Como iniciar sua Pesquisa Genealógica

Como iniciar: os requisitos para estrear na pesquisa genealógica

por Maria Fernanda Alves Guimarães

jornalista, pesquisadora de Genealogia, editora de Brava Gente Brasileira

  • Fazer pesquisa genealógica é uma atividade prazerosa e divertida. Mais que uma atividade intelectual, a pesquisa genealógica vai permitir que você tome contato com as suas origens.

  • Qualquer pessoa bem alfabetizada é apta a fazer sua pesquisa e a lançar os dados colhidos em folhas de papel ou em softwares específicos, sejam programas de computador, plataformas online ou aplicativos para smartphones.

  • Mas antes de sair lançando loucamente os dados em programas ou plataformas, recomendamos que você leia atentamente todo o material dessa página. Sim, é muito texto. Mas você terá de lê-lo. É como você vai se informar de muita coisa que pensa saber e não sabe. Coragem!

  • Tudo está explicado aqui. Bom trabalho e muitas descobertas!

«Os documentos só falam quando sabemos interrogá-los»
Marc Bloch

Marc Bloch [Marc Léopold Benjamim Bloch (Lyon, 6 de julho de 1886 — Saint-Didier-de-Formans, 16 de junho de 1944) foi um historiador francês e um dos fundadores da Écòle des Annales, importante movimento historiográfico do século 20]

Na foto, o nome da menina Andreza — que muita gente pensa ser italiano e contemporâneo — em assento de batismo de 1721, de Alvarães, Viana do Castelo, Viana do Castelo, Portugal.

I. As qualidades do pesquisador de história da família

  1. Só o fato de você ter chegado a esta página, pela Internet, comprova que você é capaz.


  1. No entanto, ser um pesquisador de Genealogia exige algumas qualidades pessoais. A primeira é gostar do assunto. Pergunte a seus botões: por que quero iniciar uma pesquisa genealógica? Se a resposta for “por razões afetivas, culturais, espirituais, ou religiosas”, “porque gosto de História” ou “porque acho que 'dá um romance' a trajetória da minha família”, ou ainda “me entusiasma ver a luta dos ancestrais”, congratulações! Você tem a qualidade mais importante para ser um investigador genealógico: o prazer pelo assunto. Se for apenas por busca de cidadania, melhor você contratar um genealogista profissional, que vai fazer isso mais rapidamente do que você.

  2. As qualidades seguintes que você tem inatas ou vai desenvolver são:

Os postulados de Isaac Newton servem para qualquer área das Ciências

  • Informação. Mas informação de qualidade, emitida por fontes qualificadas. Como este site, por exemplo. Não acredite em lendas em palpites, em "acho que".

  • Paciência. Você tem poucas informações. E a maioria delas vai demorar muito tempo para aparecer. Não tem milagre. Saiba que a informação pesquisada por outros pode estar errada ou seja insuficiente para você. Nem tudo o que foi pesquisado está correto: nem nas plataformas de genealogia, nem no site dos mórmons (Family Search), nem em conversas na rede social. Tem muito besteirol na Internet — inclusive em Genealogia.

  • Curiosidade intelectual. Você tem que pesquisar! E isso pode implicar em descobrir fatos paralelos à trajetória dos personagens da sua árvore, como detalhes de demografia, geografia e história.

  • Persistência. Muita persistência.

  • Honestidade Intelectual. Cite os trechos da pesquisa que são de outros pesquisadores. E não seja egoísta. Compartilhe! Não existe vida intelectual totalmente individual pois as atividades intelectuais não podem ser realizadas por um único indivíduo, todos precisam da ajuda de outras pessoas — inclusive você, que está lendo isso aqui que é fruto do trabalho de dezenas ou quiçá centenas de pesquisadores.

  • Raciocínio lógico e Atenção. Conciliar informações localizadas nos documentos, na documentação paralela, nas informações dos grupos de apoio.

