Cd-i Abrunhosa: interfaces

O desenho da interface evoluiu para a representação tridimensional de objectos nos quatro écrans com opções de escolha mais importantes: o menu principal, o que permite a escolha de vídeo-clips, o menu que disponibiliza jogos e o que apresenta informação de índole biográfica e musical.

No menu principal os objectos tridimensionais foram animados e musicalmente sustentados por uma melodia em modo contínuo. Esta foi a primeira situação em que a morfologia do signo multimédia foi pensada como uma unidade em que as componentes imagem, som e texto são faces multifacetadas do signo.

Analisado cada um de per se verifica-se que o denominador comum a todos eles é a melodia em modo contínuo. Trabalhou-se um excerto instrumental de Pedro Abrunhosa como se de um "sem fim" se tratasse. Caso não exista nenhuma interacção, a melodia permanece activa, acompanhando o rodar incessante dos elementos eidográficos.

O pano de fundo que sustenta as opções está integrado na esfera semântica de cada uma das funções dramatúrgicas. Assim, o espaço é o fundo natural para o "planeta Abrunhosa" que está em movimento de rotação sobre si mesmo num convite à acção de descoberta. Se ela acontecer, alarga-se o campo comum de representação da acção e, em lugar de um, surgem no écran três planetas bizarros: cada um deles tem uma textura exterior em que são visíveis fotos do artista trabalhadas com uma câmera com lente em forma de olho-de-peixe. Na órbita de cada planeta gira um anel scripto que tem inscrito o nome do vídeo-clip que o interactor pode escolher. A sonoplastia encontrou um segmento musical diferente para envolver este écran de opções, em que é mais visível a preocupação de tratamento dos signos multimédia como entidades dotadas de uma morfologia coerente com a sua função dramática e dramatúrgica. Os três planetas correspondem a três vídeo clips cantor. Feita a opção, cada um remete remete para a audição da música e visionamento da imagem. Em qualquer momento pode-se parar a imagem num "paralítico" perfeito, fazer câmera lenta sem som, avançar o videograma e abandoná-lo.

O grafismo do menu principal apela a noções comuns ao conceito de viagem. O fundo da representação assinala a presença discreta de um mapa e de um tabuleiro de jogos. Para além do planeta já citado, existe um segundo objecto tridimensional: um álbum de fotografias que mostra uma sucessão de top-models em torno das quais giram figuras desmultiplicadas do logotipo dos Bandemónio. A morfologia do signo sedimentou-se em torno da sequência de fotos do álbum assente sobre o mapa das viagens que o grupo Bandemónio realizou. A sonoplastia evoca o significante musical, omnipresente no disco. Este terreno comum da representação tem um forte poder evocativo da mítica e da mística comum a este fenómeno da música portuguesa: para lá das mensagens fortemente sexualizadas representadas pelo álbum das top-models procurou-se alargar o poder de evocação ao conceito de tournée através da presença do mapa como pano de fundo. O último elemento, o mais óbvio, consiste na representação do grupo através da iconografia por eles escolhida. A estruturação do signo morfológico é catalisador da acção contida na função dramática, uma vez que o voyeurismo do interactor estimula-o a procurar o que está contido dentro do álbum em torno do qual rodam as figuras Bandemónio.

A escolha por esta opção conduz o interactor a um menu de segundo nível no qual se alarga o fundo do mapa, denominador comum e reminiscência do conceito de viagem. Aqui existem também três opções corporizadas em três imagens tridimensionais animadas: a primeira corresponde a um néon bilingue e bicolor onde está gravada a mensagem Live/Ao Vivo e que possibilita assistir a excertos do concerto gravado ao vivo em Coimbra. A segunda opção assente sobre o mapa foi representada com recurso ao logotipo oficial do grupo e possibilita conhecer a biografia de Pedro Abrunhosa e de cada um dos músicos que com ele trabalham. A terceira opção - um CD que rodopia sobre si próprio dá acesso a um módulo em que se podem escutar todas as faixas do álbum Viagens cada uma delas previamente comentada pelo intérprete numa curta intervenção gravada em vídeo. Durante a audição o utilizador tem acesso à ficha técnica de cada tema.

O terceiro módulo parte também do menu principal, é representado por um objecto tridimensional surrealista, um microfone que se ergue e solta a parte superior da cápsula. Este elemento é susceptível de ser objecto de uma leitura psicanalítica que me dispenso comentar. É um signo com uma morfologia cujas unidades de significação estão estruturadas sobre a imagem tridimensional animada e o envolvimento sonoro gerado pela sonoplastia. A sua escolha corresponde a um sub-menu com características essencialmente lúdicas: propõe um módulo de "karaoke" sobre duas canções, uma entrevista ao cantor com nove questões programadas, e um jogo que consiste em dar ao utilizador a possibilidade de programar uma nova composição a partir da segmentação de três trechos de Pedro Abrunhosa.

O "karaoke" é uma experiência repetida, dado o êxito dos discos anteriores. A entrevista com questões programadas é uma micro experiência de um grande projecto que não tinha cabimento num trabalho deste género. Aqui limitámo-nos a programar nove perguntas sobre questões relacionadas com a vida e a obra do artista, que poderão ser escolhidas de modo aleatório às quais Abrunhosa dá uma resposta breve, em vídeo digital. Mais tarde, este módulo de programação deverá ser melhorado de forma a tratar exaustivamente a obra de um grande pensador vivo de modo a poder cruzar e confrontar o seu depoimento com segmentos significativos da obra e com entrevistas cruzadas a personalidades que com ele conviveram ou que sobre ele escreveram. O interactor poderá modelar uma opinião crítica sobre autor e obra com recurso a módulos complementares (mas não necessariamente concordantes) sobre a temática em análise.

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