposta mais honesta é simplesmente: não sabemos.

O monumento impõe-se, não só por si mas também pelo local em que foi construído.

Os serviços de cartografia da Força Aérea dos Estados Unidos elaboraram uma projecção (Fig. 1) tendo como centro a Grande Pirâmide de Gizé e verificaram que ela está precisamente no centro do sistema geográfico dos continentes terrestres envolvidos pelos grandes mares. Esta constatação trouxe insuspeitos problemas históricos, entre os quais o facto de que os antigos construtores da Pirâmide conheciam a Antártida, continente localizado no Pólo Sul, debaixo de uma grossa crosta de gelo e descoberto em 1818 EC. Se assim não fosse, o centro geográfico do mundo teria de estar noutro local.

Do ponto de vista Esotérico, estas espantosas descobertas científicas recentes são de um valor incalculável. Na verdade, constituem revelações conducentes à resolução de muitos Mistérios, o que era impossível antes da Era de Aquário (iniciada em 1948 EC).

O Esoterismo egípcio possuía também o correspondente Exoterismo.

Heródoto, o pai da História mas não um iniciado, informou-se junto dos sacerdotes egípcios, estes, porém, confiaram-lhe apenas anedotas e contos populares. Platão teve mais sorte; no entanto, talvez intencionalmente, a sua Atlântida estendeu-se apenas a umas ilhas situadas a meio do oceano Atlântico e não à América Central, embora ele refira um verdadeiro continente para lá da Atlântida.

Os egípcios vulgares personificavam todas as forças da natureza. É certo que o vulgo adorava todas as formas e figuras que lhe eram apresentadas pelo lado exotérico da Tradição Mistérica. Porém, as pessoas instruídas no lado Esotérico, sobretudo os iniciados e os sacerdotes, não caíam nestes erros grosseiros.

Entre as forças adoradas pelo vulgo, a primeira era a força solar. Por isso, rendiam- -lhe culto sob diversos nomes que correspondiam a diversos atributos:

¾      RA, o Sol em si mesmo, que não era permitido ser invocado por todos, excepto aos sacerdotes.

¾      AMON, o Sol de cada dia, aquele que se esconde e manifesta os renascimentos contínuos depois do ocaso.

¾      ATEN, o disco solar, o círculo sem começo nem fim.

Havia também Shou e Hor.

Vinham em seguida as divindades da terra, da noite e da água.

O nome de Amon-Ra significa Ra – o Sol; Amon – oculto, isto é o esplendor que se dissimula aos nossos olhos. É o Deus verdadeiro e que, por isso mesmo, não é alcançado pelos nossos sentidos, nem no domínio da nossa inteligência vulgar. É o Mistério que se oculta simbolicamente no Sol e que, semelhante a este astro, é ao mesmo tempo benéfico e devorador, dando a vida mas também a morte.

Mas a morte não existe neste pensamento do divino. Ela não é senão um meio útil ao perpétuo renovamento da vida no mundo natural.

Na concepção esotérica egípcia, os princípios vitais iam do Sol à Terra para, depois, subirem da Terra ao Sol. Cada Alma (Vida)que desce começa uma existência; e esta existência será seguida de uma morte que reconduzirá a criatura ao seu criador. Mas se ela for encontrada impura, conforme um julgamento justo, precisará descer ainda.

Esta viagem, quantas vezes recomeçará?

As enganadoras aparências da credulidade vulgar, mergulhadas no lado exotérico da Tradição Mistérica, deixaram crer aos espíritos de dedução fácil de todos os tempos que a alma imaterial migra do Sol natural, centro do sistema planetário, para a Terra e daqui, após uma penosa purificação, regressa ao ponto de origem.

Aqui, como em toda a parte e em todas as épocas, o Esoterismo escapava aos espíritos incultos e simples que não queriam ter senão práticas formais seguidas de divertidas festas, sem procurar o sentido que lhes era justificada e cuidadosamente ocultado numa gnose a que os sacerdotes chamavam Luz Oculta.

Levantando um pouco o véu do Mistério, diremos que Ra é um Sol sobrenatural de que o nosso Sol natural é apenas símbolo. Esse Sol (Ra) está oculto (Amon) no Paraíso, sendo para aqui que subiam as almas dos justos após a Morte Gloriosa.

E qual seria a sorte dos que morriam naturalmente de morte biológica? Esta pergunta tinha resposta na Alquimia, a ciência que tratava dos mistérios da vida no contexto natural da biosfera, de onde podemos, hoje, extrair a firme esperança de que renasceremos sempre neste mundo até que possamos ser dignos da morte gloriosa e regressarmos à Unidade Divina.

Estes conhecimentos, na exclusiva posse dos sacerdotes, foram depois desvirtuados ao longo da História do Egipto, cumprindo-se a profecia contida no Asclepius: «Ó Egipto! Egipto! Dos teus cultos apenas restarão fábulas e os teus filhos, mais tarde, nem nelas acreditarão».

Finalizamos este prólogo com o apelo de Hermes Trismegisto, sempre actual:

«Para onde correis, homens ébrios? Bebestes o vinho da ignorância e, não podendo suportá-lo, já o rejeitais. Tornai-vos sóbrios e abri os olhos do vosso coração, senão todos, ao menos aqueles que puderdes. O flagelo da ignorância inunda a terra, corrompe a alma encerrada no corpo e a impede de entrar no porto da salvação.

»Não vos deixeis levar pela corrente; voltai, se puderdes, ao porto de salvação! Procurai um piloto para vos conduzir às portas da Gnose, onde brilha a luz admirável, livrando das trevas, onde ninguém se embriaga, onde todos são sóbrios e volvem os olhos do coração para Aquele que quer ser contemplado, o inaudito, o inefável, invisível aos olhos, visível à inteligência e ao coração».

O Egipto Antigo

O nome EGIPTO provém do grego Aiguptos que, por sua vez, provém de Hat-Ka-Ptah, designação de um grande templo que existia em Mênfis, onde foi cultivado o Hermetismo no tempo dos gregos. Assim, simplificando, Egipto significa Templo de Ptah, centro principal da ciência egípcia codificada por Toth (Hermes), construído e consagrado ao deus PTAH.

Esse Grande Templo de Ptah já existiria no tempo de Abraão, pois foi em Mênfis que o primeiro patriarca Hebraico compareceu perante Faraó por causa de Sara, mulher de Abraão. Já nesta época remota toda a região geográfica do Baixo Egipto, com capital em Mênfis, tinha como referência Hat-Ka-Ptah.

Os historiadores debatem-se com a História do Antigo Egipto. As zonas obscuras são ainda muito extensas e diversificadas devido às persistentes lacunas da documentação literária e arqueológica. Geralmente, divide-se essa História em dez grandes períodos, onde rivalizam duas cronologias:

Períodos e Dinastias

Cronologia curta

(oficial)

Cronologia longa

(marginal)

Como se vê, a discordância é gritante. Achamos que a "Cronologia Curta" (oficial) é demasiado curta. A História dita oficial optou pelo bom-senso: não se aventurou a recuar mais o início da civilização egípcia porque diminuiria o campo de manobra do Neolítico em que não haveria tempo suficiente para os egípcios adquirirem a tecnologia de construção dos monumentos de Gizé. Quanto à "Cronologia Longa", achamos que é demasiado longa; os seus defensores não se preocupam com a "bagatela" de Gizé e põem um povo dos primórdios do Neolítico a construir a Grande Pirâmide.

 

O Panteão Egípcio

O Egipto teve muitos deuses, tantos como as tribos que se iam formando. O seu sentimento religioso, de uma tolerância evidente, fez que se apropriassem de divindades e mais divindades. E estes deuses, como se fossem humanos expostos às mudanças da vida, passavam de poderosos a esquecidos ou o contrário, segundo a sorte da tribo a que tivessem pertencido inicialmente.

Tudo isto, ligado à longa história que o Antigo Egipto viveu com múltiplos acontecimentos, favoráveis uns e desfavoráveis outros, faz que nos pareça a religião das cidades do Egipto algo realmente acabrunhante e tão complexo que só muito dificilmente se compreenderá tal barafunda de deuses.

Francfort, Wilson e Jacobsen disseram na sua obra «Antecipações de Filosofia»:

«Pode avaliar-se até que ponto era complexa a religião do Egipto através do facto de terem sido identificadas duas mil deidades.

«Antes de o Egipto chegar a ser um estado unificado, no princípio da sua primeira dinastia (cerca de 3.200 AEC, na cronologia oficial), no vale do Nilo havia numerosas tribos independentes, cada uma com a sua divindade particular.

Depois da unificação realizada pelo rei Menés, que inicia a época dos construtores das pirâmides (2.780 a 2.100 AEC, na opinião oficial) o deus nacional foi a divindade solar.

«Rá, cujo culto se fixou e centralizou em Heliópolis, ou cidade do sol, não longe de Mênfis. Depois, quando uma família tebana ocupou o poder, Amon, deus de Tebas, substituiu Rá, o que não significa terem sido abolidas as deidades locais veneradas. Pelo contrário, formou-se com elas uma complicada trama hierárquica, decerto tão confusa para o povo como o é hoje para nós.

«No Reino Médio (2.100 a 1.700 AEC), Osíris foi a divindade que ascendeu ao primeiro plano, onde se manteve até à época romana.»

Esta relação esquematizada dos deuses, apresentada pelos três citados autores, serve para explicar a complicada mistura dos deuses efectuada pelos egípcios. Mas convém assinalar que não se sabe ao certo se o que nós consideramos como deuses, especialmente nos primeiros tempos, ou seja, nos da unificação do Egipto, o eram de facto ou apenas símbolos dos deuses. Parece que os egípcios, no princípio da monarquia faraónica, adoraram um só deus mas separando os seus diferentes atributos.

A maior dificuldade actual no estudo das mitologias antigas, incluindo as do Egipto, advém do conflito entre conceitos de Deus. Podemos estabelecer três grandes grupos conceptuais:

¾    Deísmo – Crença numa divindade imanente no Universo e que não se revela aos seres criados.

¾    Teísmo – Crença numa divindade pessoal transcendente ao Universo, mas que se revela aos seres criados.

¾   Ateísmo – É o mais simples e despreocupante dos conceitos: Deus não existe. Por isso, também não nos preocuparemos com este terceiro grupo.

Relativamente aos dois primeiros, interessa considerar a sua irredutabilidade mútua. Ou se é Deísta ou se é Teísta. Não simultaneamente as duas coisas.

Acontece que o pensamento do Antigo Egipto só é atingível assumindo os dois conceitos em simultâneo, fazendo-os funcionar articuladamente, pois era assim que os antigos egípcios faziam. Portanto, Deísmo e Teísmo constituem um conjunto harmonioso, porque é pela sua parte teísta que Deus actua na Terra de forma transcendente e se revela de forma pessoal, o que é atestado nas exposições platónicas sobre o Demiurgo.

O Esoterismo (Tradição Mistérica) foi implementado depois do Dilúvio. No sistema cronológico lítico, o Dilúvio Mundial separou o Mesolítico do Paleolítico. O Conhecimento (Gnose) passou a ser Misterioso. O Egipto foi herdeiro da Tradição Esotérica, guardião do Conhecimento e matriz da Nação Hebraica.