Antes de iniciar a sua árvore genealógica

  1. Atenção: VOCÊ tem de pesquisar! Ninguém vai fazer a investigação genealógica por você. Pode-se até contratar um profissional caso seja importante encurtar o caminho e houver recursos financeiros para isso. Mas mesmo ao contratar um genealogista, saiba desde já que você terá de dar informações a ele.
    O genealogista profissional não é um adivinho. É um pesquisador muito mais experimentado e capaz. Mas não é um adivinhador. Quanto maior o número de informações sobre a história, as mudanças e a dinâmica da sua família, maior capacidade o profissional terá de aplicar um “raciocínio genealógico” sobre os seus ancestrais.

  2. Se você estiver fazendo uma pesquisa apenas para obter cidadania de países europeus, é bem capaz que uma assessoria profissional faça a tarefa mais rapidamente. E é uma ótima opção no caso. Muitos podem lhe ajudar na pesquisa! Mas se contratar um profissional for economicamente inviável, saiba que você vai trabalhar duro para ter sua árvore... nem que seja só daquele ramo do avô imigrante, cuja nacionalidade vai lhe garantir um passaporte da Comunidade Europeia. E apesar de toda a pilha de documentos que cada estado-membro da CE exige, saiba que essa é uma pesquisa genealógica superficial.

  3. Perceba de cara: as respostas estão na sua própria família. Ocultas ou visíveis, elas estão lá. O pesquisador — você — será quem vai desvendar cada história. A maioria das pessoas pula rapidamente para a pesquisa em fontes online, mas há uma coisa que eu gostaria de recomendar: antes de começar a procurar em bancos de dados da Internet, consulte sua família próxima e a ampliada.

  4. Há que se investigar, que perguntar, que escarafunchar os documentos, telefonar para os parentes afastados, enviar um monte de mensagens, passar e-mails, telegramas, muitos 'zaps' e até enviar cartas pelo correio... Os mais idosos não estão afeitos a muita tecnologia. É a comunicação entre os parentes que garante o sucesso das suas pesquisas. Tenha certeza disso.

  5. As melhores ferramentas são os sites dos arquivos públicos brasileiros e estrangeiros (veja depois aqui em Onde Pesquisar), os 7.700 cartórios brasileiros de registro, as páginas do Facebook, do LinkedIn, fóruns e listas de discussão, 278 circunscrições eclesiásticas só no Brasil, bibliotecas, museus, cemitérios, grupos de ajuda pela Internet ou fora dela, universidades, o site dos mórmons (Family Search), jornais antigos, livros, revistas e outras fontes de genealogia...

  6. Tudo isso constitui um maravilhoso manancial tecnológico de pesquisa genealógica. Mas não são a sua pesquisa! Tudo isso é apenas ferramenta! A sua pesquisa é você quem constrói. Constrói e documenta.

  7. E nem tudo está na Internet. Aliás, não conte só com a rede para a sua pesquisa. Embora haja um esforço de instituições e de indivíduos, você vai ter que recorrer a cartórios, cemitérios, arquivos públicos, arquivos escolares, centros de pesquisa, universidades, bibliotecas, etc. etc. etc. Não existe pesquisa online para todos os seus ancestrais.

  8. Atenção: De nada adianta entrar num grupo do Facebook ou numa lista de discussão e perguntar coisas do tipo “eu descendo de uma família Oliveira, de Minas Gerais, podem me indicar minha genealogia?” Ora, por favor, quanta ingenuidade!
    - Quantos
    Oliveiras existem em todas as Minas Gerais?
    - Minas Gerais quase 587 mil Km2, sendo mais ou menos do tamanho da Espanha! A que lugar de Minas você está se referindo?
    - Quantos Oliveiras só passaram por lá algum tempo e deixaram o Estado?
    - Quantos Oliveiras foram e partiram?
    - Quantos deixaram de assinar esse nome?
    - Quantos ramos de Oliveiras vieram de Portugal?
    - Quantos foram “inventados” aqui?
    - Quantos
    Olivieri e Oliveros não foram “transformados” em Oliveira?

