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Dicas para quem não é mais iniciante

Quatro a oito nomes e datas são suficientes para iniciar uma árvore genealógica, mas quanto mais você adiciona, mais você quer adicionar a fim de aprimorar sua narrativa familiar. Essa é a magia da pesquisa genealógica.

por Maria Fernanda Guimarães

Cada nome que você incluir na sua árvore conta uma história diferente, da qual apenas algumas partes são compartilhadas. Tenha isso em mente.

Porque examinar registros históricos pode ajudar muito a compreender melhor seus ancestrais. Afinal, genealogia não é apenas preencher quadradinhos com nomes e datas. Fazer genealogia é conhecer o contexto da família.

É compreensível que você desanime em examinar registros históricos locais, nacionais e internacionais pois isso consome muito tempo. Por isso, temos uma dica inteligente para você encontrar sua árvore genealógica com muito mais facilidade. Pesquise inicialmente um período de cada vez e procure inserir naquele contexto todos os ancestrais que compartilham a mesma época.


Genealogia é para toda a vida


Um genealogista experiente sorri com indulgência quando um novato lhe procura com muita aflição.

— Não acho meu tetravô. Faz seis meses que comecei a árvore e não acho.

Tem gente que mesmo depois do advento da Internet está há mais de 10 anos procurando romper um "fim de linha". Não é fácil.

Saiba que Genealogia é uma atividade para a vida toda. E o tipo da atividade em que pressão e aflição não adiantam de nada.

Dentre as muitas razões, podem ser alinhadas:

  • os documentos ainda não foram localizados, estão misturados a outros

  • documentos realmente se perderam ou foram danificados

  • seu ancestral usava sobrenomes diferentes dos que você conhece e, sim, isso era muito comum!

  • a cidade em que você está procurando não era de verdade a cidade do seu ancestral. Milhares de cidades brasileiras foram desmembradas. Conheça a história da cidade, procurando-a especialmente no site do IBGE

  • Sabendo dessas dicas acerca da formação administrativa das cidades, você pode fazer grandes descobertas sobre sua família e ancestrais

  • Na genealogia sempre há a possibilidade de encontrar algo novo. Portanto, é recomendável que você dê um tempo e dê um passo de cada vez, deixando assim a história se revelar gradualmente

  • Quanto mais a história se revela, mais insights você tem sobre quem e onde procurar

  • Está difícil? Deixe sua árvore genealógica 'descansar'. Aguarde um pouco!

  • Enquanto isso, busque a ajuda dos sites de genealogia online, aceite o auxílio de outros pesquisadores, indague nas listas, fóruns, grupos do Facebook e continue trabalhando para formar sua árvore genealógica lenta e gradualmente para obter os melhores resultados

  • Confira os muitos sites que permitem que você faça sua árvore genealógica gratuitamente ou com um custo mínimo


Árvore genealógica não é apenas um catálogo de nomes e datas. É um arranjo lógico de nossos ancestrais, de forma que a história deles seja contextualizada.

Confira mais essas dicas para avançar ainda mais

    • A informação mais preciosa para quem faz pesquisa genealógica é a seguinte: converse longa e pacientemente com todos os seus parentes mais velhos, antes que todos eles partam para sempre... e você passe a ocupar a "vaga" de geração mais velha da sua família! Mesmo um parente distante pode ser uma mina de ouro de informações sobre seus antepassados.


    • Procure ter uma pasta com anotações e um único cadernão no qual você faz seus apontamentos genealógicos. Ainda que você use tablets, telefones inteligentes, seu computador, o Google Drive – ou qualquer outro drive na nuvem – nunca é demais ter os dados apontados no bom e velho estilo. Ainda que você faça um print e coloque tudo num fichário.


    • Use um arquivo de nuvem (Google Drive, One Drive, Dropbox, ICloud, Mega etc.). As tecnologias de Cloud Computing estão revolucionando a maneira com que todos nós vimos trabalhando, no mundo empresarial e na vida privada. E na Genealogia também. Escaneie todas as fontes e arquive-as na nuvem, em pastas, de forma organizada.


    • Se você tem árvore no computador, faça backups frequentes da sua máquina. Jogue esse arquivo Gedcom num HD (hard-disk) externo ou um pen drive, para quem ainda gosta desse armazenamento).

