Por Beatrice Mortês
Enviado em: 10/09/2024
Parágrafo de contexto: Uma ode ao amor enlameado.
Vermelho. O flash da câmera era, sem dúvidas, cor-de-sangue e mesmo curioso para saber como a foto havia saído, não tirei os olhos daquele toque singelo.
Augustus carregava consigo promessas vazias de que — um dia, não hoje e nem daqui um mês — iria parar de beber, afinal, sentia-se culpado por se embriagar até vomitar. Ao menos, era o que me dizia enquanto sóbrio e esses eram poucos os momentos onde sua sinceridade era límpida. Eu, por outro lado, não bebia e temia encostar a boca numa gota de álcool nem que fosse experimentar um prato refinado de um restaurante renomado.
Por isso, minutos antes, pedi despretensiosamente que ele fizesse um grande X em ambas as minhas mãos, — não que eu fosse incapaz de fazer, era meramente uma desculpa para tocá-lo — este quem aceitou prontamente e dedicou-se ao pedido, a marca não era a das mais bonitas e as notas de alcoolismo eram visíveis nas linhas tortas.
O ponteiro do relógio era certeiro, não passava das quatro da manhã. Minha bebida havia acabado e não me sobraram nada mais do que os restos — nós, mortos, reunidos no salão de festas após uma longa fúnebre e divertida noite, estávamos feito lunáticos. Algum cachorro insistente ladrava à lua em algum tipo de ode para nosso fim.
Augustus, no entanto, mantinha-se firme no palco e recitava pela — talvez eu havia perdido as contas — vigésima vez a mesma música de quando ainda vivíamos sem temer o seguinte. Minha ganância era exagerada, transbordava meu peito e caia nos meus pés, por onde eu andava era esse rastro repulsivo de, nada mais que, minha própria alma arrogante.