O Egipto Antigo legou-nos a parte exotérica da Tradição Mistérica e mesmo esta de forma muito confusa. É essencial fazer a comparação sistemática da História Esotérica disseminada nas diversas tradições a fim de enquadrarmos devidamente o Antigo Egipto, quer na História, quer no Tempo.

 

O Tempo Primordial (Zep Tepi)

O panteão egípcio é constituído pelas seguintes deidades fundamentais, em torno das quais giram todas as narrações mitológicas:

¾     PTAH – O Construtor. Primeiro Grande Deus da Criação e tutelar do Egipto.

¾     RA (filho de Ptah) – 1.º faraó divino.

¾     SHU – 2.º faraó divino.

¾     TEFNUT

¾     GEB (filho de Shu) – 3.º faraó divino.

¾     NUT – deusa do firmamento ou abóbada celeste.

¾     OSÍRIS – 4.º faraó divino.

¾     ÍSIS (irmã e esposa de Osíris e mãe de Horus).

¾     NEPFTYS (irmã de Ísis e esposa de Seth).

¾     SETH (irmão de Osíris) – Inimigo e opositor de Osíris. Deus do Mal.

¾     HORUS 5.º faraó divino

¾     TOTH – 6.º (ou 7.º?) faraó divino.

 

Segundo a tradição mistérica do Antigo Egipto, os primeiros faraós não eram homens mas deuses.

Essa tradição afirmava que, em tempos imemoriais, os «deuses do Céu» vieram do disco celeste até à Terra. Foi uma época dourada durante a qual as águas do abismo retrocederam, a escuridão primordial foi expelida e à humanidade, que avançou para aLuz, foi oferecida os dons da civilização.

Havia também intermediários entre os deuses e os homens ¾ os UR.SHU, uma categoria de divindades menores cujo título significava «os observadores» (ou «os vigilantes»).

A tradição preservou recordações particularmente vivas dos próprios deuses, seres poderosos e belos, chamados NETERU, que viviam na Terra com a humanidade e exerciam a sua soberania em Heliópolis e noutros santuários, nos vários pontos do Nilo.

Alguns desses Neteru eram machos e outros fêmeas, mas todos possuíam um conjunto de poderes sobrenaturais que incluíam a capacidade de aparecer quando queriam, como homens ou mulheres (antropomorfismo), ou como animais (pássaros, répteis) (zoomorfismo) ou plantas (árvores) (vegetomorfismo). Desconcertadamente, as suas palavras e actos parecem ser o reflexo de paixões e preocupações humanas. Do mesmo modo, apesar de serem representados como mais fortes e mais inteligentes do que os seres humanos, acreditava-se que podiam adoecer ¾ ou mesmo morrer ou serem mortos ¾ sob certas circunstâncias.

As tradições do Antigo Egipto afirmavam que em tempos imemoriais, antes do Tempo Primordial (Zep Tepi), os «deuses do Céu vieram do Globo Celeste (Paraíso hebraico) até à Terra».

PTAH distinguiu-se dentre esses antiquíssimos deuses. Foi «um poderoso deus que desceu à Terra em tempos remotos». Quando o Egipto foi inundado pelas águas (Glaciação IV), Ptah veio e literalmente fê-lo emergir das águas e da lama, construindo barragens no Nilo e edificando diques e todo o género de trabalhos hidráulicos; por isso foi dado ao Egipto também o nome de "terra elevada".

Ptah, o Construtor, era tido por um grande cientista, um magistral engenheiro e arquitecto, o artífice chefe dos deuses que até era capaz de criar e modelar o Homem. O seu bastão era frequentemente representado como uma vara graduada, semelhante à que é actualmente utilizada pelos agrimensores.

Ptah construiu a primeira cidade santa, a que deu o nome de AN em honra do deus dos Céus (a cidade bíblica de ON a que os gregos chamavam Heliópolis). Aí investiu o seu próprio filho Ra (assim chamado em honra do Globo Celeste) como o primeiro soberano divino do Egipto.

Posteriormente, Ptah retirou-se para o Sul onde podia continuar a controlar as águas do Nilo graças a comportas instaladas numa caverna secreta situada na primeira catarata do Nilo, onde hoje se encontra a barragem de Assuão.

Devemos adiantar, desde já, algumas notas sobre este grande deus que encabeça o panteão egípcio. Ptah já existia antes de Zep Tepi, o Tempo Primordial. É ele que faz a ligação entre o anterior Ciclo Precessional ao actual, chamado ZODÍACO (21.813 AEC a 4.108 EC). Está, portanto, ligado à Era de CAPRICÓRNIO, a que corresponde o 1.º Dia Criativo do Génesis.

Posteriormente a Ptah, segundo a teologia de Heliópolis, os nove deuses originais que apareceram (nasceram) no Egipto no Tempo Primordial (Zep Tepi) foram:

¾      RÁ (filho de Ptah)

¾      SHU

¾      TEFNUT

¾      GEB

¾      NUT (esposa de Rá)

¾      OSÍRIS

¾      ÍSIS (esposa de Osíris)

¾      NEPHTYS (irmã de Ísis)

¾      SETH (irmão de Osíris)

Os descendentes destas divindades incluíram figuras bem conhecidas como HÓRUS e ANUBIS.

Outras companhias de deuses foram reconhecidas, nomeadamente em Mênfis e Hermópolis, onde havia cultos importantes e muito antigos dedicados a PTAH (Mênfis) e TOTH (HER.MÉS) (Hermópolis).

RA, 1.º faraó divino, era filho de Ptah. Acredita-se que Ra, «um grande deus do Céu e da Terra», tenha sido o primeiro rei do Tempo Primordial.

No princípio, afirmavam os teólogos de Heliópolis, existia o Oceano tenebroso, o Caos primordial, um Caos denominado Num ou Nu. Nesse Caos tinha Amon a sua residência. Era ele o deus que ia criar o mundo. Assim, pois, quando ainda não havia céu, nem terra, nem plantas, nem animais, apareceu Amon sob a forma de sol (Rá). Daí o dar-se ao primeiro deus egípcio o nome de Amon-Rá, Rá-Amon, ou apenas Rá.

Parece, no entanto, entender-se que Rá (o Sol) era a expressão de um deus incorpóreo que representava a noite da não existência sob o nome de Amon. Isto torna- -se totalmente evidente desde que os sacerdotes de Heliópolis descrevem a essência do seu deus máximo pela boca do próprio Rá:

«Eu (Rá) sou o que fez o Céu e a Terra; o que levantou as montanhas (as terras habitáveis) e criou quanto há por cima delas. Eu sou quem fez a água (chuva) e criou o grande abismo (mares). Eu sou quem criou o firmamento e o cobriu de horizonte a horizonte e colocou dentro dele a alma dos deuses. Eu sou o que, se abrir os olhos, produzo a luz, e, se os fechar, produzo as trevas; o que faz subir as águas do Nilo até onde lho assinalar; eu sou aquele cujo nome não conhecem os deuses. Eu sou o que faz as horas e dá vida aos deuses; o que envia as festas do ano e produz as inundações. Eu sou o que faz surgir a chuva da vida a fim de permitir os trabalhos dos campos. Eu sou Kropi de manhã, Rá ao meio-dia, Amon ao anoitecer.»

Portanto, Rá, tal como Kropi e Amon, não eram deuses em si mas sim expressões de um deus único e incorpóreo, um deus que se acha simbolizado pela luz do sol (Rá) ao meio-dia; que, com o nome de Amon, se considerava regressar ao caos todas as noites; e que, já sob o nome de Kropi, renascia todas as manhãs.

Kropi significa "escaravelho". Para os egípcios, o escaravelho era o símbolo do renascimento, da ressurreição. Daí o porem um desses animais dentro de cada ataúde, sobre o coração da múmia, como garantia de voltar à vida.

Ra mandou construir um santuário especial em An (ou On/Heliópolis) onde foi guardado o ben.ben, um «objecto secreto» no qual, segundo a tradição, Ra descera dos Céus.

Mitos antigos afirmam que Rá foi vigoroso, reinou de forma científica. Mas o passar do tempo teve os seus efeitos, sendo representado no final do seu reinado como um velho enrugado que tropeçava, com a boca a tremer e babando-se constantemente. Dividiu o reino entre os deuses Osíris e Seth, mas a partilha entre os dois irmãos divinos não deu bom resultado e Seth procurou por todos os meios derrubar e matar o seu irmão Osíris.

SHU, 2.º faraó divino, sucedeu a Ra, como rei na Terra, mas o seu reinado foi perturbado por conspirações e conflitos. Apesar de ter subjugado os seus inimigos, no final estava tão consumido pela doença que mesmo os seus seguidores mais fiéis se revoltaram contra ele: «Cansado de governar, Shu abdicou a favor de seu filho Geb e refugiou-se nos Céus após uma tempestade terrível que durou nove dias…».

GEB, 3.º faraó divino, filho de Shu. Geb assumiu o trono de seu pai, como se esperava. O seu reinado também foi conturbado.

Alguns dos textos que descrevem o que sucedeu, reflectem o misterioso idioma dos Textos da Pirâmides em que um vocabulário não técnico parece debater-se com complexas imagens técnicas e científicas. Por exemplo, uma tradição notável fala de uma "caixa dourada" em que Ra tinha depositado vários objectos, descritos como:

¾     a sua "bengala" ou bastão,

¾     uma mecha do seu cabelo,

¾     e o seu uraeus, uma serpente naja empinada com o capelo aberto, feita de ouro, que era usada no ornato real para a cabeça.

Essa caixa, juntamente com os seus conteúdos estranhos, constituía um talismã poderoso e perigoso, por isso, ficou encerrada numa fortaleza na "fronteira oriental" do Egipto durante muitos anos depois da ascensão de Ra aos Céus.

Quando Geb subiu ao trono, ordenou que a caixa lhe fosse levada e aberta na sua presença. No momento em que a caixa foi aberta, um raio de fogo, descrito como o «fôlego da divina serpente», saiu dela, atingiu mortalmente todos os companheiros de Geb e queimou gravemente o próprio deus-rei.

NUT, deusa do firmamento ou abóbada celeste.

OSÍRIS, 4.º faraó divino. Nos Textos das Pirâmides, é considerado "o grande deus" e foi o quarto faraó divino do Egipto. Osíris «cujo nome se tornou Sah (Oríon), cuja perna é comprida e o passo longo, o Governante da terra do sul...»

Lemos no Livro dos Mortos dos egípcios que o domicílio de Osíris «ficava sobre a água» e tinha paredes feitas de «serpentes vivas».

Ocasionalmente referido nos Textos das Pirâmides como um neb tem ou «senhor universal», Osíris é representado como humano mas também sobre-humano, o ser que sofre mas que também dá ordens. Exprime o seu dualismo essencial ao governar no céu (enquanto constelação de Oríon) e na terra como um rei entre os homens. A sua maneira de agir é subtil e misteriosa. É excepcionalmente alto e é apresentado a usar a barba enrolada da divindade. Apesar de ter poderes sobrenaturais ao seu dispor, evita o uso da força sempre que possível. É-lhe atribuída a abolição do canibalismo e o ensino da agricultura aos egípcios, em particular o cultivo de trigo e cevada, e a arte de modelar instrumentos agrícolas. Os mitos dizem que tinha uma inclinação especial por vinhos de excelente qualidade, pelo que fez questão de «ensinar à humanidade a cultura da vinha, bem como o modo de colher as uvas e armazenar o vinho...»