    Você tem de usar de precisão quanto a nomes, locais (cidades, lugarejos, bairros, até paróquias, se souber). E citar datas! Esses Oliveira de quem você fala moraram em Minas Gerais em 1600? em 1920? ou em 1850? Ou vivem lá até hoje? Está vendo como a gente tem de ser um pouco mais específica?

  9. Três são as linhas de pesquisa a serem delimitadas em Genealogia: temporalidade, territorialidade, estratificação social

  • Temporalidade: emprestado da História, o termo em linhas gerais reflete as concepções que se tem do tempo, diferentes contextos de cada época. A temporalidade é o próprio "espírito" da História, o "tempo" quando se estabeleceram os fatos que estamos a pesquisar.

  • Territorialidade: emprestado das Ciêncoas Sociais, o termo explica o territporio, a região, que está sendo estudada.

  • Estratificação Social: na Sociologia, é a classificação das pessoas em grupos com base em condições sociais e econômicas.

    A somatória desses três conceitos são os formadores do
    Zeitgeist (palavra que se usa em alemão por não ter uma tradução simplificada) que se explica assim: o espírito da época, a mentalidade das pessoas naquela região e período histórico para um determinado grupo social. O conjunto do clima intelectual e cultural, numa certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo.

Exemplo: vamos pesquisar uma família cuja temporalidade é o fim do século XIX, após a Abolição e a territorialidade é a região urbana de São Paulo. A estratificação social dessa família é baseada nos ganhos do "chefe de família": um comerciante de alimentos secos & molhados. São Paulo já estava se desenvolvendo a largos passos, haviauma intensa chegada de imigrantes de todos os lugares da Europa, há umm inchaço na cidade, as condições de saúde e higiene são precárias, e esse comerciante tem 12 filhos. O Zeitgeist era um clima de euforia econômica, de novos empreendimentos e possibilidades de ascenção social e também boa dose de preconceito dos nascidos aqui para com os imigrantes recém-chegados.
Você há de concordar que seriam bem diferentes as pesquisas
e especificamente os documentos a serem pesquisados se a família tivesse a mesma temporalidade (fim do século XIX), mas estivesse em Portugal e sua estratificação social fosse a de um funcionário público. Em Portugal, nessa época, as ambições coloniais portuguesas se chocam com as britânicas e há uma intensa propaganda republicana. O funcionário público vê sua renda diminuir e ele tem 6 filhos.
E também bastante diferente se fosse uma família na mesma época, porém na
Bahia, e com a estratificação social de serem filhos de um(a) ex-escravizado(a) de ganho, que não recebeu nenum apoio após a sua libertação do jugo escravista, não pode ter um palmo de terra, e só sabe vender quinquilharias ou quitutes na praça. Dos que não foram vendidos anteriormente como escravos, restaram-lhe 3 filhos pequenos.
E podemos ainda estar pesquisando na
Itália na mesma temporalidade: o país foi unificado, o norte foi pego pela industrialização, deixando os agricultores que complementavam sua renda com o trabalho artesanal sem emprego e sem renda dos seus produtos artesanais, os impostos sobre a terra subiram loucamente. Por isto, você tem de saber que o norte da Itália forneceria as primeiras grandes levas de emigrantes, e o sul só viveria o processo de emigração quase vinte anos depois. Um casal de contadini emigra da Toscana para o Brasil, com 5 filhos, sendo que veio também a sogra do chefe de família.

Você percebe que com a mesma temporalidade, mas em territórios e com estratificações sociais diferentes, a pesquisa caminha para rumos diferenciados?
Percebe como é importante conhecer História, Geografia, ter noções de Demografia, de Formação Administrativas das cidades, entre outros saberes?
E de que são esses conhecimentos que vão conduzir a sua pesquisa?