    • Esses Os backups físicos devem ser armazenados em dois lugares: casa e escritório ou casa e residência de outro parente.

    • Salve sua árvore em arquivo Gedcom e coloque também o arquivo na nuvem.


    • Mantenha backups de todos os e-mails que você envia — especialmente se tiverem respostas aproveitáveis. O ideal é abrir um e-mail no Gmail, Outlook (ou Hotmail) ou Yahoo exclusivamente para assuntos genealógicos. A ideia é ter um e-mail permanente e exclusivo só para o tema. Aliás, essa conta será a sua nuvem exclusiva para o tema.

    • Esses serviços de e-mail citados permitem que a gente organize as informações em pastas.


    • Participe de listas com esse e-mail exclusivo! Os backups vão poupar a você de fazer as mesmas perguntas várias vezes nas listas das quais participa, e quais as dúvidas que eles têm ou não responderam, ou não sabem.


    • Anote sempre a fonte de informação que você grava, escaneia ou fotocopia, apontando a data de coleta desse dado. Se o material é de um livro, escrever o nome, autor, editora, ano de publicação, ISBN (se tiver um), e também o local onde o encontrou. Se possível, fotografe ou fotocopie a capa e a página da informação.


    • Faça de tudo para não postergar a organização dos papéis que você coletar.


    • Crie um sistema de arquivamento para os seus papéis e anotações, fotos, gravações, documentos, fotocópias, etc. Não deixe levar pelo sonho utópico que você terá um arquivo sofisticado, sob encomenda. É melhor ter tudo arquivado de forma simples (usando pastas suspensas, pastas de elástico, pastas-catálogos ou fichários tipo A-Z) mas eficientemente armazenado a ver dois metros de pilhas de papéis aguardando o dia-de-são-nunca em que a gente terá tempo (e o dinheiro!) para encomendar o arquivo ideal.


    • Ao procurar por parentes em registros civis, listas de passageiros, livros de batismo, não passe batido sobre as informações que se parecem, mas não tão idênticas às que você procura. Você pode desperdiçar uma ótima pista!

Veja exemplos práticos:

Meu avô materno, que nasceu em 1900, se chamava João Bernardo Guimarães Alves. Assim está na certidão de óbito dele e nos documentos da minha mãe (certidões, RG, etc.) e de mais uma tia, a Maria Carolina. Porém, na listagem do registro civil de Belo Horizonte, onde ele nasceu, consta apenas João Alves. Na certidão de nascimento da minha tia Isabel, está apontado: “filha de João Guimarães Alves”, sem o Bernardo.

→ Uma dos minhas trisavós se chama Anna Carolina Guimarães. Na transcrição da indexação dos mórmons (Family Search), ela aparece num registro como Dianna Carolina Guimarães, como mãe de José B. (sem sobrenome, evidente para a época). Ora, eu sei que minha bisavó Olympia tinha um irmão José Teófilo. Procurando depois os registros originais, vi que estava escrito> Sra. D. Anna Carolina.

Até bem recentemente, as mulheres casadas eram tratadas por ‘Dona’: abreviatura D. — inclusive nos registros civis. Antigamente, nos censos e nos registros, o título D. ou Dna. apontava uma mulher casada.

No caso desse assento de batismo (veja a reprodução), o escrivão (ou o padre) fez um ponto mais alongado no “D.” e o indexador do registro do Family Search — provavelmente estrangeiro ou pessoa desusada em paleografia em português — deve ter lido D. Anna como Dianna... e assim transcreveu, ficando indexado dessa forma lá nos registros SUD. (E esse registro ainda não tem jeito de consertar - 2021!)

Confirmando nomes e datas, e depois outros documentos, vi que se tratava mesmo do José Teófilo. Se o padre-escrivão errou e colocou José B (Benedito? Bento? Bernardo?) ao invés de José T. ou se o José adotou o Teófilo mais tarde, não sei... e não há mais como esclarecer.

Outros exemplos práticos

  • O escritor Monteiro Lobato foi batizado José Renato de Monteiro Lobato e trocou seu nome para José Bento de Monteiro Lobato. Diz a tradição que para usar uma bengala com castão de ouro que fora do seu pai e na qual estava monogramado: J.B.M.L.