Além dos dons da qualidade de vida que levou aos seus súbditos, Osíris ajudou a que deixassem «as suas maneiras desprezíveis e selvagens» fornecendo-lhes um código de leis e inaugurando o culto dos deuses no Egipto.

Quando pôs tudo em ordem, entregou o controlo do reino a Ísis, sua irmã e esposa, deixou o Egipto durante muitos anos e viajou pelo mundo com a intenção exclusiva, segundo foi dito por Diodoro Sículo:

«de visitar toda a terra habitada e ensinar à raça dos homens como cultivar a vinha e semear trigo e cevada; porque supôs que se fizesse com que os homens desistissem da selvajaria e adoptassem um tipo de vida desenvolvido, ele receberia honras dos mortais, devido à magnitude das suas obras beneficentes...»

 Osíris viajou primeiro para a Etiópia, onde ensinou a agricultura e a lavoura aos caçadores primitivos que encontrou. Também levou a cabo várias obras de engenharia e hidráulica de grande escala:

«Construiu canais, com comportas e reguladores... fez subir as margens dos rios e tomou precauções para impedir que o Nilo transbordasse...»

Depois dirigiu-se para a Arábia e daí para a Índia, onde fundou muitas cidades.

Continuando para a Trácia, matou um rei selvagem por ter recusado adoptar o seu sistema de governo. Isto não fazia parte do seu carácter; em geral, Osíris era recordado pelos egípcios por «não ter forçado nenhum homem a levar a cabo as suas instruções. Mas, por meio de persuasão moderada e apelo à sua razão, conseguia induzi-los a praticar o que proclamava. Muitos dos seus conselhos sábios foram comunicados aos seus ouvintes por meio de hinos e canções, que eram cantados com o acompanhamento de instrumentos musicais.»

Depois de ter completado a sua missão universal para fazer com que os homens «desistissem da selvajaria», Osíris regressou ao Egipto. Passado pouco tempo do seu regresso, e depois de várias tentativas fracassadas, Seth, servindo-se de um subterfúgio, convenceu um dia Osíris a meter-se dentro de um caixão que ele prontamente fechou e lançou à água. Isís, irmã e esposa de Osíris, conseguiu encontrar o caixão, que dera à costa onde é o actual Líbano. Escondeu Osíris enquanto foi pedir auxílio a outros deuses que o podiam fazer regressar à vida; mas Seth descobriu o corpo e cortou-o em pedaços que espalhou por toda a região.

Auxiliada por sua irmã Néftis, Ísis conseguiu reunir todos os pedaços, excepto os órgãos genitais, e reconstruiu o corpo mutilado de Osíris, restituindo-lhe a vida. Ainda assim, Ísis engravidou de Osíris.

Depois da ressurreição e através dela, Osíris obteve vida eterna na constelação de Oríon como todo-poderoso deus dos mortos, continuando a viver no outro mundo, entre os demais deuses celestes, julgando as almas.

Osíris dominou a religião e a cultura do Antigo Egipto durante todo o período da sua história que nos é conhecido, fornecendo um exemplo moral de governo responsável e benevolente. Os textos sagrados referem-se a ele nos seguintes termos:

«Ele entrou pelos portões secretos

Na glória dos senhores da eternidade,

Ao lado daquele que brilha no horizonte,

Na companhia de Rá».

Existem paralelismos surpreendentes entre Osíris e Viracocha (Andes) e Quetzalcoatl (América Central).

No Egipto Médio, Osíris, juntamente com Ísis e Horus, foi a divindade que ascendeu ao primeiro plano, onde se manteve até à época romana.

ÍSIS, irmã e esposa de Osíris e mãe de Hórus. Assemelha-se a uma cientista de laboratório. Segundo o Papiro de Chester Beatty no Museu Britânico, era «uma mulher inteligente... mais inteligente do que muitos deuses... Sabia de tudo no Céu e na Terra». Famosa pelo seu uso de feitiçaria e magia.

Ísis era recordada pelos antigos egípcios como «forte na língua», ou seja, especializada em palavras poderosas «que conhecia com a pronúncia correcta e não hesitando em falar, sendo perfeita tanto a dar a ordem como a pronunciar a palavra».

O Antigo Egipto possuía várias lendas. Mas nenhuma teve tão grande influência nas crenças dessa antiga civilização como a de Osíris e Ísis, dado que até passou a ser a causa e base das práticas de embalsamamento e da segura fé numa vida nova depois da morte.

Segundo a lenda, Osíris e Ísis eram filhos de Amon-Rá. Osíris casou com a sua irmã Ísis. Depois, sucedeu a seu pai no reinado do mundo, um reinado venturoso, pois tornou os homens felizes ao ensinar-lhes o bem e a virtude.

NEPHTYS, irmã de Ísis e esposa de Seth.

SETH, irmão de Osíris a quem muito invejava. É o deus do mal.

Seth matou Osíris, esquartejou-o e espalhou os pedaços do seu corpo pelo Egipto (segundo outros comentaristas, arrojou-os ao mar). Ísis, com busca paciente e laboriosa, conseguiu encontrar todas as partes do corpo do irmão e esposo. Juntou-as e, com a ajuda do deus-chacal Anúbis refez o corpo (por esse motivo, Anúbis passou a ser o deus do embalsamamento).

Seth é o deus do mal, correspondente ao Ariman de Zoroastro.

HÓRUS, 5.º faraó divino, filho de Osíris e de Ísis.

Quando Hórus nasceu, Ísis, sua mãe, escondeu-o nos canaviais do Nilo a fim de o manter fora do alcance de Seth; mas a criança foi mordida por um escorpião (alusão à correspondente era zodiacal) e morreu. Sua mãe pediu imediatamente auxílio a Toth, um deus que detinha poderes mágicos e que se encontrava nos Céus. Toth desceu à Terra sem demora, a bordo da «barca dos anos astronómicos» de Ra e ajudou a restituir a vida a Hórus.

Tendo alcançado a idade adulta, Horus lançou a Seth um desafio pela posse do trono. A luta foi renhida e os deuses perseguiram-se mutuamente através dos céus. Hórus atacou Seth a partir de um nar, um termo que no Próximo Oriente significa "pilar flamejante". As ilustrações da era pré-dinástica representavam esse nar ou "pilar flamejante" como um objecto cilíndrico com uma cauda em funil e uma antepara que cuspia raios. Na proa, o nar tinha dois "olhos" que, segundo as lendas egípcias, passavam do azul ao vermelho.

No decorrer da luta, que durou vários dias, registaram-se variadas peripécias. A partir do nar, Hórus disparou sobre Seth um "arpão" especialmente concebido para o efeito e Seth perdeu os testículos, o que o enfureceu ainda mais. Durante a última batalha, travada na península do Sinai, Seth atingiu Hórus com um "jacto de fogo" e Hórus perdeu um "olho".

Os grandes deuses ordenaram a suspensão das hostilidades e reuniram-se para deliberar. Após um acalorado debate, o senhor da Terra decidiu entregar o Egipto a Hórus, declarando que ele era o legítimo herdeiro na linha de sucessão de Rá a Osíris. A partir daí, Hórus, o quinto faraó divino, passou a ser geralmente representado como um falcão, enquanto Seth era mostrado (pejorativamente) como uma divindade asiática, simbolizada pelo asno, o animal de carga dos nómadas.

A ascensão de Hórus ao trono unificado dos dois países (Alto e Baixo Egipto) foi apontada durante toda a história do Antigo Egipto como o momento em que a monarquia ficou indissoluvelmente ligada à divindade, pois todos os faraós humanos eram considerados sucessores de Hórus e ocupantes do trono de Osíris.

 Depois da morte de Hórus reinaram os Shemsu-Hor (seguidores de Hórus) até à instalação de um governo humano no Egipto, cerca de 3.200 AEC, em que um homem chamado Menés ascendeu ao trono de um Egipto reunificado. Iniciou-se aqui o Egipto Faraónico.

Foi nessa altura que os deuses concederam ao Egipto a Civilização e aquilo a que hoje chamamos Religião.

A monarquia, inaugurada por Menés, prevaleceu durante 26 dinastias de Faraós, até ao domínio persa em 525 AEC e, depois, sob a dominação grega e romana (quando reinou a célebre Cleópatra, última Faraó do Egipto).

TOTH, 6.º (ou 7.º ?) faraó divino. Também conhecido por Her-Més, entre os gregos. Não é membro do grupo de nove deuses originais de Heliópolis (On). É reconhecido no Papiro de Turim e noutros registos antigos, como o sexto (ou, por vezes, como osétimo) faraó divino do Egipto. Frequentemente representado nas paredes de templos e túmulos como uma íbis ou um homem com cabeça de íbis. O seu reinado foi exercido obviamente sob o supervisionamento dos Shemsu-Hor.

Toth era venerado como sendo a força organizadora responsável por todos os cálculos e anotações celestes, como o senhor e multiplicador do tempo, o inventor do tempo e o patrono da magia. Era associado à astronomia, matemática, agrimensura e geometria, e era descrito como «aquele que calcula no céu, o contador das estrelas e o medidor da terra». Também era visto como uma divindade que conhecia todos os mistérios de «tudo o que está oculto sob a abóbada celeste» e que tem a capacidade de fornecer a sabedoria a indivíduos escolhidos. Dizia-se que tinha inscrito o seu saber em livros secretos e que os tinha escondido na terra de forma que fossem procurados por gerações futuras mas encontrados «apenas pelos merecedores» que haveriam de usar as suas descobertas para benefício da humanidade.

Aquilo que ressalta mais claramente a respeito de Toth, para além das suas credenciais como um cientista antigo, é o seu papel como benfeitor e civilizador. A esse respeito, assemelha-se ao seu antecessor Osíris.

 

A História Esotérica como um Legado Fabuloso

O sucesso da lenda de Osíris – Ísis – Hórus, a famosa trindade do Antigo Egipto, evidencia-se no facto de que a vida egípcia, a partir de então, passou a basear-se nela.

Os corpos dos mortos deviam ser embalsamados como o de Ósiris para poderem renascer na outra vida em que, segundo parece, os egípcios começaram a acreditar a partir do momento em que aceitaram Osíris como deus dos mortos. Por outro lado, tal como Osíris e Ísis, sendo irmãos, se casaram, também os faraós, depois, se casavam com as irmãs, sendo este o único matrimónio incestuoso que se permitia.

Segundo a lenda, foi na cidade de Abidos que Ísis encontrou a cabeça de Osíris. Por este motivo, todos os anos se realizava uma grande peregrinação a essa cidade onde, com profusão de ritos, se reproduziam a morte, o esquartejamento, a recomposição e o enterro de Osíris.

Os egípcios viveram para a morte.