  1. Agora, vamos supor que você tenha achado um nome: João. Os nomes está no original? João, Joam — em português? Ou Giovanni, Juan? Johann? Ou está aportuguesado? Cuidado: diferentes nomes podem se referir à mesma pessoa pesquisada
    → A territorialidade (em que região estou pesquisando?)
    → A época (a que época tenho de me restringir? Falo de 1920 ou de 1880? Ou de 1620? Quando estou procurado. Na dúvida, use a
    suposição genealógica
    De quem estou falando? Pessoas nascidas no Brasil? Ou são imigrantes? São alfabetizados? Deixaram documentos escritos, como testamentos, cartas etc? Qual a religião dessa gente? Em que trabalha? Do que vivem? É uma família numerosa ou pequena?
    São as respostas a perguntas desse tipo que farão você avançar na sua pesquisa.

  2. Outra qualidade importante de um pesquisador é a memória. Você tem que ter boa memória. Se não a tiver por natureza, procure manter apontamentos básicos numa agenda, no seu smartphone ou qualquer outro dispositivo. Hoje, a maioria dos sites de genealogia possui aplicativos que nos ajudam muito!

  3. Você tem de ser uma pessoa “focada”. E também ter atenção o suficiente para fazer ligações e guardar nomes. Se ao ler uma notícia, você não se fixa nos sobrenomes dos envolvidos; se costuma escrever sobrenomes “de ouvido” e não pergunta como se soletra, se ao conhecer uma pessoa não interessa lhe perguntar o nome de família, se nunca perguntou o sobrenome do seu primeiro amor ou jamais soube o sobrenome de solteira da sua avó materna, desculpe a dureza, mas procure outro hobby ou contrate um genealogista. Você não tem o mínimo pendor para pesquisar história da família.

  4. Se você não sabe que “apelido” em Portugal é o mesmo que “sobrenome” no Brasil, tem certeza de que já pesquisou alguma coisa sobre genealogia? Como é que se fala “sobrenome” em italiano mesmo? E em espanhol? E em alemão?

  5. Mantenha a sua atenção no mundo! Uma notícia de jornal, um livro encontrado numa livraria, uma nota numa revista na sala de espera do dentista, uma conversa em família podem ser fonte de muita informação. Tudo pode ser pista!

  6. Absorva um relato histórico. Veja que um relato histórico pode trazer uma pistas sobre a história de uma pessoa. Não exatamente sobre um 'vulto' da história. Mas sobre as circunstâncias de vida. São pessoas comuns que fazem a vida acontecer.
    Confira essa historinha: O Brasil teve uma rápida industrialização no pós-II Guerra. A partir da década de 1950 começou o êxodo rural. que se intensificou na década de 1960 e transformou as grandes cidades do Sudeste brasileiro. Você, como é bem inteligente, logo tem uma sacada incrível:
    “—Ah, foi por isso que a família de minha mãe saiu do Ceará e foi para o Paraná! Mamãe, que também nasceu no Ceará. conheceu meu pai no Paraná! E a família do Papai é originária de Minas Gerais!”
    Exato! Isso é que é inserir
    o contexto histórico nos relatos da sua família!
    Se você detesta História, desista da Genealogia. Perdão pela franqueza.


16. Outra qualidade do pesquisador de História da Família é ser detalhista. Por exemplo: você sabia que em português a gente tem que grafar “da Silva” e não “Da Silva”, por exemplo?
Na língua portuguesa, a partícula
“de” (e suas variações, do, da,
d’, dos, das
) podem ser usadas no prenome e no sobrenome. O mesmo vale para o conectivo “e” dos nomes de família. Essas partículas ficam sempre em letra minúscula. Quando acompanha o prenome, a partícula fica no campo do prenome. Quando é nome de família, a partícula vai para o campo dos sobrenomes/apelidos.


