Teatro

Escreveu Arnaldo Jabor "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche".

O Teatro já foi paixão avassaladora, ora decantada em amor sereníssimo.

O exagero do superlativo absoluto simples é, neste contexto, uma figura de estilo rigorosa porque qualifica esta relação muito especial.

Os primeiros sintomas da paixão manifestaram-se na récita de finalistas do Liceu Nuno Álvares Pereira, em Castelo Branco, alumiaram-se nos bastidores da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no final da década de sessenta. Ser do teatro, pertencer a uma troupe académica era uma ideia seminal e no grupo que então se formou, aprendi a representar em francês. Fui actor em "Knock", de Jules Romain e mais tarde em "Rhinocéros", de Ionesco, ambos representados na língua de Molière. Nessa aventura partilhada com Luís Miguel Cintra, Norberto Sanches e Jorge Silva Melo, entre outros, aprendemos as carpintarias do teatro sob a batuta do professor François Castex. Todavia, cedo descobri que os bons actores eram eles e não eu.

O temível inquisidor de mim mesmo, que comigo vive, levantou vagas de descrédito às performances sobre o palco e não tardou em passar-me a competente guia de marcha. Aí se determinava que eu devia abandonar o grupo de teatro da Faculdade de Letras. Já assisti à peça "O Anfitrião", de António José da Silva, no lugar que era o meu - um assento na plateia. Pouco tempo depois ,os colegas aprofundaram competências numa escola inglesa e fundaram uma companhia de teatro - a Cornucópia. Eu também emigrei e na Holanda aprendi a navegar no fundo mais fundo do umbigo do meu mundo onde caldeei tão desmesurada paixão em sereníssimo amor, decantado em reflexões sobre muitas folhas rascunhadas.

Sete anos após a alquimia do fogo se ter transformado em perfume de paixão muito terna, descobri qual era o meu papel no Teatro. Foram muitos os quilómetros de linhas escritas até chegar a Saltimbancos, a primeira peça. Vária peças mais escrevi, entretanto: numas fui apenas autor, noutras encenei, jamais voltei a ser actor e a maioria conheceu a alegria maior do Teatro - as tábuas do palco. Uma das últimas peças escritas e representadas, em 1997, "Auto das Muy Desvairadas Partes e da Índia" foi apresentada sob o pseudónimo, de Autor Anónimo do século XXI. Aqui fica desvendado o segredo, até agora partilhado apenas com os actores e técnicos do Teatro Nacional D. Maria II, que participaram no espectáculo.

Já no novo século decidi regressar ao teatro para a infância e ofereci a uma nova companhia as Fantocheiras de Além Tejo uma peça de teatro para fantoches e ao teatro para adultos um quase monólogo intitulado Chove Fogo dentro de Mim. Nos finais de 2013 impôs-se a escrita e publicação em edição de Autor de Europim, Europam, Europum.