Histórias de família aumentam auto-estima

Pesquisa aponta: crianças que sabem histórias de sua família tornam-se adultos mais equilibrados

As crianças que sabem histórias sobre parentes e ancestrais apresentam níveis mais elevados de bem-estar emocional, de acordo com pesquisa feita em 2010 na Universidade Emory (Carolina do Norte, EUA).


Além disso, quando adultas, têm um nível de resiliência social e familiar muito mais alto do que a maioria das pessoas.


Termo adaptado da Física dos Materiais, resiliência é a capacidade que um indivíduo ou grupo apresenta de resistir, após momento de adversidade, conseguindo se adaptar ou evoluir positivamente frente à situação.


A pesquisa foi conduzida pelos professores de Psicologia da Universidade Emory: Robyn Fivush e Marshall Duke, e a então aluna da pós-graduação, Jennifer Bohanek. Quanto mais histórias de família crianças e adolescentes sabem e quanto mais pessoas participam das conversas da hora do jantar mais estarão aptas ao equilíbrio emocional e à funcionalidade da família, diz o estudo.



"Histórias familiares fornecem um sentido de identidade através do tempo e ajudam as crianças a entender que eles estão no mundo, dão-lhes um sentido de pertença" — dizem os pesquisadores em artigo no jornal da faculdade, intitulado “O poder da história da família na identidade e no bem-estar do adolescente".

Os pesquisadores asseguram que as histórias de família são uma parte crítica da emergente identidade e do bem-estar dos adolescentes. Para estabelecer essa medida, os pesquisadores elaboraram uma escala denominada um "Do You Know" (DYK) [Você sabe?, em português. ]


Histórias de família garantem identidade, pertença e auto-estima


A escala DYK tem 20 perguntas do tipo sim/ não, pedindo à criança para relatar se eles sabem histórias da família e histórias familiares intergeracionais. A pontuação alta na escala DYK foi associada com um melhor ajustamento social para os adolescentes e melhor funcionamento familiar global. Vale observar que não é apenas saber as respostas o que importa, mas se esses tipos de histórias surgem naturalmente, na interação com os pais e com parentes de outras gerações.


As perguntas são do tipo: Onde seus pais se conheceram? Você sabe onde seus avós cresceram? Você sabe onde sua mãe e seu pai estudaram? Você conhece alguma doença, acidente ou algo realmente terrível que aconteceu em sua família? Você conhece a história do seu nascimento?... e coisas assim.


Não por coincidência, as principais perguntas do Questionário DYK elaborado pelos professores de Psicologia da Emory University abordam as perguntas que comumente se faz aos ancestrais vivos quando se inicia a própria árvore genealógica. (Neste link, as 122 perguntas que reunimos como sugestão)




Forte self intergeracional: "pertenço a algo maior que eu mesmo"


Marshall Duke explica que as crianças conhecem sua história familiar criam mais auto-confiança e constroem o que ele e Dr. Fivush chamam de um forte "self (eu) intergeracional." Esses jovens descobrem que pertencem a algo maior do que eles mesmos.


Líderes em outros campos encontraram resultados semelhantes. Muitos grupos usam o que os sociólogos chamam de construção de sentido, a construção de uma narrativa que explica qual é "a causa do grupo".

Jim Collins, famoso especialista em gestão e autor de Good to Great (em português, Empresas Feitas Para Vencer, Ed. Saraiva) , garante que quaisquer dos empreendimentos humanos mais bem sucedidos — de empresas a países — são os que captam uma "identidade central", ou seja, "a causa"


Nas palavras de Jim Collins, os empreendimentos de sucesso buscam "preservar o cerne e isso estimula o progresso. O mesmo se aplica às famílias."


O artigo sobre o tema no NY Times pode ser lido aqui em português ou aqui, no original do jornal, em inglês



Quanto mais histórias, mais bem-estar emocional



Os pesquisadores de Emory estudaram 660 estudantes de classe média, de etnias variadas, entre 14 a 16 anos de idade. Eles completaram a escala DYK e criaram várias medidas padronizadas de funcionamento familiar, o desenvolvimento da identidade e bem-estar. Adolescentes que sabiam mais histórias sobre a sua família ampliada (intergeracional) apresentaram "condições mais elevados de bem-estar emocional e coeficientes mais altos de realização de identidade e autoestima, mesmo quando se amplia o estudo para o nível geral de funcionamento da família", segundo o estudo.


"Existe algo poderoso sobre realmente conhecer essas histórias", diz a psicóloga Robyn Fivush .


O resumo do trabalho da Emory University pode ser baixado [em inglês] aqui. ou aqui