17. Mas saiba ser tolerante e flexível. Também na Genealogia! Possuir mente aberta é uma das virtudes do bom pesquisador. Por isso, tanto faz que você seja Melo e seu avô paterno, Mello; ou que seu bisavô era Mazzola e você virou Manzolla. E que muito Schmidt virou Schmitt e até Schmit. Existem Correia e Corrêa, Mollina e Molina, Mota e Motta, Bizerra e Bezerra, Cavalcanti e Cavalcante, Villas-Bôas ou Vilas Boas e até Vilasboas. Essa diferença gráfica pouca diferença faz! Não existe atitude mais desprovida de fundamento histórico e linguístico do que aquelas pessoas que numa roda de conversa olham com soberba para o interlocutor e atacam com um comentário ao estilo: "Ah, mas sua família é Morais, a minha é Moraes" — e acentua o "e" final como se o fonema fosse um brasão nobiliárquico.
Norma padrão — para falar e escrever — é um conceito muito recente... em qualquer país! Além do mais nem todos os nossos ancestrais sabiam ler e escrever Mais ainda: a padronização de uma linguagem é um processo contínuo, porque uma linguagem em uso não pode ser permanentemente padronizada. Língua viva muda mesmo.
Por incrível que pareça: NÃO PESQUISE SOBRENOMES. (Não deixe de ler essa página depois)

18. É por isso que muitas vezes você será Melo e seu bisavô Mello. Sua mãe é Mota, mas sua avó materna é Motta. Isso não faz diferença. A genealogia no Brasil não se faz correndo atrás de sobrenomes. Essa ilusão pode trazer vários becos sem saída. Sobrenomes só foram normatizados no Brasil em 1939! Era o Decreto 4857/1939, que regulamentou os registros públicos. Se você tem por volta de 40 anos pouco mais ou menos, seus avós devem ter nascido antes de 1939! É muito perto em Genealogia... Genealogia se faz correndo atrás de documentos que comprovam as relações de parentesco.

19. Você sabia que nunca, mas nunca mesmo, se escreve o tal “nome de casada das mulheres nas árvores genealógicas? Se você fizer isso, vai perder para sempre todos os ramos matrilineares da sua família! Escreva o nome de casada no campo próprio do programa. Se estiver fazendo um rascunho à mão (o que é o mais certo para quem é iniciante) o nome de casada vai ao lado, ou embaixo.

20. Aliás, “nome de casada” é uma invencionice que só foi implantada no Brasil no final do século 19, por influência do Direito Francês que fora remexido pelo Napoleão Bonaparte (o tal Código Napoleônico). É por isso que você vai encontrar uma bi, trisavó ou tetra que não tem o sobrenome do marido nos registros.

“—Xi... será que não eram casados?” — se indaga o incauto.
Deviam ser! Era muito difícil viver num lugarejo sem ser casado. Todo mundo iria comentar. Não é como o mundo pós II Guerra.

21. Você tem que ser persistente. Você tem que ser muito persistente! Você tem que ser extremamente persistente

Ser extraordinariamente persistente

Você tem que ser extremamente persistente! Um pesquisador demorou 16 anos (de 1998 — quando foi fundado o antigo Memorial do Imigrante, hoje Museu da Imigração — até 2014) para achar o registro de seus ancestrais italianos. Isso porque havia uma diferença de grafia manuscrita da letra "N" para "M" e na transcrição para o projeto de indexação digital, o arquivo não era localizado.
Depois da dica de um outro pesquisador sobre essas falhas, e como tinha o nome de alguns tios que acompanhavam o bisavô, o registro foi finalmente encontrado!


Para iniciar, imprima numa folha A4, formato Paisagem, esse gráfico abaixo, para você começar a rascunhar sua árvore, antes de escolher um programa ou aplicativo. Faça o download aqui. Ou use este gráfico de rascunho: baixe aqui.

  1. Pegue a sua própria certidão de nascimento e escreva o seu nome, data e local de onde veio ao mundo.

  2. Escreva o nome do seu pai, data e local de nascimento

  3. Escreva o nome de solteira da sua mãe, data e local de nascimento; não é o nome que está na sua certidão. Pergunte a ela, ou consulte a certidão de nascimento dela, ou a de casamento de seus pais o verdadeiro nome da sua mãe: o de solteira.

  4. Copie da sua certidão, o nome dos seus avós maternos e maternos. Procure saber o nome de solteira das avós. Se não souber ou ainda não descobrir, coloque apenas o prenome (nome de batismo) delas.