  • Sempre é bom ter em mente que até 1939 — o que e bem recente! — as pessoas podiam mudar seus nomes e escolher seus sobrenomes (apelidos de família) que não fossem exclusivamente o dos pais.

  • Um imigrante italiano que se chamava Augusto Nutti tem seu registro de entrada no Museu da Imigração de São Paulo como Agostino Mutti. Vimos o registro original e realmente está confuso se aquilo é "M" ou um “N”.
    Mas
    indexador digitou essa entrada de imigrantes interpretou o "N" como um “M” e assim está lá no Museu da Imigração de São Paulo: Agostino Mutti. Para piorar, o Agostino, quando adulto, mudou seu nome, no Brasil, para Augusto... E para finalizar: acabamos descobrindo, na Itália, que na verdade o sobrenome era Nuti.

  • Vamos supor que você esteja procurando (como eu, e os nomes são reais) o casamento de Joaquim Enéas da Fonseca com Olympia em 1896. Mas achei um casamento de Joaquim Enéas da Fonseca com Berenice. Ora, poderia ter sido um casamento anterior, em que a primeira esposa morreu pouco depois. Como foi, de fato!


  • Ao escrever (ou mandar e-mail) para as bibliotecas locais ou regionais, peça aos bibliotecários a indicação de livros antigos — que nem constam em catálogo ou nem tiveram publicação nacional.

  • Todas as cidades e regiões têm seus historiadores locais que publicaram às suas próprias expensas, sem o patrocínio de grandes editoras. São esses livros que os genealogistas procuram!

  • Peça ainda a estes bibliotecários indicação (ou procure na Internet) do comércio local de livros usados (sebos, alfarrábios) ou sociedades genealógicas (ou históricas) em suas regiões de interesse. Toda essa gente pode indicar livros antigos e ainda narrar velhas histórias locais e histórias de família pertencentes àquela área geográfica. Cuidado com as "genealogias prontas"

  • Não é porque uma informação está no seu computador, na internet ou no computador de alguém e mesmo num livro que ela seja necessariamente verdade! Informações aparentemente recentes acerca de histórias de família são muitas vezes repetições de velhos trabalhos publicados anteriormente. Se há um dado errado em livros antigos ele, mesmo incorreto, simplesmente pode se repetir. E pela internet é ainda mais rapidamente disseminado.


Mais exemplos práticos bem recentes


  • Abri uma árvore genealógica na internet e vi o nome de uma tia-avó afim (casada com um dos meus tios-avôs) como se fosse filha de sua irmã primogênita. Esse dado saiu errado, por erro de past-up, num livro da década de 1950. E assim foi repetido...repetido... repetido... Escrevi ao responsável pela página, enviei-lhe fotocópias dos documentos da tia e afinal foi corrigido... Mas só na Internet. O que está lá nos livros (o original e os que repetiram a informação equivocada) lá ficará. Errado!

Quatro irmãos, meus primos do lado paterno, me entregaram a árvore que o pai deles fez por mais de 50 anos. Quando esse tio afim pesquisava lá no passado, dois livros de batismo e um de casamento da cidade onde nasceu eram dados como desaparecidos. E todo mundo daquela cidade se baseava num antigo trabalho genealógico de uma historiadora local. Não havia nos anos 1960 essa comunicação entre genealogistas que a Internet proporcionou. Telefonemas eram caros, não havia preocupação pública com documentos, cartas não eram respondidas... Como os livros religiosos estavam sumidos, essa historiadora trabalhou com fontes orais. Ora, muito recentemente, em 2018, esses livros da paróquia foram achados. Pois bem, meus primos não são tetranetos de Custódio Cabral de Mello, como pensaram desde que se entendiam por gente. Mas de Vicente Cabral de Mello. O Custódio era irmão do Vicente... Houve equívoco na memória oral.


Quanto mais recente o período de tempo em que você está pesquisando, mais correto está o nome das pessoas. Por três razões: os escrivães eram mais atentos, as próprias pessoas se preocupam mais com a grafia correta dos seus nomes e porque existem protocolos mais claros e mais rígidos a serem seguidos pelos cartórios. Além disso, existe uma quarta razão: se o avoengo era pouco ou mal alfabetizado, ele não tinha condições de fazer o notário corrigir o registro equivocado...