Paratodos
A Genealogia Familiar, Intelectual e Musical de Chico Buarque de Hollanda
Poucos povos no mundo podem apontar em seu cancioneiro uma peça musical que fale de Genealogia. O povo brasileiro pode! Ao compor 'Paratodos' Chico Buarque de Holanda fala de seus mais diretos costados, abordando sua ascendência espalhada em vários pontos do País. Mas também fala de sua genealogia criativa e intelectual.
O meu pai era paulista: o historiador Sérgio Buarque de Hollanda (SBH)
(1902-1982), um dos mais fecundos e importantes do País, também exerceu o jornalismo e a crística literária. Autor da obra seminal da história brasileira, "Raízes do Brasil", e de "Monções", "Cobra de Vidro", "Visão do Paraíso", "O Extremo Oeste" e "Caminhos e Fronteiras".
Meu avô, pernambucano: Cristóvão Buarque de Hollanda
(1864-1932) farmacêutico, professor universitário, tendo sido idealizador e um dos fundadores da Escola de Farmácia, precursora da Faculdade de Farmácia da Universidade de São Paulo (USP).
O clã Buarque de Hollanda é descendente do senhor de engenho José Ignacio Buarque de Macedo com a escrava Maria José. Além de todos os filhos e netos famosos (fora os low-profile) do historiador Sérgio Buarque de Hollanda* pertencem a este clã, nomes que integram a intelectualidade do Brasil: o ministro do Supremo Antonio Buarque de Lima (1802-1999), o senador (2003) Cristóvam Buarque; os ex-ministros Luiz Felipe Lampréia (Relações Exteriores) e Pedro Parente (Planejamento), ambos da mesma gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso; o advogado, colecionador e galerista Luiz Buarque de Hollanda (1939-1999) e seu filho Lula Buarque (Luiz Buarque de Hollanda Filho), documentarista (Conspiração Filmes).
Filhos: Chico Buarque, Heloísa Maria (Miúcha), Ana de Hollanda e Cristina Buarque.
Netas: a cantora Bebel Gilberto, filha de Miúcha, atriz Sílvia Buarque
Acima: SBH acompanhado de seus filhos: Maria Cristina (Miúcha), Chico, Ana Maria, Álvaro, Sérgio, Maria do Carmo e Heloísa Maria, sua esposa Maria Amélia, sua neta Isabel Oliveira Gilberto (Bebel) e sua irmã Cecília, na casa da Rua Buri, 35, Pacaembu, São Paulo. Aniversário de Sérgio Buarque de Holanda.
São Paulo, 11. jul. 1974.
Crédito: Catálogo do Fundo Sérgio Buarque de Holanda – Arquivo Central do Sistema de Arquivos. Área de Arquivo Permanente – Unicamp
Paratodos
O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro
Foi Antonio Brasileiro
Quem soprou esta toada
Que cobri de redondilhas
Pra seguir minha jornada
E com a vista enevoada
Ver o inferno e maravilhas
Nessas tortuosas trilhas
A viola me redime
Creia, ilustre cavalheiro
Contra fel, moléstia, crime
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro...
Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ary, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho
Para um coração mesquinho
Contra a solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto
Viva Erasmo, Ben, Roberto
Gil e Hermeto, palmas para
Todos os instrumentistas
Salve Edu, Bituca, Nara
Gal, Bethania, Rita, Clara
Evoé, jovens a vista
O meu pai era paulista
Meu avô pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô baiano
Vou na estrada há muitos anos
Sou um artista brasileiro.
O meu bisavô, mineiro: governador de MG, José Cesário de Faria Alvim Júnior (ou Filho), conhecido apenas por Cesário Alvim (1839-1903) foi advogado pelo Largo de São Francisco/USP (turma de 1862), economista e fazendeiro.
Meu tataravô, baiano: Eulálio da Costa Carvalho, médico, foi casado com Amélia Benvinda Rodrigues da Costa, sendo ambos pais do político Álvaro de Carvalho , que se casou em primeiras núpcias com Carolina Vieira Barbosa e tiveram uma filha: Maria do Carmo Carvalho. Maria do Carmo casou-se com com o Cesário Alvim (do parágrafo anterior) foram pais de Maria Amélia Cesário Alvim, a mãe de Chico Buarque. A tetravó Amélia Benvinda Rodrigues da Costa era de família de cristãos-novos.
A genealogia de Chico Buarque você encontra neste link, pesquisa do genealogista Pedro Wilson Carrano Albuquerque.
Histórias sobre o lado realmente holandês dos Buarque de Hollanda, pode ser lida aqui, num enlace para uma velha edição deste site Brava Gente Brasileira, matéria da revista Época, resenhando o livro Buarque: uma família Brasileira, do economista Bartolomeu Buarque de Holanda. Bartolomeu destaca o lado intelectual da família: “Fiz toda árvore genealógica a partir do século XIX. Desde o casamento entre Maria José e José Inácio Buarque em 1817, a família tem esse perfil intelectual. O interessante é que foi ela, uma escrava índia e analfabeta, que deu esse rumo. Todos seus filhos fizeram curso universitário”, explica.
Meu maestro soberano
é Antônio Brasileiro
O "maestro soberano", dos versos é, claro, Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o nosso Tom Jobim (1927-1994), cuja genealogia pode ser lida aqui.
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim [Tom Jobim] Maestro, compositor, intérprete, poeta, letrista, instrumentista completo (*25.01.1927, Rio de Janeiro, RJ + 8.12.1994, Nova Iorque, NY, EUA).
Filho de Jorge de Oliveira Jobim e de D. Nilza Brasileiro de Almeida Jobim, teve uma única irmã: a escritora Helena Jobim, sua melhor e mais autorizada biógrafa. O mais importante músico brasileiro. Suas canções são eivadas de recursos eruditos travestidos de música popular. Visto pelos olhos de Helena Jobim, sua irmã, Tom é descrito como "vestido de luz". Ele é "Tom, o homem, o brasileiro, o irmão, o carioca, o músico, o que amava a Drummond, os dicionários e o lápis de grafite mole bem apontado para anotar no pentagrama... Tudo nele era definitivo!"
Todos os demais artistas brasileiros c na letra de "Paratodos" dizem respeito à herança musical de Chico Buarque e a seus influenciadores ou influenciados.