  5. Para preencher os bisavós, você vai precisar das certidões de nascimento de seus pais.

Agora veja como você deve preencher, à mão. Usar caneta de duas ou três cores facilita muito o entendimento no início. Pode escrever os nomes de casada das mulheres em verde, por exemplo.

  • Exemplo de preenchimento à mão da árvore de costados

Os conceitos em Genealogia darão muitas dicas para o sucesso da sua pesquisa!

II. Ética: conceitos, preconceitos, precisão, honestidade intelectual

Como todo trabalho intelectual, a pesquisa genealógica exige ética

Sim, você reconheceu nosso d. Pedro I. Mas ele não poderia ter usado óculos Ray-Ban Aviator, que foram criados em 1936 pela Bausch & Lomb! Isso é anacronismo.
  1. Como todo trabalho em História (sim genealogia pode ser um ramo da História Social: a História das Famílias, além de ser disciplina de outras ciências), a pesquisa genealógica exige cuidado com os perigos da anacronia, ou seja, de fatos situados num tempo errado. Essa discrepância tanto pode ser cronológica como ideológica.

  2. A discrepância cronológica ou anacronismo é um equívoco clássico. Diz respeito a uma citação de datas impossível. Por ser "contra o tempo" ou "fora do tempo". Exemplo? Um pesquisador colocou em sua árvore que descende de uma família de Ouro Preto, MG, que lá se estabeleceu em 1610. É verdade, sim, que aventureiros andavam sempre por aqueles lados, mas a data mais antiga de Vila Rica é de 1652. A citação exige uma documentação respeitável para não cair na anacronia... ou no ridículo.

  3. Já o anacronismo (ou anticronismo) ideológico consiste essencialmente em aplicar ideias e conceitos de época para analisar os fatos de outro tempo. O anacronismo é uma maneira equivocada de avaliar um determinado tempo histórico à luz de valores que não pertencem a esse mesmo tempo histórico. Exemplo, ao analisar um registro, muita gente reclama como os portugueses conseguiam, mesmo sendo minoria, dominarem a imensa população de escravos do Brasil. Outros se questionam sobre como a Igreja tinha tanto poder durante a Idade Média. Ou ainda se indagam porque, na América Portuguesa, os colonizadores não se revoltaram antes contra a Metrópole. Ou por qual razão sua tetravó se submetia a ter 18 filhos! Ao fazer esse tipo de crítica, o pesquisador se descola da realidade no tempo. Isso porque que os conceitos de igualdade, racionalismo, democracia e feminismo (e de medicina!) empregados em seu raciocínio foram concebidos tempos depois das experiências aqui exemplificadas. Muitos deles nem foram totalmente implementados. Mesmo a democracia grega nada tem a ver com a democracia moderna. A pílula anticoncepcional só foi inventada em 1962. Os primeiros preservativos de borracha apareceram em 1855 e os de látex só em 1920. Antes, os preservativos (camisinhas) eram feitos de tripas ou bexigas de animais e eram ineficientes. Isso para quem sabia da sua existência! Nascido na Revolução Francesa, o conceito de igualdade baseado no aforismo 'todos são iguais perante a lei' só foi desenvolvido no decorrer dos séculos 19 e 20. E ainda neste século 21 estamos lutando para o ver implantado no Brasil.

  4. Outro aspecto necessário a quem vai fazer sua pesquisa genealógica é se despir de todos os preconceitos quanto a quem vai encontrar entre os seus ascendentes. Se você acha que vai ter vergonha de descender de pessoas que viveram do seu próprio trabalho ou dos que emigraram para "puxar enxada", se prefere esconder que tinha um bisavô meio índio ou uma trisavó preta escravizada, ou sendo uma pessoa de rígidos princípios morais que se escandaliza com filhos fora do casamento, com sacerdotes tendo filhos, ou com crianças nascidas na senzala mas concebidas na casa-grande, melhor não se aventurar em Genealogia... especialmente no Brasil!