Do Antigo Egipto, além dos templos, só nos ficaram praticamente os monumentos funerários, como essas pirâmides assombrosas que nada mais eram do que túmulos grandiosos... e, às vezes nem sequer para pessoas, mas para animais (sagrados, é claro).

A obsessão da morte acompanhava em vida todo o Egipto.

A importância que os egípcios davam à morte está explicada através do «Livro dos Mortos», escrito em papiro, nos habituais caracteres hieroglíficos, que foi encontrado nos túmulos reais de Tebas.

O «Livro dos Mortos» revela-nos a crença egípcia numa segunda vida, alegre ou penosa, conforme o resultado do julgamento a que a alma do morto devia sujeitar-se na Sala da Dupla Maat, isto é, da Justiça e da Verdade, nos domínios de Osíris, onde havia uma balança. Num dos pratos colocava-se o coração do morto, que representava a sua consciência. Anúbis, a um lado da balança, vigiava o fiel, e o deus Toth assistia como escriba para tomar nota do resultado.

No outro prato da balança colocava-se uma pena, emblema da Verdade e da Justiça. O fiel devia igualar o peso do coração ao da pena, dando o peso exacto da Justiça e da Verdade. Sendo favorável o resultado, o morto pedia a Osíris que o tornasse imortal, à semelhança deste deus, e que lhe desse um «corpo espiritual», com o que já podia vestir a túnica da celeste felicidade, uma felicidade extraterrena, que os egípcios representavam nos seus baixos-relevos por uma vasta planície profusamente sulcada de plácidos riachos.

Também se encontrava na sala Amit, o Devorador dos mortos, monstro triforme, disposto a comer o coração se ele se mostrasse excessivamente pesado.

Todavia, não são muitos os documentos encontrados que nos dêem uma clara visão de como era o céu que os egípcios esperavam achar, depois da morte, e menos ainda de quais eram os tormentos a padecer no seu inferno.

Os egípcios não embalsamavam os corpos dos seus mortos por acreditarem numa ressurreição da carne, como vulgarmente se afirma, mas por crerem que o "sahu", ou corpo espiritual, tinha de germinar no cadáver embalsamado.

Não podia, portanto, haver bem-aventurança no céu dos espíritos se o espírito do morto não pudesse brotar do seu próprio corpo.

Mas... quem são os deuses do passado remoto? Esses deuses sobre cuja memória se estruturaram as mais estranhas teologias e os mais desconcertantes rituais?

Haverá uma História Esotérica por descobrir?

É dramático constatar que nenhuma religião deu resposta racional a estas perguntas.

O Cientismo, enquanto sistema de pensamento, inclui uma das mais conceituadas filosofias modernas que liquida sem piedade a hipótese de existência de qualquer deus. Chama-se "Evolucionismo": concepção filosófica que explica a formação e o desenvolvimento do mundo físico e das espécies vivas, da consciência e da sociedade humana, por um processo de evolução contínua e que tem por base a teoria que defende a existência de uma evolução das espécies mais simples para as mais complexas ao longo dos períodos geológicos.

O Evolucionismo, dizem os evolucionistas, não tem qualquer necessidade de um Deus Criador. Mas os evolucionistas ainda não se aperceberam da tremenda armadilha que esta filosofia lhes reserva. O Evolucionismo é o melhor, talvez o verdadeiro, caminho para chegar aos deuses que, no seu conjunto, formam Deus num conceito de Deus-        -Pessoa que é transcendente a este mundo e ao Universo que se supunha conhecer na Antiguidade.

Quais são os limites da evolução?

Até onde é que uma espécie muitíssimo evoluída pode chegar?

O que é que a evolução vai deduzir do Homem, supostamente um produto desta Terra em que habita?

Teilhard de Chardin, religioso, filósofo e cientista (combinação rara num só ser humano), foi quem melhor procurou reconciliar a Ciência com a Religião. Ele expôs uma tese sobre a Criação na qual Deus (o Deus dos cristãos, obviamente) emprega o processo evolutivo. Relativamente à solução que entendia o cristianismo oferecer, escreveu:

«No centro, e de tal modo aparente que nos desconcerta, a afirmação intransigente de um Deus pessoal: Deus-Providência que conduz o Universo com solicitude, e Deus-Revelador, que se comunica ao Homem no plano e pelas vias da inteligência.

...

»Criar, completar e purificar o Mundo, já o lemos em S. Paulo e em S. João, é, para Deus, unificá-lo unindo-o organicamente a si próprio. Ora, como o unifica ele? Imergindo-se parcialmente nas coisas, fazendo-se "elemento", e depois, graças a este ponto de apoio achado no âmago da Matéria, tomando a direcção e pondo-se à cabeça do que chamamos agora Evolução. Princípio de vitalidade universal.

...

»E então, como diz S. Paulo, "já não haverá senão Deus, todo em todos". Forma superior de "panteísmo", na verdade, sem vestígio empeçonhado de mescla nem de aniquilamento. Expectativa de unidade perfeita, na qual cada elemento, porque nele mergulha, encontrará, ao mesmo tempo que o Universo, a sua consumação.

»O Universo a completar-se numa síntese de centros, em perfeita conformidade com as leis da União. Deus, Centro dos centros. Nesta visão culmina o dogma cristão.

»Tão exactamente e tão perfeitamente o ponto Ómega que, sem dúvida, jamais eu teria ousado encarar ou formular racionalmente a sua hipótese se, na minha consciência de crente, não houvesse encontrado não só o seu modelo especulativo, mas também a sua realidade viva.»

Chardin confundiu Deísmo com Teísmo (ou vice-versa); Deus-Universo (que não se revela, evolutivo e aceite pela ciência) com Deus-Pessoa (que se revela, criativo e repudiado pela ciência, mas dogmático para a religião). As premissas estão correctas, mas os planos de acção foram trocados. Apesar disso, é ainda ele que nos dá a chave para a solução do mistério que envolve a verdadeira, real e racional identidade do Deus-Pessoa (os deuses), ao escrever:

«Sob a tensão crescente do Espírito à superfície do Globo, podemos antes de mais perguntar-nos seriamente se a Vida não chegará um dia a forçar habilmente as barreiras da sua prisão terrestre, quer descobrindo o meio de invadir outros astros inabitados, quer, acontecimento ainda mais vertiginoso, estabelecendo uma ligação psíquica com outros focos de consciência através do espaço. O encontro e a mútua fecundação de duas Noosferas... Suposição que, à primeira vista, pode parecer insensata, mas que, afinal de contas, mais não faz do que estender ao Psíquico uma escala de grandeza cuja validade em relação à Matéria ninguém pensa já em contestar. A Consciência a construir-se finalmente por síntese de unidades planetárias. E porque não, num Universo em que a unidade astral é a galáxia?»

Esta visão futurista de Teilhard de Chardin foi, de facto, vertiginosa para a época (1948). A Igreja Católica repudiou-a veementemente. Actualmente, o Tecnicismo humano é de tal envergadura que já ultrapassa os céus (pois assim era chamada a antiga abóbada celeste que limitava o Universo dos ignorantes, pois era onde parecia estarem incrustadas as estrelas). O empreendimento espacial mostra-se gigantesco e complexo. Disso já se aperceberam bem os actuais técnicos da conquista do Espaço, e ainda o homem mal transpôs a fronteira da sua própria atmosfera. O que não será seguir para lá da fronteira do sistema solar?

A verificar-se a hipótese de Chardin, como se chamarão esses seres no futuro, filhos da humanidade, e de que modo estarão eles socialmente organizados? Serão ainda homens e mulheres? Quais serão os seus códigos morais a que terão de obedecer rigorosamente? Pertencerão ainda à espécie humana? Ou serão algum tipo de espécie divina? E, finalmente, que seres irão encontrar no Espaço a quem Chardin chama "focos de consciência"?

Há ainda outra hipótese, que nos escapa totalmente, muito mais vertiginosa: Não terá ocorrido neste planeta, em tempos remotos, «... o encontro e a mútua fecundação de duas Noosferas», utilizando a expressão de Teilhard de Chardin?

Quem são, afinal, os deuses de que se ocupam todas as religiões do mundo, sem excepção?

Chegou o momento de analisarmos as suas actividades, confusamente descritas nos registos da Tradição Mistérica do Antigo Egipto.

As divindades do Tempo Primordial eram todas, de uma forma ou outra, deuses da Criação que tinham dado forma ao Caos Primordial através da sua vontade divina. A partir desse Caos, formaram e povoaram a terra sagrada do Egipto onde, durante muitosmilhares de anos, governaram entre os homens como faraós divinos.

Não confundir o Caos Primordial, a que se seguiu o Período Criativo, com o Caos Diluviano. A este respeito, o historiador Diodoro Cículo (Século I AEC) falou com os sacerdotes de Heliópolis que lhe apresentaram a sugestão de que o «caos» era uma cheia ou dilúvio destruidor da terra de Deucalião, o Noé grego, e que Diodoro queria identificar com o verdadeiro Caos de onde proveio a primeira geração de todos os seres vivos.

Eis o que Diodoro escreveu:

«Dizem que, se na cheia que ocorreu no tempo de Deucalião a maior parte dos seres vivos foi destruída, é provável que os habitantes do sul do Egipto tenham sobrevivido, mais do que quaisquer outros... Ou se, como alguns defendem, a destruição dos seres vivos foi completa e a terra produziu depois formas novas de animais, ainda assim, com base nessa suposição, a primeira geração de seres vivos é atribuída a esse país (ao Egipto)...»

Os actuais estudiosos incorrem no mesmo erro de Diodoro mas que, na ocasião, foi desfeito pelos sacerdotes de Heliópolis. Ele perguntou, então, porque é que o Egipto havia de ser tão abençoado? Foi-lhe dito que tinha a ver com a situação geográfica, com a grande exposição das regiões do sul ao calor do sol e com as chuvas muito abundantes: «Pois quando a humidade das chuvas abundantes que caiu entre outros povos se misturou com o intenso calor que vigora no Egipto... o ar ficou muito temperado para aprimeira geração de todos os seres vivos...»

Na parte final da última época glaciária (c. 16.000 a 10.000 AEC), quando milhões de quilómetros quadrados de glaciação estavam a derreter-se no norte da Europa, quando a elevação dos níveis do mar estavam a provocar cheias nas regiões costeiras por todo o globo e quando o enorme volume de humidade extra, libertado para a atmosfera através da evaporação dos campos de gelo, caiu em forma de chuva, o Egipto beneficiou durante vários milhares de anos de um clima excepcionalmente húmido e fértil.

Podemos, agora, perceber melhor de que modo esse clima pôde realmente ser recordado pelos sacerdotes de Heliópolis como «muito temperado para a primeira geração de todos os seres vivos».

Assim, é necessário formular as perguntas:

¾     Corresponderá o Tempo Primordial (Zep Tepi) aos 6 dias da Criação descrita nos Génesis?

¾     De quem é a informação acerca do passado que recebemos (por Tradição Mistérica) através de Diodoro?

¾     Será a descrição, aparentemente precisa, do clima luxuriante no final da última época glaciária uma coincidência?

¾  Será que nos está a ser transmitida uma lenda (tradicional) extremamente antiga, talvez uma recordação do Tempo Primordial?

