HEDONISMO
Por: José Curado
O hedonismo é uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer individual e imediato o supremo bem da vida humana. Surgiu na Grécia, na época pós-socrática, e um dos maiores defensores da doutrina foi Aristipo de Cirene.
O hedonismo moderno procura fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer entendida como felicidade para o maior número de pessoas.
Conceitos Básicos
É a tendência para buscar o prazer imediato, individual, no aqui e agora, como única e possível forma de senso moral, evitando tudo o que possa ser desagradável. A teoria socrática do bom e do útil, da prudência, etc, quando entendida pela índole voluptuosa de Aristipo, leva ao hedonismo, onde toda a bem-aventurança humana se resolve no prazer e no sentimento autista de felicidade.
A ideia básica que está por trás do hedonismo é que todas as acções podem ser medidas em relação ao prazer e a dor que produzem. Podemos dizer também, numa linguagem mais simples, que o hedonismo é a arte de ser, não a de ter, estruturando uma filosofia que conduza a um determinado estado mental ou de consciência. A arte de ser é a sabedoria ascética do despojamento: não se cobrir de honras, de dinheiro, de riquezas, de poder, de glória e outros falsos valores ou virtudes, mas preferir a liberdade, a autonomia, a independência em relação a sentimentos que são despoletados do exterior.
O hedonismo não é a mesma coisa que o consumismo, é exactamente o oposto. É o antídoto. O consumismo é o hedonismo liberal e capitalista que afirma ser a felicidade a posse de bens materiais independentemente da sua proveniência.
De Epicuro a Bentham
Perspectiva antiquíssima a que Epicuro dá nova formulação, quando admite os prazeres morais e não identifica a felicidade com o prazer imediato mas sim com um estado de consciência. Esta senda vai ser retomada pelo utilitarismo de Bentham, para quem há uma graduação da moral. A tese está intimamente ligada ao contratualismo (the greatest happiness to the greatest number is the foundation of morals and legislation), à ideia de que é possível a realização do máximo de utilidade com o mínimo de restrições pessoais, numa perspectiva que reduz o direito a uma simples moral do útil colectivo.
Valores
Libertando-se deste critério quantitativo da aritmética dos prazeres, Stuart Mill assume o critério da qualidade e formula a lei do interesse pessoal ou princípio hedonístico: cada indivíduo procura o bem e a riqueza e evita o mal e a miséria. Desta forma, a moral do interesse individual de Bentham aproxima-se de uma moral altruísta ou social. Mas as oportunidades podem não ser iguais para todos por força das vicissitudes da vida. Se o hedonista quiser ser solidário tem de se sentir infeliz com o infortúnio dos outros. Há valores sensíveis ou inferiores e valores espirituais ou superiores. Entre os primeiros, destacam-se os valores hedonistas (do agradável e do prazer que conduzem à felicidade), os úteis ou económicos, e os vitais ou da vida; entre os segundos referem-se os valores lógicos, estéticos, éticos e religiosos.
A palavra hedonista vem do grego, edone , que significa prazer. O hedonismo é uma doutrina que defende que o prazer é o meio correcto para atingir o objectivo supremo do homem, a felicidade, felicidade essa que tem como essência precisamente o prazer.
A moral, para o hedonista, deve ser ordenada segundo o modelo que é dado pela busca do prazer. É considerado moral tudo aquilo que dê prazer e imoral tudo o que faça sofrer. Esta doutrina resulta da observação de que todos os seres buscam o prazer e tentam escapar ao sofrimento. Mais do que viver em busca do prazer, ser hedonista é conseguir encontrar esse prazer nas mais pequenas coisas. É preciso gostar de gostar! O hedonismo, nos precisos termos de uma retórica própria, é um hino à vida, à felicidade e à beleza como finalidade da vida humana, uma forma geradora de mudanças, uma forma de sair de uma existência letárgica, monótona e não criadora. Incita-nos à busca da felicidade, não de uma felicidade comum, mas de uma felicidade criadora, uma felicidade que nos leve aos limites da nossa imaginação. Uma felicidade e um prazer que pressupõe uma preocupação com o outro, uma felicidade pessoal que implique a felicidade dos outros. Ser hedonista é buscar a beleza em todas as coisas, desde as grandes obras de arte à mais simples flor.