  5. Você tem que deixar de lado de uma vez por todas aquelas lendas megalomaníacas de que descende de um nobre exilado e empobrecido, de uma condessa que fugiu com o cavalariço, ou ainda de reis e rainhas. Pode ser até que, remotamente, você ache um conde entre seus ancestrais. Não é impossível. Como disse o médico e memoralista Pedro Nava: «não existem famílias que não venham, a um só tempo, do trono e da lama". Todavia, é mais saudável assumir que a maioria esmagadora dos nossos avoengos era gente plebeia, que vivia uma vida simples e sem grandes brilhos sociais. Isso não é motivo de vergonha. Orgulhe-se de seus antepassados! Leia este artigo da advogada e pesquisadora de genealogia, Léa Beraldo.

  6. Você tem que ser honesto em relação às informações colhidas. Se descobrir entre os ancestrais um ladrão de cavalos, paciência. Não omita se uma bisavó foi mãe solteira ou fugiu com o saltimbanco do circo. Registre seu trisavô sacerdote. Para alguns, é muito 'chic' ter uma «linha de batina' na árvore. Como a do escritor José de Alencar (1829-1877), que era filho de uma união ilegal entre o padre José Martiniano de Alencar e a prima Ana Josefina de Alencar. Contudo, se um fato assim ferir seu ego de modo irremediável, desista da Genealogia.

  7. A pesquisa genealógica não tem fim. Você pode se impor um limite: «vou até os trisavós ou até os vigésimos avós..." Tudo depende da sua disposição, temperamento, necessidade, vontade e gosto.

  8. A pesquisa genealógica pode ser o trabalho de meses, de anos e até de uma vida inteira. Contudo, nunca será uma atividade imediatista.

  9. Outro fator importante é a honestidade intelectual. Pode ser que você entronque um antepassado numa árvore com genealogia bem estudada por alguém que já pesquisou muito. Neste caso, dar o crédito ao pesquisador anterior é essencial, como em qualquer pesquisa de outras áreas.

  10. Textos biográficos, narrativos ou explicativos que forem da sua pena são creditados a você; se não, outra pessoa merece o crédito. Para isso existem as citações. Citou alguém, dê o crédito.

III. Pesquisando na Internet

Pesquisas na Internet não são definitivas. Você precisa apurar a informação.

  1. Se você chegou até aqui neste texto, das duas uma: ou já se inoculou com o «vírus» da genealogia ou... vai se contaminar em breve! Parabéns! Junte-se às listas de discussão, leia todos os sites importantes sobre o assunto, providencie fichas de família e de grupos, mapas de costado, baixe (ou compre) um software (veja em Programas Grátis) ou se inscreva num site de genealogia e mãos à obra.

  2. O seu trabalho está apenas começando...

  3. A disseminação dos sites de genealogia pela internet — sejam os comerciais, tipo My Heritage, Ancestry, ou não-comerciais, com o voluntário World Gen Web ou o religioso Family Search — disponibilizaram centenas de bancos de dados on-line que guardam informações aos borbotões. Cuidado! Essas informações podem ser um diamante raro ou uma pérola falsa. E tem muita gente que, ao se utilizar desses sites, está criando verdadeiros imbróglios genealógicos na rede. Um exemplo real: o historiador Sérgio Buarque de Hollanda teve sete filhos com dona Maria Amélia de Cesário Alvim (Buarque de Hollanda) e um filho antes de se casar. A maior parte dos sites (inclusive o famoso Geni) dá apenas 5 filhos ao casal, justo os mais conhecidos, entre eles o compositor, dramaturgo e escritor Chico Buarque. Tudo errado! Tudo em imbróglio! Se você pertencesse a um ramo da família poderia assumir os sites errados como se tivesses informações corretas. Pronto, você repetiria o erro...

