Fazendo acrobacia quando não devia

Neste acidente tive uma dor diferente no coração.

Em dezembro de 1998, terminava uma grande e gratificante jornada que foi a conclusão da formação de uma turma de cadetes da Academia da Força Aérea. Minha querida e guerreira Turma Zêniuts naquele instante deixaram de ser um grupo e cada um passou a ser dono de seu destino como Aspirante da FAB. Dentro deste grupo estava lá o então Cadete GARBIN, um dos muitos alunos que tive o prazer de conviver e que veio a falecer neste triste acidente.

Os relatórios de acidente sempre prezam pelo levantamento de fatos, nunca por achismos ou qualquer outro tipo de capricho. São, na sua essência, o retrato mais aproximado do que aconteceu naquele momento.

Mas queira deixar minha impressão sobre o assunto...

Há muito tempo atrás um Tucano da AFA se acidentou e levou dois grandes companheiros de asas. Dias depois os instrutores mais antigos da AFA presidiram uma reunião no auditório do 1°EIA e uma pergunta foi direcionada a todos ali presentes (+- 150 instrutores instrutores de voo):

“Quem, nos comandos de uma aeronave, nunca fez uma besteira sequer que levante a mão...”

O silêncio foi geral, ninguém se mexia, ninguém olhava para os lados, ninguém falou nada, ninguém soltou uma piada, ninguém se surpreendeu, pois ninguém levantou a mão...

Acidentes como este são presas fáceis para se atirar pedras. Aliás, é fácil atirar pedras depois de qualquer acidente e, mais fácil ainda, acabamos descobrindo que todos têm suas teorias de como poderiam evitar que ele ocorresse – todos passam à condição de inteligente e se autocarimbam como "pilotos seguros" e mais, como meio de fuga (e porque não de arrogância), se incluem no grupo daqueles que jamais estariam sujeitos à mesma tragédia, afinal eles sempre foram... PROFISSIONAIS...

A realidade é que acidentes sempre vão acontecer. Pilotos cometerão sempre os mesmos erros, afinal é da natureza humana superar a mesmice da rotina, é da natureza humana sentir-se um “super-homem” quando está atrás de uma máquina que lhe dá poderes divinos, afinal subir aos céus não é para qualquer um “mortal”. É da natureza humana ultrapassar limites e às vezes da maneira mais inconseqüente possível. Não concorda? Você já andou a mais de 140Km/h no seu carro? numa pista molhada? com sua família dentro? com pista dupla? pneus não tão bons assim? depois de umas cervejas? falando ao celular? com sono mas "tendo que chegar"? Esta é a natureza humana - a de não se impor limites e onde tudo se pode experimentar...

O enfoque para o problema dos acidentes aéreos deveria ser talvez não apenas na certeza de que os acidentes devem ser evitados, mas também na certeza de que tantos outros pilotos se arriscarão em levar sua aeronave para fora de seu "gráfico". Talvez um dia existam profissionais voltados à psicologia do piloto, que possam acompanhá-lo desde seu primeiro voo segurando um manche, orientando, estimulando e conduzindo o aluno numa verdadeira imersão na filosofia de segurança, de tal forma a criar uma agressiva doutrina de voo e assim, quem sabe, não lamentemos mais pelos grandes amigos que partem prematuramente para seu voo angelical.

Bem, neste acidente você poderá levantar suas própria opiniões sobre o que aconteceu. De antemão já adianto que a falha foi não respeitar as normas dos fabricantes, afinal, se não está previsto fazer acrobacias numa determinada aeronave, porque insistir?

Aeronave mais pesada que o de costume, falta de briefing e improvisação da missão acabaram sendo os fatores mais marcantes deste acidente.

Do relatório destaco estes comentários abaixo, mas deixo aqui o link para você ver o relatório completo