Os registos históricos que os egípcios conservaram nos seus templos mais venerados incluíam listas completas de todos os reis do Egipto. Listas que mencionavam todos os faraós de todas as dinastias reconhecidos pelos arqueólogos e historiadores de hoje. Algumas dessas listas iam muito longe no passado, recuando para além do horizonte histórico da primeira dinastia, até às profundezas não delineadas de uma antiguidade muito remota.

Duas listas dessa categoria sobreviveram à destruição dos tempos e, tendo sido levadas do Egipto, estão agora conservadas em museus europeus. São conhecidas, respectivamente, por:

¾      Pedra de Palermo, elaborada na V dinastia (c. do século XXV AEC) e

¾      Papiro de Turim, documento de um templo da XIX dinastia, inscrito numa forma cursiva de hieróglifos conhecida por hierática, e datado do século XIII AEC.

Além disso, há o testemunho de um sacerdote de Heliópolis chamado Maneto que, no século III AEC, compilou uma história do Egipto, abrangente e muito respeitada, que fornecia listas completas de reis para todo o período dinástico. Esta história também recuava muito para falar de uma época distante quando os deuses tinham governado o Vale do Nilo. O texto completo de Maneto não chegou até nós, apesar de cópias da sua obra parecerem ter estado em circulação até ao século IX EC. Por feliz acaso, foram conservados fragmentos nos escritos do cronista judeu Flávio Josefo e autores cristãos como Africano (c. 300 EC), Eusébio (c. 340 EC) e Jorge Syncellus (c. 800 EC). Esses fragmentos, nas palavras do falecido Professor Michael Hoffman da Universidade da Carolina do Sul, fornecem a «estrutura para as perspectivas modernas do estudo do passado do Egipto». Porém, os egiptólogos não estão preparados para citar Maneto na sua totalidade mas unicamente como fonte para o que eles reconhecem como período histórico, isto é, dinástico, e repudiar as estranhas referências que fornece a respeito da pré-história quando fala da remota era dourada do tempo primordial. Com que lógica devemos confiar em Maneto num aspecto e desconfiar noutro? O facto de a cronologia para o período histórico ter sido provada pela arqueologia não permite pressupor que a sua cronologia pré-dinástica está errada ou é fictícia porque as escavações ainda não deram provas que a confirmassem.

Uma outra fonte histórica é o grande Heródoto, muito ilustre historiador grego, que viveu no século V AEC. Também ele esteve em contacto com sacerdotes egípcios em Heliópolis e conseguiu estar a par das lendas que falavam da presença de uma civilização desenvolvida no Vale do Nilo, numa época não especificada da antiguidade remota. Heródoto delineia essas lendas de um longo período pré-histórico da civilização egípcia no Livro II da sua «História». Ali, também nos transmite, sem comentários, um tesouro de informação que tinha tido origem nos sacerdotes de Heliópolis:

«Disseram que durante esse tempo houve quatro ocasiões em que o Sol nasceu fora do seu local habitual ¾ duas vezes nascendo onde agora se põe e duas vezes pondo-se onde agora nasce.»

De que trata este "Enigma de Heródoto"? Talvez ele não tivesse consciência do mistério esotérico que representava e o transmitiu de forma involuntária.

Segundo o matemático francês Schwaller de Lubicz, é uma referência velada e um pouco deturpada de um período de tempo que o Sol, ao nascer no equinócio da Primavera, leva a retroceder em relação às estrelas, através de um ciclo e meio completo do Zodíaco.

Expliquemos:

O sol equinocial permanece 2.160 anos em cada uma das 12 casas do Zodíaco, representadas pelas respectivas constelações. Um ciclo completo são 12 x 2.160 anos = 25.920 anos. Um ciclo e meio são 18 x 2.160 = 38.880 anos.

No tempo de Heródoto (século V AEC), o Sol no Equinócio da Primavera nascia com o fundo estelar de Carneiro (2.373 a 213 AEC), momento em que a Balança estava «no local oposto» onde o Sol se iria pôr doze horas mais tarde. Se recuarmos 6 casas, meio ciclo, no Zodíaco (6 x 2.160 = 12.960 anos) encontramos a configuração inversa: o Sol vernal nasce em Balança enquanto Carneiro está no local oposto do poente. Recuando mais 12.960 anos, a situação inverte-se uma vez mais, com o Sol vernal nascendo de novo em Carneiro e pondo-se em Balança. Isso leva-nos a 25.920 anos antes de Heródoto. Se recuarmos mais 12.960 anos, outra metade de um ciclo precessional, a 38.880 anos antes de Heródoto, o nascer do Sol vernal regressa a Balança e Carneiro está de novo no local oposto.

Isto indica que os sacerdotes informadores do historiador grego teriam acesso a registos precisos do movimento precessional da Terra, pelo menos, desde 40.000 anos AEC. Ora, este facto constitui a marca inconfundível de uma Tradição Mistérica do Esoterismo egípcio o qual remonta a um passado muito longínquo.

Um estudo mais rigoroso revela-nos que a conclusão dos 38.880 anos é falsa, porque não previne a ilusão de que o Sol, nascendo na direcção de um signo, se porá na direcção do signo oposto. Na realidade, o Sol nasce e põe-se sempre na direcção de um determinado Signo, apenas com uma ligeiríssima diferença de ano para ano provocada pelo movimento de Precessão do eixo de rotação da Terra.

Pomponius Mela, um cartógrafo espanhol do século I AEC, cita um período de tempo de 13.000 anos durante o qual 330 reis governaram o Egipto. Ele repete a curiosa afirmação de Heródoto acrescentando que «os egípcios, de acordo com os seus próprios relatos, são os mais antigos dos homens» e que «desde o começo da raça egípcia que as estrelas completaram quatro revoluções». Esta última afirmação é muito bizarra, mas incrivelmente correcta, pois implica a realização de quatro ciclos precessionais ¾ um período de 4 x 25.920 = 103.680 anos! O que nos faz recuar para uma data quase próxima à do aparecimento do Homem de Neanderthal (c. 150.000 AEC).

O formidável mistério da antiguidade histórica do Egipto não se resolve por si mesmo. Ainda necessitamos de recorrer a outras fontes, extra egípcias, para podermos enquadrar devidamente a Tradição Mistérica que passou pelo Antigo Egipto e chegou até nós.

É preciso recuar muito no tempo até encontrarmos os primórdios daquilo que veio a ser a Tradição Mistérica.

Os babilónios também possuíam registos de tradições relativas aos reis que reinaram antes do Dilúvio. Conhecem-se várias listas babilónicas em que variam os nomes dos reis, no entanto o seu número é invariavelmente dez até ao Dilúvio.

Uma destas listas foi-nos transmitida pelo sacerdote e historiador babilónio Berossus (século III AEC):

Berossus quis informar-nos que pertencia à Tradição Mistérica Fundamental a qual usa o código numérico precessional; por isso, ele escolheu números, todos eles, divisíveis por 72. Este número (72) é uma chave de identificação e reconhecimento nas Tradições Egípcia e Hebraica, bem como em todas as Tradições Esotéricas do mundo.

A lista de Berossus, porém, não é a mais antiga dos reis antediluvianos. Pelo menos um milénio mais cedo, os sumérios gravaram uma lista deste género numa tábua de barro. Já nessa altura o número de reis antediluvianos era dez. Mas o que realmente nos espanta é o incrível número de anos que esses reis reinaram, quer individualmente quer em conjunto.

Em 1932, os sumeriologistas estavam atónitos, confusos e maravilhados. Havia sido encontrada uma Lista de Reis original em Khorsabad, uma cidade do Iraque próxima de Mosul no vale do Tigre. Quando o texto cuneiforme foi decifrado, lavrado nesse bloco de pedra com 20,5 centímetros de altura, começou o problema.

Em certo ponto do texto, aparece a seguinte afirmação:

«Quando a realeza desceu do Céu, a realeza estava em Eridu.»

O número total de reinado dos primeiros dez reis antediluvianos, desde a primeira descida, atinge a impressionante soma de 456.000 anos! O que nos leva para um passado tão remoto que quase atinge o começo da Era Glacial (c. 600.000 AEC) a qual estamos ainda a atravessar.

Que reis eram estes?

Era uma realeza de seres Divinos, informam os textos sumérios. Primeiramente, instalaram-se na Terra e, só muito posteriormente, é que criaram o Homem. Entretanto os deuses, segundo dizem os mitos sumérios, geraram descendência divina, ou seja, deuses que nasciam na Terra (Criação Divina) e que, depois, ascendiam aos Céus.

Depois do Dilúvio (5.133 AEC), que havia sido provocado pelos deuses, a realeza tornou a descer do Céu.

 

O Ritmo das Glaciações

O conjunto dos Mitos aponta, em termos cronológicos, para acontecimentos relevantes que ocorreram no 1.º Interglaciar (Günz/Mindel) entre 520.000 e 420.000 AEC, entre os quais se refere a primeira descida da realeza divina à Terra.

Esta circunstância exige que nos detenhamos um pouco no fenómeno das Glaciações as quais, segundo meticulosos estudos de Glaciólogos e Astrónomos, obedece a um ritmo proveniente da conjugação de complicados ciclos gerados pelos movimentos combinados da Terra em relação ao Sol. Na verdade, o nosso planeta tem os seguintes movimentos:

¾     Rotação em torno do seu próprio eixo;

¾     Translação ao redor do Sol;

¾     Precessão em que o eixo, inclinado relativamente ao plano de translação, descreve um movimento circular semelhante a um pião em perda de velocidade.

¾  A trajectória da Translação descreve uma elipse cuja amplitude também varia com o tempo: há períodos em que os círculos do Periélio e do Afélio estão tão afastados que a elipse de translação atinge o seu máximo alongamento. Pelo contrário, quando os círculos do Periélio e do Afélio estão muito próximos, a translação é quase um círculo perfeito.

É fatal que estas variações cíclicas têm como consequência alterações importantes na distribuição da energia solar na superfície terrestre ao longo das eras, provocando mudanças climáticas graves. Por isso, ocorrem períodos frios que originam as Glaciações, ou seja, o sistema hídrico do planeta fica, praticamente todo, gelado e paralisado. Nestas alturas ocorrem eventuais cataclismos provenientes de intensas actividades vulcânicas, nomeadamente quando os arrefecimentos e os aquecimentos são bruscos.

Os glaciólogos não são unânimes quanto à cronologia das glaciações. Este facto reflecte-se no trabalho dos Historiadores. Apresentamos dois exemplos, por ventura os mais díspares; um baseado nos autores Hans H. Hofstätter & Hannes Pixa que, em conjunto, escreveram "História Universal Comparada", e outro em Johannes Maringuer, autor de "Os Deuses do Homem Pré-Histórico", todos eles considerados grandes autoridades em História. 

Glaciações

Hofstätter & Pixa

Maringuer

 

Deste quadro, conclui-se (ver Esquema 1):

¾     Não há qualquer concordância relativamente às 1.ª e 2.ª glaciações.

¾     A 3.ª glaciação concorda quase perfeitamente.

¾     A 4.ª glaciação concorda na parte final.