  4. Outro erro muito comum das pesquisas apressadas nos bancos de dados dos sites: não é porque se encontrou um Giovanni Rossi casado com uma Maria Bianchi que sejam exatamente esses o seu bisavô Giovanni Rossi e sua bisavó Maria Bianchi. Podem até ser, mas Rossi e Bianchi são os sobrenomes mais comuns na Itália, algo como Silva e Sousa, no Brasil. Portanto, assim como há milhares de João da Silva casados com Maria de Sousa, há também milhares de Giovanni Rossi casados com Maria Bianchi. Jamais assuma a ligação imediata dos nomes achados. Pesquise datas, locais, paternidades, filiações, parentescos.

  5. Só quando tiver certeza (documental é melhor!) proceda ao entroncamento. Senão, por favor, não entroque.

  6. Existem também muitas Listas de Discussão, Páginas no Facebook e Fóruns na Internet sobre o tema Genealogia. Nestas listas (como em outras quaisquer ou em qualquer lugar de pesquisa), você pode encontrar de tudo: profissionais e amadores, pessoas arrogantes e modestas, experientes e iniciantes, gente que tripudia sobre a ingenuidade ou o desconhecimento dos companheiros de lista, e os que são generosos com as informações que colhem. Há ainda dois tipos de oportunistas: aqueles que querem "explorar" os colisteiros pretendendo que os outros pesquisem por ele próprio e um outro tipo que está lá só para vampirizar o trabalho alheio. Seja do lado “do bem”, daqueles que compartilham sempre. E credite o pesquisador que trouxe a informação para você.

  7. Você vai conhecer também muita gente ética, culta, simpática, cordial e de boa-vontade, com real prazer em dar boas explicações e compartilhar informações. Participar de listas é uma delícia, a gente aprende muito e faz amigos de verdade. Sendo genealogista amador, não se envolva em discussões estéreis, evite servir de lenha para a fogueira das vaidades alheias; divida seus achados e descobertas. Pergunte, sim, mas não fique cobrando respostas dos companheiros, não tome partidos em debates acadêmicos (que muitas vezes nem acadêmicos são, mas apenas vitrina de vanglórias), não ofenda ninguém, seja cortês em todas as ocasiões e mantenha a urbanidade.


IV. A credibilidade da sua pesquisa

Sua pesquisa genealógica será tanto mais meritória, honesta e digna de credibilidade (isso é essencial!) quanto mais documentado você estiver.

  1. Procure escanear — ou fotocopiar ou escanear — todos e quaisquer documento, fotografia, notícia, placa de sepultura, crachá, placa de rua ou qualquer coisa que comprove as informações que você colheu. Hoje em dia os telefones celulares, tablets e Ipads têm essas funções e outras mais, permitindo até que se otimize a imagem, editando-a ali, na horinha.

  2. Não é digna de crédito qualquer informação não comprovada. Não transcreva documentos, comprove! É inadmissível no século 21, um pesquisador alegar que não lhe foi permitido fotocopiar/ escanear / fotografar um documento ao qual ele chegou a ter acesso. Uma escusa dessas põe toda a pesquisa a perder. Ou não houve pesquisa alguma.

  3. Se você optar por uma pesquisa mais profunda e séria é porque está realmente em busca de suas raízes, de sua identidade familiar. A profundidade das suas investigações vai além de nomes e datas: ela objetiva contar uma história. A história daqueles cuja existência permitiram que hoje estejamos aqui. É por isso que os softwares (residentes ou online) têm um campo para a gente escrever a biografia de cada um dos nossos ancestrais.

  4. Por isso, é importante registrar, tanto quanto possível, a personalidade de cada antepassado, suas lutas, suas conquistas, suas decepções e perdas, seus feitos, seu modo de vida, seus amores, sua história — que está logicamente inserida na história da cidade, do País, do mundo. O tanto quanto possível, registre o que lhe contaram ou que você tenha achado em notícias de jornais velhíssimos e até em livros de História. Por que não?

  5. Assim, você não só terá um registro da trajetória de um indivíduo, mas estará delineando o quadro histórico de toda uma época e de uma região. A Vida, enfim.

Leia agora!

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