As Ações com Alunos Cegos

O Que Aprendi com Alunos Cegos ou com Baixa Visão

Trabalhar com alunos cegos ou com alunos com qualquer outra deficiência física dá trabalho; mas pode até não ser complicado. O "segredo" é o seguinte: não considere este aluno como um indivíduo alheio à turma. Como qualquer outra pessoa, o aluno deficiente tem as suas particularidades e deve ter a atenção dada de acordo com estas particularidades. Desta maneira, em complemento ao "segredo", basta que haja o conhecimento suficiente sobre estas particularidades, para que o professor possa conceber um conjunto de estratégias e ferramentas específicas aos casos. Mas você pode perguntar: já que cada aluno tem as suas particularidades, eu devo fazer isso com todos os meus alunos? Sim, você já faz isso a cada ano e/ou semestre letivo, quando observa seus alunos, os reune em grupos e naturalmente traça estratégias para estes grupos. Em suma, considere os deficientes físicos com um grupo de tamanho reduzido, não considerando o aluno cego como o aluno especial; apenas o considere com mais um aluno especial, afinal, todos são especiais.

Agora, vamos a diretrizes mais específicas. Como principal dica tem-se o seguinte: adapte o material didático para que seja melhor "percebido" por seus alunos. neste contexto a criatividade é uma das principais habilidades necessárias. Formas podem ser percebidas pelo tato, cores podem ser substituídas ou equiparadas a sons onde, por exemplo, um semáforo pode ser adaptado para que cada uma das cores tenha um som com com frequência e/ou timbre diferenciado. A chave para o sucesso é adaptar o material didático de modo que ele tenha melhor acessibilidade, tanto para os alunos deficientes, quanto para os alunos tidos como não deficientes; ou seja, a acessibilidade deve ser útil a todos. Quando você tem um aluno cego, você naturalmente passa a áudio descrever com mais detalhes os materiais de sua aula. Isso é muito bom não apenas para o aluno cego, mas para toda a sua turma.

No âmbito deste projeto, algumas ferramentas educacionais (OAs) foram criadas especialmente para esta finalidade. O Blind Bits facilitou em muito a prática de Eletrônica Digital, pois a robustez de cada componente permitiu ao aluno reconhecer e manipular estes componentes, montando e/ou reconhecendo o circuito alvo da atividade prática. Dois novos complementos ao Blind Bits estão em fase de implementação: i) o QR Audio, que permite a áudio leitura dos atributos e características dos componentes eletrônicos, já está em fase de testes; e ii) o Digital Blind Bits, que é caracterizado por acrescentar "bits" de funções booleanas ao Blind Bits, está em fase de desenvolvimento.

No que diz respeito ao planejamento de atividades de aprendizado, posso resumir as ações do seguinte modo: i) o professor deve trabalhar na identificação das particularidades de seus alunos, com objetivo de construir um perfil da turma; ii) com este perfil em mãos, deve ser construído um plano de aprendizagem que faça a relação entre as necessidades e requisitos da turma e as possíveis ferramentas que irão responder a estes requisitos; iii) a partir da análise dos requisitos, deve-se iniciar o desenvolvimento destas ferramentas sem a preocupação de acertar e/ou cobrir todas as possibilidades - um ano, ou semestre letivo (ou uma vida), normalmente é muito pouco para isso; iv) com as ferramentas, implemente as ações do plano, observe e documente os resultados e finalmente; v) aprenda com seus acertos e erros e se prepare para reiniciar todo o trabalho no próximo semestre. Para encerrar vou repeti o que já deixei claro em outros comentários: não existe milagre; mas muito trabalho e motor de criatividade a 100%.

Postado em 20/08/2019 (Cássio D. B. Pinheiro).