Ora, a Glaciologia moderna reúne consenso no sentido de que as glaciações obedecem a fenómenos cíclicos regulares, mas a sua cadência ainda não foi rigorosamente encontrada porque os registos naturais apresentam-se muito complicados na análise.

Pela nossa parte, decidimos especular a partir dos mitos. Assim, considerando o ano de 21.813 AEC como auge da 4.ª glaciação – WÜRM, apuramos que para idênticas condições na 3.ª glaciação – RISS aparece um intervalo de tempo que coincide com sete vezes um ciclo precessional de 25.920 anos (7 x 25.920 = 181.440). À primeira vista, isto parece um tanto rebuscado. No entanto, dado que o Esoterismo exibe uma floresta de setes, usemos esta cadência rumo ao passado remoto:

¾     203.253 AEC – 3.ª Glaciação – RISS.

¾     384.693 AEC – 2.ª Glaciação – MINDEL, dentro da estimativa de Hofstätter & Pixa.

¾     566.133 AEC – 1.ª Glaciação – GÜNZ, dentro da estimativa de Maringuer.

Agora, especulando em termos de futuro, usando a mesma cadência, o auge da 5.ª glaciação ocorrerá em 159.628 EC.

Desta forma, obtemos o total de 725.760 anos repartidos por 28 ciclos precessionais (7 x 4) que na tradição hebraica se chamam eternides.

Obtemos o mesmo valor de anos multiplicando 103.680 (quatro revoluções das estrelas) por sete.

Sete é o número da perfeição divina e quatro é o número dos quatro elementos terrestres – Terra – Água – Ar – Fogo.

Se esta especulação estiver correcta, o que terá de ser demonstrado, o ciclo precessional (eternidade) em que ainda estamos, o ZODÍACO, será o 22.º (ver Esquema 2).

O Cabalismo também pode ser uma preciosa ajuda neste estudo. Os cabalistas foram muito influenciados pelos gnósticos (e estes pela Tradição Mistérica do Antigo Egipto) e imaginavam o Criador, o Homem e o Universo como um sistema de dez esferas dinâmicas. Porque 10 era o número da primeira letra do Tetragrammaton (IHVH), o nome de Deus revelado a Moisés na Era de Carneiro, o 10.º Signo do Zodíaco. 10 era também a base do sistema numérico e, por isso, o número a partir do qual todos os outros eram criados. Este sistema de esferas é apresentado na forma de um diagrama (ver Fig. 2), conhecido pela Árvore da Vida, no qual as esferas estão ligadas por 22 caminhos, equivalentes às 22 letras do alfabeto hebreu. O Arcano Maior do Tarot cabalístico é composto por 22cartas.

Ora, é justamente este número 22 que nos interessa. É certo que, no Cabalismo, o alfabeto hebraico tem 22 letras, mas podia ter mais; com efeito, há quem afirme que são 27. Observando o diagrama da Árvore da Vida (Fig. 2), constatamos os 22 caminhos entre as 10 esferas, mas também se podia traçar mais caminhos. Neste diagrama, o Zodíaco está claramente evocado nas primeiras 6esferas que definem a estrela de seis pontas (Fig. 3). Semelhantemente, o Arcano Maior poderia ter um número diferente de 22 cartas.

Talvez o número 22 queira referir o ciclo precessional em que ainda vivemos, pois ele é o 22.º no sistema proposto das 28 eternidades.

O ÉDEN

O nome Éden surge abruptamente em Gen 2: 8. Um jardim foi plantado da banda do oriente do Éden. Em nenhuma parte da Bíblia encontramos a mais leve explicação directa do que seria o Éden. Logo, o conhecimento deste tema terá de ser obtido pelo processo indirecto, analisando os mais amplos e variados contextos.

Existe actualmente uma confusão espantosa em torno de palavras como Éden, Jardim do Éden, Paraíso e Jardim do Paraíso. Surpreendentemente, é ao Cientismo que iremos solicitar as melhores bases para sustentar a Especulatividade como sistema de pensamento sobre as teses esotéricas. Mais surpreendente ainda é descobrir que o Tecnicismo viabiliza as mais ousadas especulações.

A Glaciologia é uma moderna disciplina que faz parte do Cientismo; juntamente com a Geologia, disciplina um pouco mais velha, fornecem-nos um quadro muito preciso da história da Terra.

Dois conceituados historiadores, já mencionados, Hans Hofstätter e Hannes Pixa, em conjunto, escreveram «História Universal Comparada». Baseamo-nos nesta obra para resumir o que se oferece sobre a chamada Idade dos Gelos.

O Pleistoceno abrange um período de cerca de um milhão de anos contendo uma época pré-glaciária de 400.000 anos, e quatro épocas glaciárias (glaciações) e três intervalos ou épocas quentes (interglaciações), a Idade dos Gelos, que atingiu agora a duração de 600.000 anos.

As oscilações climáticas do Quaternário fazem-se sentir em toda a Terra. Durante as glaciações, os glaciares da alta montanha adquirem rapidamente grande volume e extensão; acumulam-se em bacias, deslizam para as bases montanhosas e as suas línguas unem-se até formar gigantescos rios de gelo. Desde que começou a Idade dos Gelos, cerca de 600.000 AEC, os glaciares transbordaram quatro vezes das altas montanhas e invadiram as planícies, retirando-se noutras tantas ocasiões. O último recuo ainda subsiste, ameaçando aumentar o nível do mar.

Como vestígio da sua passagem, as antigas glaciações deixaram moreias, rochas aborregadas e estriados. Os glaciares erráticos dos períodos glaciários imprimiram a sua marca nas terras sobre cuja superfície alastraram. Todos eles arrastaram consigo formidáveis pedras e rios de rocha que formaram cadeias montanhosas durante os degelos. A acumulação de água, depois de cada degelo, origina lagos e caminhos fluviais que alimentam impetuosamente as bacias oceânicas.

Nas épocas intermédias (interglaciares) temperam-se tanto que os campos de glaciares se retiram a grande velocidade.

Ainda não terminou a pesquisa acerca das glaciações nem se encontrou uma explicação concludente para o aparecimento do fenómeno glaciário. Pesquisas recentes demonstraram que os arrefecimentos e aquecimentos do clima podem ser, nalguns casos, acompanhados de actividades vulcânicas intensas e muito destrutivas.

Em suma, durante as glaciações a natureza deixa de ser amena para a vida e torna-se agreste, desagradável e mesmo mortífera.

O engrossamento dos glaciares, onde se acumula e comprime a neve de muitos Invernos, faz com que desça o nível dos mares. Nestas condições, ficam a descoberto as pontes de terra que ligam a Ásia e a América do Norte, a Ásia e a Austrália, a América do Sul e a Antártida. 

Nesta Idade dos Gelos, são as épocas quentes (interglaciações) que nos interessam porque é nelas que se desenvolve a ideia de ÉDEN.

A palavra ÉDEN provém do Hebraico ¾ édhen ¾ e significa apenas "amenidade". Este simples conceito estendeu-se para a ideia de paraíso terreno ou lugar de delícias.

A palavra PARAÍSO também se revestiu de equívocos; provém do Persa antigo (Avestan) ¾ pairi-daezae ¾ significando "circunvalação", "parque murado", "recinto circular": pairi (à volta de, em círculo) + daezae (muro, recinto murado); portanto, trata -se de um espaço, circular ou esférico, fechado por um muro ou parede que o veda e protege. É a Caverna de Brahman referida pelo Hiduísmo. Certas tradições simbolizam o Paraíso com uma maçã que representamos em corte vertical (Fig. 4). Trata-se da Maçã Dourada.

Qualquer lugar na natureza que ofereça "amenidade" é Éden.

Astronomicamente, o planeta Terra ocupa uma órbita em torno do Sol considerada amena para suportar a vida. Os restantes planetas do sistema solar parecem ser hostis à vida, sobretudo no que respeita a um ecossistema complexo semelhante ao terrestre.

O Paraíso é algo mais complicado e, nos textos sagrados que o referem, não parece estar na Terra mas sim nos Céus, mais precisamente, no Cosmos, sendo a recompensa suprema oferecida aos eleitos espirituais. Contudo, por mera comparação, aceita-se que hajam lugares paradisíacos na Terra. O que veio a confundir Éden's com Paraísos.

Voltando ao Éden, tentaremos compreender melhor do que se tratava.

Recordemos que nos registos sacerdotais do Antigo Egipto se refere a actividade dos faraós divinos remontando a, pelo menos, 40.000 anos antes da primeira dinastia de faraós humanos, o que nos faz recuar a uma data cerca de 44.000 AEC.

Baseando-nos na «História Universal Comparada», já referida, apresentamos o seguinte extracto:

«Entre 60.000 e 50.000 AEC, extingue-se o homem de Neanderthal; surge o Homo Sapiens, arquétipo humano dos nossos dias, cujo aparecimento se pode associar ao começo da arte.

«Este novo tipo humano apresenta-se simultaneamente na Europa, Ásia e África; não se conseguiu determinar com segurança qual foi o seu continente de origem, apesar de se supor que este homem emigrou do Oriente para a Europa, nem quecircunstâncias peculiares rodearam o seu aparecimento. Desde os começos da sua existência, distinguem-se vários especímenes nos quais já se perfilam as diferenciações raciais ulteriores.»

Seguindo o princípio dos próprios historiadores de que um facto histórico só pode ser aceite como tal se estiverem presentes os três elementos fundamentais que o caracterizam ¾ o quê? onde? e quando? ¾ apenas temos "o quando", na citação acima, e mesmo este na sua forma conjectural. Logo, não temos factos históricos mas sim especulação histórica sobre as origens do Homo Sapiens (Cro-Magnon).

O Esquema 3 sintetiza sinopticamente os dilemas da Antropogénese e o futuro do Homem. Aqui estão as três únicas opções de pensamento sobre as nossas origens: Terra – Céus – Mistério. O Mistério não será propriamente uma opção mas sim a via reservada ao Esoterismo, aquela que poderá conduzir ao Geracionismo, isto é, que somos descendentes directos dos deuses mas sem direitos divinos.

Foi no período quente, logo a seguir ao fim da glaciação Riss, Interglaciação RISS/WÜRM, que apareceu o Homem Primitivo, representado na Europa pelo Neanderthal (150.000 a 35.000 AEC). Sucumbiu à mudança do clima, em que a amenidade da natureza desapareceu. Não resistiu ao avanço da 4.ª Glaciação.

O Homo Sapiens, representado na Europa pelo Cro-Magnon (50.000 a 10.000 AEC). Aparece na Terra numa altura em que já estava em franco início a 4.ª Glaciação (Würm), tendo-lhe resistido até ao seu fim. Pode-se dizer que o Cro-Magnon é a espécie da Glaciação. Porque resistiu ele enquanto o outro morreu?

A partir do início da última Era Glacial (c. 50.000 AEC) espalharam-se simultaneamente pelo planeta Terra as 4 raças fundamentais (Fig. 5):

¾      Branca, na Europa;

¾      Negra, na África;

¾      Amarela, na Ásia; e

¾      Vermelha, na América.

