Publicações sobre Televisão

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- Televisão Interactiva – A Convergência dos Media, Lisboa, Editorial Notícias, 1998.

Obra onde se aborda a relação entre o sistema tradicional de comunicação de massas, e os sistemas interactivos de comunicação. Aqui também se trata das questões sociológicas, culturais e tecnológicas relacionadas com a emergência de múltiplas formas de TV interactiva.

O estudo de caso que indicia o que poderia ter sido a "televisão interactiva das comunidades portuguesas" é um testemunho de um projecto que não se chegou a concretizar.

Excerto do livro

Sempre que em Portugal as televisões generalistas procuram a memória dourada dos seus tempos áureos, para com ela realizar séries retrospectivas, transmitem, invariavelmente, os mesmos fragmentos de seis grandes comunicadores (dois deles já desaparecidos), uma mão cheia de apresentadores na maioria próximos da idade da reforma e algumas cançonetas no invariável estilo das melodias de sempre. No caso dos canais do Estado convenhamos que é pouco para quarenta e muitos anos de emissão continuada. Nos casos das privadas o panorama é ainda mais confrangedor. A estreita linha evolutiva da televisão em Portugal caracterizou-se por um desabrochar serôdio. Tudo, ou quase tudo, lhe aconteceu fora de tempo e com um sabor a bolo velho. E até mesmo a irrupção dos canais privados apareceu fora de tempo.

Para aprofundar temas relacionados com televisão, alguns excertos de:

- Aculturação e Media, in Televisão Interactiva – A Convergência dos Media, Lisboa, Editorial Notícias, 1998;

Reina nos conselhos de administração de algumas empresas de comunicação e em certos sectores das telecomunicações a falsa noção de que a linha evolutiva da revolução comunicacional em curso passa por uma confortável evolução do mundo analógico para o mundo digital, realizada sem sobressaltos de maior.

Segundo esta visão tratar-se-ia tão somente de traduzir byte a byte, todo o património de imagens, textos e sons, acumulado durante décadas, registar essa fortuna empresarial em suportes óptico-magnéticos, engarrafar o produto para o expedir nas auto estradas que as telecomunicações estão a rasgar de Norte a Sul e eis-nos face ao país modernaço, prestes a entrar no século XXI, apto a ver Olhão, Boavista ou Braga por um canudo modelado em banda larga… Esta visão simplista da revolução em curso no campo dos media pressupõe que as mesmas companhias oferecendo os mesmos produtos, irão manter o mesmo tipo de programas para um universo de consumidores com os mesmos gostos e exigências. Se assim fosse ( e tudo indica que não é) aquilo que na revolução digital se questiona é tão somente uma questão de mudança de ferramentas porque, no essencial, tudo permanece igual a si mesmo. Nesse caso, às televisões bastaria tão somente adquirir maquinaria nova para converter o vídeo analógico em vídeo digital e aguardar que as empresas de telecomunicações lhes venham bater à porta com os terminais de fibra óptica prontos a estabelecer a conexão para a casa do telespectador. O mesmo irá acontecer com a Imprensa escrita que se preocuparia apenas em dispensar ardinas, quiosques e outras formas de distribuição porque a sacrossanta fibra óptica encarregar-se-à de fazer chegar o jornal digital a casa do subscritor. Na Rádio, o problema nem se chega a colocar uma vez que a sua difusão hertziana está assegurada por muitos anos e bons, crêem eles.

A visão simplista da revolução comunicacional em curso induz em erros prospectivos de consequências gravosas, como a seguir se vai demonstrar.

Parte-se do princípio que a ignorância, à mistura com algum desinteresse pela indústria de conteúdos interactivos é o problema central que afecta a indústria dos meios de comunicação de massas. Esta atitude é tanto mais grave quanto, salvo algumas excepções, a maioria dos mediadores responsáveis ainda não tomaram consciência plena da profundidade e extensão das mutações tecnológica e sociais que estão a ocorrer.

Na comunidade telemática existe hoje a consciência nítida de que o mass media televisivo está em vias de esgotar os seus figurinos, idênticos na repetitividade de grelhas, simétricas nos alinhamentos do prime-time e de exploração de seriados e concursos, primos entre si na esmagadora maioria dos casos. As grelhas da programação nacional e internacional possuem padrões muito semelhantes. Os ajustamentos realizados de forma sazonal limitam-se a maquilhar conceitos e soluções há muito ensaiadas.

O sucesso planetário da televisão tradicional, radicou nas qualidades intrínsecas do sistema de comunicação de massas que soube responder com eficácia às necessidades informativas e comunicacionais da sociedade de 2ª vaga. Porém, no início dos anos 90 começaram a detectar-se os primeiros sintomas de esgotamento. Discretos no início, esses sinais já são mensuráveis no Estados Unidos. Nesse país a Internet já cativou 5% de audiência, que abandonou total ou parcialmente a programação das estações emissoras nos chamados períodos do horário nobre.

É evidente que esta nova opção das audiências não significa que a Internet vá substituir, ou destronar os canais televisivos, a curto ou médio prazo. Essa relação imediata de causa - efeito pode fazer títulos sensacionalistas em alguma Imprensa, mas é falaciosa e está vazia de conteúdo. A velocidade de transmissão de dados na Internet é, por enquanto medíocre, tanto na qualidade da imagem, como no som . Por ora, não põe globalmente em causa, nem faz perigar a TV, que tem mais brilho e maiores audiências.

A minoria que está em vias de abandonar a televisão tradicional, encontrou na Internet uma alternativa diferente, mas válida para esquemas e modelos de programação que são alienígenas à sua mundividência e mundivivência. Aqueles que se afastaram dos modelos de programação da televisão tradicional são pessoas maioritariamente situadas em escalões etários jovens, com nível de instrução médio, ou acima da média e uma boa parte da chamada média alta e culta, com formação universitária.

Trata-se, portanto, de uma minoria (alguns preferem chamar-lhe elite) com exigências sofisticadas, no que diz respeito a sistemas de comunicação. É dessa minoria que nasce o conjunto das forças criativas que, não só detectaram as fragilidades do velho modelo, como foram capazes de intuir uma boa parte das linhas-mestras da arquitectura comunicacional e tecnológica do media emergente.

Essa minoria perpassa pela programação dos canais televisivos, escolhe criteriosamente um ou outro dos escassos programas digeríveis e migra para outros universos da comunicação, em que a publicidade não é impositiva e a programação não está filiada num qualquer campeonato de reservas.

Em alguns sítios acessíveis na Internet é possível aceder a vídeos interactivos, que remetem para hipertextos bem documentados, já se dispõe de conferências e reportagens que não se limitam à tão celerada lei do «pacote dos três minutos» e mesmo alguns dos canais temáticos da TV tradicional ensaiam, em certos casos, fórmulas de migração da informação para sistemas interactivos.

- Tecnologia da TV, in Televisão Interactiva – A Convergência dos Media, Lisboa, Editorial Notícias, 1998.