Mas a retórica raramente se coaduna com a realidade. É comum, hoje, muitas pessoas buscarem o poder de Deus para se sentirem bem ou com auto-estima. Buscam o poder dos céus (as chamadas energias cósmicas) para se sentirem poderosos na terra. Essa é uma falsa espiritualidade. Nesse fascínio do prazer e hedonismo espiritual, as pessoas optam por práticas estranhas às Escrituras Sagradas, como cantar “hinos” que parecem mais “mantras” gospel ou se refugiam em retiros chamados espirituais, onde as experiências novas e exóticas, por vezes de textura sexual, são valorizadas como um meio de comunhão com Deus. São "espiritualistas" que perderam a essência, pois trocaram o essencial da espiritualidade pelo secundário que é a materialidade.
Segundo o Materialismo, no ser humano só haveria o corpo físico. Até as funções superiores como a memória, o raciocínio, as emoções, os sentimentos poderiam ser reduzidos a simples reacções físico-químicas do sistema nervoso, do sangue, das glândulas endócrinas. O Universo seria formado por acaso e seria explicado dentro das leis das ciências exactas (Matemática, Física, Química, Astronomia etc.). Esta é a tese do Materialismo Filosófico, que não deve ser confundido com o Materialismo Pragmático e Hedonista adoptado por aquele que, embora se diga até mesmo espiritual, só quer mesmo gozar os prazeres da vida terrena, ser feliz, nem que seja em cima da miséria alheia, pois esta só pode ser encarada como fonte externa de infelicidade interna.
O hedonista actual é sobretudo autista: «Será frisado vezes sem conta, será divulgado vezes sem conta, será anunciado, escrito, profetizado, e aclamado, até SER devidamente reconhecido a MAGIA do eterno AGORA. A VIDA é AGORA. É no Agora, que Homem VIVE, é nele que a VIDA desperta, é no PRESENTE que o HOMEM reconhece o significado de estar VIVO, e com isso a Felicidade, de SER UM com a VIDA, a Felicidade não é algo com principio e fim, mas sim a VIDA sem principio e sem fim, não é uma realização, mas sim a Realização, não é um objectivo, mas sim o Objectivo. A dualidade, a carência, o desejo, a busca, a procura, o caminho, a distância, a meta, têm de cessar. Para dar lugar a tomada de Consciência, do TODO, do eterno AGORA, sem interpretações, sem um eu que se julga separado, Você “É” a VIDA olhando para a VIDA, você “É” a Felicidade reconhecendo-se como tal, não existe “um lá e eu cá” existe uma tomada de consciência que transcende a mente, que nos leva a morrer para um passado, e a morrer para um futuro, deixando o vislumbramento e a Magia de SER UM com o eterno AGORA.» (Trecho retirado de um "workshop" apresentado por um "guru").
Evidentemente que haverá sempre adeptos d'«a MAGIA do eterno AGORA» que dá a Felicidade, rendidos à sua retórica e refugiados no seu Imaginário Fantástico. Nada existe novo debaixo do Sol, nem mesmo o livre-arbítrio humano.
A Espiritualidade é necessariamente martírio?
Só se chega ao Paraíso após uma longa via dolorosa? «Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;» (Mat 5: 4). «Na verdade, na verdade, vos digo que vós chorareis e vos lamentareis e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes; mas a vossa tristeza se converterá em alegria.» (Joa 16: 20).
O aperfeiçoamento espiritual é uma via dolorosa, do mesmo modo que a evolução natural passa por uma via dolorosa praticamente para todos os seres viventes. Isto não quer dizer que o Iniciado Espiritual não tenha a sua Felicidade, própria da realização espiritual, porém está sempre pronto a sofrer junto dos necessitados e infelizes e prestar-lhes toda a ajuda possível. O espiritual sofre com o mundo e para o mundo no engajamento para o bem-estar de todos.
A felicidade do "EU Aqui e Agora" não deve ser construída ignorando a infelicidade do "OUTRO em toda a parte e desde sempre" sob pena de nos tornarmos insensíveis ao sofrimento alheio e ao nosso próprio sofrimento. Tal atitude não é espiritual mas, sim, materialista, imoral e egoísta. Logo, o Hedonismo é uma doutrina doentia, porque só os loucos são felizes sem motivo para o serem.
Escrevo este artigo, baseado nalguma pesquisa e investigação, chamando a atenção para os II:. de que vivemos no mundo (dito profano) e não lhe devemos ficar indiferentes. Pasmo face a uma realidade preocupante: qualquer "guru" bem falante arregimenta "adeptos" e passa a viver à custa deles. Por quê? Porque aparenta ser alternativa a muitas falências espirituais; porque é hábil em vestir novas roupagens a ideias antigas e apresentá-las como novidade.
Chamei esta temática ao fórum porque entendo haver aqui espaço para a Actividade Espiritual no mundo, a começar pelo estudo do fenómeno em si.