Esta simultaneidade constitui para a Ciência um problema de muito difícil solução, excepto para as mentalidades infantis ou mal intencionadas, já que a glaciação criou condições extremamente adversas aos movimentos migratórios humanos de extensa amplitude.

A Terra não era propriamente uma amenidade (ÉDEN) durante a Glaciação. No entanto, todas estas raças se adaptaram admiravelmente aos respectivos Habitats. Este facto adensa ainda mais o mistério que é o aparecimento dos nossos directos antepassados humanos, tendo em consideração todas as raças e sub-raças agora existentes. O conceito de "amenidade" tem de ser generalizado, integrando igualmente o acolhimento que a Mãe Terra ofereceu a uma espécie pensante sobre a qual o Cientismo, representado pela História, admite desconhecer as origens e as causas, independentemente do ritmo alternado dos períodos quentes e frios.

A Terra, toda a Terra, na sua forma esférica observada do Espaço, dando acolhimento ao Homo ou Antropos, é o ÉDEN.

Éden's são os planetas que adquirem amenidade para sustentar a vida complexa, nomeadamente vida inteligente.

A superfície do planeta Terra é um Éden.

Os restantes planetas do sistema solar não são Éden's porque neles não há vida, seja vegetal ou animal, sendo planetas hostis à vida; não possuem amenidade (édhen).

No Universo, são Éden's todos os planetas que albergam (e só enquanto albergam) vida inteligente. O que supõe perceber que certos planetas, em determinada altura das suas existências, passam a merecer a designação de Éden's e, depois, quando entram em colapso final, deixam de ser Éden's e passam a ser Infernos onde toda a vida perece. Excepto aqueles que escapam, subindo aos Céus. É sobre este Mistério Terrível que o Grande Mito se ocupa. E diz claramente que as almas antropomórficas desceram para este planeta. No Ocultismo, é a descida da Mónada. Com esta descida, iniciou-se um processo, longo de muitos milhares de anos, subjacente à História Esotérica.

Mas esse processo foi interrompido por um tremendo Cataclismo relacionado com o desequilíbrio das águas.

 

O Caos Primordial e o Acto Criativo

Durante a glaciação WÜRM, um arrefecimento brusco, registado pela Glaciologia, ocorrido entre 22.000 e 21.000 AEC provocou uma actividade sísmica e vulcânica de magnitude tal que foi particularmente gravosa para o planeta. A atmosfera terrestre foi invadida por colossais nuvens de poeira vulcânica que impediram a luz solar de chegar até ao solo. A humidade atmosférica aumentou ainda mais devido à evaporação de água nos oceanos. A vida na Terra ficou seriamente ameaçada. O Caos instalou-se. Os deuses intervieram para lhe dar ordem. Assim começou o acto criativo.

Este Caos Primordial ainda faz parte da memória ancestral e colectiva dos povos da Terra, transparecendo nos seus antigos mitos, alguns destes registados em pedra, placas de barro ou simplesmente fazendo parte da celebração dos seus mistérios tradicionais no que diz respeito à actividade criativa dos respectivos deuses.

O Caos ameaçava o estatuto de Éden da Terra, o qual foi devolvido pelo acto criativo divino.

Neste estudo, não é possível descrever ao pormenor o que foi esse fantástico período criativo, repartido por seis Dias no Génesis. É um trabalho que pretendemos desenvolver posteriormente.

De momento, apenas nos interessa identificar "o Rio que saía do Éden para regar o Jardim" (Gen 2: 10). Porque é aqui que está uma das maiores chaves para abrir os Mistérios da Criação.

«E saía um rio do Éden para regar o jardim;

»E dali se dividia

»E se tornava em quatro braços.

»O nome do primeiro é Pishon: este é o que rodeia toda a terra de Hávila, onde há ouro. E o ouro dessa terra é bom: ali há o bdélio e a pedra sardónica.

»E o nome do segundo rio é Gion: este é o que rodeia toda a terra de Cush (Etiópia).

»E o nome do terceiro rio é Hidequel (Tigre): Este é o que vai para a banda do oriente da Assíria.

»E o quarto rio é o Eufrates».

A divisão do rio que saía do Éden é absurda. Supondo que seria um rio literal, o seu caudal, a partir da nascente, dividiu-se em quatro rios distintos, cada um deles com uma foz independente. São nomeados quatro rios, mas o nome do rio original foi oculto.

Em termos hidrográficos, este sistema fluvial é impossível. O normal é várias nascentes alimentarem afluentes de um rio principal cuja foz é comum a todo o sistema fluvial considerado, desaguando num lago ou num mar. Por conseguinte, a descrição dos rios do Éden é incongruente, referindo o curso desses rios ao contrário. Muitos especialistas já escreveram acerca deste mistério, porém, nenhum concluiu convincentemente.

A narrativa é parcialmente simbólica. Quatro rios são reais e estão identificados, enquanto o rio original terá de ser outra coisa diferente, pelo que estamos em presença de uma metáfora.

Analisando a parte literal, constatamos que dos quatro rios mencionados apenas um tem o nome igual ao rio actualmente conhecido: o Eufrates. Quanto ao rio Hidequel, não há dúvida em identificá-lo com o actual Tigre, o qual passava na parte oriental da antiga Assíria. Todavia, estes dois rios têm nascentes independentes e uma foz comum no Golfo Pérsico. Se outrora tinham uma nascente comum, tal circunstância não é verificável pela geologia.

Os outros dois rios, Pishon e Gion, são mais difíceis de identificar. Considerando as regiões percorridas por esses rios, a dificuldade desaparece. Assim, a terra de Hávila situava-se a sul do actual Egipto e Cush era a actual região da Etiópia. Portanto, Pishon corresponde ao actual Nilo/Nilo Branco e Gion ao Nilo Azul. Ambos se juntam em Cartum. Um outro pormenor revelador é a referência ao "bdélio" que havia na terra de Hávila, por onde passava o Pishon. O bdélio era uma goma resinosa muito empregue na medicina e que também poderia estar associado a outros produtos empregues no embalsamamento. Estes dois rios têm as respectivas nascentes muito afastadas, mas a foz é comum no Delta que, por sua vez, mergulha no mar Mediterrâneo.

Concluímos, sem dúvida, que o rio que saía do Éden é simbólico. Com efeito, o sentido figurado de "rio" pode indicar algo que corre como um rio, em grande quantidade ou abundância. Ora, é justamente este sentido figurado que muitas vezes encontramos nos textos sagrados.

O rio do Éden (passemos a chama-lo assim) dividia-se em pleno Jardim, aonde foi colocado o homem que Deus criou. A área geográfica do Jardim incluía os quatro rios identificados, logo a Mesopotâmia e o Vale do Nilo, zonas onde se desenvolveram as maiores civilizações da Antiguidade. A Arqueologia moderna já estabeleceu que havia um eixo civilizacional que ligava a Mesopotâmia ao Egipto. Também já se descobriu que Gizé é o centro geográfico do sistema continental terrestre (Fig. 5). A linha recta horizontal é, na realidade, um círculo terrestre em diagonal que se projecta (sai) na Esfera Armilar a qual representa a Esfera Celeste. O Meridiano que passa por Gizé divide a superfície da Terra, o Éden, em dois hemisférios: Oriental (banda do oriente) e Ocidental (banda do ocidente), bem como os Céus Oriental e Ocidental (Figs. 6, 7 e 8).

Agora, é fácil de entender:

«E plantou Adonai Elohim um Jardim no Éden, da banda do oriente: e pôs ali o homem que tinha formado».

E também se percebe porque razão o homem continuou no Éden mesmo depois de ter sido expulso do Jardim:

«E saiu Caím de diante da face do Senhor, e habitou na terra de Nod (Irão), da banda do oriente do Éden».

O Jardim do Éden era franqueado através de Gizé. Um enorme Leão esculpido na pedra, depois transformado em Esfinge, dirigia o seu olhar majestático no preciso sentido da armila diagonal da Esfera Armilar e não no sentido do paralelo 30º Norte segundo querem certos "esoteristas".

O Círculo Diagonal da Esfera Armilar representa, em suma, o Rio do Éden para regar o Jardim. Rio em sentido figurado, porque do Éden procedia (saía) tudo o que era colocado no Jardim.

É um facto fácil de verificar que o Círculo Diagonal Armilar, unindo-se ao paralelo 30º Norte em Gizé, passa exactamente por cima da Amazónia, o pulmão da Terra, e pelos poderosos afluentes do Rio Amazonas que, em conjunto, formam um sistema hídrico que é o maior manancial do mundo. Acreditamos que foi o manancial amazónico, correndo na direcção de Gizé, mas desaguando no Atlântico obviamente, que inspirou os deuses criadores.

O complexo de Gizé foi um grande centro de operações durante o Período Criativo, designado pelos sacerdotes do Antigo Egipto como Tempo Primordial ou Zep Tepi. Este centro tinha a sua contrapartida nos complexos erigidos na América Central, por onde também passava, na parte sul como vimos, o Rio do Éden.

Presentemente, podemos, com toda a propriedade, considerar Gizé o centro de referência universal do Esoterismo.

Duas grandes movimentações de água ocorreram depois do Caos Primordial:

¾     O Grande e Rápido Degelo;

¾     O Dilúvio Universal.

A primeira consistiu no fenómeno natural em que o derretimento acelerado do Glaciar fez despenhar nos mares grandes enxurradas de água arrastando enormes crostas fracturadas de gelo. O nível dos oceanos subiu com estrondo, fustigando as orlas marítimas. Platão obteve informações a este respeito por intermédio dos sacerdotes de Säis, no Delta, que o inspiraram para descrever a incrível destruição da Atlâtida. Tudo isto aconteceu cerca de 10.000 AEC, dando início ao Mesolítico, quando os deuses, divididos em partidos, entraram em grave conflito acerca do domínio sobre a obra criada. O domínio foi dado ao Homem, macho e fêmea, sendo o Leão designado como símbolo do poder real. Decorria o 6.º Dia Criativo, a Era Zodiacal de LEÃO. Os Shemsu-Hor reinavam no Egipto, mas já era uma estirpe divina em decadência. Platão emoldurou-os na sua Atlântida e disse a seu respeito:

«Durante muitas gerações, enquanto a natureza do deus se manifestou suficientemente neles, obedeceram às leis e ficaram ligados ao princípio divino com o qual estavam aparentados (...)

» (...) Mas quando a porção divina que estava neles se alterou pela frequente mistura com um elemento mortal considerável, e o carácter humano predominou, incapazes desde então de suportarem a prosperidade, comportaram-se indecentemente, (...)

» Então, o deus dos deuses, Zeus (JuPiter romano, IaHoVaH hebraico), que reina segundo as leis e que pode discernir estas espécies de coisas, apercebendo-se da desgraçada condição duma raça que fora virtuosa, resolveu castigá-los para torná-los mais moderados e mais sábios. Para esse efeito, reuniu todos os deuses na sua morada, a mais preciosa, a que, situada no centro de todo o universo, vê tudo o que participa na geração e, tendo-os reunido, disse-lhes: ...» (o Crítias, de Platão, acaba com estas palavras).

