Ficção
LIVROS EM SUPORTE PAPEL
As primeiras tentativas para escrever ficção comungaram em rituais conhecidos por todos os que já se aventuraram pelos caminhos da criatividade: da folha de papel para a gaveta e desta para o cesto dos papéis - eis a via sacra da maioria das primícias literárias. Quando, finalmente, surgiram textos que ultrapassaram a barreira da autocrítica - crivo seminal por que são destiladas as produções que saem desta cepa - procedeu-se a uma nova prova de fogo: submeter textos a um concurso literário.
Corria o ano de 1979 quando os jornais noticiaram que a Secretaria de Estado da Cultura - actual Ministério com o mesmo nome - abrira concurso para obras teatrais. Tinha em mão dois sobreviventes da inquisição autocrítica: "Saltimbancos" e "Memórias Intra-Uterinas". Ambos tiveram a sorte de escapar à fogueira que arde na gaveta implacável e, passado algum tempo, recebi uma carta informando que o primeiro ganhara um segundo prémio e o outro uma menção honrosa.
Poucas semanas após a atribuição dos prémios, o inquisidor que vive no desvão do um alter-ego impiedoso decidiu reler os textos e exerceu mais uma das suas acções de censura: colocou as "Memórias Intra-Uterinas" no índex expurgatório e organizou uma excursão à sede do prémio - no caso vertente a Secretaria de Estado da Cultura - com o objectivo de anular a peça.
Foi difícil convencer os funcionários de sua Excelência, a Senhora Dona Cultura, de que desejava reaver o texto para desistir do prémio. Que não, que não havia memória de tal despautério, que a atitude não só era omissa, como nem sequer constava no regulamento do concurso, argumentaram eles empoleirados nos altos do seu funcionalismo cultural. Após ter entrado num longo sistema de jogos florais e de esgotar vários cm3 de saliva e alguma capacidade retórica, entregaram-me os únicos exemplares da peça. Em casa queimei os originais até não sobejar sombra de fuligem.
Desta bravata recolheram-se ensinamentos fundamentais: As "Memórias Intra-Uterinas" tiveram um nascimento prematuro. Faltou-lhe, agora constato, o tempo de gestação que só a gaveta - essa placenta formidável que alimenta e revê os textos bem nascidos - consegue conferir às criações literárias. Hoje reconheço que o título foi premonitório: as "Memória Intra-Uterinas" eram prematuras, apresentavam irremediáveis deformações congénitas e, assim sendo, o Autor exerceu o legítimo direito de abortar a obra, mesmo depois de esta ter sido distinguida pelo júri.
Após a obtenção da primeira meia dúzia de prémios nacionais, o objectivo que a seguir se delineou foi ser lido pelos públicos a quem os livros se destinam . A especialização em literatura para jovens e crianças foi um gosto que ainda não desfaleceu; o teatro, a pedagogia bem como os textos sobre investigação continuam a marcar um projecto editorial e os cerca de 559.700 exemplares de livros editados no decurso de dez anos, bem como os prémios atribuídos são testemunho parcial de um projecto de vida literária, primeiro na sua versão editorial analógica, depois na digital.
LIVROS EM SUPORTE DIGITAL
Escrevi vários livros em suporte digital, todos integrados nas bibliotecas de livros digitais criadas com o apoio dos bolseiros do C.I.T.I. - Centro de Investigação para Tecnologias Interativas. Infelizmente todas as bases de dados - foram inutilizadas por um ataque de piratas informáticos no dia 20 de Abril de 2020. Desconheço a autoria do ataque e o motivo da destruição. Não foi possível recuperar o conjunto de bibliotecas e o facto é de lamentar porque as coleções de livros eram constantemente utilizadas em escolas lusófonas, um pouco por todo o mundo e - segundo as estatísticas registadas pelo Google Analytics - as leituras registadas contabilizavam muitos milhões.
Se tiver interesse em consultar uma versão muito sucinta do trabalho desenvolvido durante cerca de 28 anos basta escrever citi.pt na barra de comando do browser.