O que Zeus disse é um mistério. Talvez a pronúncia divina esteja num texto sagrado igualmente proveniente do Esoterismo egípcio, o Génesis, cujo legado foi confiado a Moisés:

«E disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra".

Seja como for, o decreto divino teve como consequência indirecta a chamada "queda do homem".

O Dilúvio Universal (5.133 AEC) não foi um fenómeno natural mas sim artificial. A explicação deste evento exige um estudo específico. Apenas há que reter que foi divinamente determinado «porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra». A destruição diluviana encerrou o Mesolítico e abriu a porta do inexplicável milagre que foi a chamada "Explosão Civilizacional" do Neolítico, cerca de 5.000 AEC.

O Dilúvio é um marco histórico dramático para a humanidade, porque foi com ele que a divindade suprema des-ligou os Céus da Terra e instituiu a re-ligação, ou seja, o sistema religioso com o objectivo de re-ligar a Humanidade à Divindade.

É a partir daqui que surge o contexto histórico em que se desenvolveu o Esoterismo no Antigo Egipto sendo este apenas depositário.

Na verdade, o Livro de Génesis oferece dois estilos narrativos e suas respectivas cronologias:

¾     Estilo Mitológico – Abrange todo o período criativo, incluindo o descanso divino, detendo-se no controverso casal Adão e Eva que tantas dores de cabeça tem dado aos teólogos e exegetas e que são epónimos de toda a humanidade que foi introduzida no Jardim do Éden, actividade esta simbolizada pelo Rio que saía do Éden para regar o Jardim. (21.813 a 6.693 AEC) (Fig. 9).

¾     Estilo Lendário – A partir de Adão e Eva, personagens de transição do 7.º Dia para o 8.º, até José, também personagem de transição mas do 8.º Dia para o 9.º e que teve o encargo de introduzir os hebreus no Egipto para Deus fazer deles uma nação. (6.693 a 4.533 AEC) (Fig. 9).

O nosso ponto de viragem é o Dilúvio que destruiu todas as civilizações que se desenvolveram depois da criação porque muito desagradaram a Deus. O processo teve de ser alterado e tudo começou de novo. O Esoterismo foi estruturado neste período e nele intervém a impressionante figura de Noé com quem Deus estabelece um pacto cujo sinal é "O Arco na Nuvem" (simbolismo complexo que não estudaremos aqui) do qual os descendentes de Noé, radicados na Mesopotâmia, foram depositários. Em UR dos caldeus, ao sul da Mesopotâmia, estava a família de Abrão, bem como seu pai, Tera, o chefe da casa. Esta família teve o encargo de definir um Eixo Civilizacional entre a Mesopotâmia e o Egipto. Entretanto, o seu trajecto é, no mínimo, surpreendente: de Ur caminharam paraHaran, cidade localizada no norte da Mesopotâmia. Porque razão não caminharam directamente para o Egipto?

Tal enigma parece ser solucionável se considerarmos que nesse mesmo tempo estava a ser definido um outro Eixo Civilizacional entre a Europa e a Índia, a chamada movimentação ariana, de que foi encarregado RAM (ou RAMA) que foi o fundador daquilo que veio a ser o Bramanismo.

É pura especulação se dissermos que houve um encontro entre AB.RAM e RAM. É apenas uma hipótese de trabalho.

Seja como for, Abrão chegou ao Egipto e o eixo Mesopotâmia/Egipto foi estabelecido, bem assim como a sua interligação ao eixo Europa/Índia (ou Indo-Europeu). Depois, Abrão fixa-se na terra de Canaan, a terra da promessa, como estrangeiro peregrino e o seu nome é mudado para AB.RA.AM (Abraão), tendo sido feito um pacto cujo sinal era a circum-cisão, óbvia alusão ao "Arco (círculo) na Nuvem".

Estes acontecimentos, sob a capa da lenda, ocorreram ainda na Era de Gémeos mas já se perspectivam os eventos futuros projectados sob os signos de Touro e Carneiro, sendo por isso que Jacob, neto de Abraão e irmão gémeo de Esaú, é encarregado de levar toda a sua família, os filhos de IS.RA.EL, para o Egipto porque Deus disse: «EU SOU (IHVH) Deus, o Deus de teu pai; não temas descer ao Egipto, porque eu te farei ali uma grande nação. E descerei contigo ao Egipto, e certamente te farei tornar a subir, ...».

Jacob, o gémeo, morre e com ele a Era de Gémeos, começando a Era de Touro. É nesta era que o Antigo Egipto emerge espectacularmente, como depositário central do Esoterismo e matriz da nação Hebraica ou Israel. O complexo de Gizé, irradia todo o seu esplendor no cimo do planalto, mas é uma área proibida, reservada aos deuses e seus sacerdotes. A Esfinge, remodelação do antigo Leão, impunha respeito e era como um aviso para que mais ninguém pensasse sequer em avançar.

A Era de Touro é misteriosa. Nada se sabe sobre o período que antecedeu a emergência do Antigo Império (c. 3.200 AEC). Existe a alusão a um Rei Escorpião (Skorpi.On). Escorpião é, no Zodíaco, o Signo oposto a Touro; portanto, pensamos haver aqui uma referência cronológica ao início da Era de Touro (4.533 AEC) a que a figura lendária de José, exercendo o cargo de Vice-Faraó, não é alheia. Com efeito, José introduz os seus irmãos no Egipto como pastores de vacas e ovelhas, o que era abominação para os egípcios, e assim eles iriam habitar na terra de Goshen, na parte oriental do Delta, também referida por terra de RAM.SÉS.

Mas José foi separado dos seus irmãos e possuía a glória do primogénito do seu BOI/TOURO. Mais uma vez o texto remete para o início da Era de Touro.

Separado dos seus irmãos, José detinha um enorme poder administrativo e comportava-se como Senhor do Egipto a cujas decisões o próprio faraó se submetia. Logo após a morte de Jacob, coincidente com o fim da Era de Gémeos, os irmãos de José temem retaliações da parte deste porque eles, segundo a lenda, o tinham vendido como escravo quando era moço. José, porém, anima-os dizendo: «Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, ...». O Dia a que ele se refere é o nono dia ou Era de Touro no Zodíaco.

Por outro lado, em Goshen, começa o processo de formação da nação Hebraica o qual durou toda a Era de Touro. Nem a História nem o Judaísmo aceitam tal perspectiva, o que é normal, nem isso nos deve preocupar. A História Esotérica foi codificada no tempo de Moisés e os seus elementos passaram a constituir peças de um imenso quebra cabeças, espalhadas pelo mundo inteiro, pelo que a trama esotérica transcende todos os limites de nações, religiões e filosofias.

Entre a morte de José (4.480 AEC), não obstante ser uma personagem lendária, e o nascimento de Moisés (1.913 AEC), pessoa histórica, decorreram 2.567 anos. Uma enormidade apenas excedida pela "Cronologia Longa" dos dissidentes da História Oficial.

Além disso, o facto de a gestação da nação Hebraica ter durado idêntico tempo também não é surpresa, porque esteve sempre confinada ao mesmo lugar e divinamente protegida: Goshen. Infinitamente pior foi a Diáspora dos judeus, sem pátria nem protecção, finalizada com o abominável Holocausto, e nem por isso a nação Judaica desapareceu.

Seja como for, o período das personagens lendárias da Tradição Hebraica, iniciado com Adão e Eva e terminado com José, durou a bonita soma de 2.309 anos.

Em 2.373 AEC findou a Era de Touro. A partir daqui, o Antigo Império Egípcio entrou rapidamente em declínio.

É claro que tudo isto está ainda por demonstrar. É um estudo muito interessante que esperamos fazer num futuro próximo.

 

O Deus dos deuses determinou a construção lítica do complexo de Gizé cujo Grande Leão de Pedra foi inaugurado em 10.473 AEC.

Foi nesta data que terminou o Tempo Primordial ¾ Zep-Tepi ¾ esse abençoado tempo de perfeição absoluta entre os deuses criadores, e começou o Furor, Clamor, Conflito, Tumulto, entre os deuses decaídos, motivado pela decisão do Deus dos deuses fazer o Homem à sua imagem, macho e fêmea, e lhe ter dado o domínio, simbolizado pelo Leão, sobre toda a obra criada.

 

Os Mistérios

O Antigo Egipto não estruturou nenhuma Tradição Mistérica, tendo-a recebido dos deuses como um legado de que não soube dar conta nem o transmitiu correctamente para o futuro. Por isso, os deuses supremos abandonaram o Antigo Egipto.

O legado da Tradição Esotérica egípcia passou directamente para a nação hebraica cuja matriz foi o Egipto pós diluviano. Por isso, para aceder aos Mistérios Esotéricos, é aos textos sagrados hebraicos e cristãos que temos de ir buscar a maior parte da autêntica Tradição Esotérica Fundamental. Depois, é ainda necessário investigar todos os outros textos sagrados, do mundo inteiro, passando pelo Alcorão, e proceder ao seu relacionamento sistemático com o que se passou no Egipto.

Os Mistérios estão disponíveis na sua forma enigmática e podem ser:

¾      Mistérios rituais;

¾      Mistérios gnósticos.

Relativamente aos mistérios gnósticos, esta temática tem a ver com a Gnose (Conhecimento). Por ser uma temática extremamente complexa e sensível, ainda não liberta de todos os fantasmas criados pela perseguição mortífera de que foi vítima, e também porque não é acessível a todas as mentes, nada iremos adiantar.

A Era actual de Aquário (desde 1.948 EC) alargou o horizonte do conhecimento dos Mistérios. É-nos permitido conhecer, agora, coisas proibidas ainda há pouco tempo atrás. Poderemos fazê-lo por meio do Sistema Especulativo, porque temos ao nosso dispor os seguintes pontos metodológicos ou possibilidades:

¾      Cruzamento de informação;

¾      Acesso a todas as temáticas;

¾      Cientismo;

¾      Tecnicismo;

¾      Possibilidade de separar o imaginário fantasista do imaginário realista.

A investigação actual dos mistérios tem de ter em conta o Cientismo e o Tecnicismo, porque estes contêm várias chaves para a explicação dos mistérios sem colidir com as leis da Física, da Química, da Biologia, da Astronomia, etc.

A paranormalidade também tem de ser estudada. Porque a divindade determinou, no processo que deu origem ao Dilúvio, que é através da paranormalidade que se manifesta e actua no mundo. Isto quer simplesmente dizer que as suas manifestações (teofanias) não são normais nem directas mas que actua no mundo secretamente.

Os mistérios supremos da Tradição Esotérica só agora podem ser revelados, isto é, durante a Era de Aquário. Porque só agora é que vamos tendo ao nosso alcance as chaves para traduzir os símbolos na sua linguagem real.

É estulto quem pretende fazer passar a mensagem de que possui segredos que lhe foram transmitidos tradicionalmente (eventualmente uma suposta Tradição Mistérica do Antigo Egipto), excepto se o foram na tradição ocultista, pois esta continua a transmitir "conhecimentos" estruturados há milénios atrás.

Lisostomo

Nota Final:

Este mesmo texto encontra-se em Anexo (PDF), com todas as figuras, e pronto para imprimir ou transferir (seta abaixo à direita).

Para estudiosos mais exigentes.